Dorne e Will permaneceram em Segara desde o torneio, enquanto Vasques, desprovida de liderança e proteção adequada, tornou-se um alvo fácil para os ladrões que há tempos aguardavam a oportunidade para agir. A calmaria aparente, que reinava durante o dia, deu lugar ao caos quando o sol se pôs. Com a escuridão da noite, começou uma onda de invasões que pegou todos os habitantes de surpresa. Os soldados de Vasques, desorganizados e desmotivados, estavam despreparados, deixando as fronteiras vulneráveis a ataques que marcaram aquela noite como uma das mais trágicas da história do lugar.
Os ladrões agiram com brutalidade, invadindo as casas sem piedade. Roubaram tudo o que encontraram, desde moedas de ouro acumuladas com sacrifício até os últimos pedaços de comida das famílias. Aqueles que ousaram resistir foram mortos sem hesitação. A violência escalou rapidamente, com incêndios deliberados consumindo os tetos de palha e as paredes de madeira. As chamas se espalharam com rapidez, iluminando a noite com o reflexo cruel da destruição. Os gritos de desespero ecoavam pelas ruas enquanto as famílias tentavam escapar do inferno que se formava ao redor.
Entre as vítimas, estavam Grynrem, um amigo próximo de Jon, cuja vida foi tirada enquanto tentava defender sua casa, e Leafar, um jovem que estava se dedicando ao treinamento militar. Leafar, apesar de não ter participado do torneio, demonstrou coragem impressionante ao derrubar dois dos invasores com golpes precisos no pescoço. No entanto, foi gravemente ferido na costela durante o confronto. Ele lutou contra a dor, mas sucumbiu aos ferimentos, deixando para trás o sonho de proteger sua terra.
Os ladrões continuaram sua destruição, deixando um rastro de corpos e ruínas. Quando o exército de Vasques finalmente despertou para a calamidade que acontecia, já era tarde demais. As chamas haviam consumido a maior parte das casas, e os ladrões já estavam se dispersando. A tentativa de perseguição foi tardia e apenas parcialmente bem-sucedida. Alguns dos invasores foram abatidos pelo caminho, mas a maioria conseguiu escapar, refugiando-se na Floresta Negra, um lugar perigoso e misterioso, que servia de esconderijo perfeito para os bandidos.
Na manhã seguinte, a paisagem de Vasques era de desolação. Corpos espalhados pelas ruas, casas reduzidas a cinzas, e sobreviventes buscando desesperadamente por qualquer resquício de suas vidas anteriores. O ataque mostrou a fragilidade do reino sem liderança, um alerta sombrio de que a ausência de proteção pode transformar até mesmo os momentos mais tranquilos em tragédias impensáveis.
No mesmo dia, uma carta carregada de más notícias chegou a Segara, informando sobre o trágico ataque a Vasques. O rei Vitares, ao ler o conteúdo detalhado da destruição e das perdas, não conseguiu esconder sua irritação. Ele estava furioso com a situação e com a vulnerabilidade em que o território se encontrava. Determinado a agir de imediato, decidiu enviar Dorne de volta a Vasques, acompanhado de um destacamento reforçado de soldados. Sua ordem era clara: restaurar a segurança e a confiança da população, além de caçar os ladrões que haviam escapado para a Floresta Negra.
Will Tornis, por sua vez, permaneceu em Segara a pedido do rei. Sua missão era ainda mais estratégica: organizar um conselho de emergência para discutir os eventos recentes e traçar soluções que evitassem que desastres como esse voltassem a acontecer. O rei sabia que a experiência e a visão de Will seriam indispensáveis para enfrentar os desafios que se aproximavam.
Ao entardecer, o conselho foi finalmente formado. No grande salão do castelo, uma mesa comprida foi cuidadosamente preparada, simbolizando o peso e a seriedade das decisões que seriam tomadas ali. Sentados ao redor da mesa estavam o rei Vitares, em posição de destaque, acompanhado por Will Tornis, que ocupava o assento à sua direita como chefe da guarda real, estava também o conselheiro de confiança, Darllos Argan, seu irmão e pai de Dorne, estava presente para representar os interesses da família e trazer seu conhecimento sobre Vasques.
