Capítulo Um.

Anos depois.

A noite estava envolta em trevas, com a lua cheia pendurada no céu como uma testemunha silenciosa da batalha que se desenrolava. O campo era um caos de gritos, aço colidindo com carne, e o som abafado de corpos caindo.

Selene estava no centro da luta, sua respiração pesada e mãos firmes enquanto brandia sua lâmina. O suor escorria por sua testa pálida, misturando-se com o sangue que manchava seu rosto. Os vampiros eram rápidos e brutais, seus olhos vermelhos brilhando com selvageria, mas Selene não se intimidava. Ela era uma caçadora, forjada no fogo do treinamento de Willian e endurecida pela perda.

“À esquerda!” Willian gritou, desviando uma lâmina de uma garra que visava o pescoço de um colega caçador.

Selene girou, seu corpo movendo-se como se fosse parte da própria arma que empunhava. Sua lâmina encontrou o peito de um vampiro, cortando profundamente antes que ele tivesse a chance de reagir. Mas eles não paravam. Era como enfrentar uma força implacável da natureza.

Os cinquenta caçadores estavam divididos em pequenos grupos, tentando segurar os vinte vampiros que, apesar de estarem em menor número, lutavam com a força de um exército.

Um vampiro enorme avançou contra Selene, seus movimentos rápidos como um raio. Ela bloqueou seu ataque, mas algo aconteceu. Quando ele a tocou, uma onda de calor percorreu seu corpo, tão intensa que a fez vacilar. Sua visão ficou turva por um momento, e ela sentiu como se algo dentro dela tivesse sido ativado.

O vampiro percebeu a hesitação e a golpeou com força, jogando-a contra o chão com um baque surdo.

“Selene!” Willian gritou, sua voz cortando o caos ao seu redor. Ele avançou, mas foi bloqueado por outro vampiro.

Selene piscou, tentando se levantar. Ela sentia algo diferente, algo pulsando em suas veias. Não era apenas adrenalina; era algo maior, algo que ela não conseguia entender.

O vampiro que a atacara avançou novamente, certo de sua vitória, mas Selene reagiu antes que pudesse pensar. Sua mão se moveu rápido demais para ser humana, e sua lâmina perfurou o coração do vampiro com uma precisão cirúrgica. Ele caiu, seus olhos vermelhos apagando-se, e Selene ficou ali, respirando com dificuldade, mas de pé.

Willian viu tudo. Ele viu a velocidade, a força, e, acima de tudo, a facilidade com que ela matou aquele vampiro. Não era natural, e ele sabia disso. Mas, no calor da batalha, não havia tempo para questionar.

“Selene, cuidado!” ele gritou, chamando sua atenção para outro vampiro que se aproximava.

Ela voltou à luta, tentando ignorar o desconforto crescente em seu corpo. A batalha continuou, feroz e sangrenta, mas uma pergunta começou a surgir na mente de Selene: O que está acontecendo comigo?

Selene limpou o sangue da lâmina na túnica esfarrapada de um vampiro morto. O cheiro metálico preenchia o ar ao seu redor, misturado ao suor e à fumaça das rochas que os caçadores usavam para iluminar o campo. Ela tentou ignorar o calor estranho que ainda pulsava em suas veias, mas a sensação à deixava inquieta.

"Fique perto de mim, Selene." William ordenou, empurrando para trás um vampiro com uma força que parecia impossível para um homem de sua idade. "Esses não são como os outros que enfrentamos. Eles são mais velhos, mais fortes."

"Eu percebi." Respondeu ela, com a voz firme, mas seus olhos mostravam o desconforto que senta. Ela não estava acostumada a hesitar em combate.

Um grito ecoou à direita. Um grupo de caçadores estava sendo dizimado por dois vampiros que se moviam em perfeita sincronia. Selene correu para ajudar antes que William pudesse impedi-la.

Um dos vampiros a viu aproximar-se e sorriu, expondo presas cobertas de sangue. "Mais uma carne fresca para a fogueira."

"Venha buscar." Selene respondeu, ajustando a postura com a lâmina erguida.

O vampiro investiu contra ela, mas desta vez algo foi diferente. Selene sentiu a onda de calor novamente, mas desta vez ela não vacilou. Sua visão parecia mais clara, seus reflexos mais rápidos. Ela esquivou-se do golpe do vampiro com uma agilidade que surpreendeu até a si mesma, e antes que ele pudesse reagir, sua lâmina cortou sua garganta com precisão.

O segundo vampiro hesitou ao vê-lá, mas Selene não deu tempo para ele recuar. Ela avançou, desviando de suas garras e cravando sua arma em seu coração. O vampiro gritou, mas em segundos virou pó diante dela.

William chegou logo depois, o rosto sério enquanto observava o que ela havia feito. Não era apenas que ela havia matado vários vampiros sozinha. Era a facilidade com que fizera. Ele nunca a havia visto lutar assim, com aquela velocidade, aquela precisão.

"Você está bem?" Ele perguntou, mais como um teste do que uma preocupação genuína.

"Estou." Ela respondeu, mas evitou encará-lo. Ela não sabia explicar o que havia acontecido, e a dúvida começava a corroer sua mente.

