Capítulo dezoito

A manhã nasceu lentamente, com os primeiros raios de sol rompendo as frestas das árvores, tingindo a floresta com tons dourados e verdes. O canto suave dos pássaros contrastava com a inquietação que ainda residia no peito de Selene. Ela havia acordado antes mesmo do amanhecer, o corpo pesado pela exaustão do dia anterior, mas sua mente incansável. O rosto do homem encapuzado, idêntico ao dela, ainda a assombrava.

Ela selevatou, sentido o corpo pesar, como se um elefante tivesse passado por cima de seu corpo e tivesse o pisoteado. Ela suspirou, encarando sua espada no canto do quarto e se lembrando de sua luta na noite anterior e o quanto isso exigiu dela.

Ao sair da cabana, Selene encontrou Lucian sentado em uma pedra, os braços cruzados e o olhar distante. Ele não parecia ter dormido a noite inteira. Quando percebeu sua presença, ele ergueu os olhos, estudando-a em silêncio.

“Você está pior do que eu,” Selene comentou, tentando soar leve, mas havia preocupação em sua voz.

Lucian deu um sorriso breve e sem humor. “Dormir é um luxo quando há tanto perigo por perto.”

"Mas não pode passar a noite em claro." Ela preocupou-se.

"Esqueceu que sou um vampiro?" Lucian ergueu uma sobrancelha, indicando a ela que nunca estava cansado, mas ela mentira, até vampiros se cansavam.

"Meio vampiro." Ela corrigiu. "Ainda há uma metade viva em você, talvez tenha sido essa metade que me convenceu de não te matar até hoje." Ambos riram.

Ela se aproximou, sentando-se ao lado dele. A proximidade entre os dois fez com que o ar parecesse mais denso, carregado de algo que ambos ainda não ousavam nomear. Selene, por um momento, pensou em dizer algo, mas preferiu o silêncio.

“Você vai treinar com Elaria hoje,” Lucian finalmente disse, quebrando o silêncio. Sua voz soou mais dura do que pretendia. “Isso significa que precisa estar mais atenta. Não baixe a guarda com ela.”

“Eu sei cuidar de mim, Lucian,” Selene respondeu, irritada. “Não estou aqui para brincar.”

“Não é isso,” ele rebateu, o olhar fixo no horizonte. “Ela quer algo de você. Não está te ensinando por altruísmo, Selene.”

“Mesmo que esteja, o que importa? Estou aprendendo a me proteger,” ela retrucou, a determinação evidente no tom de sua voz. “Se alguém quer algo de mim, que tentem. Eu não sou fraca.”

Lucian se virou para ela, seus olhos dourados fixando os dela. Havia algo ali — admiração e, ao mesmo tempo, uma tristeza profunda. Selene não era fraca, mas era inexperiente. Ele abriu a boca para responder, mas, em vez disso, apenas assentiu.

“Só tome cuidado.”

Na cabana, Elaria esperava como uma sombra paciente, seus olhos agora mais jovens, brilhando com uma vitalidade que não combinava com a mulher de antes. Selene percebeu o olhar avaliador, como se a feiticeira estivesse estudando cada movimento seu.

“Está pronta para hoje?” perguntou Elaria, a voz melodiosa e firme.

“Sim,” respondeu Selene, apertando os punhos. Ela não permitiria que sua exaustão ou suas dúvidas a impedissem.

Elaria sorriu, satisfeita. “Muito bem. Hoje, vamos mais fundo. Você precisa aprender a usar o que está dentro de você... sem medo.”

Ela conduziu Selene até uma clareira atrás da cabana, onde o chão estava coberto por símbolos que brilhavam fracamente no orvalho da manhã. Era um lugar antigo, carregado de poder. Selene sentiu a pele arrepiar.

“Feche os olhos,” ordenou Elaria suavemente. “Respire fundo. Sinta o mundo ao seu redor. Não há separação entre você e a energia que flui por tudo. A terra, o ar, a água... tudo é uma extensão de você.”

Selene obedeceu. Fechou os olhos e respirou profundamente, tentando ignorar o cansaço da luta na noite anterior. Aos poucos, ela sentiu o calor pulsar dentro dela, diferente de antes. Não era mais um fogo fora de controle, mas sim algo mais familiar, algo que respondia à sua vontade. Selene estava se acostumando ao seu poder e isso era bom, pelo menos era o que sentia.

