APRENDENDO A LUTAR

VASQUES..

Depois de saber que finalmente ia aprender a lutar, Jon sempre parecia ansioso em tudo que fazia, aquelas semanas pareciam durar meses na sua cabeça. “Quem é meu treinador” pensava enquanto ajudava seu pai nas plantações, Jon estava tão afobado que resolveu conversar novamente com Grynrem ao terminar seus serviços, mesmo ele ordenando para ele vir na outra semana.

Depois que terminou de ajudar seu pai, correu em direção a casa de Grynrem, com a esperança dele lhe falar algo sobre o suposto treinador.

— Olá, Grynrem! — disse ele com uma voz que soava mais desconfiada do que ele pretendia.

O velho homem, sentado em uma cadeira de madeira desgastada, olhou para Jon com um sorriso ligeiramente divertido, como se já soubesse exatamente o motivo da visita. Ele ajustou a posição, cruzando os braços, e respondeu com um tom despreocupado:

— Acho que já sei o que você veio me procurar. E, para sua informação, a resposta é só na próxima semana.

Jon franziu a testa, confuso, mas também curioso.

— Sério? Como você sabe? — perguntou ele, quase indignado, mas intrigado com a precisão de Grynrem.

O velho soltou uma risada curta e deu de ombros.

— O que mais lhe traria até aqui, rapaz? — respondeu, como se a pergunta fosse óbvia.

— Várias outras coisas, talvez — afirmou Jon, tentando disfarçar e parecer menos previsível do que realmente era.

Mas Grynrem não pareceu convencido e, com um olhar que misturava aprovação e mistério, respondeu:

— Bem, é bom que você tenha vindo.

Jon arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Por quê? — perguntou ele, curioso com o tom sério que Grynrem havia adotado.

— O treinador mandou dizer que você precisa de uma espada.

— Uma espada de verdade? — Jon arregalou os olhos. — Onde eu vou encontrar isso? — perguntou, com um tom de tristeza. Ele sabia que encontrar uma espada não era uma tarefa simples, especialmente para alguém como ele, que mal tinha dinheiro para comprar ferramentas básicas, quanto mais uma arma.

Grynrem, com um sorriso quase malicioso, cruzou as pernas e respondeu calmamente:

— Esse é seu primeiro treino. Ele mandou você ir para Segara, entrar em uma taberna perto do porto. Lá, você encontrará vários soldados bêbados, e então você pegará uma espada deles.

Por um momento, Jon levou a proposta a sério. Ele se endireitou, sua expressão mudando para uma determinação quase cega, e disse:

— Me diga onde posso encontrar um cavalo. Irei até Segara amanhã mesmo.

Foi então que Grynrem explodiu em uma gargalhada alta, balançando a cabeça em descrença.

— Você é corajoso, garoto, mas isso seria impossível. Você não conhece Segara. Acabaria morto antes mesmo de atravessar os portões. — O riso de Grynrem encheu o ambiente, e só então Jon percebeu que o velho estava brincando o tempo todo.

Jon franziu o rosto, confuso, até que finalmente entendeu a ironia. Sentiu-se um pouco envergonhado por ter levado a brincadeira a sério, mas logo começou a rir junto com Grynrem.

— É claro que você não vai treinar logo com uma espada, seu tolo — disse Grynrem, ainda sorrindo. — Agora vá para casa e volte aqui somente na próxima semana.

— Está bem... — respondeu Jon, ainda rindo, embora com uma pitada de constrangimento. Ele se virou e saiu da casa, sentindo-se um pouco mais leve, apesar de ter que esperar mais tempo por respostas.

Jon caminhava lentamente de volta para casa, os pensamentos pesados pela espera que ainda teria de suportar antes de iniciar seu treinamento. Cada passo parecia ecoar em sua mente, acompanhado pelo som de folhas secas sendo esmagadas sob seus pés. Enquanto seguia pelo caminho que serpenteava pela encosta de Vasques, seus olhos captaram algo ao longe. No caminho que levava a Segara, um grupo de pessoas a cavalo se aproximava, suas silhuetas destacadas pelo brilho suave do sol no horizonte.

Curioso, Jon parou e estreitou os olhos para enxergar melhor. Entre os cavaleiros, ele reconheceu Dorne e Sir Will, além de outros soldados que pareciam estar realizando algum tipo de recepção formal. Seu coração disparou de leve. O que poderia estar acontecendo?

