Capítulo 16

John

Depois que passamos um tempo juntos no final de semana, minha relação com Sofia mudou. Ela parou de me ignorar e de fingir que eu não estava ali. Almoçamos praticamente a semana toda juntos, mas somente um dia sozinhos, onde conversamos normalmente, sobre a Maju, principalmente.

- E é isso, a mãe dela arrumou um namorado, e um dia apareceu na porta da minha mãe com a menina numa mão e a mala dela na outra. Falou que ia viajar com o namorado e nunca mais voltou.

- Nossa. E a Maju como lida com isso?

- No começo bem mal. Quando eu consegui voltar a morar aqui com ela e minha mãe, ela foi melhorando. Mas pergunta sempre pela mãe.

- Mas ela nem liga para falar com a filha?

- Bem raro. E na maioria das vezes eu tenho que exigir que ela ligue.

- Situação complicada. Imagino que a Maju deve sentir falta dela. E a guarda da Maju é de quem?

- Da mãe, mas já estou vendo para mudar.

- Se quiser pode ver com um advogado do escritório do meu pai. Tem excelentes na área da família.

- Se precisar eu procuro sim, obrigado.

Estávamos almoçando e conversando em um clima agradável entre nós, até o celular da Sofia tocar. Ela olhou para ver quem era, e deixou tocar. Mas a pessoa foi insistente. Ela respirou fundo e me falou.

- Vou precisar atender. 📲 - Oi Diogo.

📲 - Já estou almoçando, vamos deixar para outro dia.

📲 - Sim, meu cabelo está normal.

📲 - Estou falando baixo porque estou em um restaurante Diogo.

📲 - Ok, jantamos então. Até depois.

Depois disso terminamos de almoçar em silêncio. Até por telefone esse cara consegue me irritar. Preciso saber como anda a investigação.

Mas notei que Sofia ficou irritada também, como se atender o noivo fosse alto chato, ao contrário do que deveria ser. Relação no mínimo estranha. Mas não vou arriscar perder a aproximação que estamos tendo, perguntando sobre o Diogo. Primeiro preciso saber o que esse cara faz quando Sofia não está com ele.

Nesse mesmo dia Diogo foi buscar Sofia em sua loja, e eu aproveitei para ir até o escritório onde Jorge tem sua empresa de investigação.

- O cara sai de casa, vai trabalhar. Almoça sempre acompanhado, geralmente almoços de negócios. Mas a noite ao invés de ir para seu apartamento, ele passa em outro.

- Da Sofia?

- Não John. Ainda estamos investigando, mas o porteiro disse que Diogo sobe sempre para o apartamento de uma moça chamada Larissa.

- Amante será?

- Não tenho essa informação ainda. O porteiro também não sabe se tem algum grau de parentesco, mas também nunca os viu juntos, só sabe que Diogo vai para o apartamento dela. Mas logo descobrimos, o cara vai praticamente todas as noites. Irmã que não deve ser.

- Filha da puta._ se já tinha vontade de matar, agora então.

- Calma aí John. Não deveria ter te passado informações pela metade. Só fiz porque é meu amigo. Mas me deixa descobrir tudo e ter provas antes, depois pode arrebentar o babaca na porrada, se for o caso, claro.

Ainda bem que o idiota não apareceu nos dias seguintes para ver Sofia. Como ele tem coragem de trair uma mulher tão linda e meiga como Sofia? Só sendo muito idiota mesmo.

Não sei ao certo o que vou fazer quando tiver as provas. Tenho medo de contar a ela, pode piorar seu transtorno, ou até ela não acreditar em mim. Mas tenho certeza que vou ter o prazer de quebrar a cara daquele idiota, ah se vou.

Era sexta-feira, voltamos do almoço onde Maitê foi junto, e estávamos no ateliê. Sofia estava desenhando um vestido de festa pelo que consegui ver. Enquanto ela estava desenhando, eu estava sentado próximo a ela em sua mesa, olhando as câmeras de segurança da sua loja. Depois que começamos estabelecer uma "amizade", eu passei a ter mais liberdade dentro do seu ateliê, sem exageros claro, afinal estou ali trabalhando.

Seu celular tocou e ela atendeu toda sorridente.

📲 - Oi pai.

Ela ficou um tempo quieta só ouvindo o que seu pai falava. Aí ela colocou a mão na boca e olhou para mim.

📲 - Vocês não fizeram isso! Pai sabia que sequestro é crime?

Quando ela falou sequestro, parei o que estava fazendo e fiquei olhando para ela que continuava me olhando com uma cara de espanto.

