o herdeiro das tumbas perdidas

Capítulo 15: O Julgamento das Sombras

Kian segurava a lanterna de cristal, sua luz tremeluzente lançando sombras inquietantes nas paredes da tumba. O ar ali dentro era pesado, carregado com o cheiro de morte e pedra úmida. Havia algo naquela câmara que o fazia hesitar, como se o próprio espaço estivesse observando cada movimento seu.

— Isto não é só uma armadilha — murmurou ele para si mesmo, seus olhos percorrendo os detalhes da sala. As inscrições nas paredes não eram de um idioma que ele reconhecesse, mas as imagens contavam uma história clara: homens ajoelhados diante de uma figura encapuzada, oferecendo objetos brilhantes que poderiam ser relíquias.

Atrás dele, Lynae, sua companheira de viagens e relutante aliada, respirava pesadamente, os olhos fixos em um pedestal no centro da sala.

— Não parece com nada que vimos antes — disse ela, quebrando o silêncio. Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas no ambiente ecoou como um grito. — Temos certeza de que é isso que estamos procurando?

Kian se aproximou do pedestal. Sobre ele, havia uma pequena caixa de obsidiana, tão negra que parecia absorver a luz da lanterna. Ele sabia o que aquilo significava: a relíquia ali dentro não era comum.

— Absolutamente. É o fragmento do Coração do Imperador. Só falta este para completar o artefato. — Ele tocou a borda da caixa com cuidado. — Mas algo não está certo.

Lynae soltou uma risada nervosa. — Quando algo está certo? Isso é uma tumba amaldiçoada, Kian. O que você esperava? Uma recepção calorosa?

Antes que ele pudesse responder, o chão começou a tremer. As inscrições nas paredes brilharam em um tom dourado, e os homens ajoelhados nas imagens pareceram ganhar vida, seus rostos se contorcendo em expressões de dor.

— Eu sabia! — exclamou Lynae, sacando sua lâmina. — Alguma coisa aqui não quer que levemos essa caixa.

Kian recuou alguns passos, os olhos atentos às figuras nas paredes, que agora se projetavam no centro da sala como sombras vivas. As formas eram altas e deformadas, com braços longos e dedos que pareciam lâminas.

— Bem-vindo ao Julgamento das Sombras — uma voz grave ecoou na câmara. Era impossível identificar sua origem, mas carregava uma autoridade ancestral.

— Quem é você? — gritou Kian, segurando a lanterna como se fosse uma arma.

— Não importa quem somos, mortal — respondeu a voz. — Importa apenas se você é digno de carregar o fragmento.

Lynae se posicionou ao lado dele, os olhos arregalados. — Kian, isso não está nos livros. Essas coisas... elas não parecem ser fantasmas normais.

— Porque não são — respondeu ele, a voz tensa. — São fragmentos de almas. Guardiões criados para testar quem ousa entrar aqui.

Antes que pudesse dizer mais, uma das sombras avançou. Ela se moveu rápido demais para que Lynae reagisse, mas Kian instintivamente ergueu a lanterna. A luz brilhou intensamente, e a criatura recuou com um grito agudo, dissolvendo-se parcialmente no ar.

— Parece que você tem algo que nos incomoda — disse a voz, agora carregada com um tom de desprezo.

— A luz — murmurou Lynae. — Isso pode nos proteger.

— Não por muito tempo. — Kian ajustou a lanterna para aumentar seu brilho, mas percebeu que a energia dentro dela estava diminuindo rapidamente.

As sombras começaram a cercá-los, movendo-se como fumaça ao redor do pedestal. Cada passo que Kian e Lynae davam era acompanhado por um sussurro maligno.

— Apenas uma forma de sair daqui vivos, mortal — disse a voz. — Submeta-se ao julgamento.

— Que julgamento? — desafiou Kian.

— Prove sua força. Seu coração deve ser mais forte que as trevas.

Sem esperar uma resposta, as sombras atacaram.

Kian girou a lanterna, sua luz varrendo as formas, mas elas eram numerosas demais. Uma sombra o atingiu no ombro, e ele caiu de joelhos, o impacto roubando-lhe o ar.

— Kian! — gritou Lynae, cortando outra sombra com sua lâmina, que parecia ser pouco eficaz contra as criaturas.

Ele lutou para se levantar, sentindo a dor pulsar no local do golpe. Com um grunhido, ergueu a lanterna novamente, mas a luz estava fraca.

Foi então que ele percebeu. A voz havia dito o coração.

Kian fechou os olhos, ignorando os gritos de Lynae e o som das sombras que se aproximavam. Ele concentrou-se, lembrando-se das palavras de seu mestre: A luz que você carrega não é externa, mas interna.

— O que você está fazendo? — gritou Lynae, desviando de outro ataque.

— Confiando no meu instinto! — respondeu ele, sua voz firme.

Com um esforço concentrado, ele projetou sua força interior, imaginando uma chama brilhante crescendo em seu peito. Quando abriu os olhos, um clarão de luz explodiu da lanterna, iluminando toda a câmara.

As sombras gritaram em agonia e desapareceram, deixando a sala mergulhada em silêncio novamente.

Kian caiu no chão, respirando com dificuldade. Lynae correu até ele, a expressão preocupada.

— O que foi aquilo? — perguntou ela, ajudando-o a se levantar.

Ele olhou para a lanterna, agora completamente apagada. — Acho que eles estavam certos. O julgamento não era sobre poder... mas sobre força interior.

Lynae o estudou por um momento, depois balançou a cabeça. — Você é louco. Mas funcionou.

Kian caminhou até o pedestal e pegou a caixa de obsidiana. Quando a segurou, sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo.

— Um fragmento a menos — murmurou ele.

Mas antes que pudessem comemorar, a câmara começou a desmoronar.

— Hora de sair! — gritou Lynae, puxando-o pelo braço.

Eles correram enquanto as paredes se fechavam ao seu redor. Com a caixa firmemente presa em suas mãos, Kian sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir.

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