GELO MALIGNO

VASQUES

Jon estava trabalhando ao lado de seu pai nas hortas da família, onde cultivavam tomates, repolho e cenouras. O frio cortante do inverno fazia o ar parecer mais denso e gelado, mas eles estavam habituados. Enquanto Jon se agachava para colher as cenouras, ele olhou para seu pai e fez uma pergunta incomum.

— Pai, por que ninguém volta para Hiskan? — perguntou Jon, com um olhar curioso.

Noah, seu pai, parou o que estava fazendo, deu uma leve risada e respondeu:

— Hiskan? Ninguém vai lá há mais de dez anos, filho.

Jon, sem demonstrar desconforto, olhou para seu pai e, com uma expressão genuína de curiosidade, perguntou:

— E como está lá?

Noah suspirou, como se lembrasse de algo distante, e disse:

— Coberto de gelo, é claro. Filho, eu sei que você tem várias dúvidas sobre a destruição de Hiskan, mas esse reino fica a vários dias daqui. Eu nunca estive lá. Não conheço quase nada sobre ele, só ouvi falar.

Jon, ainda pensativo, continuou a fazer perguntas. Ele sabia que seu pai nunca falava muito sobre o assunto, mas sempre dava respostas que deixavam ainda mais perguntas no ar.

— E se ninguém foi até lá depois da destruição, como sabem que está coberto de gelo? — perguntou Jon, intrigado.

Noah, com um sorriso irônico, respondeu:

— Pergunte a Grynrem. Aquele velho parece saber de tudo, ou inventa.

Jon refletiu por um momento e concordou:

— Sim, por mais que as pessoas o acham meio doido, algumas coisas que ele fala podem ser verdade.

Noah balançou a cabeça, pensativo, e disse:

— Talvez você tenha razão.

Jon continuou a trabalhar com o pai, recolhendo verduras e colocando-as em uma cesta. Ele levava para dentro de casa, onde sua mãe, Diana, lavava as hortaliças e preparava o jantar.

A casa da família era simples, feita de madeira, como todas as casas do vale. Tinha três cômodos: a cozinha-sala, o quarto de Jon e o quarto dos pais. As únicas construções de pedra na região eram as ruas e os becos, além de alguns pedaços de muro que ainda estavam inacabados.

Depois de um tempo, Jon levantou outra cesta com verduras e, enquanto caminhava para dentro da casa, disse:

— Pai, eu ainda não te contei isso, mas…

Noah olhou para ele, interessado.

— Pode falar, filho! — respondeu Noah.

Jon, hesitante, confessou:

— Eu sempre tive o desejo de lutar, e você sabe que treino todo dia. Tenho o desejo de me tornar um cavaleiro.

Noah parou por um momento e olhou para o filho com seriedade. Depois, com um tom de voz calmo, falou:

— Ah, filho, em algum momento você vai ter que aprender a se defender sozinho, porque nem sempre estarei aqui para ajudar. Mas ser um cavaleiro não é fácil, exige esforço, muito treinamento e força de vontade.

Jon fez uma pausa, refletindo sobre as palavras do pai, e então respondeu:

— É... você tem razão.

Eles continuaram conversando e trabalhando, mas a semente de um novo desejo estava plantada na mente de Jon.

Mais tarde, Jon entrou em casa, comeu um pouco da refeição preparada pela mãe e, sem perder tempo, saiu novamente.

— Onde você vai, filho? — perguntou Diana, olhando-o com um olhar de curiosidade.

Jon, já distante, gritou:

— Vou falar com Grynrem!

— O que ele quer com Grynrem? — perguntou Diana, preocupada, olhando para Noah.

Noah, sem desviar o olhar da comida, respondeu:

— Parece que ele quer saber mais sobre o “Gelo Maligno”.

Diana, desconfiada, perguntou:

— Gelo Maligno? E ele acha que aquele senhor sabe alguma coisa sobre isso?

Noah, com um sorriso meio cínico, respondeu:

— Claro que ele sabe, ou vai inventar. Isso não vai mudar nada.

CASA DE GRYNREM...

Jon chegou até a casa de Grynrem, mas encontrou a porta fechada. Com um suspiro de frustração, ele gritou:

— Olá!

Ele ficou aguardando, mas não ouviu resposta. Então, curioso, se aproximou da janela, espiando para dentro. Foi quando ouviu uma voz autoritária vindo de trás de si.

— O que você pensa que está fazendo? — disse a voz, seguida de passos pesados.

Jon virou rapidamente e viu um soldado da guarda. Assustado, tentou se explicar:

— Eu só... eu só estava tentando chamar meu amigo.

O soldado, irritado, brandiu sua espada e disse:

— Cale a boca, seu pequeno ladrão! Você está preso!

Jon tentou correr, mas o soldado foi rápido, dando um soco em seu estômago, fazendo-o cair no chão.

Foi nesse momento que uma voz familiar surgiu.

— O que está fazendo? — disse Sir Will, olhando com desconfiança para o soldado.

O soldado, assustado, tentou explicar:

— Senhor, esse ladrão estava tentando arrombar a casa.

Sir Will, com uma expressão severa, olhou para o soldado e disse:

— Soldado, você não sabe quem é esse "ladrão". Ele é filho de Diana, uma amiga de Dorne. Você quer morrer?

