VIVENDO SOBRE OPRESSÃO

Vasques…

Pela manhã em Vasques o nevoeiro cobre todo o vale verdejante e também as plantações, as pessoas trabalham nas suas plantações desde o amanhecer. São com esse trabalho que eles sobrevivem, as plantações servem de alimento para quase todos os reinos e a principal economia, Vasques não é tão desenvolvido pois todos os recursos, digo, todo dinheiro que os Argans ganham em Vasques é enviado para Segara. Aqui em Vasques há diversas pessoas, incluindo plebeus, soldados rebaixados, bastardos e vários ladrões que estão sempre cometendo alguma delinquência na região. Dorne, sobrinho de Vitares, é o senhor de Vasques, o líder que permanece no castelo.

Lá está ele, vindo em seu cavalo preto através do nevoeiro, seguido por seu mais fiel soldado da guarda real, Sir Will Tornis, ele vem cobrar dos mercadores de Vasques e pagar as dívidas.

No meio do vale ele encontra uma amiga. Diana, com seus 1,69 metros, cabelos ruivos e olhos azuis, parecia quase ser a própria imagem de Vasques — uma beleza tranquila, mas marcada pelas dificuldades da vida. Ela sempre foi amiga de infância de Dorne, e o laço entre eles era inquebrável.

— Olá, minha amiga! — disse Dorne com um tom entusiasmado, esboçando um sorriso enquanto caminhava pela rua de pedras de Vasques, onde as casas humildes, mas acolhedoras, estavam dispostas ao longo da via. O vento suave fazia com que as folhas das árvores ao redor se movessem levemente, e o cheiro de terra fresca invadia o ar.

— Olá, Dorne! — respondeu Diana, com um sorriso suave, como sempre, mas com os olhos marcados por uma preocupação que não passava despercebida.

Ela estava parada perto de uma das poucas plantações que restavam de Noah, seu marido. A terra ao redor estava marcada por oscilantes campos verdes, mas as cicatrizes de destruição eram visíveis, com algumas áreas da plantação bem arrasadas. O vento levava consigo a promessa de mais dificuldades, e Diana, embora parecesse calma, sabia que as coisas estavam prestes a piorar se nada fosse feito.

— Eles estão cada vez mais ousados. Se acampam na floresta ao redor de Vasques e atacam ao cair da noite — disse ela, com uma expressão de preocupação. A imagem de Noah, que sofria tanto desde que perdera a mão esquerda na batalha contra os invasores, apareceu em sua mente. Era difícil ver o homem que amava nessa condição, mas ainda assim ele lutava, trabalhando naquilo que podia.

— Vou colocar alguns soldados em patrulha, não se preocupe. Esses malditos não perdem por esperar — afirmou Dorne com uma confiança calma, seu olhar firme. Ele sabia que tinha que agir, não só por Diana e Noah, mas por todo o povo de Vasques. A cidade, antes próspera, estava se enfraquecendo, e ele sentia o peso de sua posição como nobre da região.

— Eles roubaram algo seu? — Dorne perguntou, a voz cheia de compaixão. Ele sabia que Diana, com sua força, jamais se abalaria por um simples roubo, mas talvez houvesse algo mais profundo.

— Só estão acabando com a plantação do Noah — respondeu Diana, seu tom refletindo a frustração. Ela balançou a cabeça levemente, como se a ideia de mais perdas fosse algo com o qual já estava familiarizada, mas que ainda assim não conseguia aceitar.

— Não se preocupe. Vou fazer o melhor para que eles fujam dessa região — disse Dorne com firmeza, tentando acalmá-la. Ele estava decidido, afinal, Vasques e as pessoas que ali viviam estavam sob sua responsabilidade agora. Ele havia assumido o título de nobre depois de toda a agitação em torno da queda do Reino de Vasques, e não poderia permitir que a paz fosse mais uma vez ameaçada. — Aliás, o rei mandou Sir Will Tornis para minha proteção real, ele é chefe da guarda real de Segara. Ele tem experiência e saberá lidar com essa situação.

Diana ouviu com atenção e assentiu. Sir Will Tornis, Chefe da guarda real de Segara, era conhecido por sua habilidade e coragem. Ela sentiu uma leve esperança acender dentro de si, algo que ela não permitia sentir com frequência, dada a situação das últimas semanas.