📲 - Vocês são doidos. E ainda fizeram dona Nora de cúmplice, coitada.

Quando ela falou o nome da minha mãe eu fiz um gesto para me falar o que era. Ela afastou um pouco o celular da boca e me falou.

- Meu pai e minha mãe foram no seu apartamento buscar a Maju, agora estão os três lá na casa deles, brincando na piscina. E sua mãe autorizou tudo.

Eu não podia acreditar nisso kkk

📲 - Vou passar pra ele pai.

Ela me passou seu celular e seu Eduardo me falou que estavam com a Maju e era para eu a buscar no final do dia. Depois que desligou, seu Eduardo mandou fotos e vídeos que fez da minha filha brincando na piscina. Pelo que pude ver, Gisele, a moça que cuida dela, também estava lá na piscina.

Sofia resolveu sair mais cedo do ateliê, assim poderíamos ficar um tempo com Maju na piscina. Só de imaginar Sofia de biquíni já passei mal.

Chegamos e estava uma festa. Dona Catarina, Maju e Gisele estavam brincando dentro da piscina e seu Eduardo sentado lendo uma revista.

- Oi crianças. Chegaram para nossa festa?

- Oi pai._ Sofia deu um beijo no pai e foi próximo a piscina falar com elas.

- Senta aí John.

- Com licença seu Eduardo.

- Espero que não se importe de termos ido busca Maju.

- Claro que não. Só espero que ela não tenha dado trabalho.

- Que nada. É uma criança adorável sua filha.

- Obrigado.

Estávamos conversando e eu nem vi quando Sofia havia saído de perto da piscina, mas com certeza vi quando ela retornou usando um biquíni que por Deus, quase infartei. Tomei o suco que estava segurando na minha mão, em um gole só.

- Calor John? Tira essa gravata meu rapaz, pode ficar a vontade.

Se seu Eduardo sonhasse o motivo do meu calor. Sofia estava ainda mais linda do que eu me lembrava, o corpo mais malhado. E eu tive que fazer o que seu Eduardo me sugeriu, e tirei a gravata para conseguir respirar melhor, se isso era possível, porque ela ainda me inventava de sair da piscina com a água escorrendo por suas curvas.

Me esforcei o máximo para não ficar a olhando, até virei um pouco o corpo para não ficar de frente para a piscina.

Com a calma que consegui, continuei conversando com seu Eduardo, até ele me soltar essa.

- Se você e minha filha não tivessem complicado as coisas, poderia ser minha neta brincando ali._ ele falou olhando elas na piscina.

Eu engasguei com o suco e ele deu uma gargalhada.

- Kkkk Calma aí John. Não quero que a pequena Maju fique órfã de pai.

- Eu não entendi..

- Ah entendeu sim. Vocês jovens acham que são espertos e esquecem quem nasceu primeiro kkk

- Seu Eduardo eu posso explicar.

- Estou esperando essa explicação a anos John.

- Bem eu. Eu não sei o que dizer. Juro para o senhor que sempre respeitei sua filha.

- Calma John. Não precisa ficar nervoso.

- Desde quando o senhor sabe? E porque nunca foi me pedir satisfação?

- Soube quando vocês já não estavam mais juntos. Sofia começou uns comportamentos estranhos. Comprava coisas desnecessárias e escondia tudo. Na época Catarina estava com ela nos EUA, e me contou tudo. Me falou da relação de vocês. Depois eu fui para cima do Adam, e ele me contou tudo também. Saiba que eu o forcei, então não fique bravo com ele. Adam me falou a chantagem que seu pai fez com você, além da pressão psicológica. Eu o procurei e ele confirmou tudo. Depois que entendi a relação de vocês e porque do término, resolvi te procurar para falar que a diferença social entre você e minha filha não seria nenhum empecilho para ficarem juntos se assim desejassem. Levando em consideração que Sofia estava sofrendo e por isso desenvolvendo uma compulsão por compras. Mas quando fui te procurar, descobri que você estava morando com uma moça, e ela estava grávida, com seu bebê prestes a nascer. Aí Catarina e eu decidimos deixar como estava, afinal tinha um bebê no meio disso tudo, uma moça grávida, que suponho não tinha culpa de nada e nem das decisões tomadas por você. Quanto a minha filha, fizemos o possível e o impossível para ela melhorar, e graças a Deus, as crises de sair comprando tudo que vê pela frente se tornaram muito raras.

- Eu sinto muito seu Eduardo. Me sinto muito culpado pelo que aconteceu com Sofia.