“Agora,” continuou Elaria, “libere uma pequena parte. Convide o poder a sair, mas controle-o. Não deixe que ele a consuma.”

Selene franziu o cenho, concentrando-se. Seu coração batia rápido, e ela estendeu as mãos à frente. Aos poucos, uma luz azul começou a brilhar entre seus dedos — fraca no início, mas crescendo a cada segundo. Ela sentiu a energia fluir de dentro dela, como um rio finalmente liberado.

“Isso... perfeito,” murmurou Elaria, encantada. “Agora, controle-o. Direcione-o.”

Selene abriu os olhos e, com um movimento instintivo, apontou as mãos para uma pedra próxima. A energia disparou como um raio de luz, atingindo a rocha e fazendo-a explodir em fragmentos brilhantes. O impacto a fez cambalear para trás, surpresa com sua própria força. Selene sorriu, satisfeita pelo que havia feito, mas Elaria queria mais, ela sabia que Selene ainda tinha muito o que enfrentar.

"Não se contente, isso é pouco." A feiticeira provocou.

A mulher então, queria mostrar mais, queria fazer com que Elaria acreditasse que ela era capaz de muito mais. Com uma atitude impulsiva, ela viu um animal na entrada da floresta e o atingiu, matando-o. Encarou Elaria que mantinha seu sorriso curto e as mãos à frente de seu corpo.

“Você está começando a entender,” disse Elaria, aproximando-se com um sorriso satisfeito. “Mas ainda é instintivo demais. Controle, Selene. É isso que a separará dos que caem vítimas de seu próprio poder.”

Selene assentiu, respirando com dificuldade. Ela sentia-se mais forte, mas também mais vulnerável. Havia tanto para aprender, e Elaria parecia ansiosa demais para que ela dominasse aquilo.

Elas treinaram por mais tempo, gestos, falas, conjugações. Selene tinha muito o que aprender, mas com o tamanho de seu poder, Elaria sabia que a mulher não precisava de muito esforço para o desenvolvimento rápido, quase instantâneo.

Lucian observava tudo de uma distância segura, os olhos fixos em Selene. Ele viu o progresso dela, viu o poder emergindo com força e elegância. Mas também viu a maneira como Elaria sorria, como se estivesse esperando o momento certo para algo mais. Ele sabia que aquele treinamento era necessário, mas não podia ignorar a sensação incômoda de que Selene estava sendo preparada para algo que nem ela compreendia. Lucian sentia que em breve eles poderiam estar correndo riscos, algo dentro dele dizia que Elaria os entregaria para Klaus.

Quando Selene voltou à cabana no final do dia, exausta, mas satisfeita, Lucian estava lá, à sua espera.

“Como foi?” ele perguntou, estudando-a.

“Difícil, mas estou começando a entender,” ela respondeu, com um cansaço visível, mas um brilho determinado nos olhos.

Lucian hesitou por um momento. “Elaria está te ensinando, mas você precisa aprender a desconfiar. Nem tudo o que ela quer é o seu bem, Selene.”

Selene olhou para ele, a teimosia voltando à tona. “Você acha que eu não percebo isso? Mas, por enquanto, eu não tenho escolha. Preciso aprender.”

Lucian suspirou, derrotado pela determinação dela. “Seja o que for, eu estarei aqui.”

Ele se aproximou dela, os olhares deles se cruzaram. Lucian estava bem próximo a Selene. Ele ergueu a mão, acariciando seu rosto, como se sentisse que em breve não poderia fazer isso. Encaravam-se intensamente. Selene nunca imaginaria que poderia sentir qualquer tipo de atração por um vampiro, mas agora estava ali, rendida a ele. Seus lábios se tocaram em um selo, ambos sentindo que poderia ser o último.

Por um momento, o silêncio entre os dois foi preenchido apenas pelo vento suave que soprava entre as árvores. Selene desviou o olhar, tentando ignorar a tensão que parecia crescer entre eles a cada segundo.

“Obrigado, Lucian,” ela murmurou, caminhando para dentro da cabana.

Lucian ficou ali, sozinho no escuro, olhando para o horizonte. Ele sabia que o tempo estava se esgotando, e que logo teriam que enfrentar algo muito maior. E, apesar de sua promessa de protegê-la, ele temia que não pudesse salvá-la de si mesma.

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Ana Regina Fernandes Raposo

Ana Regina Fernandes Raposo

QUEM FAZ VOTO SEM MENSAGEM.

2025-01-04

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