A névoa matinal envolvia a floresta como um cobertor espesso, abafando os sons e tornando cada passo do grupo quase inaudível. Selene seguia ao lado de Willian, a mão descansando no cabo de sua lâmina. Ela estava inquieta. A figura do homem loiro que encontrara na taverna continuava a dominar seus pensamentos.
Willian, sempre observador, notou sua distração. Ele não disse nada no início, mas, após algum tempo, não conseguiu mais ignorar.
“Você está quieta demais,” comentou, sem desviar os olhos da trilha à frente.
Selene olhou para ele, hesitando. “É só cansaço.”
“Mentira.” A resposta de Willian foi direta. “Você está pensando nele, não está?”
Selene franziu o cenho. “Quem?”
“O estranho da taverna.” Willian parou de andar e se virou para encará-la. “Aquele homem... Não gosto dele. Algo nele me parece errado.”
“E o que exatamente parecia errado?” Selene cruzou os braços, desafiadora.
“Tudo,” Willian respondeu, sem vacilar. “A maneira como ele olhava para você, como ele sabia seu nome sem que você o tivesse dito. Ele é perigoso.”
Selene bufou. “Você vê perigo em tudo.”
“E não estou errado,” Willian rebateu, o tom mais sério do que de costume. “Selene, você precisa ser cuidadosa. Nós já temos inimigos suficientes sem adicionar mais um à lista.”
Ela não respondeu, mas sabia que Willian estava certo. Havia algo naquele homem que mexia com ela, e não de um jeito que pudesse ignorar. Ainda assim, parte de si não queria acreditar que ele fosse uma ameaça.
Enquanto Selene e Willian continuavam pela floresta, Lucian os observava de longe. Ele estava encostado em uma árvore, os braços cruzados e a expressão indecifrável.
“Você é mais fascinante do que imaginei,” murmurou para si mesmo, seus olhos fixos em Selene. Ele sentia a conexão crescer, algo que o incomodava profundamente. Essa não era sua missão. Ele fora enviado para matá-la, não para admirá-la.
Ainda assim, ele não conseguia se afastar. Algo em Selene o puxava, como uma maré que ele não conseguia evitar.
Mas ele sabia que Willian estava desconfiado. O velho caçador era astuto e não deixaria que Lucian se aproximasse facilmente novamente.
“Isso só torna as coisas mais interessantes,” disse Lucian, um sorriso enigmático surgindo em seus lábios antes de desaparecer na escuridão da floresta.
Ao cair da noite, o grupo de caçadores parou para descansar. O crepitar da fogueira era o único som na clareira enquanto todos comiam em silêncio. Selene estava sentada de costas para as chamas, olhando para o vazio.
Willian se aproximou, sentando-se ao lado dela. Ele passou um pedaço de pão para ela, mas não disse nada. Selene sabia que ele estava esperando que ela falasse primeiro.
“Você acha que estou cometendo um erro?” perguntou finalmente, sua voz baixa.
“Eu acho que você confia demais,” respondeu Willian, sem rodeios.
Selene deu uma risada curta, sem humor. “E você confia de menos.”
“É o que nos mantém vivos,” ele rebateu.
Selene não respondeu. Em vez disso, seus pensamentos voltaram para o homem da taverna. Algo nele parecia errado, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia ignorar a sensação de que ele a compreendia de uma forma que ninguém mais conseguia.
“Se ele aparecer de novo, Selene,” Willian disse, a voz baixa e séria, “não baixe a guarda. Não importa o que ele diga ou faça.”
Selene assentiu, mas no fundo sabia que seria mais difícil do que parecia.
A caminhada pela floresta finalmente levou o grupo de caçadores a uma antiga fortaleza escondida entre as montanhas. Suas paredes de pedra eram cobertas por musgo, e o som de água correndo ecoava pelo vale ao redor. Selene olhou para a estrutura com curiosidade, mas também com uma ponta de inquietação.
Dentro, o líder dos caçadores os aguardava. Um homem alto, com uma presença imponente e olhos duros, que parecia carregar o peso de muitas batalhas. Seu nome era Alaric, conhecido por sua habilidade estratégica e pelo respeito que inspirava em todos os caçadores.