Impulsionado pela curiosidade, Jon escalou um pequeno morro próximo, apoiando-se com as mãos no solo para se estabilizar. Ele subiu com cuidado, as mãos firmes contra o terreno pedregoso, até encontrar um ponto de vista mais alto. De lá, ele podia observar tudo com mais clareza.

— "O rei" — pensou Jon, o coração agora batendo mais forte.

Era isso. Não havia dúvida. Ele estava vendo, pela primeira vez em sua vida, o próprio rei de Segara. Vitares Argan II, em toda a sua majestade, cavalgava com elegância, acompanhado de sua corte e guardas pessoais. O rei parecia relaxado, como se estivesse aproveitando um passeio simples, mas havia algo na maneira como ele erguia a cabeça que transpirava autoridade.

Os guardas reais, em suas armaduras brilhantes e bem polidas, eram um espetáculo por si só. Jon não conseguiu evitar: por um breve momento, ele se imaginou no lugar deles. Ele fechou os olhos por um instante, deixando a visão de um futuro idealizado se formar em sua mente.

— "Vou treinar para ser o melhor espadachim que a terra de Midirin já viu" — pensou ele com determinação.

Enquanto se perdia em sua fantasia, Jon não percebeu que sua mão escorregava lentamente sobre o terreno solto. De repente, perdeu o equilíbrio, e todo o seu corpo deslizou para frente. Em questão de segundos, ele estava rolando morro abaixo, a gravidade assumindo o controle, até que aterrissou com um baque seco no chão.

— "Maldição" — pensou Jon, gemendo enquanto se levantava, tentando ignorar a dor latejante em seus braços e pernas. Ele começou a limpar a poeira e os pedaços de grama que haviam ficado presos em suas roupas, mas, antes que pudesse recompor totalmente a dignidade, uma voz firme interrompeu seus pensamentos.

— Quem é esse? — A pergunta soou no ar, carregada com uma curiosidade fria que fez Jon congelar.

Ele olhou para trás lentamente, os olhos arregalados. Diante dele estavam o rei e toda a sua comitiva, os olhos do monarca fixos nele. Vitares Argan II, com sua postura imponente, parecia estudá-lo. Jon sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

Sir Will, sempre rápido, respondeu prontamente:

— Esse é Jon, Vossa Graça.

Vitares inclinou a cabeça ligeiramente, seus olhos examinando Jon de cima a baixo, como se tentasse decifrar quem era aquele jovem que aparecera de forma tão inusitada.

— E você está bem, Jon? — perguntou o rei, sua voz carregando um tom de genuína curiosidade misturada com autoridade.

Jon abriu a boca para responder, mas sentiu as palavras travarem por um instante. Ele respirou fundo, tentando controlar a onda de nervosismo que ameaçava dominá-lo.

— Sim, sim, Vo... Vossa Graça! — respondeu ele, gaguejando ligeiramente, mas esforçando-se para manter a compostura.

O rei Vitares sorriu levemente, como se estivesse acostumado a esse tipo de reação. Ele era, sem dúvida, uma figura impressionante. Alto e de postura impecável, com cabelos loiros brilhando sob o sol, ele exalava um carisma natural. Sua fama como um dos melhores guerreiros de Midirin não era à toa, e Jon podia sentir a força silenciosa que emanava dele, mesmo à distância.

O rei Vitares II acenou levemente com a cabeça para Jon, um gesto simples, mas que carregava um peso imenso para o jovem. Jon permaneceu imóvel por alguns instantes, ainda digerindo o que acabara de acontecer. Era como se o mundo tivesse parado naquele breve momento em que o monarca o reconheceu. Assim que o rei seguiu seu caminho, cavalgando com elegância em direção ao Castelo de Argan, Jon sentiu seu coração pulsar acelerado.

Ele desceu o morro rapidamente, o sangue fervendo de excitação. Ignorando completamente a dor no braço causada pela queda, ele correu o mais rápido que pôde em direção à sua casa, a mente cheia de pensamentos e palavras que mal conseguia organizar. Assim que cruzou a porta, quase sem fôlego, começou a falar antes mesmo que seus pais pudessem perguntar o que estava acontecendo.

