o Herdeiro das tumbas perdidas

Capítulo 6: Ecos na Escuridão

As tochas tremulavam, lançando sombras grotescas nas paredes do corredor. O som de seus passos ecoava pelo túnel de pedra, misturando-se ao murmúrio distante de água corrente. Kian mantinha o punhal em mãos, cada músculo do corpo tenso. Ele sabia que a calmaria das tumbas era enganosa — os perigos estavam sempre à espreita.

— Estamos perto agora. — A voz rouca de Eryn cortou o silêncio. A arqueóloga não parecia temer o ambiente opressor, mas sua postura traía a inquietação.

— Já disse isso nas últimas três câmaras. — Kian retrucou, sua voz baixa, quase inaudível. Ele não tirava os olhos do chão à frente, procurando por armadilhas ocultas. — Se essa tumba for como as outras, está protegida por algo pior do que portas trancadas.

Eryn parou, voltando-se para ele. As tochas iluminaram seu rosto marcado pela poeira.

— E o que sugere? Que a gente volte agora? Que abandone tudo?

Kian estreitou os olhos. Não gostava de admitir, mas havia algo na determinação de Eryn que ele respeitava. Ela não era como os mercenários ou nobres gananciosos que ele costumava encontrar; ela queria algo além de riqueza.

— Não. — Ele balançou a cabeça. — Só digo que precisamos estar prontos.

— Eu sempre estou pronta. — Eryn deu um passo à frente, virando-se para a câmara adiante.

Kian a seguiu, mas seu instinto gritava que algo estava errado. O ar parecia mais pesado a cada passo que davam. Ele sentiu uma pressão invisível nos ouvidos, como se o próprio túnel estivesse tentando afastá-los.

De repente, uma inscrição nas paredes chamou sua atenção. Símbolos antigos, gravados com precisão, pulsavam levemente com uma luz azulada. Ele parou e puxou Eryn pelo braço.

— Espere. — Ele apontou para os símbolos. — Sabe o que isso significa?

Ela estreitou os olhos, aproximando-se para examinar os entalhes.

— É uma advertência. Algo sobre o guardião da tumba.

— Ótimo. — Kian soltou um suspiro. — Sempre tem um guardião.

Eryn ignorou o sarcasmo.

— Se as traduções estiverem certas, o guardião só é ativado quando alguém tenta roubar o artefato central.

— Isso deveria me tranquilizar? — Kian arqueou uma sobrancelha. — Porque não tranquiliza.

Eryn abriu a boca para responder, mas foi interrompida por um som grave e ressonante. O chão tremeu levemente, e ambos se viraram na direção do barulho.

— O que foi isso? — ela sussurrou.

— Não sei, mas... — Kian recuou um passo. — Não é bom.

Antes que pudessem reagir, a câmara diante deles se iluminou com uma luz fantasmagórica. O brilho revelou uma figura colossal emergindo das sombras — uma estátua de pedra, esculpida na forma de um guerreiro com uma espada descomunal.

— Acho que encontramos o guardião. — Kian rangeu os dentes.

A estátua começou a se mover, o som de pedra raspando contra pedra preenchendo o ar. Cada passo fazia o chão vibrar.

— Corra! — Eryn gritou, puxando Kian pela manga.

Eles dispararam de volta pelo corredor, mas a estátua os seguia, cada movimento seu lento, mas implacável. O túnel era estreito demais para permitir que ela os alcançasse rapidamente, mas isso só significava que estavam temporariamente seguros.

— Vamos nos separar! — Eryn sugeriu, mas Kian balançou a cabeça.

— Não! É exatamente isso que ele quer. Essas tumbas foram feitas para separar e enfraquecer intrusos.

— E o que sugere, então? — ela gritou, olhando por cima do ombro enquanto a estátua continuava a persegui-los.

— Precisamos de uma saída. Um ponto fraco. Essas coisas sempre têm.

Antes que Eryn pudesse responder, o corredor terminou abruptamente, abrindo-se em uma grande câmara circular. O teto estava coberto de cristais brilhantes que refletiam a luz, enquanto no centro da sala havia um pedestal de obsidiana. Sobre ele repousava um artefato dourado em forma de coroa.

— Não pode ser. — Eryn respirou, seus olhos fixos na coroa.

— Não! — Kian agarrou seu braço. — É exatamente isso que ele quer que você faça.

Mas era tarde demais. A estátua entrou na câmara, bloqueando a saída, enquanto Eryn avançava em direção ao pedestal.

— Se eu conseguir a coroa, posso... —

— Morrer! — Kian interrompeu. — Não toque nisso!

A estátua levantou sua espada, e Kian soube que eles tinham apenas segundos antes do golpe fatal. Ele correu para Eryn, puxando-a para trás enquanto a lâmina descia com força suficiente para abrir uma cratera no chão.

— Você perdeu a cabeça? — Kian rosnou, segurando-a pelos ombros.

Eryn tentou protestar, mas a estátua já estava se movendo novamente. Kian olhou ao redor, procurando algo — qualquer coisa — que pudesse virar o jogo. Seus olhos pousaram em uma série de runas semelhantes às do corredor, gravadas nas paredes da câmara.

— As runas! — ele gritou. — Elas devem ser a chave.

Eryn correu para as paredes, começando a decifrar as inscrições enquanto Kian tentava distrair o guardião. Ele rolou para o lado, desviando de um golpe da espada que quase o partiu ao meio.

— Qual é o plano? — ele gritou.

— Estou tentando descobrir! — Eryn respondeu, os olhos percorrendo as runas. — É um enigma... algo sobre equilíbrio...

Kian não teve tempo de responder. O guardião avançou novamente, e ele foi forçado a recuar para o centro da sala.

— Eryn! — Ele chamou, a urgência em sua voz clara.

— Quase lá! — ela respondeu.

Finalmente, Eryn encontrou a sequência certa. Ela pressionou uma das runas, que brilhou intensamente antes de apagar. A estátua congelou no lugar, sua espada a poucos centímetros de Kian.

— O que você fez? — ele perguntou, ofegante.

Eryn deu um passo para trás, seus olhos ainda fixos nas runas.

— Não desativei o guardião... apenas o pausei.

— Então talvez seja hora de sairmos daqui. — Kian sugeriu.

— Não. — Eryn apontou para a coroa no pedestal. — Precisamos disso.

Kian olhou para ela como se ela estivesse louca, mas algo na determinação em seus olhos o impediu de discutir. Relutantemente, ele se aproximou do pedestal, examinando-o.

— Isso é suicídio. — Ele murmurou, estendendo a mão para a coroa.

Ao tocá-la, ele sentiu um choque atravessar seu corpo, seguido por uma onda de imagens — memórias antigas, vozes esquecidas, segredos enterrados. Quando recuou, segurando a coroa, sabia que algo havia mudado.

Eryn correu até ele, seus olhos arregalados.

— Você está bem?

Kian não respondeu imediatamente. Ele olhou para a coroa em suas mãos, sentindo o peso de sua escolha. Algo dentro dele sussurrou que aquele era apenas o começo de algo muito maior — algo que ele talvez não fosse capaz de controlar.

— Vamos embora. — Ele finalmente disse.

Eryn assentiu, e juntos eles correram para fora da câmara, deixando o guardião congelado para trás. Mas Kian sabia que a verdadeira luta ainda estava por vir.

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