Dois corações partidos

Roxanna se debatia em seus pensamentos enquanto estava deitada em sua cama, incapaz de encontrar o sono.

A menção misteriosa de Aurora por parte de Lucy e as palavras de Gertrudes ainda ecoava em sua mente, levantando mais perguntas do que respostas.

Ela lembrou-se de quando estava no hospital perguntou a Chris sobre o nome do restaurante, e como ele havia mudado rapidamente de assunto, indicando que Aurora poderia ter sido alguém importante para ele.

Com o olhar fixo no relógio que mostrava duas da manhã, Roxanna decidiu que precisava se distrair com algo. Ela levantou-se, trocando o pijama por uma blusa larga e uma bermuda, amarrando seus cabelos em um coque rápido.

Ela saiu do quarto e dirigiu-se em direção à cozinha do restaurante, agora silenciosa e escura.

Enquanto a noite avançava calmamente, Roxanna pegou um copo e o encheu de água do bebedouro. Enquanto aguardava, ela pensou ansiosamente sobre qual posição Chris lhe daria no dia seguinte, quando ela começaria a trabalhar no restaurante Aurora.

De repente, um barulho surgiu, interrompendo o silêncio da cozinha. Roxanna ouviu o som de algo quebrando, seguido de outro barulho vindo do andar superior. Seu coração deu um pulo, e ela agarrou uma vassoura próxima, enfrentando seu medo com determinação.

Cada vez mais próxima da origem dos ruídos, ela percebeu que vinha da sala de Chris.

Seu coração começou a palpitar ainda mais rápido, e suas mãos trêmulas abriram a porta do escritório.

A sala estava em um caos total. Garrafas de bebidas quebradas espalhavam líquido pelo chão, e quadros destroçados jaziam nas paredes. Chris, visivelmente embriagado, segurava outra garrafa prestes a quebrá-la, enquanto exclamava:

— Eu sou um tolo? Sim, eu sou um tolo por amar você!

Ele bebeu o último gole e estava prestes a quebrar a garrafa no chão quando Roxanna, num ato de coragem inesperado, correu até ele e segurou o seu pulso, dizendo:

— Você pode se machucar.

Chris congelou, o rosto revelava a sua bebedeira, e por um momento, ele a encarou como se estivesse vendo uma aparição.

— Você veio, Aurora!? Você voltou pra mim com nosso filho? - Perguntou ele, com os olhos cheios de emoção e esperança.

Roxanna ficou imóvel, chocada sem saber como reagir.

Filho? Ele também é pai?

— O senhor está... - Ela começou a dizer, mas Chris levou as mãos a boca dela e a abraçou emocionado:

— Por favor, não me deixe de novo! Eu te prometo que serei o homem que você sempre desejou. Só espere mais um pouco e eu serei rico para te dar a vida que você merece.

Roxanna sentiu o abraço de Chris apertado ao redor dela, o calor do corpo dele irradiando em sua pele.

Ela lembrou dos olhos sombrios e inebriados do homem que a segurava com tanta intensidade, sentindo o peso de suas emoções fervilhando no ar entre eles.

O cheiro do álcool misturado com a colonia de Chris envolvia Roxanna, fazendo-a se sentir levemente bem. Ela escutou seus rápidos e desesperados batimentos cardíacos, o som ecoando em seus ouvidos como uma canção triste.

Quando Chris finalmente a soltou, Roxanna inspirou profundamente, tentando acalmar as suas próprias emoções ante a situação estranha e surpreendente.

Seus olhos encontraram os dele, que agora pareciam perdidos e confusos, como se ele não conseguisse compreender o que estava acontecendo.

— Chris? - Ela disse em um tom suave e hesitante: — Você está embriagado. Eu não sou Aurora; sou Roxanna.

Ela esperou que a realidade se instalasse em seu espírito, esperando que ele não se afundasse ainda mais na bebida e na dor.

No entanto, Chris apenas a encarou, seu olhar agora refletindo uma mistura de angústia e perplexidade.

— Roxanna? Quem é Roxanna, Aurora? Eu sei que está com raiva, mas eu não quero te perder. - Ele moveu a mão em direção ao rosto dela, escorregando gentilmente pelo contorno de seu braço.

