Então ela pensou tão alto?

Violet desceu do palco com um brilho nos olhos, a energia da apresentação ainda pulsando em seu corpo. A música tinha sido uma celebração, e ao se aproximar de Alessandro, ela parecia radiante, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.

Com um gesto suave, ela inclinou-se e beijou-o no rosto, um beijo que transbordava calor e afeto.

Mas, para Alessandro, aquele gesto teve um gosto amargo.

O beijo o fez lembrar de Roxanna, que sempre o recebia da mesma forma quando ele voltava para casa, mesmo que raramente.

Era uma lembrança que ele preferiria evitar, mas a conexão entre os dois era inegável e dolorosa. Ele odiava pensar nela enquanto estava com Violet; era como se o passado insistisse em se intrometer em seu presente.

Rafael, sempre perceptivo, notou a carranca no rosto do amigo e não hesitou em perguntar:

— O que aconteceu, Alessandro? Está com uma carranca. O que a Roxy fez dessa vez?

A menção de Roxanna fez o olhar de Alessandro escurecer ainda mais.

— Pouco me importa. - Ele respondeu friamente: — Ela desapareceu e se demitiu depois que eu pedi o divórcio.

A palavra "divórcio" pairou no ar como um peso, e Violet não conseguiu conter a alegria que transpareceu em seu olhar.

Rafael ficou surpreso com a revelação.

— Ela se demitiu? Ela sempre foi tão humilde e submissa. Te seguia onde fosse! Até eu, se fosse você, teria vergonha das coisas que ela fazia para chamar a sua atenção. - Disparou Rafael, com um escárnio evidente na voz.

Ele nunca teve simpatia por Roxanna; para ele, Violet era a mulher ideal para Alessandro.

Alessandro percebeu a animosidade do amigo em relação à esposa e refletiu sobre isso.

Se nem ele mesmo a respeitava como marido, era fácil entender a fúria de Roxanna quando ele a convidava para sair.

O pensamento o incomodava.

Violet, percebendo a tensão no ar, decidiu provocar mais:

— Ela conheceu alguém? - A pergunta fez o semblante de Alessandro ficar sombrio instantaneamente: — O que disse? - Ele não conseguiu esconder o rancor em sua voz.

Violet fingiu inocência:

— Bem, se ela desapareceu, teve ajuda de alguém poderoso, não concorda? - Suas palavras eram provocativas e deixavam espaço para interpretações inquietantes.

A ideia de que sua esposa poderia estar com outro homem acendeu uma chama de ódio dentro dele, uma possibilidade que ele não queria considerar.

— Você fala demais, Violet. Roxanna pode ser tudo, mas ela jamais teria outro em seu coração além de mim. - Disse Alessandro confiante.

Violet ficou em silêncio pensando se ele tinha adquirido sentimentos pela esposa arranjada.

..............

 Alessandro despertou em sua cama luxuosa, a luz suave da manhã filtrando-se pelas cortinas.

Ele se espreguiçou, sentindo a maciez dos lençóis de seda que o envolviam. Mas, ao abrir os olhos e perceber a ausência de Roxanna, uma onda de frustração o invadiu.

— Cadê o meu café? - Ele exclamou, sua voz ecoando pelo quarto vazio.

Roxanna sempre estava à disposição para levar seu café na cama, e a falta dela naquela manhã era um golpe inesperado.

Ele pegou seu celular e ligou para ela, mas a ligação caiu em um tom de inexistente.

A cada sinal de que ela não estava por perto, sua irritação crescia.

Carlo, seu assistente, entrou no quarto com uma expressão preocupada.

— Senhor, não consegui descobrir onde ela está. - Disse ele, tentando acalmar Alessandro.

A raiva começou a borbulhar dentro dele. "Quando a barriga doer, ela volta, aquela cadela", murmurou para si mesmo, enquanto caminhava em direção ao banheiro.

No espelho, Alessandro se encarou com determinação. Ele precisava se arrumar e esquecer daquela ingrata que o deixara na mão.

Após tomar um banho rápido e vestir suas roupas elegantes, ele se deparou com um pequeno desafio: colocar a gravata. Tentou várias vezes sem sucesso, até que explodiu em frustração:

— Coloca a gravata pra mim, Roxy!! - O silêncio que se seguiu era opressivo e o deixava ainda mais irritado.