Além deles, os chefes da marinha, responsáveis pela proteção naval do reino, também compareceram, bem como os senhores das casas mais altas, conhecidos por sua influência política e militar, e os nobres mais bem-sucedidos de Segara, cujas vozes representavam os interesses econômicos e sociais do reino. Todos estavam vestidos de maneira formal, com armaduras polidas e insígnias que indicavam sua posição e importância dentro da hierarquia.
A atmosfera era tensa, com o brilho das tochas projetando sombras nos rostos sérios e pensativos dos presentes. Cada um sabia que a situação exigia decisões rápidas, mas também estratégicas, para proteger Segara e seus territórios aliados de novas ameaças. Will Tornis começou a apresentar um resumo do ataque, destacando as falhas que haviam permitido a invasão e sugerindo medidas para evitar que algo semelhante acontecesse novamente. O conselho estava oficialmente em andamento, e as vozes dos líderes de Segara se uniram para enfrentar mais esse desafio que ameaçava o equilíbrio da terra de Midirin.
Vitares levantou-se de sua cadeira com um olhar carregado de raiva e indignação, apontando para Will com ambas as mãos erguidas, exigindo respostas:
— E... então? Qual a situação?
O silêncio que pairava sobre o conselho foi quebrado pelo tom grave e controlado de Will, que suspirou profundamente antes de responder:
— Foi o pior ataque deles até agora, majestade. Eles mataram muitas pessoas, queimaram as casas e roubaram o cofre do castelo. O dinheiro que seria enviado para cá na próxima semana foi levado, assim como as economias dos moradores de Vasques.
O rosto de Vitares ficou vermelho de fúria. Ele se levantou de forma abrupta, quase derrubando sua cadeira, e com um tom de voz que ecoou por todo o salão, exclamou:
— Como assim roubaram o castelo? Não é o lugar mais protegido de lá? Como deixaram isso acontecer?
Enquanto isso, nos corredores adjacentes, Jon e Onurb, posicionados como guardas da porta, podiam ouvir claramente a conversa que ocorria no conselho. Jon, com uma expressão de profunda tristeza, murmurou para seu companheiro:
— Eles destruíram tudo... até as pessoas que eu conhecia.
Onurb, tentando confortá-lo, colocou a mão em seu ombro e respondeu com um tom de empatia:
— Não foram todas as pessoas que eles mataram, Jon. Algumas conseguiram sobreviver.
Dentro do conselho, a tensão crescia. Vitares direcionou seu olhar para seu irmão, Darllos, e com uma voz carregada de expectativa e desafio, perguntou:
— E você? O que tem a dizer sobre isso?
Darllos, sempre calmo e ponderado, cruzou as mãos sobre a mesa, fixou os olhos no rei e respondeu de forma serena:
— Dinheiro não se come, irmão. Eles ainda devem estar com grandes quantidades guardadas. Minha sugestão? Mande um exército atrás deles antes que possam usar esses recursos contra nós.
Will, percebendo a ousadia implícita na proposta de Darllos, interveio imediatamente:
— Majestade, devemos considerar isso com cuidado. Eles estão escondidos em acampamentos dentro da Floresta Negra. Conhecem cada centímetro daquele território, enquanto nós nunca nos aventuramos lá... e todos sabem o motivo.
O silêncio caiu sobre a sala enquanto todos entendiam a referência de Will à morte misteriosa de Viseris Argan na Floresta Negra, um evento que assombrava a família real e os nobres de Segara até hoje. O medo daquela floresta havia mantido as forças de Segara longe dela por anos, mas agora, a proposta de invadir o território era um choque para todos os presentes.
O rei Vitares levantou-se novamente, caminhou em volta da mesa com passos lentos e firmes, como se estivesse calculando cada palavra. Ele parou, encarou cada membro do conselho com um olhar intenso e finalmente declarou:
— Já tomei minha decisão. Não importa o dinheiro roubado, mas sim a segurança de nosso povo. Não permitirei que esses ladrões nos ataquem novamente. Will, prepare um exército com os melhores soldados. Invadiremos a Floresta Negra e acabaremos com eles de uma vez por todas.
