Capítulo 14

Maya

Ficar sozinha na casa do Aza não é um problema para mim, me sinto estranhamente segura aqui. Ele disse que talvez não volte para casa e deixou tudo pronto para mim, que bom que ele me ensinou a mexer no microondas.

Chega o horário do almoço e eu pego um dos pratos na geladeira e coloco no microondas. Pego uma garrafa de coca 600 para acompanhar a comida e assim que escuto o plim pego minha comida.

Estou sentada comendo, mas sinto que falta algo. A comida está uma delícia, Aza cozinha muito bem, mas tem algo errado… Estou sentindo falta dele? Isso é sério?

Termino minha refeição e volto para o quarto dele, virou minha zona de conforto. Meus olhos vão para a caixa com os diários do Aza e a minha curiosidade que até então não existia em meu ser me faz pegar a caixa novamente.

Volto a ler um dos diários e as coisas que o Aza passou me fazem chorar. Ele não teve relacionamentos porque o Niklaus foi um filho da puta com ele. Ele matou inocentes a mando desse verme e do pai dele, ele sofreu na infância e adolescência sendo levado ao limite de seu corpo em torturas e lutas.

— Meu Deus… — coloco as mãos na boca e choro.

— O que está fazendo, Maya? — me assusto com a voz do Aza atrás de mim e acabo empurrando a caixa deixando seus diários caírem no chão.

— Eu… Eu sinto muito, Aza. Não queria ser enxerida e… — ele vem até mim que estou no chão tentando guardar tudo e ele me ajuda.

— São meus diários da dor. — ele explica — Se eu não fizesse isso todas às vezes em que fui obrigado a fazer algo que queimaria a minha alma, sem dúvida alguma enlouqueceria.

— Co-como assim? Não entendi.

— Cada vez que eu escrevia parecia que eu estava contando para alguém, me confessando. Isso não muda a minha culpa e remorso, mas ajudou com parte da raiva.

Terminamos de guardar todos de volta na caixa e ele a coloca de volta em cima do guarda roupa.

— Não vou fazer isso de novo, me desculpe. — ele apenas fica em silêncio até que pergunto — Você não disse que não viria para casa hoje?

— Quase esqueci o que me fez vir até aqui… Está tudo certo, você vai sair desse inferno no final de semana. Não dava para esperar até amanhã para te contar, agora preciso voltar.

— Tem certeza que não pode ficar mais um pouco?

— Já arrisquei muito vindo até aqui pessoalmente. Mas prometo vir pela manhã, quando acordar já estarei aqui.

Ele passa a mão no meu rosto e sai, olho para a caixa azul no alto do armário e depois volto meu olhar para a cama. É melhor dormir mais um pouco, agora tenho um motivo para sonhar com algo bom.

Vou sair daqui, vou voltar para o meu lar, o lugar de onde eu nunca deveria ter saído. Graças ao meu anjo, Azazel.

Eu adormeci, quando despertei estava tudo escuro, acendo a luz do quarto e olho para o relógio e já passa das oito da noite. Preciso comer, volto para a cozinha e pego o segundo prato.

Enquanto esquento a comida faço um suco de laranja e me preocupo com o barulho do espremedor tentando abafar ao máximo. Somente agora me lembrei que não posso acender as luzes da cozinha e da sala e quase corro até o interruptor.

Abro a geladeira e deixo sua luz fraca me acompanhar até que termino tudo por aqui e volto para o quarto. Fico até o meio da madrugada imaginando minha vida num lugar em que não irei me preocupar com alguém me torturando e me fazendo andar nua usando uma coleira por aí.

Adormeço e tenho um sonho bom, nele o Aza me abraça e me beija apaixonado. Meu corpo esquenta e eu acordo suada com o Aza olhando para mim.

— Aza? — falo ofegante — Você me assustou.

— Estava tendo um pesadelo?

— Por que está perguntando?

— Você estava sussurrando meu nome de um jeito estranho!

— Foi! — me levanto da cama correndo — Foi só um pesadelo bobo, está tudo bem.

Ele continua me olhando sem falar nada até que sai do quarto. Que vergonha, meu Deus. Como eu iria falar para o Aza que estava tendo um sonho erótico com ele?

Os dias passam rápido, e a noite da minha fuga chegou. Aza me disse que um avião particular de um amigo dele nos Estados Unidos estava à nossa espera num aeroporto particular. Mas não era isso que estava me incomodando.

— Aza, tem certeza que não irei morrer sufocada dentro dessa mala? Tem certeza que eu vou caber aí dentro?

— É o único jeito de tirar você daqui de dentro sem ser notada por alguém! Já lhe garanti que não vai morrer sufocada e que cabe aqui dentro perfeitamente se encolher e abraçar as pernas com força.

— Mas você me trouxe para cá, será que ninguém viu?

— Quando cheguei com você aqui era quase quatro da manhã e ninguém estava para o lado de fora! Vamos, Maya, deite dentro da mala. Sua oportunidade de uma vida melhor a espera no aeroporto particular. Dentro da aeronave irei tirá-la aí de dentro, eu prometo.

Olho para ele uma última vez e faço o que me pediu. A princípio pensei ser impossível um ser humano caber numa mala, mas com a ajuda do Aza vi que é possível sim.

Ele tem todo um cuidado com a mala para que eu não sinta o impacto quando sou colocada dentro do carro, logo estamos em movimento. Fico nervosa, estou a tempo demais nessa mala e até agora o carro não parou… Será que aconteceu um imprevisto?

Não sei por quanto tempo estou nessa mala, mas se eu continuar aqui irei ter uma crise de pânico. O carro finalmente parou, sinto que sou tirada de dentro do carro e levada para algum lugar.

Até que o movimento pára. Onde estou? Por que o Aza não abre logo isso? De repente sinto um movimento novamente, não sei identificar. De repente a mala se abre e Aza sorri para mim.

— Conseguimos, Maya. O avião já vai decolar… Você quer ver?

Ele me oferece sua mão para que eu saia da mala e ao me sentar observo o avião andar pela pista e em seguida começa a se afastar do chão. Minha liberdade, eu não acredito. Minha liberdade. Começo a chorar só que de felicidade até que Aza me abraça.

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