Antes que pudesse continuar sua lamúria interna, uma batida leve na porta interrompeu os seus pensamentos. A empregada da casa entrou timidamente e disse:

— Senhor, tem um oficial de justiça na porta.

 Alessandro franziu o cenho ao ouvir isso.

— Ok. - Respondeu ele de forma brusca, jogando a gravata sobre a cama.

Ao descer as escadas, a sua presença imponente parecia magnetizar tudo ao seu redor. Com um torso bem definido e traços marcantes, ele se movia como um verdadeiro rei majestoso. A empregada não pôde deixar de notar o seu charme inegável; era impossível desviar o olhar dele.

Quando chegou à porta, encontrou o oficial que entregava certidões de divórcio — um momento que parecia surreal para ambos os homens presentes.

O oficial ficou deslumbrado com a aparência do empresário e pensou internamente: "Como uma mulher pode deixar esse homem?"

A beleza de Alessandro era quase ofuscante; suas feições eram tão perfeitas que pareciam ter saído de um quadro renascentista. Mas naquele instante, Alessandro estava mais focado em sua raiva do que em sua aparência deslumbrante — uma tempestade de emoções se formando dentro dele enquanto aguardava o desenrolar daquela situação inesperada.

Quando o oficial de justiça apresentou-se na porta, algo no ar mudou. A tensão era palpável, e Alessandro sentiu o seu coração acelerar ao perceber o que estava prestes a acontecer.

O homem, com um olhar sério e um envelope em mãos, entregou o acordo de divórcio com uma formalidade que só aumentou a irritação de Alessandro. Ao receber o documento, seu olhar se tornou sombrio, como se uma nuvem pesada tivesse se instalado sobre ele.

Alessandro sempre fora um homem que tinha tudo: poder, dinheiro e um charme inegável que atraía as mulheres como mariposas à luz.

Ele estava acostumado a terminar relacionamentos quando quisesse, controlando sempre a situação.

Mas agora, ao ver o nome de Roxanna estampado naquele papel, uma ferida profunda se abriu em seu ego.

A traição não vinha apenas da separação; vinha do fato de que ela havia tomado a iniciativa de deixá-lo.

Com um gesto brusco, ele rasgou o acordo em pedaços, os papéis caindo como folhas secas ao chão.

— Então ela atreveu-se a pensar tão alto!? - Sua voz ecoou pelo hall da mansão, carregada de indignação e desdém.

O oficial de justiça, percebendo a gravidade da situação, alertou:

— Senhor, é crime o que fez. - Mas suas palavras foram recebidas como um desafio.

Alessandro virou-se para o oficial com um olhar penetrante e cheio de desprezo.

— Se quer manter seu emprego miserável. - Disse ele com uma voz fria e ameaçadora: — É bom que mantenha a sua boca estagnada.

Ele avançou um passo em direção ao homem, sua presença imponente quase fazendo o oficial recuar.

— Você tem ideia do meu poder nessa cidade? - A pergunta foi retórica; todos sabiam quem era Alessandro Selenko e o controle que ele exercia sobre Redshore.

O oficial sabia que estava lidando com um dos homens mais influentes da região e, percebendo a gravidade do momento, assentiu rapidamente antes de se retirar apressadamente.

A porta se fechou atrás dele com um leve estalo, mas Alessandro já estava perdido em seus próprios pensamentos furiosos.

Ele virou-se para Carlo, seu assistente, que tinha descido as escadas. O olhar no rosto de Alessandro era uma mistura de raiva e determinação.

— Encontre essa maldita e rápido!! - Ele ordenou com uma intensidade que fez Carlo estremecer levemente.

A urgência nas palavras de Alessandro não deixava espaço para questionamentos; ele precisava recuperar Roxanna e restaurar seu controle sobre a situação — ou pelo menos isso pensava.

A atmosfera na mansão estava carregada de tensão enquanto Alessandro se movia como um predador à procura da sua presa.

A frustração pulsava dentro dele como um tambor ensurdecedor; ele não permitiria que Roxanna tivesse o último riso..

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