— Eu vi o rei! — exclamou Jon, o rosto iluminado por uma mistura de orgulho e espanto.

Seus pais, que estavam sentados à mesa, pararam imediatamente o que estavam fazendo e olharam para ele com surpresa.

— O rei? — perguntou seu pai, franzindo o cenho. — Vitares II? Aqui em Vasques?

Jon acenou vigorosamente com a cabeça, e então começou a relatar tudo o que havia acontecido. Ele descreveu a visão do rei e sua corte, os guardas reais e o breve momento em que Vitares falou com ele. Cada palavra saía de sua boca com entusiasmo, como se ele estivesse revivendo o encontro a cada frase. Apesar de o diálogo com o rei ter sido curto, Jon o narrava com tanto fervor que parecia ter tido uma longa conversa com o monarca.

— Ele perguntou se eu estava bem! — disse Jon, enfatizando a importância da frase. — Ele... Ele realmente se importou!

Seus pais trocavam olhares entre si, claramente surpresos com a empolgação do filho. Sua mãe tentou perguntar sobre a sujeira em suas roupas e o pequeno machucado no braço, mas Jon simplesmente ignorou, como se nada disso importasse. Para ele, aquele encontro com o rei havia apagado qualquer dor ou desconforto.

— Mas por que o rei estava aqui? — perguntou sua mãe, ainda intrigada.

— Acho que era sobre as plantações — respondeu Jon, tentando lembrar dos detalhes que ouvira enquanto observava o grupo.

O rei Vitares II, de fato, havia vindo tratar de questões relacionadas às plantações de Vasques. Contudo, a visita também trouxe outra notícia que rapidamente se espalhou por todo o vilarejo. Na mesma semana, todos começaram a comentar sobre um anúncio inesperado: o rei iria realizar um torneio em Segara. O objetivo do torneio era selecionar novos soldados para a Guarda Real, uma oportunidade rara que agitava os corações de todos os jovens sonhadores da região.

Quando Jon ouviu sobre o torneio, seu coração disparou novamente. A ideia de participar de algo tão grandioso fez seus olhos brilharem. Ele se imaginava empunhando uma espada, lutando com bravura e impressionando o próprio rei. Contudo, essa empolgação rapidamente foi abafada pela realidade.

Ele sabia que era quase impossível. Não tinha qualquer treinamento, mal sabia segurar uma espada e, além disso, ainda nem conhecia o misterioso treinador que Grynrem mencionara. Mesmo que conseguisse aprender a lutar em tão pouco tempo, havia outra barreira: seus pais jamais permitiriam que ele participasse de um torneio, mesmo que este não fosse até a morte.

Jon suspirou, olhando pela janela enquanto as sombras do entardecer começavam a cobrir Vasques. Apesar de todos os obstáculos, uma chama de esperança e determinação queimava em seu peito. Ele sabia que teria que lutar contra todas as probabilidades se quisesse transformar seu sonho em realidade. Mas naquele momento, enquanto a noite se aproximava, ele permitiu que a imaginação o levasse novamente ao campo de batalha, onde ele era mais do que apenas um jovem de Vasques: ele era um guerreiro.

DIAS DEPOIS..

Finalmente chegou o tão esperado dia de Jon, seus pais já sabiam que ele foi convidado para treinar, não sabiam com quem, aliás nem ele sabia, logo pela manhã ele começou a se alongar na esperança de obter resultados nos treinos, ele está realmente ansioso para seu primeiro treino.

— Espero que você aprenda muito lá. Afirmou Noah.

— Espero virar um guerreiro como o senhor.

— Vai ter que perder a mão primeiro. —Respondeu seu pai rindo, parece que aquela situação não era mais um trauma para ele.

— Tenho que ir agora, até mais!

— Até….Meu filho.

Jon correu em direção a casa de Grynrem, com sua espada de madeira na mão, parecia até que ele estava em um campo de batalha correndo em direção aos inimigos. Quando chegou lá, Grynrem estava na porta da casa.

— Olá Senhor Grynrem. - falou Jon, parecia nervoso e alegre ao mesmo tempo, e cansado correr até lá não foi fácil.

— Olá, Jon, um dia lindo para treinar, não acha? — disse Grynrem com um sorriso animado, enquanto estendia a mão para cumprimentar Jon.