“Willian,” Alaric cumprimentou, com um aceno breve. Seus olhos passaram pelo grupo até pararem em Selene. Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse avaliando algo, antes de se voltar novamente para Willian.
“Tenho uma missão para vocês,” começou ele, sua voz ecoando pelas paredes da sala. “Um clã de vampiros está se reunindo a leste, preparando um ataque contra vilarejos próximos. Precisamos neutralizá-los antes que tenham a chance de agir.”
Willian assentiu, mas antes que pudesse responder, Alaric acrescentou: “Selene não vai.”
O silêncio na sala era palpável. Selene franziu o cenho, cruzando os braços. “Por quê?”
“Esta missão é arriscada demais para alguém com sua... experiência,” disse Alaric, escolhendo suas palavras cuidadosamente.
Selene deu um passo à frente, seu olhar afiado. “Eu já lutei ao lado desse grupo contra vampiros mais fortes do que qualquer outro. Não vou ficar para trás.”
“É uma ordem,” Alaric respondeu, sua voz firme. Ele olhou para Willian, como se esperasse que ele interferisse.
Willian hesitou. Ele sabia que Selene estava pronta para qualquer batalha, talvez até mais do que o restante do grupo. Mas ele também sabia que Alaric estava tentando protegê-la – ou proteger algo maior.
“Selene, você vai ficar,” disse Willian finalmente, sua voz calma, mas intransigente.
Selene olhou para ele, incrédula. “Você concorda com isso?”
“É pelo bem do grupo,” respondeu, evitando seu olhar.
Ela não respondeu, mas o desapontamento em seu rosto era evidente. Willian sentiu o peso daquela decisão, mas sabia que não havia outra escolha.
Enquanto o grupo se preparava para partir, Willian encontrou Alaric em uma sala lateral. Ele fechou a porta atrás de si, garantindo que ninguém os ouvisse.
“Você sabe o que ela é,” Alaric disse, sem rodeios.
Willian estreitou os olhos. “Ela não sabe. E vou garantir que continue assim.”
“Você está brincando com fogo,” Alaric advertiu. “Se ela descobrir, ou pior, se os vampiros ativarem os poderes dela, você sabe o que vai acontecer. Ela será uma ameaça para todos nós.”
“Ela não é uma ameaça,” Willian respondeu, sua voz carregada de determinação. “Ela é apenas uma garota tentando sobreviver.”
“Ela não é ‘apenas uma garota’, Willian,” Alaric rebateu. “Ela é a filha de uma bruxa e um vampiro. O sangue que corre nas veias dela é uma arma, e você sabe disso.”
Willian não respondeu imediatamente. Ele sabia que Alaric estava certo, mas não conseguia aceitar o destino cruel que esperava Selene se a verdade fosse revelada.
“Ela não precisa saber,” disse finalmente. “Enquanto estiver comigo, ela será apenas Selene, uma caçadora como qualquer outra.”
“Você não pode protegê-la para sempre,” Alaric respondeu, antes de sair da sala.
Do lado de fora, Selene observava o grupo se preparar para partir. Ela estava sentada em um canto, afiando sua lâmina com movimentos automáticos. O desapontamento e a frustração em seu peito eram difíceis de ignorar.
Ela se sentia deixada de lado, como se sua presença no grupo não fosse valorizada. Mas, mais do que isso, ela sentia que algo estava sendo escondido dela.
“Você está bem?”
Selene ergueu os olhos para ver um dos caçadores mais jovens, um rapaz chamado Elias, olhando para ela com curiosidade.
“Estou,” respondeu, secamente.
Elias se sentou ao lado dela, segurando uma adaga. “Eu sei como é ser deixado para trás. Não é fácil, mas... geralmente é por um bom motivo.”
“Ou por medo,” disse Selene, olhando para a lâmina.
Elias não respondeu, mas a expressão em seu rosto dizia que ele entendia o que ela queria dizer.
Enquanto o grupo partia, Selene permaneceu no acampamento, sentindo que algo estava prestes a mudar – algo que ela não podia controlar.
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Atualizado até capítulo 22
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Ana Regina Fernandes Raposo
AI AUTORA O QUE VAI ACONTECER. ELA VAI SE VOLTAR CONTRA A HUMANIDADE.
2025-01-02
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