- Tem muita culpa mesmo. Mas consigo entender sua situação na época, ter que escolher entre o tratamento da sua mãe e minha filha. Mas porque não falou a verdade a Sofia John? Nos poderíamos ter pago todo o tratamento da dona Nora, e vocês teriam evitado tudo isso.

- Meu pai me convenceu que o senhor e seu Thomas nunca aceitariam que Sofia ficasse com um simples segurança. Ele fez uma lavagem cerebral na minha cabeça. O senhor pode acreditar, ninguém é tão manipulador como o senhor James Stone. Eu só consegui perceber muito tempo depois. Hoje nem nos falamos mais.

- Eu fiquei sabendo disso também. Ele me contou quando me pediu para que permitisse que você fosse o segurança da Sofia.

- Ele pediu isso?

- Sim, me pediu. E para falar a verdade eu já queria que você fosse seu segurança mesmo.

- O senhor realmente não se importa de eu ter tido uma relação com sua filha?

- Claro que não John. Porque teria? Por causa de diferença social? Não me julgue tão mal assim John.

- Quando Aurora começou a namorar, eu ouvi o senhor falar ao seu Thomas que não ia permitir que qualquer um namorasse com a Sofia. Bem, não pude deixar de imaginar que o senhor nunca ia me aceitar. Além da diferença social, eu era mais velho que sua filha.

- Entendeu errado John. Quando estava falando, não me referia a posição social John, e sim caráter. E no final das contas minha filha acabou noiva de uma cara que não me gera confiança.

Olhei para Sofia que estava rindo lindamente enquanto Maju e sua mãe jogavam água nela. Seu Eduardo acompanhou meu olhar.

- Porque não contou a ela ainda? Não acha que Sofia tem o direito de saber a verdade, incluindo sua prima que ela acha até hoje que era uma mulher por quem você a trocou?

- Eu tentei seu Eduardo. Foi em uma das festas do Adam, mas ela já estava sabendo que eu seria pai, e simplesmente nem me deixou falar, só me parabenizou pelo meu filho. Depois passou a me ignorar totalmente, como se eu não existisse ou fosse um fantasma.

- Pois bem, já se passaram muitos anos, Sofia não é mais a menina imatura daquela época. Quem sabe agora ela te escute. Se não tentar nunca vai saber e esse mal entendido vai perdurar.

As palavras de seu Eduardo ficaram martelando na minha cabeça. Realmente eu precisava contar toda a verdade a Sofia. E agora ainda tinha a história do Diogo e a possível traição daquele crápula.

A tarde começou a ficar fria, afinal estamos no outono curitibano, então elas saíram da piscina e fomos fazer um lanche. Depois peguei Sofia, Maju e fomos levar Gisele para casa, e por fim fomos levar Sofia.

- Maju você quer conhecer meu apartamento hoje?

- Quero!

Claro que minha filha não ia dizer não. Então entramos e Sofia foi mostrar seu apartamento. Quando elas foram subindo as escadas, eu parei no lugar. Achei que era estranho ir no quarto da Sofia, algo muito íntimo. Mas Maju não sabe nada disso e me chamou

- Vem papai.

- Vou esperar aqui filha.

Ela olhou para Sofia que entendeu só pelo olhar o que Maju queria.

- Pode subir John.

Ah meu coração. Ela falou meu nome. Depois de anos eu a ouvi chamar meu nome novamente. Abri um sorriso espontâneo e subi atrás delas.

Me senti incomodado ao entrar em seu quarto, ainda mais por imaginar ela e Diogo ali. Então fiquei próximo a porta. Mas pude perceber que era muito lindo, sem contar o cheiro do seu perfume por todo lugar.

Descemos e Maju quis tomar suco. Dona Emília já tinha ido para casa da filha, então invadimos sua cozinha. No final das contas, terminamos pedindo pizza, coisa que Sofia também não comia a bastante tempo, e ficamos vendo desenho com Maju.

- Adorei sua casa Sofia. Tchau._ Maju se despediu da Sofia a abraçando pela cintura.

- Pode vir sempre que quiser então. _ Sofia falou pondo o seu dedo indicador levemente na ponta do narizinho da minha filha.

- Vamos deixar Sofia descansar então filha. Obrigado pela pizza.

- Imagina. Obrigada por deixar ela ficar um tempinho aqui. E desculpa pelos meus pais. São um pouquinho sem noção, eu reconheço.

- Kkk Não foi nada. Maju adorou seu dia de aventura.

Ficamos um tempo nos olhando, eu não queria ir embora.

- Então, boa noite Sofia.

- Boa noite John.

Dei um sorriso para ela, peguei Maju pela mão e fomos.

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