— Sim, o dia está realmente lindo — respondeu Jon, ainda ajustando sua espada no cinto, com um olhar de expectativa para o campo de treino.

Grynrem inclinou a cabeça, avaliando o jovem com uma expressão misteriosa.

— Então, Jon, você já deve estar sabendo que haverá um torneio, não é mesmo?

Jon parou por um instante, encarando Grynrem. Seus olhos se estreitaram, refletindo um misto de curiosidade e nervosismo.

— Sim, eu fiquei sabendo — respondeu ele, tentando soar confiante, embora sua voz carregasse um leve tremor.

— Dorne pediu para Will Tornis treinar você — continuou Grynrem, observando a reação de Jon com interesse.

Jon ficou boquiaberto, seu coração disparou, e seus olhos se arregalaram como se não pudesse acreditar no que acabara de ouvir.

— SIR WILL?! — exclamou ele, a surpresa transbordando em sua voz. — Não é possível!

Grynrem deu uma risada baixa, cruzando os braços com ar despreocupado.

— Claro que é, por que não?

Jon deu um passo para trás, tentando processar a notícia. Sua mente estava a mil, e sua expressão oscilava entre incredulidade e espanto.

— Mas como isso é possível? — perguntou ele, quase sussurrando, como se precisasse confirmar que não estava sonhando.

Grynrem ergueu as mãos em um gesto de rendição, com um sorriso que parecia conter um segredo.

— Aí, eu não sei — disse ele, com um tom que deixava claro que estava adorando a surpresa de Jon.

Depois disso, Grynrem exortou Jon a seguir um caminho, e que esse caminho levaria até aonde ele iria treinar.

Chegando depois de alguns minutos, ele viu Sir Will. Com a espada em punho, o chefe da guarda real, chegou perto de Jon e falou:

— Então, você é o garoto que eu tenho que treinar, Jon? — perguntou Sir Will Tornis, cruzando os braços enquanto avaliava Jon de cima a baixo. Sua voz era grave e autoritária, carregando o peso de anos de batalhas.

Jon engoliu em seco, sentindo o olhar penetrante do cavaleiro sobre si. Ele respirou fundo, tentando parecer confiante.

— Sim, sou eu, senhor — respondeu com firmeza, embora seu coração estivesse disparado.

Sir Will estreitou os olhos, como se estivesse tentando enxergar além da aparência do jovem. Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Jon, e sua presença parecia ainda mais intimidadora.

— Então prepare-se — disse ele, com um tom que soava mais como um desafio do que um simples comando.

Jon apertou o punho ao redor do cabo de sua espada, sentindo uma onda de determinação crescer dentro de si. Ele sabia que aquele momento definiria o início de algo grandioso.

Jon pensou que passaria os dias treinando com espadas, mas para sua surpresa, passou uma semana inteira focado apenas em exercícios físicos. Ele fez uma variedade de treinos, desde corridas intensas até exercícios de força, e a frustração começou a crescer dentro dele. Não havia espadas, nem lutas, apenas seu corpo sendo moldado. Mesmo assim, Jon sabia que aquilo fazia parte do processo. A perfeição vem com o tempo, e, antes de mais nada, o treinamento físico é essencial para sustentar todo o resto. Se me entendem, é preciso se preparar para o treinamento antes de ser bom no treinamento.

Enquanto isso, os soldados que estavam treinando outros jovens, começaram desde cedo a fazer com que eles manuseassem as espadas.

Jon sabia que, para se tornar um grande guerreiro, não bastava apenas dominar as espadas. Claro, as lâminas seriam necessárias em uma guerra, mas, muitas vezes, outras habilidades seriam mais importantes, como a capacidade de correr em situações de extremo risco. E embora Jon sempre tivesse afirmado que nunca correria, pensando: "Se for para morrer, que eu morra lutando como um guerreiro, não correndo como um covarde", ele começou a perceber que havia momentos em que seria necessário abandonar todo o orgulho e seguir em fuga, deixando para trás até mesmo seus discursos de bravura.

Dia após dia, Jon continuou seu treinamento, persistente, adaptando-se aos desafios, e, com o tempo, começou a perceber a evolução em seu corpo e mente. Ele sabia que estava se preparando para algo maior, mesmo que o processo fosse árduo e, muitas vezes, frustrante.

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Bruno Rafael

Bruno Rafael

🗿🍷

2025-01-05

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