Ele tem um buraco doloroso em seu coração

Alessandro entrou no carro com um semblante fechado, a frustração evidente em cada movimento.

Ao se acomodar no banco de trás, ele virou-se para o motorista e, com uma voz autoritária, ordenou:

— Me leve para casa. E peça ao segurança que a entrada de Melissa seja proibida.

O motorista congelou no lugar, os olhos arregalados em incredulidade.

Proibir a mãe de visitá-lo?

A ordem parecia absurda, mas ele não ousou questionar.

Com um silêncio tenso, o motorista ligou o carro e começou a dirigir, a sua mente confusa com a situação. Enquanto isso, no banco de trás, Alessandro levantou a divisória do carro, isolando-se ainda mais do mundo exterior.

Ele removeu a gravata com um gesto frustrado, sentindo-se sufocado não apenas pela peça de roupa, mas pela pressão emocional que o cercava. Ele não entendia o motivo daquela busca incessante por Roxanna, especialmente porque foi ela quem o deixara.

A presença de Violet na casa apenas intensificava seu desconforto; uma parte dele queria permanecer na rua, longe de tudo.

Após alguns momentos de silêncio pesado, Alessandro decidiu mudar os planos.

— Não me leve para casa... - Ele ordenou abruptamente: — Me deixe no meu apartamento.

O motorista assentiu rapidamente e alterou a rota, enquanto Alessandro apoiava as mãos nas têmporas e fechava os olhos por um instante.

Pensamentos tumultuados passaram por sua mente:

"Quando eu te encontrar, Roxy. Você vai me pagar pela humilhação." As palavras saíam em murmúrios raivosos.

.........

Enquanto isso, em Havencity, Roxanna desfrutava de um jantar delicioso no seu quarto. O aroma da comida preenchia o ambiente e proporcionava um momento de conforto em meio ao turbilhão emocional que vivia.

Quando se levantou para levar seu prato até a pia, a cozinheira entrou e disse gentilmente:

— Deixe que eu leve menina.

Roxanna sorriu educadamente e respondeu:

— Não se preocupe, eu não quero dar trabalho.

A cozinheira insistiu:

— Não é nenhum trabalho. Está de quantos meses?

A pergunta pegou Roxanna de surpresa; ela hesitou antes de responder:

— Como a senhora..? O senhor Chris contou?

A cozinheira riu suavemente e disse:

— Ele não faria isso. Eu tenho idade suficiente para saber quando alguém está grávida. O formato do seu quadril. - O tom dela mudara para um misto de curiosidade e preocupação: — Entendo agora porque o senhor Chris lhe trouxe. E deixar você nesse quarto? Eu nunca pensei que ele fosse esse tipo de homem.

Roxanna sentiu um leve constrangimento diante da crítica implícita na voz da cozinheira.

— Não. - Ela apressou-se em corrigir: — Ele não é o pai. Ele apenas me ofereceu ajuda quando percebeu que eu não tinha onde ir ou arcar com a gravidez.

A cozinheira ficou chocada com a revelação e exclamou:

— O pai do bebê é um traste? Como pode deixar uma mulher grávida sozinha? Um bebê é uma benção.

As palavras da cozinheira ecoaram na mente de Roxanna enquanto seus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar-se de Alessandro.

Ela ainda amava aquele homem, mas a dor da traição e a humilhação que ele lhe causara pesavam como pedras no seu coração.

...........

No Aurora, o movimento estava intenso durante a noite. O ambiente estava vibrante com conversas animadas dos clientes, o barulho dos copos e pratos, e a música tocando suavemente no fundo.

Chris gostava de se envolver no dia a dia do negócio e ajudava seus funcionários a atender os clientes. Apesar de ocupar um cargo de liderança, ele não gostava de ficar restrito ao escritório e preferia trabalhar lado a lado com seu time.

No entanto, ao longo da noite, Lucy, a morena, parecia perturbada e quis conversar com Chris. Ela o chamou para um lado, afastando-o de suas tarefas.

— Podemos conversar, chefe? - Perguntou Lucy, com uma expressão séria.