— Então é isso, até outro dia, Diana — disse Dorne, seus olhos transmitindo a segurança que ele procurava dar.

Ele virou-se para caminhar em direção ao castelo, a imagem do futuro da cidade e da proteção que ele prometera aos moradores ocupando sua mente. Ele estava confiante de que, com Sir Will Tornis ao seu lado e suas tropas, os ataques de ladrões não seriam mais uma preocupação. A paz, ao menos por um tempo, retornaria a Vasques.

Enquanto Dorne se afastava, Diana observava sua figura alta e imponente desaparecer entre as ruas de pedra de Vasques. A confiança dele lhe dava certo alívio, mas uma dúvida ainda pairava em seu coração. Ela sabia que os tempos estavam mudando rapidamente, e que desafios ainda maiores poderiam surgir.

Os ladrões sempre estiveram presentes na região, desde a fundação dos reinos eles estavam lá, porém os ataques deles nem sempre eram tão fortes. Porém, no dia em que Noah, marido de Diana, perdeu a mão, foi o maior ataque deles em Vasques.

Noah era um soldado em Vasques, responsável pela proteção das plantações e também das pessoas junto com outros soldados, ele era canhoto, tinha uma habilidade com a espada impressionante, Ele e Dorne foram treinados juntos quando eram jovens, porém hoje eles não se falam muito como anos atrás.

Era de manhã cedo em Vasques, todos os soldados estavam se preparando para iniciar mais um dia de proteção no vale.

Noah, após ter amolado a sua espada, seguiu a andar pelos caminhos de Vasques, entre os becos das casas, com um olhar atento, percebeu que algo estava errado. Enquanto o silêncio dominava, ouviam-se gritos bem longes, ele virou-se e voltou a correr pelo mesmo caminho que estava a ir.

“Ladrões” Alguém gritou.

Nesse momento, Noah, tirou a sua espada da bainha e correu em direção aos gritos, enquanto corria no meio do caminho deparou-se com três homens que o cercaram, ele percebendo que haveria um confronto preparou-se.

“Matem ele!” gritou um dos homens, com um sorriso cruel.

Sem hesitar, Noah se lançou para a luta. O primeiro ladrão avançou com uma faca afiada, mas Noah desceu sua espada com destreza, cortando a lâmina do inimigo no meio do ar e, com um golpe rápido, perfurou seu peito, derrubando-o instantaneamente.

O segundo homem tentou atacar por trás, mas Noah percebeu a movimentação e virou-se com agilidade, desferindo um corte horizontal que atravessou o pescoço do agressor, fazendo-o cair sem vida no chão.

Restava apenas um. O último ladrão, agora furioso, avançou com um machado pesado, com a intenção de derrubar Noah com um único golpe. O som do metal batendo contra o ar soou ameaçador, e Noah foi rápido, saltando para o lado, mas o golpe do machado o atingiu parcialmente. Ele bloqueou com sua espada, mas a força do impacto foi tão grande que o machado cortou profundamente a sua mão esquerda, arrancando-a quase completamente do pulso.

Noah gritou de dor, mas, com um impulso de sobrevivência, aproveitou o momento de desequilíbrio do inimigo e, com a espada na mão direita, perfurou o peito do último homem, derrubando-o no chão com um único golpe fatal.

A vitória foi sua, mas o preço foi alto. Sua mão esquerda estava inutilizada, ensanguentada, e ele mal conseguia manter sua espada. A dor era insuportável, mas ele não tinha tempo para se render ao sofrimento. Com o corpo debilitado, ele cambaleou até se apoiar contra a parede, a visão turvada e a respiração ofegante.

Foi quando a guarda local, finalmente, chegou ao local da batalha. Eles rapidamente o ajudaram a se levantar, e Noah, agora sem a mão esquerda, sentiu uma sensação de vazio crescente. Ele havia vencido a batalha, mas havia perdido mais do que imaginara. A dor de perder a mão foi um preço alto demais para a vitória e essa foi sua última batalha.

Anos mais tarde, ele se casou com Diana. E adotaram Jon.

Durante os eventos sombrios do Gelo Maligno, nem todos os habitantes de Hiskan sucumbiram. Muitos fugiram, abandonando suas casas e vidas, buscando refúgio em terras mais seguras. O destino os levou às cidades de Vasques e Segara. Foi assim que Jon, ainda uma criança, chegou a Vasques. Ele era apenas um entre os muitos refugiados que escaparam da destruição, uma criança sem memória de seus pais, como tantos outros. A cidade de Hiskan era imensa, e muitos pereceram no inverno rigoroso que acompanhou o desastre. Os pais de Jon certamente estavam entre os que não sobreviveram.