O soldado, apavorado, rapidamente pediu desculpas, mas Jon ainda estava sem saber o que fazer, pois nunca imaginou que um soldado pedisse desculpas.

— Sinto muito, senhor, farei qualquer coisa, só não conte para sua mãe o que aconteceu.

— Tá, tá, não vou contar — respondeu Jon, aliviado.

Sir Will, com um sorriso irônico, disse ao soldado:

— Agora saia daqui, seu inútil.

Jon, ainda atordoado, perguntou a Sir Will:

— Senhor Will, você sabe onde está Grynrem?

Sir Will, com um ar de desinteresse, respondeu:

— Ninguém sabe onde esse velho anda.

Wil perguntou:

— E o que você quer com essa casa?

Jon olhou para a casa e, com um suspiro, respondeu:

— A casa é dele.

Jon, com a mente cheia de novas perguntas, perguntou:

— Você sabe algo sobre o Gelo Maligno?

Sir Will, com uma expressão grave, disse:

— Claro que sei. Dizem que foi o inverno que chegou em Hiskan, tão forte que congelou a cidade inteira. Há alguns anos, eu estava conversando com um homem que veio com a multidão. Ele me disse que o gelo não é chamado de maligno por acaso.

Jon se aproximou, ansioso por mais detalhes.

— Sério, por que é chamado assim? — perguntou Jon.

— Ele disse que estava perto da cidade na hora do gelo, era de manhã cedo, e o tempo começou a esfriar do nada. Normalmente já é frio lá, mas o frio aumentou demais. Quando ele olhou para o castelo, viu o gelo subindo rapidamente, cobrindo tudo. Nenhum nobre sobreviveu. Algumas pessoas ainda tentaram escapar, mas o gelo permanece até hoje.

Jon, impressionado, perguntou:

— E quem era o rei na época?

Sir Will, com um tom sombrio, respondeu:

— Tartis II. Ele morreu naquela manhã.

Jon, com os olhos arregalados, concluiu:

— Então isso significa que Hiskan foi destruído por magia?

Sir Will fez uma pausa antes de responder:

— É o que dizem. Mas você vai acreditar no que o velho disse? Eu acreditei.

Jon, pensativo, agradeceu:

— Obrigado por me contar isso. Eu gostaria de ter a oportunidade de conhecer Hiskan um dia.

Sir Will sorriu com um ar de cautela:

— Se você conseguir quebrar um feitiço, talvez consiga descobrir. Agora, vá para casa. Não quero que você tenha mais problemas com meus soldados.

Jon, com os pensamentos agitados, voltou para casa. Durante a noite, ele refletiu sobre tudo o que aconteceu, sobre o que Will havia lhe contado e sobre seu próprio desejo de conhecer Hiskan. A ideia de sua infância, de um lugar distante e coberto de gelo, parecia mais próxima do que nunca.

Naquela noite, enquanto tudo parecia calmo, Jon se lembrou de Grynrem. Sem fazer muito barulho, ele se levantou, abriu a porta e saiu sem que seus pais percebessem. Enquanto caminhava, viu duas tochas se aproximando eram soldados em patrulha. Com o coração acelerado, Jon se escondeu atrás de uma árvore, ouvindo a conversa.

— Você já sabe que o rei virá nas próximas semanas aqui? — disse um soldado.

— O rei? — perguntou o outro.

Jon tentou ouvir mais, mas os soldados já haviam passado. Ele pensou em ir até a casa de Grynrem, mas, com um suspiro, optou por voltar para casa. No dia seguinte, ele resolveria tudo.

Pela manhã, Jon levantou-se mais cedo que o próprio pai e correu até a casa de Grynrem. Quando chegou lá, para sua surpresa, Grynrem já estava regando suas plantas. O velho, com um sorriso leve, cumprimentou Jon.

— Jon, que surpresa agradável — disse Grynrem.

Jon, com os olhos arregalados, perguntou:

— Grynrem, pensei que você estivesse morto!

Grynrem, rindo suavemente, respondeu:

— Por que você achou isso?

Jon, ainda surpreso, explicou:

— Eu vim aqui ontem e não te encontrei.

Grynrem sorriu, como se tivesse esperado pela visita.

— Eu estava na casa de um amigo — disse Grynrem. — Jon, você me disse que queria aprender a batalhar, não foi?

Jon, com os olhos brilhando de excitação, respondeu:

— Sim, eu falei.

Grynrem, com um tom misterioso, respondeu:

— Então, ontem eu ouvi uma conversa que pode te interessar.

Jon, ansioso, perguntou:

— Sério? E o que foi?

Grynrem, com um olhar sério, disse:

— Não posso contar agora. Não sei se é verdade. Mas venha aqui nas próximas semanas. Tenho algo para te contar. Vai ter um treinador para você.

Jon, ficou surpreso quando ouviu isso, mas não duvidou da palavra de Grynrem.

Grynrem parecia estar ficando mais fraco a cada dia. Sua saúde estava visivelmente comprometida. Ele morava sozinho, mas sempre insistia que um homem só é mais sábio quando reflete em silêncio, sem a distração de outras pessoas ao redor. Essas palavras pareciam carregar uma sabedoria profunda que Jon sempre admirou.

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