Selene respirava com dificuldade, seus olhos semicerrados enquanto sentia o calor em seu peito se intensificar. Era como se algo estivesse tentando escapar de dentro dela, e ela não sabia como impedir. Seus dedos agarravam os braços da cadeira, suas unhas quase marcando a madeira.
Lucian deu um passo à frente, a preocupação evidente em sua expressão. “Você precisa fazer algo!” ele disse, dirigindo-se à feiticeira, que continuava preparando seus ingredientes calmamente.
“Não há nada que eu possa fazer,” respondeu a velha, sem erguer o olhar. “Isso tinha que acontecer. É o destino dela.”
“Ela está sofrendo!” insistiu Lucian, a voz carregada de frustração.
“E vai continuar sofrendo até que aceite o que é,” retrucou a feiticeira, finalmente olhando para ele com um olhar firme. “Agora, se me der licença, tenho um ritual para terminar.”
Lucian recuou, claramente irritado, mas sabia que não adiantaria discutir. Ele observava Selene de longe, incapaz de fazer algo para ajudá-la. Selene não tinha controle de seus poderes, se decidisse ajudar, Lucian poderia acabar sendo morto por ela. Ele sabia que seus poderes deveriam ser ativados algum dia, mas imaginava as consequências que Selene enfrentaria, as criaturas que agora se sentiriam atraídas por seu poder.
A feiticeira começou seu trabalho, traçando símbolos no ar enquanto murmurava palavras antigas. Aquele ritual não era somente para a cura de Willian, ela também provocava mais ainda os poderes de Selene, instigava-os a sair para fora. A energia na sala parecia crescer, tornando-se mais pesada, quase sufocante. A velha sabia o quão poderosa Selene era e não queria fazer-lhe mal, apenas adquirir de um pouco de seus poderes, o que não faria diferença Lara a mulher que, por ser filha de bruxa, estava sempre gerando mais dentro de si, enquanto ela, que adquiriu poderes durante o caminho, precisava sempre de uma fonte para não se acabar e desta vez a fonte era Selene.
Selene sentiu como se estivesse sendo puxada em todas as direções. Seu peito queimava, a dor quase insuportável. Era como se uma força dentro dela estivesse explodindo, tentando escapar de qualquer jeito. A sensação era sufocante, ela sentia que poderia morrer, mas não sabia como liberar aquilo de dentro de si.
“Isso... está errado,” Selene conseguiu murmurar entre respirações curtas.
“Está certo,” disse a feiticeira, com um sorriso quase imperceptível. “Está finalmente certo.”
De repente, o peito de Selene brilhou com uma luz intensa, um azul profundo que parecia pulsar como um coração. O clarão tomou conta da sala, e Lucian deu vários passos para trás, ciente do perigo. A feiticeira por sua vez, se encantou com uma luz tão bonita e pura. Ela finalmente tinha deixado sair. Selene que até então sentia dores, já não sentia mais, ao contrário, agora, era uma sensação maravilhosa, viciante. Ela encarou as luzes saindo de dentro de si, encantada, hipnotizada.
“Selene!” ele gritou na hora que a luz explodiu de dentro da mulher, mas não ousou se aproximar.
A luz explodiu de dentro dela como raios, atravessando a sala em todas as direções. A energia era palpável, como se o ar estivesse sendo rasgado. Lucian observava com atenção, percebendo que qualquer movimento imprudente poderia custar sua vida.
Selene gritou, mas não era um grito de dor — era um grito de libertação. A energia continuava saindo dela, iluminando toda a cabana em um azul radiante.
Quando o clarão finalmente diminuiu, Selene caiu de joelhos, seu corpo tremendo, ela se sentia extremamente cansada. Lucian sentia que ja estava seguro, já poderia chegar perto, ainda assim, decidiu esperar até que tivesse certeza de que ela nao emanaria mais nada. A sala estava em silêncio, exceto pelo som de sua respiração pesada. A feiticeira sorriu, satisfeita, e voltou sua atenção para Willian e Elias, que agora começavam a se mover.
“O ritual está completo,” anunciou ela, guardando seus frascos e ervas. "Seus entes estão curados com a força de seu poder, Selene."
Sim, a feiticeira usou a energia de Selene para curar os dois, pois esse motivo seus poderes explodiram mais rápido.
Willian abriu os olhos lentamente, confuso, mas sua atenção foi imediatamente para Selene, que se recompunha em silêncio, as mãos ainda tremiam. “O que... aconteceu com você?” ele perguntou, a voz fraca.
Selene não respondeu. Ela ainda estava tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Suas mãos tremiam, e seus olhos ainda brilhavam levemente com a luz azulada. Willian se sentia maravilhado, mas ao mesmo tempo temia o que se seguiria a partir daquele momento. Ele já sabia quem ela era e que uma hora ou outra isso se atiraria, mas ainda tinha esperanças de que isso nunca fosse acontecer, pois traria perigos a ela.