Na época, Diana e Noah ainda não tinham filhos e decidiram acolher Jon, criando-o como se fosse seu próprio sangue. Alguns anos depois, o casal teve Bran, o irmão mais novo de Jon. Mas a alegria da família foi abalada pela tragédia: Bran contraiu uma febre forte e, apesar de todos os esforços, não sobreviveu. Sua morte precoce deixou uma marca de tristeza na família, mas também os uniu em um vínculo mais forte.

JON

Agora jovem, Jon é cheio de vigor e sonhos. Ele sabe que seus pais prefeririam que ele não seguisse a carreira de soldado, mas a realidade de Vasques é dura. Quem não quer passar a vida cultivando hortaliças, ajudando na plantação, precisa encontrar outras formas de se sustentar — e a espada é o caminho mais comum. Durante as manhãs, Jon ajuda seu pai na terra, plantando e colhendo, mas as tardes são suas. Ele as dedica a treinar com amigos, praticando com espadas de madeira sob a sombra das árvores. O local de treino é próximo ao castelo de Argan, não muito distante da casa de Grynrem.

Grynrem, um bastardo da antiga família Jarvem, é um ancião respeitado na cidade. Com 69 anos, pele escura, cabelos grisalhos e uma presença que exala sabedoria, ele carrega consigo histórias de uma era que poucos se lembram. Vestindo um longo manto feito de peles de animais, sua aparência rústica e digna o faz parecer alguém de importância, quase como um membro esquecido da realeza.

Enquanto os jovens tentavam batalhar com suas espadas improvisadas, Grynrem se aproximou lentamente, seus passos medidos pelo peso da idade.

— Jon, o que você pensa que está fazendo? — perguntou Grynrem, sua voz grave ecoando entre as árvores.

Jon parou de “lutar” e virou-se para o ancião, o sorriso brincando nos lábios.

— Por quê? — respondeu Jon, sua curiosidade misturada com respeito.

— Você está fazendo errado! — disse Grynrem, avançando com passos lentos, o olhar fixo em Jon.

— O senhor é um cavaleiro agora? — retrucou Jon, rindo com um toque de reverência. Ele sempre admirou Grynrem, considerando-o uma das mentes mais sábias da cidade.

Grynrem riu também, seu sorriso quebrando a seriedade de sua expressão.

— Nunca fui, mas no tempo que estou aqui, já vi muitos soldados lutando. Sei o suficiente sobre a arte da guerra. Se você ficar muito parado, torna-se um alvo fácil para o inimigo. Pense nisso.

Jon ficou em silêncio por um momento, impressionado com a sabedoria simples, mas prática, do ancião.

— O senhor pode me ensinar mais coisas? — perguntou Jon, com o entusiasmo típico da juventude. — Não sou soldado ainda, mas quero treinar para proteger minha família dos ladrões.

Grynrem olhou para o jovem, avaliando sua determinação, e respondeu com um sorriso.

— Como eu disse, já vi diversas batalhas. Talvez não possa te ensinar a lutar, mas sei que você será um grande guerreiro.

Um dos amigos de Jon, rindo, interrompeu:

— Guerreiro de verduras!

— Cale a boca! — respondeu Jon, rindo também, mas lançando um olhar de advertência ao amigo.

— Agora vá para casa. Está ficando tarde, e essa espada de madeira não vai te proteger. — concluiu Grynrem, a voz gentil, mas firme.

As noites em Vasques, embora tranquilas às vezes, agora estavam mais seguras graças às patrulhas ordenadas por Dorne.

Dorne, o líder de Vasques, passava grande parte de seus dias dentro do castelo. Embora raramente saísse para algo que não fossem suas obrigações, ele encontrava tempo para escrever. Em suas anotações, ele buscava registrar a essência de sua terra e seus sentimentos mais profundos.

Em uma dessas reflexões, ele escreveu:

“De toda a terra de Midirin, é somente em Vasques que eu encontro a paz.”

Essa frase era um reflexo da alma de Dorne, um homem que, apesar das dificuldades, via em Vasques não apenas um lugar para governar, mas um lar.

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