Distrust Everyone

Aquela noite foi longa. Eu mal consegui dormir, com a mente girando sem parar. O que mais Felipe estava escondendo? E o que significava aquela mensagem? A sensação de estar sendo observada era constante, e eu sentia um peso no peito que só aumentava com o passar das horas. Meu mundo, que antes parecia tão claro e seguro, agora estava uma grande névoa de incertezas.

Na manhã seguinte, ao abrir os olhos, percebi que as respostas ainda estavam distantes. Mas uma coisa eu sabia: a cada momento que eu adiar para encarar a verdade, estava mais vulnerável. Eu precisava descobrir mais sobre Felipe, e eu precisava fazer isso sozinha. não podia contar com ninguém, não podia mais confiar em Rayssa, e muito menos em Felipe.

Enquanto me preparava para o trabalho, o celular vibrou novamente. Era mais uma mensagem daquele número desconhecido.

“Eu posso te ajudar a abrir os olhos. Mas você tem que confiar em mim. Não conte a Felipe.”

Eu não sabia mais o que pensar. Minha intuição dizia para dar um passo atrás, para não me envolver mais com isso. Mas a urgência das palavras me fez continuar. A mensagem estava me pedindo para agir, para seguir um caminho que eu não estava certa se deveria seguir.

E então, algo me ocorreu. Eu tinha o poder de controlar a situação, de reunir as peças que faltavam. E, se esse tal "Anjo" queria me ajudar, eu iria seguir. Mas, ao mesmo tempo, tinha que ter cuidado. Ninguém, até aquele momento, havia se mostrado digno da minha confiança.

Decidi que ia continuar com meu plano de investigar. Eu tinha algumas cartas na manga, e meu brechó, com sua clientela fiel e diversificada, poderia ser uma boa fonte de informações. Ao longo dos anos, tive acesso a muito mais do que apenas roupas de marca. Conversas, confidências, segredos... As pessoas sempre deixavam escapar mais do que imaginavam.

Naquele dia, decidi ir ao escritório de Felipe. Eu precisava olhar seus papeis, suas anotações. Algo me dizia que ali, entre documentos e contratos, eu encontraria a chave para entender o que estava acontecendo.

Cheguei lá por volta da hora do almoço, enquanto Felipe estava fora, em uma reunião. A sala estava estranhamente silenciosa, e o cheiro a café velho ainda pairava no ar. Eu sabia que, por enquanto, ninguém ia me interromper. Com calma, comecei a vasculhar a mesa dele, papeis e mais papeis, mas nada que me chamasse a atenção. Então, abri a gaveta da mesa, e lá, embaixo de algumas pilhas de documentos, encontrei algo que fez meu coração acelerar.

Era um contrato. Um contrato de um seguro de vida. Mas não era qualquer seguro. Era o seguro que eu já havia encontrado. O nome de Felipe estava lá, mas o que mais me assustou foi o valor: um milhão de reais. E a beneficiária? Rayssa.

Eu congelei. O que significava isso? Rayssa? Minha melhor amiga? Como ela poderia ser a beneficiária de um seguro tão alto? E, o mais importante, por que Felipe faria isso, quando, teoricamente, eu era quem ele mais amava? A sensação de traição me consumiu por completo. Eu não podia mais ignorar as evidências, não podia mais fingir que tudo estava bem.

De repente, meu celular vibrou. Era uma nova mensagem.

“Você encontrou o contrato. Agora, abra os olhos. Ele e Rayssa têm um plano. Você está em perigo, Carol.”

Eu comecei a sentir uma pressão forte no peito. Tudo estava desmoronando, e eu mal sabia como lidar com aquilo. A ideia de que tanto Felipe quanto Rayssa estavam me enganando, que eles tinham planejado algo tão terrível, era insuportável.

Eu fechei a gaveta, e com uma sensação de angústia, saí apressada do escritório. Eu precisava de um tempo para processar tudo aquilo. O pior era que eu sabia que a verdade estava diante de mim, mas ainda não conseguia alcançá-la completamente. Como eu poderia estar tão cega, tão cega para as mentiras que estavam se espalhando ao meu redor?

A cada novo pedaço da verdade, mais eu me afastava de quem eu pensava que era. Eu estava perdida em um labirinto de desconfiança e dor, e tudo o que eu queria era entender, entender a razão, a motivação, por trás de tudo isso.

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim, uma força que eu ainda não sabia de onde vinha, me dizia que eu precisava continuar. Precisava lutar por mim mesma.