Os poucos vampiros que sobraram perceberam que estavam perdendo terreno. Seus movimentos tornaram-se mais desesperados, mais brutais. Mas os caçadores, agora com vantagem numérica, começaram a dominá-los.

William avançou para liderar o grupo, e Selene o seguiu de perto, mantendo-se em alerta. Ela sentia o olhar de alguns caçadores sobre si, especialmente após sua demonstração de força, mas ninguém dizia nada. Não naquele momento.

No centro do campo, o último vampiro estava cercado. Ele era diferente dos outros, maior e mais velho, com cicatrizes que marcavam seu rosto pálido. Mesmo diante de tantos caçadores, ele parecia calmo, quase zombeteiro.

"Vocês acham que me venceram?" Ele perguntou, sua voz grave ressoando no silêncio.

William se aproximou, segurando sua espada com firmeza. "Você perdeu. Renda-se e morra."

O vampiro riu. "Vocês não tem ideia do que está por vir. Acham que podem mudar algo? Vocês não passam de um obstáculo temporário."

Antes que alguém pudesse reagir, ele avançou, mas desta vez foi Selene quem o interceptou. Seu golpe foi preciso, perfurando o peito do vampiro com sua lâmina. Ele cambaleou, os olhos vermelhos focando nela com uma mistura de surpresa e algo que mais parecia... reconhecimento.

"Você... é diferente." Ele sussurrou, antes de virar pó.

Selene ficou imóvel, os dedos apertando o cabo da espada enquanto as palavras interminadas do vampiro ecoavam em sua mente. O que ele quis dizer? Por que ela era diferente?

Willian se aproximou, pousando a mão em seu ombro. "Está tudo bem, Selene?"

Ela assentiu, mas sua expressão dizia o contrário. Ela sabia que aquela noite não seria esquecida tão cedo. Algo estava mudando dentro dela, algo que ela não entendia, mas que temia descobrir.

A batalha havia terminado, mas o peso da noite ainda pairava sobre os caçadores. O campo estava silencioso, exceto pelo crepitar da fogueira que iluminava os rostos cansados do grupo. Selene sentou-se próxima às chamas, mastigando distraída um pedaço de carne seca. Seus pensamentos estavam tão nebulosos quanto a fumaça que subia para o céu.

Ao longe, Willian estava reunido com alguns dos caçadores veteranos. Eles conversavam em tom baixo, mas suas expressões eram tensas.

“Ela é rápida demais, forte demais,” disse um deles, um homem corpulento com uma cicatriz que cortava o rosto. “Willian, você viu o que ela fez hoje. Isso não é normal.”

“Não tire conclusões precipitadas,” Willian respondeu, a voz firme.

“Não podemos ignorar,” outro caçador insistiu. “Você sabe tão bem quanto nós que os vampiros estão procurando por uma criança especial há anos. A filha de um vampiro com uma bruxa. Dizem que ela teria poderes que a tornariam quase invencível. Você não acha coincidência que essa garota tenha aparecido exatamente quando os vampiros intensificaram suas buscas?”

Willian estreitou os olhos. “Selene foi criada por mim. Eu a conheço. Ela é humana, como todos nós.”

“Mas é? O sangue dela... se ela for metade vampira e metade bruxa...”

“Isso não passa de superstição,” Willian interrompeu, cruzando os braços. “Aquela história sobre uma linhagem real traída é um mito inventado pelos próprios vampiros para assustar as pessoas.”

O primeiro caçador deu um passo à frente, a voz baixa e cheia de cautela. “E se não for? Klaus tomou o trono há séculos, mas dizem que os herdeiros legítimos ainda vivem. Se ela for um deles? O que faremos quando os vampiros descobrirem onde ela está? Ou pior, se a organização souber?”

Willian deu um longo suspiro. Ele sabia que os caçadores tinham razão em suspeitar, mas não admitiria nada. Não para eles, não para si mesmo. Ele sabia que, se Selene fosse realmente a criança que todos temiam, sua vida estaria em risco tanto entre vampiros quanto entre caçadores.

“Vocês estão errados,” ele disse finalmente, a voz baixa, mas carregada de determinação. “Selene é apenas uma caçadora. Nada mais. E se alguém tentar machucá-la, será o último erro que cometerá.”

Os homens trocaram olhares, mas não insistiram. Eles sabiam que não adiantava discutir com Willian.

Do outro lado da fogueira, Selene olhou para Willian rapidamente antes de voltar a observar as chamas. Ela não sabia o que eles estavam falando, mas o olhar protetor de Willian a fez sentir que algo estava sendo escondido dela.

A fumaça subiu para o céu, levando consigo o silêncio incômodo que pairava entre eles. A noite não seria tranquila, e Willian sabia que o segredo que ele guardava sobre Selene só ficaria mais difícil de proteger.

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Ana Regina Fernandes Raposo

Ana Regina Fernandes Raposo

ENTÃO ELE SABIA SÓ NÃO QUERIA FALAR PARA NÃO DESCOBRIREM, E MATAREM ELA.

2025-01-01

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