Elias sentou-se com dificuldade, também observando Selene com uma mistura de surpresa e medo. Elias não sabia que ela era uma bruxa.
A feiticeira se aproximou de Selene, seus passos lentos e calculados. Um sorriso curto nos lábios, sabendo que sua missão com a mulher estava apenas começando. Ela nao iria apenas cobrar o que lhe era devido, mas iria tambem a ensinar como usar seus poderes. Selene teria que explorar sozinha as partes mais profundas, mas a velha ensinaria como chegar la. “Você finalmente despertou,” disse ela, com um tom quase maternal. “Agora podemos falar sobre o preço.”
Selene levantou o olhar para a velha, sua expressão cansada, mas determinada. “O que você quer de mim?”
“Apenas uma pequena fração do que você tem,” respondeu a feiticeira. “Um pouco da sua magia, para me fortalecer. É um preço pequeno pelo que acabei de fazer por você.”
Lucian avançou, colocando-se entre Selene e a feiticeira. Lucian tinha medo que a velha sugasse todo o poder de Selene, pois uma vez que tem acesso, pode-se querer tudo. As pessoas que sugavam os poderes umas das outras costumavam querer pouco, mas quando se tem acesso, costuma-se ser atraído por ele e querer mais, isso poderia ocasionar até mesmo o óbito de quem está sendo sugado. “Você não vai tocar nela.”
A velha ergueu uma sobrancelha, claramente divertida. “Você acha que pode me impedir, vampiro? Não brinque com forças que não entende.” Ela riu, levemente. "Você é o mais forte de sua espécie, mas sabe muito bem que não é páreo para a magia."
Willian, que observava a cena, ficou surpreso com a palavra que a feiticeira havia dito. "Vampiro?" Ele sussurrou, indignado, sua vontade de se levantar dali e atacar Lucian, o matando, mas não poderia fazer nada naquele momento. Seu coração acelerou. Os músculos de suas mãos contraíram. Ele queria se levantar. Queria atacar, mas seu corpo fraco e ferido não o obedecia. Engoliu seco. Iria esperar o momento certo para cumprir seu dever. "Ele estava perto de Selene o tempo inteiro, não posso deixar que permaneça!" Prometeu a si mesmo. "Vou acabar com esse vampiro, já que Selene não teve coragem." Willian ensinou Selene a ter ódio de vampiros sua vida inteira, pois ele tinha medo de que ela descobrisse sua verdadeira origem e sentia que a estava protegendo dessa forma.
Lucian percebeu o olhar de ódio em Willian, mas não desviou. Os olhares pareciam trocar férias naquele momento. Seus olhos transmitiam uma mensagem clara: "Tente alguma coisa, se tiver coragem." Willian apertou os punhos, prometendo a si mesmo que não falharia quando o momento chegasse. Lucian finamente desviou o olhar, seu foco naquele momento era exclusivamente Selene.
Ela também percebeu a tensão entre os dois, conhecia o tamanho do ódio de Willian por vampiros e sabia que algo poderia acontecer a qualquer momento, mas também sabia que Willian não faria nada naquele momento.
Selene colocou uma mão no ombro de Lucian, afastando-o suavemente. “Não se preocupe. Se isso é o que precisa ser feito, então eu aceito.”
“Selene, não sabe o que esta fazendo!” protestou Lucian.
"Sei sim, estou pagando o preço por Willian e Elias." Ela disse calmamente, agradecida por estar sendo protegida, mas se sentia no dever de fazer o que tinha que ser feito.
"Não percebeu que ela usou seus poderes para isso?" Rebateu. "Essa velha usou o que há dentro de você, ela não gastou nem um pouco dos poderes dela."
"Ainda assim, Lucian! Eu não saberia fazê-lo. Mesmo que tenha sido a minha energia, foi ela quem o fez. Se fosse por mim, Willian e Elias estariam mortos agora."
Lucian não protestou mais, encarou Selene como se quisesse fazer algo, mas sabia o quão teimosa ela era, então simplesmente advertiu antes. "Você corre riscos se deixar ela acessar sua essência."
"Vai ficar tudo bem." Selene segurou sua mão. Uma onda de energia percorreu entre os dois. Selene encontrou os olhos de Lucian e por um momento, viu mais do que preocupação neles. Havia algo que ela não conseguia entender — um medo genuíno por ela. No entanto, logo suas mãos tomaram um distanciamento que quase parecia-se um abismo.
A feiticeira sorriu. “Muito bem. Vamos começar.”
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Atualizado até capítulo 22
Comments
Ana Regina Fernandes Raposo
ESPERO QUE ELA CONSIGA PARAR.
2025-01-02
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