Capítulo 16

Azazel

A reação de Maya a sua liberdade aqueceu meu frio coração. Vê-la correr de um lado para o outro no avião olhando em cada janela sua liberdade de ângulos diferentes me faz sorrir.

Tentei convencê-la a dormir, mas ela estava feliz demais para dormir e perder cada segundo desse momento importante de sua vida, sua nova vida. Quando chegamos em Nova York ela nem percebeu que a fiz vestir um sobretudo e colocou um boné em sua cabeça.

Nem mesmo quando a deixei no quarto para tomar um banho ela mencionou os dois acessórios. Acho que está anestesiada com tudo. Deixei ela lá em cima e fui conversar com a doutora.

— Oi, me chamo Azazel Dwight, sou o… — ainda não posso confiar nessa doutora — Sou o namorado da Maya.

— Olá, Azazel, sou a doutora Celine Sanchez. Vou cuidar bem da paciente, logo ela estará saudável mentalmente.

— Não quero que a force a nada, deixe que ela decida em que direção seguir e o que deve contar para a senhora.

— Mas desse jeito a recuperação dela pode demorar, os pacientes às vezes não querem se abrir e temos que fazer perguntas necessárias.

— Vou lhe dar um breve resumo mesmo sabendo que isso deve partir dela… — olho para a escada e depois para a doutora — Ela passou por muita humilhação e tortura tanto física quanto psicológica. Vou parar por aqui, o restante vai saber da boca dela, meu único pedido é que pegue leve.

— Mas se o senhor é namorado dela, como permitiu que passasse por tudo isso?

— Eu a salvei das mãos do diabo, não faça muitas perguntas para mim também, doutora. Está aqui para cuidar da cabeça da Maya.

Logo nos calamos quando Maya aparece, a doutora pede para ficar sozinha com ela e mesmo não gostando muito dessa ideia me afasto dizendo para Maya que iria ficar tudo bem.

Vou até o escritório para falar com Lysandro que está à minha espera. Ele é a única pessoa em que confio para cuidar da Maya na minha ausência.

— Vai ficar por quantos dias? — ele pergunta virando uma dose de whisky.

— Não parou com esse mal hábito de beber logo pela manhã?

— Isso desperta mais do que café, me deixa ligado na medida certa. E a princesa, está bem?

— Preciso que cuide dela como se fosse sua filha, como já havíamos conversado antes você melhor que ninguém conhece a história dela.

— Por mim aquele monstro pervertido que gosta de menininhas já estaria morto, mas não queremos uma guerra no submundo agora.

— É, não queremos. Vou ficar até domingo à noite, tenho que voltar antes do Niklaus. É provável que eu fique off por uns dias.

— Como assim? Por que?

— Niklaus odiou o fato de eu ter incentivado o pai dele a levá-lo para Zurique. Vai descontar em mim com tudo, mas eu já estou acostumado não se preocupe não seria a primeira vez.

— Como não me preocupar? Vai virar saco de pancada daquele lixo imundo.

Escuto a porta abrir e faço um sinal de silêncio para que ele se cale. Maya aparece e eu a convenço a comer e depois dormir um pouco, mas a parte de dormir foi mais complicada. Ela está deitada na cama olhando para mim.

— Tem certeza que se eu dormir quando acordar vou estar aqui e não naquele inferno?

— Isso aqui é real! Não se preocupe com mais nada, todos que trabalham aqui vão protegê-la.

— Então segura firme a minha mão e não solte até que eu esteja em um sono profundo.

Eu olho para a cama, depois para ela deitada no meio da mesma. Me sento, minha mão vai até a sua e sem perder o contato visual observo Maya adormecer em um sono calmo e tranquilo.

Para seu primeiro dia aqui é bom que passe dormindo quando ela despertar e ver que não é um sonho vai ficar feliz. Até eu estou tentando me convencer de que não é apenas um sonho.

Ela dormiu há mais de dez minutos e eu ainda estou aqui admirando e velando seu sono. Mas preciso descer e terminar minha conversa com Lysandro.

— Pensei que passaria o dia lá em cima com a sua pequena.

— Ela não é a minha pequena.

— Então por que disse para a doutora que ela era sua namorada?

— Ouvindo conversas alheias, Lysandro? É feio para o homem fofocar. — ele dá uma risada e cruza os braços — Ainda não confio na doutora, quero que ela pense que sou responsável por Maya.

— É feio mentir também, sabia?

— Não estou mentindo! Vamos mudar de assunto, como vão as coisas na nossa máfia? Muitas entregas? Muitas compras?

— Estou sempre mantendo a qualidade do nosso armamento e isso está sendo bom para os negócios. Estão nos procurando cada vez mais.

— É, está entrando cada vez mais dinheiro na minha conta daqui. Mais até que na minha conta de lá da Suíça. A minha terceira conta que é daqui vou deixar para a Maya, quero que a ajude quando quiser sair para comprar algo.

— Não vai me perguntar sobre a investigação que me pediu para fazer?

Eu pedi para Lysandro investigar a vida de Alícia e Ashley Adler, a tia desgraçada e a mãe de Maya.

— Fala logo, o que descobriu sobre elas?

— A tal Alícia é uma mulher poderosa, parece que deu sorte ao investir um dinheiro alto quinze anos atrás e agora vive a vida dos sonhos. Já Ashley vive às custas da irmã, praticamente bêbada quase vinte e quatro horas por dia.

— Por que a mãe da Maya vive assim se a irmã dela tem dinheiro para fornecer um tratamento da melhor qualidade?

— O meu sexto sentido diz que talvez seja porque uma pessoa bêbada e desmaiada não enche o saco e não faz perguntas. Aza, você só usa roupa preta, todas às vezes que te vejo está de preto… Deixe sua vida se encher de cores. Por que usa tanto preto?

— É porque eu sou o Batman! Para de se importar com o que eu uso e vamos conversar sobre a segurança da Maya. Amanhã terei que voltar para a Suíça e não sei como será a reação dela sem mim aqui.

Voltamos a conversar sobre a Maya, enquanto meu pensamento não sai dela lá em cima dormindo tranquila.

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