As palavras do rei caíram como um raio sobre o conselho. Todos os presentes ficaram abismados com a decisão, sabendo que ela significava desafiar os perigos e os mistérios da Floresta Negra, algo que não era feito há décadas. Mas, como servos do reino, não lhes restava alternativa senão obedecer às ordens de seu soberano.
Naquela noite, a decisão de Vitares marcava o início de uma nova era para Segara. Pela primeira vez em anos, os exércitos do reino marchariam em direção à Floresta Negra, carregando o peso da esperança de um povo e a determinação de um rei que se recusava a aceitar mais uma derrota.
Dentro do reino, Will Tornis começou a organizar seus melhores soldados, selecionando cuidadosamente aqueles que demonstravam maior habilidade e coragem. Entre os escolhidos estavam Jon e Onurb, dois guerreiros que vinham se destacando nas últimas missões. A atmosfera estava pesada, carregada de tensão e expectativa, pois todos sabiam da gravidade da missão que os aguardava.
Jon, em particular, estava tomado por uma mistura de sentimentos. A raiva e a tristeza pela morte de Grynrem pesavam sobre ele, mas sua determinação era ainda maior. Ele sabia que não podia se deixar dominar pelas emoções naquele momento crucial. Respirando fundo, ele se concentrou totalmente em se preparar para a batalha iminente.
Enquanto Jon estava parado na frente de uma ferraria, segurando sua espada, Onurb o viu de longe e caminhou em sua direção com passos firmes. Ao se aproximar, perguntou com curiosidade:
— E aí, Jon, o que está fazendo por aqui?
Jon, sem desviar o olhar da ferraria, respondeu com firmeza:
— Vim trazer minha espada para amolar mais.
Onurb franziu o cenho, surpreso com a resposta, e comentou:
— Mas as espadas da guarda real já são muito bem afiadas. Você não acha?
Jon virou-se lentamente para encarar Onurb, sua expressão séria e resoluta, antes de dizer com convicção:
— Quero ela o mais afiada possível.
Onurb levantou as sobrancelhas, claramente impressionado com a determinação de Jon. Ele olhou para sua própria espada por um momento, como se estivesse considerando algo, antes de tomar uma decisão. Entregando-a ao ferreiro, ele declarou:
— Afie a minha também. Quero ela tão afiada quanto a de Jon, o mais afiada possível.
O ferreiro, sem dizer uma palavra, pegou as espadas e começou a trabalhar nelas com dedicação. Enquanto isso, Jon e Onurb se afastaram da ferraria e voltaram para o local onde Will estava reunindo os soldados.
Will Tornis, em pé sobre uma grande pedra na beira da praia, aguardava que todos os guerreiros estivessem presentes. Quando finalmente estavam reunidos, ele ergueu a voz, que ecoou pelo som das ondas quebrando ao fundo:
— Atenção, guerreiros da guarda real e soldados do reino! Amanhã marcharemos para a Floresta Negra. Quero que todos fiquem atentos e preparados. Essa será uma batalha para colocar aqueles ladrões nos seus devidos lugares.
Por um momento, o silêncio tomou conta, até que um soldado, erguendo sua espada ao céu, gritou com entusiasmo:
— É... isso! Por Segara e por Vasques!
O grito ecoou entre os soldados, e logo outros o acompanharam, enchendo o ar com um clamor de determinação e união.
Ao fim do discurso, Jon aproximou-se de Will, que descia da pedra, e comentou com um sorriso:
— Ótimo discurso, haha.
Will, com um olhar descontraído e um leve sorriso, respondeu enquanto ajeitava sua armadura:
— É minha especialidade.
Os dois trocaram um breve olhar de cumplicidade antes de se separarem para finalizar os preparativos. A noite caiu sobre Segara, trazendo consigo um misto de ansiedade e expectativa para a missão que os aguardava ao amanhecer.
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Atualizado até capítulo 45
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