O sol mal havia despontado no horizonte quando Selene foi despertada por uma batida suave na porta do quarto improvisado onde estava descansando. A luz fraca da manhã entrava pelas janelas, iluminando o cômodo simples. Seu corpo ainda sentia o peso do que havia acontecido na noite anterior — uma mistura de cansaço físico e emocional.
Ao abrir a porta, deparou-se com Elaria, que a esperava com um olhar calculado e, de certa forma, paciente. A feiticeira já parecia perfeitamente composta, vestindo um manto escuro e com os cabelos longos caindo em ondas reluzentes.
"Hora de começarmos," disse Elaria, sua voz firme, mas calma. "Temos muito trabalho pela frente."
Selene assentiu e seguiu Elaria para fora da cabana. Lá fora, o frio da manhã ainda pairava na floresta, o ar carregado de umidade e o silêncio cortado apenas pelo som distante de pássaros.
Lucian estava sentado sobre um tronco caído, mantendo-se próximo o suficiente para observar Selene, mas distante o suficiente para não ser ferido pelos seus poderes, quw ainda nao eram totalmente controlados. Seus olhos a seguiram enquanto ela caminhava até a feiticeira. Ele não confiava em Elaria e fazia questão de deixar isso claro, embora, por enquanto, optasse por silêncio.
“Pronta para o que vem a seguir, Selene?” perguntou Elaria, parando em uma clareira cercada de árvores retorcidas. No centro do local havia um círculo desenhado com símbolos arcanos, brilhando com um leve tom azulado.
“Eu não sei o que esperar,” respondeu Selene, com sinceridade. “Mas não tenho outra escolha.”
Elaria sorriu de canto. “A escolha é sempre sua, menina. Mas se quer sobreviver, precisa aprender a dominar o poder que tem dentro de si. Caso contrário, ele a consumirá.”
Selene engoliu em seco, assentindo. Ela sabia que a feiticeira estava certa. O que acontecera na cabana na noite anterior não poderia se repetir — ela precisava entender aquilo, controlar, antes que destruísse a si mesma ou aos outros.
“Entre no círculo,” ordenou Elaria, sua voz ganhando um tom mais sério.
Selene hesitou por um instante, mas fez o que lhe foi pedido. Ao pisar dentro do círculo, sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo. Era como se o chão vibrasse sob seus pés, e a força invisível ao seu redor parecesse observar cada movimento dela.
A feiticeira então, caminhou e pegou velas acesas, colocando ao redor daquele círculo. As velas na fase de aprendizado ajudavam na concentração e desenvolvimento. As velas faziam o formato das pontas de uma estrela que estava desenhada dentro do círculo, onde Selene estava no centro.
“Feche os olhos,” continuou Elaria. “E respire profundamente.”
Selene obedeceu. Com os olhos fechados, tentou se concentrar na respiração, sentindo o ar frio entrar em seus pulmões e sair lentamente. Aos poucos, o som da floresta desapareceu, substituído por um zumbido baixo, quase como um sussurro vindo de todas as direções.
Era como se ela pudesse ouvir seu poder a chamar, como uma voz feminina que a chamava, a atraindo. Uma voz que a seduzia como uma sereia seduz um homem. Ela passou a língua entre os lábios, querendo saber a direção de onde vinha aquela voz, mas era de seu coração. Apertou os dedos contra as palmas das mãos, fechando-se enquanto o medo era substituído por atração, por desejo de ser o que era.
"Eu ouço." Disse ainda de olhos fechados. "Ouço me chamar, como se me atraísse."
"Quer sair, Selene." A mulher a encarava. "Ficou preso por muito tempo desnecessariamente. Agora é hora de sair."
A mulher caminhou a redor de Selene, pronunciando algumas palavras desconhecidas ao ouvido humano, que fazia Lucian preocupar-se ainda mais com ela. Ele não sabia ao certo o que estava sendo feito, não sabia se ela estava realmente chamando o poder de Selene, ou se estava lhe causando mal. Era angustiante para Lucian ter que assistir e não poder fazer nada a respeito.
“O poder que você carrega é antigo e selvagem,” a voz de Elaria ecoava ao redor. “Ele flui através de você como um rio, mas está descontrolado. Sua primeira lição é senti-lo, permitir que ele se revele sem que você o rejeite.”
Selene sentiu novamente o calor familiar crescendo em seu peito, mais suave do que da última vez, mas ainda assustador. Era como se algo pulsasse dentro dela, buscando um caminho para sair. Seu coração acelerou.
“Não resista,” disse Elaria, sua voz mais próxima agora. “Aceite.”
Selene tentou relaxar, mas o calor tornou-se mais intenso. Um tremor percorreu seu corpo, e a luz azul começou a emergir de suas mãos, formando pequenos raios que dançavam entre seus dedos. Ela abriu os olhos e maravilhou-se com o que saía de dentro de si mesma.
Lucian, que observava tudo à distância, se levantou instintivamente, seus músculos tensos. Ele queria intervir, mas sabia que não era o momento. Selene precisava passar por aquilo sozinha.
“Deixe-o fluir, Selene!” insistiu Elaria, agora com um tom de urgência.
Um clarão irrompeu quando Selene finalmente soltou o controle. A energia azul explodiu ao redor dela como uma onda, sacudindo o chão e fazendo as árvores ao redor estremecerem. Elaria manteve-se firme, sorrindo satisfeito, enquanto Lucian recuava um passo, protegendo o rosto do impacto.
"Mantenha-o." A bruxa ordenou.
"Me sinto fraca, ele suga minhas energias." Selene reclamou, sentindo como se seu sangue estivesse sendo drenado.
"É porque ainda tem medo, menina. Quando aprender a aceitar, sentirá força, ao invés de fraqueza. Pode parar, ou irá desmaiar em poucos minutos."
Aos poucos, a luz foi entrando para dentro de si novamente, como se obedecesse às suas vontades, mesmo drenando suas energias.
Quando a luz se dissipou, Selene estava de joelhos no centro do círculo, os braços tremendo e o rosto coberto de suor. Sua respiração era pesada, mas algo em seus olhos havia mudado: não havia mais apenas medo — havia determinação.
“Você começou a despertar,” murmurou Elaria, aproximando-se. “Isso é apenas o começo.”
Lucian caminhou até Selene rapidamente, ignorando a presença da feiticeira. Ele ajoelhou-se ao lado dela, colocando uma mão firme em seu ombro. “Você está bem?”
Selene ergueu o rosto para ele e assentiu lentamente. “Eu estou bem. Só... cansada.”
Elaria cruzou os braços, observando os dois. “Cuidado, vampiro. Seu tempo ao lado dela está se esgotando.”
Lucian lançou um olhar cortante à feiticeira. “Não cabe a você decidir.”
Elaria apenas riu, voltando-se para Selene. “Descanse, menina. Amanhã continuaremos. O despertar do seu verdadeiro poder exige paciência... e resistência.”
Selene assentiu, deixando Lucian ajudá-la a se levantar. Ela olhou para o céu, agora claro e azul, mas sentia como se algo dentro dela estivesse apenas começando a se mover — algo que mudaria sua vida para sempre.
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Atualizado até capítulo 22
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