Chris concluiu a atendimento de uma mesa, entregou o pedido a um garçom e levou Lucy para o escritório, fechando a porta para ter privacidade.

Lucy começou a atacar a nova funcionária, Roxanna, com palavras incisivas:

— Quem é essa mulher que você trouxe? Seja sincero, Chris. Ela é uma puritana? Uma perdida também?

Chris encarou Lucy, com um olhar de reprovação em seus olhos. Sua paciência com sua funcionária havia diminuído após várias situações ruins no passado. Ele disse, em tom firme:

— Repita o que disse.

Arrogante, Lucy repetiu:

— Outra perdida ou outra puritana igual à Aurora?

Chris sentiu o seu sangue ferver, enfurecido com a comparação. Ele aproximou-se de Lucy, que recuou, chocada. Ele sussurrou com voz cheia de raiva:

— Ouça bem, Lucy! Eu estou sendo paciente demais com você aqui. Eu sei que você maltrata os garçons, prejudicou a última recepcionista, e até pediu para Isara me dopar.

Enquanto Lucy recuava, Chris continuou:

— Eu não tenho uma paciência ilimitada. Então abra essa sua maldita boca para falar da Aurora novamente desse jeito, e eu mesmo farei você nunca mais falar na sua vida. Você sabe qual é a única razão de te manter aqui. Estamos entendidos?

Lucy, ainda chocada com a agressividade de Chris, explodiu em uma confissão inesperada:

— Aurora era minha irmã, se você não lembra! Eu sei que ela era uma vadia! Você realmente acha que ela amava você? Não seja idiota, Chris!!! Aurora nunca teria um filho seu! Porque ela queria alguém que lhe desse o que você nunca deu para ela: luxo! Enquanto você fica guardando seu coração por ela, acha que ela voltaria para você?! Pelo amor de Deus, ela nem gostava de você pra começo de conversa!!!

Chris, furioso com as palavras de Lucy, empurrou-a para fora do escritório, fazendo-a cair no chão. Lucy gritou, berrando a porta:

— Você um dia vai implorar pelo meu amor, Chris. Eu fiz o que tinha que fazer, seu idiota! Eu espero que você nunca seja feliz com ninguém e que um dia, você seja tão pisoteado quanto eu estou sendo.

Dentro do escritório, Chris estava sentado no sofá, em silêncio, observando o céu estrelado do seu estabelecimento. Lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele pensava em todo o seu passado e em como ele havia se fechado.

"O amor não deveria doer", pensou ele, em meio à sua dor.

Num acesso de raiva, ele derrubou tudo o que tinha na mesa do seu escritório.

A raiva de Chris transformou-se em tristeza, e ele sentiu-se sobrecarregado pelos acontecimentos recentes.

Ele olhou ao redor, vendo o caos que havia causado em seu escritório, como se fosse uma representação do tumulto em sua vida. Ele se levantou pesadamente e começou a limpar o espaço, tentando restaurar alguma ordem.

Enquanto arrumava o caos, Chris lembrou da bebida escondida atrás de um quadro no fundo falso. Ele hesitou por um momento antes de finalmente ceder à tentação. Ele se sentou de novo no sofá, abriu a garrafa e começou a beber.

Para Chris, beber era a única forma que encontrara para esquecer o passado e evitar que seu mundo desmoronasse. O álcool oferecia uma fuga temporária da dor e da angústia que o atormentavam.

Cada gole, no entanto, só o afundava mais profundamente na escuridão e na solidão.

Enquanto o restaurante continuava movimentado lá fora, Chris ficou sozinho no escritório, tentando se esconder dos problemas que o assolavam. A bebida funcionava como um elixir para suas feridas, mas o efeito era passageiro e só o levaria a uma espiral de autodestruição.

Chris sabia que não poderia escapar dos desafios e das batalhas que o aguardavam. No entanto, por enquanto, ele encontrara refúgio no álcool, na solidão e no silêncio do seu escritório, lutando para se manter forte enquanto se perdia ainda mais em suas próprias fragilidades e tormentos.

Ele tinha um buraco doloroso em seu coração.

E isso o atormentava por anos.

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