Capítulo 20: O Sussurro do Guardião
O ar dentro da tumba era pesado e denso, carregado com o cheiro de pedra úmida e algo mais... algo metálico. Kian parou por um instante, com os olhos fixos na porta à sua frente. As inscrições nas paredes brilhavam em tons esverdeados, pulsando em um ritmo lento, como se a própria tumba tivesse um coração.
— Isso não está certo... — murmurou ele, enquanto passava a ponta dos dedos pelas marcas.
— Nada aqui está, Kian. — A voz de Myra ecoou pelo corredor estreito, sua espada desembainhada refletindo a luz fantasmagórica. Ela estava tão alerta quanto ele, seus olhos vasculhando a escuridão à frente. — Desde que entramos, tenho a sensação de que estamos sendo observados.
Kian assentiu, ainda concentrado nas runas. Ele podia sentir a magia antiga pulsando sob sua pele, uma sensação que crescia à medida que se aproximavam do centro da tumba. Era familiar e, ao mesmo tempo, alienígena.
— Essas inscrições... — ele começou, a voz baixa. — Estão ativando algo. Ou alguém.
— E o que você acha que vamos encontrar quando essa porta abrir? — Myra perguntou, o tom seco denunciando seu nervosismo.
Kian olhou para ela por cima do ombro, um sorriso ligeiro curvando seus lábios.
— Nada que a sua espada não possa cortar, certo?
Myra revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso em resposta.
Com um movimento rápido, Kian pressionou a mão contra o centro da porta, onde as runas se cruzavam. Uma explosão de luz inundou o corredor, forçando ambos a fecharem os olhos por um instante. Quando a luz se dissipou, a porta tinha desaparecido, revelando uma sala gigantesca, iluminada por chamas verdes que dançavam em pedestais ao longo das paredes.
No centro da sala, uma figura encapuzada estava ajoelhada, as mãos apoiadas no chão como se estivesse rezando. Ao redor dela, havia uma série de espadas fincadas no chão, todas apontadas para o céu.
— Isso... não é bom. — Myra sussurrou, dando um passo para trás.
Kian avançou lentamente, sua curiosidade vencendo o instinto de recuar.
— Quem é você? — ele perguntou, a voz firme, mas com um toque de cautela.
A figura não se moveu. Mas então, uma voz grave e distorcida ecoou pela sala, como se viesse de todas as direções ao mesmo tempo:
— Herdeiro... você finalmente chegou.
Kian parou no meio do caminho, seus músculos tensos.
— Você sabe quem eu sou?
— Eu sei quem você era... e quem deveria ser. — A figura ergueu a cabeça, revelando um rosto envolto em sombras, os olhos brilhando em um vermelho profundo. — Você carrega a marca, o legado. Mas ainda não provou ser digno dele.
— Digno? — Kian riu, uma risada curta e amarga. — Eu não pedi nada disso. Esse “legado” foi imposto a mim.
A figura ficou de pé, e as espadas ao seu redor começaram a flutuar, cercando-o em uma formação ameaçadora.
— O poder nunca é dado sem preço. — disse a figura. — E agora, você pagará o seu.
Antes que Kian pudesse responder, as espadas dispararam em sua direção. Ele mergulhou para o lado, rolando pelo chão enquanto uma lâmina passava a poucos centímetros de sua cabeça.
— Myra, cuidado! — ele gritou.
Myra já estava em movimento, sua espada em um arco brilhante que desviou uma das lâminas. Mas mais espadas surgiram do chão, como se a sala inteira estivesse viva e determinada a destruí-los.
— Kian! Algum plano brilhante? — Myra gritou, enquanto esquivava de mais uma espada que quase perfurou seu ombro.
Kian olhou ao redor, tentando encontrar algum ponto fraco, algo que pudesse usar a seu favor. Foi então que ele percebeu: as espadas não atacavam a figura encapuzada. Elas estavam ligadas a ela, como extensões de sua própria vontade.
— Precisamos tirá-lo do centro! — ele gritou.
Myra assentiu, desviando-se de mais um golpe antes de avançar em direção à figura.
— Vou distraí-lo! — ela gritou, enquanto sua espada colidia com as lâminas flutuantes.
Kian aproveitou a abertura para se aproximar pelas sombras, seus olhos fixos nas inscrições que cobriam o chão sob os pés da figura. Era ali que a magia estava concentrada, alimentando o poder das espadas.
Ele estendeu a mão, murmurando as palavras que aprendera há muito tempo, palavras que sempre deixavam um gosto amargo em sua boca. A magia respondeu, o ar ao seu redor ficando frio enquanto ele puxava a energia da sala para si.
A figura encapuzada virou-se abruptamente, os olhos brilhando com algo que parecia... surpresa.
— O que você está fazendo? — a voz distorcida rugiu.
— Igualando o jogo. — Kian respondeu, um sorriso frio curvando seus lábios.
Com um movimento brusco, ele canalizou a energia que acumulou e a lançou contra o chão. As inscrições sob a figura explodiram em luz, e o poder que alimentava as espadas desapareceu.
As lâminas caíram no chão com um estrondo metálico, enquanto a figura cambaleava para trás, aparentemente enfraquecida.
— Myra, agora! — Kian gritou.
Myra não perdeu tempo. Ela avançou com um grito de guerra, sua espada cortando o ar em direção à figura. Mas antes que pudesse atingi-la, a figura desapareceu, como se tivesse sido engolida pelas sombras.
A sala ficou em silêncio.
— Isso foi... intenso. — Myra ofegou, apoiando-se na espada.
Kian não respondeu. Ele estava olhando para o lugar onde a figura havia desaparecido, seus pensamentos correndo.
— Isso foi um teste. — ele disse finalmente, a voz baixa.
Myra franziu o cenho.
— Um teste?
— Sim. — Kian olhou para ela, seus olhos sombrios. — E acho que acabamos de passar para a próxima fase.
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Atualizado até capítulo 23
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