Capítulo Seis

A noite estava começando a cair, mas ainda havia uma luz dourada filtrando-se pelas árvores, lançando sombras longas pelo chão da floresta. Selene observava Lucian enquanto ele descansava próximo à fogueira que ela havia acendido novamente para mantê-lo aquecido. Apesar de parecer vulnerável por causa do ferimento, havia algo nele que não combinava com fraqueza.

Ele tinha uma postura relaxada, mas seus olhos estavam sempre atentos, analisando cada movimento dela. Isso a incomodava mais do que ela admitiria.

“Você está melhor?” perguntou Selene, sem tirar os olhos de sua lâmina enquanto a limpava.

“Melhor o suficiente,” respondeu Lucian, sua voz suave, mas carregada de algo que parecia uma provocação.

“Então por que ainda está aqui?”

Lucian sorriu, apoiando-se contra uma pedra. “Porque você me deixou. E, se não me engano, você disse para me recuperar. Estou apenas obedecendo às ordens.”

Selene ergueu os olhos para ele, estreitando-os. “Não se engane. Isso não é hospitalidade. É apenas lógica. Se você morrer aqui, pode me causar problemas.”

Ele riu suavemente, um som baixo que parecia mais calculado do que espontâneo. “Lógica ou não, você tem um senso de dever que não combina com a maioria dos caçadores que conheci.”

“Você fala como se me conhecesse,” retrucou Selene, erguendo a espada e apontando a lâmina para ele.

Lucian inclinou a cabeça, sem demonstrar medo. “Talvez eu conheça o suficiente.”

“Cuidado,” disse Selene, a voz baixa e séria. “Meu dever pode mudar em um instante.”

Lucian não recuou. Em vez disso, ele permaneceu onde estava, como se o brilho da lâmina não o afetasse. “Sabe, Selene, você é fascinante. Uma mulher que luta como um soldado, mas carrega algo mais dentro de si. Algo que você não entende completamente.”

Selene abaixou a espada lentamente, mas não guardou a lâmina. “Você fala como se soubesse algo sobre mim.”

“Talvez saiba,” disse ele, os olhos fixos nos dela. “Ou talvez esteja apenas tentando entender o que me intriga tanto em você.”

Ela deu um passo à frente, mantendo a distância, mas aproximando-se o suficiente para intimidá-lo. “Você tem muita coragem para alguém em sua situação.”

Lucian sorriu novamente, aquele sorriso calmo e confiante que fazia Selene querer desconfiar mais ainda. “Coragem não tem nada a ver com isso. Eu apenas sei quando estou seguro.”

Selene franziu o cenho, intrigada. “Seguro? Com uma espada no seu pescoço algumas horas atrás?”

“Sim,” respondeu ele, calmamente. “Porque, no fundo, você sabia que não sou uma ameaça para você.”

Ela apertou o punho ao redor do cabo da espada, sentindo uma pontada de raiva. Ele estava brincando com suas emoções, manipulando cada palavra para testar suas reações.

“Você está errado,” disse ela, com firmeza.

“Estou?” perguntou Lucian, inclinando-se ligeiramente para frente. “Ou talvez você esteja começando a perceber que há mais em mim do que parece?”

Selene se afastou, tentando recuperar o controle sobre seus pensamentos. Ela sabia que ele estava tentando mexer com sua mente, mas não podia negar que algo nele a deixava confusa.

“Você vai embora ao amanhecer,” disse ela, virando-se para apagar as chamas da fogueira.

Lucian não respondeu imediatamente. Ele apenas observou enquanto ela se movia, seu olhar mais intenso do que nunca. Finalmente, ele murmurou: “Se é isso que você quer.”

Selene não respondeu. Em vez disso, sentou-se do outro lado da fogueira, mantendo a espada ao alcance. Ela não sabia quem ele era ou o que queria, mas sabia que precisava estar pronta para qualquer coisa.

O primeiro raio de sol atravessava as árvores, pintando a floresta com tons dourados e verdes. Selene já estava acordada há algum tempo, organizando seus pertences e se preparando para partir. Seu objetivo era claro: encontrar Willian e o grupo antes que fosse tarde demais.

