Maya
Eu estava saindo do banho quando ouvi a voz do meu pesadelo ecoar por essas paredes. Meu corpo obediente a ele se joga no chão de joelhos e se inclina para frente para implorar por perdão.
Tudo piora quando escuto os absurdos que ele fala, o seu desejo de acabar comigo quando me encontrar só por ter fugido dele. Meu mestre vai me matar quando me encontrar, já não resta nada de mim mesma dentro do meu peito e dentro da minha mente.
Aqui dentro reside apenas a sua escrava que foi torturada desde os quinze anos. Não existe uma mulher, pessoa ou ser humano, apenas um objeto sem vida que foi vendido para ele quando tinha apenas seis anos de idade.
Estou desesperada, meu choro é silencioso, meus braços esticados no chão, meu corpo dobrado sobre minhas coxas, a testa no chão… Odeio essa posição. Era como ele me obrigava a ficar para pedir perdão por algum erro meu.
Somente nessa posição ele parava de me torturar, somente nessa posição meu corpo encontrava alívio e agora estou nessa posição desejando o perdão dele para que não me faça sofrer mais.
A porta se abre e meu choro fica alto instintivamente. Ele entrou aqui e vai me torturar, vai me punir por estar no quarto de outro homem e por ser tocada por ele sem o consentimento do meu mestre, acabou para mim.
Mas sou acalentada por Azazel, meu salvador, não é meu mestre é meu salvador. Eu não tinha controle, só conseguia pensar no terror que acabei de viver até que Aza me faz voltar a tranquilidade.
— Ele… Ele vai me encontrar e vai me fazer desejar estar morta em vida. — falo quase sem voz depois de tanto chorar.
— Não confia em mim? — Aza me pergunta — Não posso tirá-la daqui agora porque sei tudo o que Niklaus vai fazer por alguns dias. Mas tenha em mente que logo estaremos num avião direto para os Estados Unidos e lá você estará livre.
Ele segura minhas mãos com firmeza e olha nos meus olhos. Nesse momento parece que o mundo lá fora não existe, que somos apenas nós dois nesse mundo enorme e meu coração acelera, meu corpo aquece e meus olhos não saem dos lábios dele. Até que Aza se levanta e se afasta de mim.
— Vai me deixar sozinha? — pergunto com medo.
— Preciso fingir que estou ajudando ele a procurar por você! Não posso deixar que ele te encontre de verdade. Vou deixar a porta da sala trancada para o seu próprio bem, se for assistir televisão que seja no volume mais baixo. Se quiser comer alguma coisa na cozinha tem de tudo, sinta-se em casa. Apenas evite barulhos para que não pensem que tem alguém aqui dentro e tentem entrar ou até mesmo chamar a polícia.
Ele pega suas armas e sai do quarto me deixando sozinha. Vou até a sala onde meu mestre estava minutos atrás e acabo voltando correndo para o quarto. Eu só queria ver o Aza sair, mas não consegui.
Não quero assistir televisão, Deus me livre chamar a atenção de alguém lá fora. Olho para tudo o que ele tem nesse quarto e decidi explorar. Encontrei dois livros de poesia, ele é romântico? Sinto meu corpo reagir a esse pensamento.
Acabo lendo os dois, ao olhar para a hora me lembro que preciso comer, já passa das duas da tarde e o Aza ainda não voltou. Abro a porta do quarto como se eu fosse uma fugitiva com medo que alguém me pegue.
Sigo nas pontas dos pés para a sala e olho com cuidado. Vou até a parte que fica a cozinha e me lembro que não sei cozinhar, olho na geladeira e vejo coisas que dá para fazer um belo sanduíche e isso eu sei fazer.
Procuro pelos armários o pão e logo encontro. Arrumo dois sanduíches e um copo enorme de suco numa bandeja e volto correndo para o quarto.
Me sento no chão e começo a devorar meu sanduíche enquanto olho a minha volta até que meus olhos vão para a caixa que derrubei por acidente. Uma caixa azul sem nome, o que será que tem ali dentro?
Termino minha refeição e pego uma cadeira, subo nela e consigo alcançar a caixa trazendo para baixo e colocando em cima da cama. Ao abri-la observo que tem alguns cadernos aqui, de capa preta com anos, escrito em cada um deles.
Ao pegar o que está com o ano passado marcado abro para ler e de cara leio as palavras escritas por Aza que parecem carregar dor:
“É o primeiro dia do ano e eu tive que limpar mais uma bagunça feita pelo demônio em pessoa. Ele matou uma mulher enquanto a estuprava violentamente. Mais uma vez não pude fazer nada, não pude salvar a vida dessa mulher que não sabia o erro que estava cometendo ao aceitar o valor alto que ele propôs apenas para fazer sexo. Sou um lixo, mereço morrer por assistir e não fazer nada.”
Isso é algum tipo de diário de dor? Leio mais alguns trechos até que ele menciona meu nome e eu me surpreendo:
“Salvei Maya mais uma vez de ser brutalmente torturada por Niklaus. Ele estava furioso com seu pai e queria descontar nela, mas felizmente o convenci a sair para beber umas e ele aceitou. Fiz o infeliz beber o bar quase todo depois o deixei desmaiado na própria cama, essa noite posso dormir porque sei que ele não vai no quarto dela.”
Ele me protegeu mesmo? Esse homem que não tinha obrigação nenhuma em cuidar de mim realmente me protegeu antes de me salvar? Escuto um barulho na sala, coloco o diário de volta na caixa, corro até onde deixei a cadeira e coloco a caixa no lugar.
Quando ele entra no quarto estou descendo da cadeira e ele me olha curioso ao perguntar:
— O que está fazendo? — mas os olhos dele vão para o prato no chão com sobras do sanduíche — Estou vendo que não comeu algo que a sustente de verdade. Vou fazer comida para nós dois.
Ele sai do quarto sorrindo e eu o acompanho, meus olhos não deixam seus ombros largos que já fizeram muito por mim.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments
Cleide Almeida
sim Amália mesmo ele ñ podendo dazer mto ti protegia da maneira dele
2024-12-15
2
Celma Rodrigues
Ela vai se surpreender muito ao ler os diários. Azazel foi seu protetor por muito tempo.
2024-12-13
2
Eva Garbin
estou torcendo pra Maya não ser encontrada ela já sofreu de mais
2025-01-18
0