A manhã chegou trazendo uma sensação pesada, quase sufocante. O céu estava cinzento, e uma leve garoa pintava nas janelas do meu apartamento. O som das gotas se chocando contra o vidro parecia sincronizar com o pulsar do meu coração. Era como se o universo estivesse se preparando para algo grande, um evento que eu ainda não sabia se estava pronto para enfrentar.
Eu tinha passado boa parte da noite em claro, revendo as mensagens, os esquemas, e pensando nos próximos passos. O plano do Lobo era brilhante, mas eu sabia que repetir-lo exigia uma frieza que eu ainda estava tentando cultivar.
Depois de um banho quente e um café forte, vista uma calça de alfaiataria preta e uma blusa branca de seda, combinando com saltos pretos. Queria transmitir controle e confiança, mesmo que, por dentro, eu estivesse em pedaços. Olhai para o reflexo no espelho e forcei um sorriso.
— Você consegue, Carol.
Cheguei ao brechó antes do horário de abertura, o que não era incomum para mim, mas, naquele dia, parecia quase necessário. Precisava daquele momento sozinha, antes de a equipe e os clientes começarem a chegar, para eu me preparar mentalmente para o que estava por vir.
Enquanto caminhava entre as araras de roupas, minha mente vagava para as memórias de Felipe. Ele sempre dizia que admirava minha independência, mas, olhando agora, percebia como isso o intimidava. A ideia de que eu poderia ter sucesso sem ele provavelmente seria a corrosão por dentro.
Fui interrompido por Gisele, que chegou carregando uma bandeja com dois cafés.
— Trouxe pra você. Achei que pudesse precisar. — Ela colocou a bandeja no balcão e me inspirou com um sorriso cauteloso. — Você está bem?
Peguei o café e dei um gole, sentindo o calor se espalhar. — Sim, só… muita coisa na cabeça.
— É sobre o evento? Ou… — Ela hesitou, como se estivesse pisando em terreno delicado.
— Ou?
Ela deu de ombros, mas seus olhos diziam mais do que sua boca. — Só acho que você parece… diferente.
— É o evento, Gisele. — Sorri, tentando encerrar o assunto. — Tenho certeza de que vai ser um sucesso, mas, até lá, tem muito trabalho a fazer.
Ela concordou, mas não parecia convencida.
Mais tarde naquele dia
No início da tarde, recebi uma mensagem de Rayssa.
"Carol! Que tal aquele almoço? Estou com saudades. ❤️"
Li a mensagem várias vezes, tentando entender o jogo dela. Seria possível que ela estivesse começando a sentir a tensão, ou fosse apenas mais uma tentativa de manipulação? Respirei fundo e respondi:
"Claro! Precisamos colocar o papo em dia. Amanhã, no restaurante do centro?"
A resposta veio quase instantânea:
"Combinado! Mal posso esperar! 😘"
Olhei para a tela por um momento antes de colocar o celular de lado. O primeiro passo do plano estava em andamento.
Ao anoitecer
Depois de encerrar o expediente no brechó, voltei para casa e encontrei o Lobo já me esperando na entrada do prédio. Ele estava encostado em seu carro preto, com as mãos nos bolsos e um sorriso enigmático no rosto.
— Pontual, como sempre — comentei, enquanto me aproximava.
— Não é todo dia que se execute um plano como o nosso. — Ele abriu a porta do passageiro para mim, um gesto que, vindo dele, parecia ao mesmo tempo cavalheiresco e calculado.
Entramos no carro, e ele chegou até um estacionamento vazio, onde falamos sem conversar. Assim que estacionou, ele removeu um tablet do banco de trás e o colocou entre nós.
— Temos um problema — disse ele, a voz compartilhada de seriedade.
Meu estômago revirou. — O que foi agora?
Ele abriu um arquivo no tablet, mostrando imagens capturadas por uma câmera de segurança. Era meu carro, estacionado na frente do brechó, com um homem confundindo em algo próximo às rodas.
— Felipe mandou cortar os freios do seu carro.
Fiquei paralisada, o impacto daquelas palavras me atingiu como uma onda gelada.
— Como… como você sabe?
— Minhas fontes confirmaram. Ele contratou alguém para fazer o trabalho, mas, felizmente, consegui interceptar. Seu carro está seguro, Carol. Mas isso mostra até onde ele está disposto a ir.
Minhas mãos tremiam, e minha respiração ficou acelerada. — Ele quer me matar?
O Lobo colocou uma mão firme sobre a minha. — Ele está desesperado. Você é uma ameaça, Carol, e ele sabe disso. Mas isso também significa que ele está vulnerável.
Olho para ele, tentando encontrar alguma estabilidade em meio ao caos que minha vida havia se tornado. — O que eu faço agora?
Ele se inclina para frente, os olhos fixos nos meus. — Você joga o jogo. Amanhã você encontra Rayssa como combinado e seguimos com o plano. Mas, Carol, você precisa estar qualificada. Isso não é só sobre provar que está certo; é sobre sobreviver.
Engoli em seco, absorvendo a gravidade da situação. — Estou pronto.
Ele gentilmente, um sorriso que carregava tanto encorajamento quanto às advertências. — Então vamos acabar com eles.
Naquela noite
De volta ao meu apartamento, sinta-me na cama com o tablet do Lobo nas mãos, revendo as imagens e informações mais uma vez. Felipe tinha cruzado uma linha, e isso só reforçava minha determinação.
Enquanto olhava para a janela, as luzes da cidade brilhando ao longe, fiz uma promessa a mim mesma: não importa o que acontecesse, eu sairia dessa mais forte. Eles queriam me destruir, mas não sabiam com quem estava lidando.
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Atualizado até capítulo 64
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