Roxanna engoliu em seco, olhando a garrafa ainda presa às mãos de Chris.

— Me dê essa garrafa, Chris. - Ela pediu, estendendo a mão.

Chris recuou um pouco, segurando a garrafa com firmeza.

— Eu sei que você não se importa comigo, eu sei que sou um pobre coitado. Mas o que sinto por você é sincero, Aurora.

Roxanna sentiu seu coração doer ao ouvir as palavras dele. Mesmo em sua confusão embriagada, ele expressava sua dor e amor genuínos por alguém que claramente havia marcado sua vida.

Finalmente, ele cedeu e entregou a garrafa a Roxanna. Ela a depositou de lado e o levou até o sofá, gentilmente o fazendo deitar. Enquanto Chris se aconchegava, ela começou a juntar os cacos e limpar o escritório, removendo os fragmentos de vidro e restos das garrafas quebradas.

Quando terminou de limpar a sala, Roxanna voltou a sua atenção para Chris, que agora estava profundamente adormecido.

Ela removeu seus tênis, pôs suas pernas no sofá e o cobriu com um cobertor que havia buscado em seu quarto. Ela queria que ele se sentisse confortável quando acordasse, apesar da confusão que o aguardava.

Roxanna então foi até o banheiro e procurou um comprimido para a dor de cabeça que certamente viria na manhã seguinte.

Deixou a pílula e uma taça de água sobre a mesa, próxima ao sofá. Ela ainda ligou o ar-condicionado, fechou a janela e, antes de sair do escritório, lançou um último olhar para Chris.

...........

Na manhã seguinte, Roxanna foi acordada pelo barulho de portas batendo e vozes animadas. Ela se sentou na cama, ainda um pouco entorpecida pelo sono, mas logo percebeu que eram as vozes de seus colegas de equipe. Rapidamente, ela se lembrou dos eventos da noite anterior e do momento emocional que Chris havia passado em seu escritório.

Ela levantou-se da cama e preparou-se rapidamente para o dia, tomou um café da manhã rápido e se juntou ao restante da equipe no salão, onde foi orientada a trabalhar como garçonete. Lá, eles discutiram os últimos detalhes antes do grande evento do dia: uma coletiva de imprensa e uma festa na noite.

Roxanna fez seu melhor para se concentrar nas discussões, mas seu coração e mente ainda estavam com Chris.

Ao longo da manhã, Roxanna se esforçou para ajudar sua equipe a garantir que tudo estivesse pronto para a festa. Ela coordenou com os organizadores, os profissionais de catering e os membros da equipe, dando ordens e supervisionando todos os detalhes.

Embora estivesse focada em seu trabalho, ela não podia deixar de pensar se Chris estaria bem e como ele estaria lidando com a ressaca da noite anterior.

À medida que a manhã ia passando, o salão se transformou em uma elegante área de recepção, decorada com flores exóticas e móveis sofisticados. Roxanna deu uma última olhada na sala, sentindo-se satisfeita com o resultado de seu trabalho árduo e o da equipe.

Enquanto os convidados começavam a chegar e o ambiente ficava mais animado, Roxanna percebeu que Chris ainda não tinha aparecido.

Ela começou a se preocupar, imaginando o pior. Decidida a verificar seu bem-estar, ela foi até seu escritório e deu algumas batidas na porta.

Não houve resposta.

Ela hesitou por um momento, em seguida, abriu lentamente a porta. Ao olhar para dentro, viu Chris ainda deitado no sofá, o cobertor sobre ele e o comprimido para a dor de cabeça que ela havia deixado na mesa ainda não tocado.

Com um suspiro de alívio, ela aproximou-se e acordou-o gentilmente, sentindo um misto de preocupação e simpatia por ele.

— Chris, acorde. Você precisa se recuperar e participar da festa.

Chris abriu lentamente os olhos, e seu rosto demonstrou um visível desconforto. Ele parecia confuso e um pouco envergonhado.

Roxanna observou o seu semblante e sentiu uma pontada de empatia.

Ela percebeu que não era a única que enfrentava dores por amor.

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