Lucian abriu os olhos lentamente, percebendo o movimento ao seu redor. Ele a observou por um momento, intrigado com sua determinação silenciosa.

“Já vai embora?” perguntou ele, sua voz rouca pelo sono.

Selene olhou para ele rapidamente antes de voltar ao que estava fazendo. “Sim. Não tenho tempo a perder.”

“E para onde exatamente você vai?”

“Encontrar meu mentor,” respondeu ela, seca.

Lucian se levantou, ignorando a dor que ainda sentia do ferimento. “Então, deixe-me ir com você.”

Selene parou e o encarou. “Você está machucado. Só seria um peso.”

Ele sorriu levemente, passando a mão pelo lado onde estava ferido. “Sou mais forte do que pareço.”

“Mesmo assim,” disse Selene, virando-se para continuar arrumando suas coisas.

“E se for perigoso?” Lucian insistiu. “Se você encontrar algo no caminho? Não seria melhor ter alguém ao seu lado?”

Selene bufou, cruzando os braços. “Você fala como se fosse uma grande ajuda. Na última vez que nos encontramos, você parecia mais próximo da morte do que da luta.”

Lucian deu um passo à frente, o sorriso em seus lábios agora mais desafiador. “Talvez eu tenha mais habilidades do que você imagina.”

Selene o observou por um longo momento. Havia algo nele que a deixava desconfiada, mas ela não podia negar que sua insistência tinha lógica.

“Está bem,” cedeu finalmente, embora sua voz ainda carregasse relutância. “Mas, se você me atrasar ou for um problema, eu te deixo para trás.”

Lucian inclinou a cabeça em um gesto quase elegante. “Combinado.”

Os dois partiram juntos, o som de seus passos ecoando pela floresta enquanto o sol subia no céu. Selene manteve-se à frente, guiando o caminho, enquanto Lucian a seguia de perto, atento a cada detalhe ao seu redor.

Eles caminharam em silêncio por um bom tempo, mas era um silêncio carregado, como se cada um estivesse tentando decifrar o outro.

“Então,” começou Lucian, quebrando o silêncio. “Esse mentor seu... ele é tão teimoso quanto você?”

Selene não respondeu imediatamente, mas seu olhar duro revelou que a pergunta a incomodou. “Willian é... cuidadoso. E com razão. Já vi muitos caçadores morrerem por serem descuidados.”

Lucian sorriu. “E você é a exceção?”

Selene parou e se virou para ele. “Você fala como se me conhecesse. Não tente me analisar. Não vai funcionar.”

Lucian levantou as mãos em um gesto de rendição, mas o brilho nos olhos mostrava que ele ainda achava graça. “Entendido. Sem análises.”

Eles continuaram andando, o silêncio retornando.

O calor da tarde começou a pesar, e Selene fez uma pausa para beber água de um pequeno riacho. Lucian a acompanhou, sentando-se em uma pedra próxima.

“Então, você sempre viaja sozinha?” ele perguntou, observando-a.

“Quando necessário,” respondeu Selene, sem olhar para ele.

“Parece solitário,” comentou, sua voz carregada de algo que parecia preocupação genuína.

Selene finalmente ergueu os olhos para ele. “Eu me acostumei.”

Lucian a encarou por um momento, o sorriso desaparecendo. “Talvez você não devesse.”

Selene ignorou o comentário e se levantou, indicando que era hora de continuar.

Quando a noite começou a cair, eles se aproximaram de uma área mais aberta na floresta. Selene parou, observando os arredores.

“Estamos perto,” disse ela, ajustando sua lâmina.

Lucian olhou ao redor, seus sentidos aguçados captando sons ao longe. “E o que acontece quando os encontramos?”

“Isso não é da sua conta,” respondeu Selene, andando na direção da trilha.

Lucian a seguiu, mas o sorriso em seus lábios mostrava que ele sabia que essa jornada estava longe de terminar.

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