Capítulo 7: O Santuário dos Ecos
O som de gotas d’água ecoava pelas paredes úmidas do túnel, amplificando o silêncio opressivo que cercava Kian. Ele segurava a tocha com força, a chama tremulando sob as correntes de ar invisíveis. O Santuário dos Ecos estava muito além de qualquer tumba que ele já tivesse explorado. Não era uma construção feita por mortais.
A cada passo, as runas gravadas nas paredes brilhavam fracamente, reagindo à sua presença. Elas pareciam sussurrar, como se discutissem entre si sobre a audácia de alguém ousar pisar ali. Kian, no entanto, manteve o olhar fixo no caminho à frente.
— Não há nada que essas tumbas possam me mostrar que eu já não tenha visto. — Murmurou para si mesmo, mais para acalmar os nervos do que por convicção.
A entrada do santuário finalmente se abriu à sua frente, uma câmara imensa que parecia viva. As paredes pulsavam com luzes douradas que seguiam o ritmo de seu coração. No centro da sala, uma estátua colossal dominava o espaço, com olhos de pedra que pareciam observar cada movimento de Kian.
— Então você finalmente chegou, saqueador.
A voz ecoou de todos os lados, grave e imponente. Kian girou o corpo rapidamente, a mão no cabo da adaga presa à cintura.
— Quem está aí? Mostre-se!
De uma sombra próxima, um homem surgiu. Sua aparência era tão antiga quanto o próprio santuário: vestes desgastadas, adornos de ouro e uma aura que parecia drenar o ar ao seu redor.
— Eu sou Varlan, o guardião deste lugar. — O homem fez uma pausa, seus olhos brilhando com intensidade sobrenatural. — E você é o invasor, aquele que ousa perturbar os ecos dos antigos.
Kian arqueou uma sobrancelha, sem abaixar a guarda.
— Guardião ou não, eu vim buscar o que me pertence.
— O que lhe pertence? — Varlan riu, o som reverberando como trovões. — Você realmente acredita que pode reivindicar algo aqui?
Kian deu um passo à frente, apontando a tocha na direção de Varlan.
— Eu sei exatamente o que há neste santuário: o Fragmento do Coração do Imperador. Ele é meu por direito.
O sorriso de Varlan desapareceu. Ele ergueu a mão, e de repente o chão sob os pés de Kian começou a tremer.
— Você não entende o que está pedindo, garoto. O Fragmento não é apenas poder. Ele é maldição.
Kian segurou a tocha com firmeza enquanto o chão se estabilizava.
— Então é melhor você sair do meu caminho, antes que seja tarde demais.
Varlan estreitou os olhos.
— Muito bem. Se você deseja o Fragmento, terá que provar que é digno. Mas aviso-lhe: ninguém jamais passou pelo teste do Santuário.
Antes que Kian pudesse responder, o chão sob ele começou a se desfazer, transformando-se em um vazio negro. Ele tentou se mover, mas foi engolido pela escuridão, caindo em um abismo sem fim.
Kian acordou com um suspiro ofegante. Ele estava em outro lugar agora, uma sala iluminada por uma luz prateada. Não havia portas, nem paredes discerníveis — apenas um vazio infinito preenchido por ecos de vozes distantes.
— O que é isso? — murmurou, olhando ao redor.
De repente, uma figura familiar surgiu diante dele. Era uma mulher, alta e imponente, com cabelos negros como a noite. Seu olhar era frio, mas não sem emoção.
— Mãe?
A mulher sorriu, mas o sorriso era distorcido, quase cruel.
— Você se lembra de mim, Kian?
Ele deu um passo para trás, a mente lutando para processar o que via.
— Isso não é real. Você está morta.
— Morta, mas nunca esquecida. — A figura começou a caminhar em sua direção, os pés flutuando levemente sobre o chão. — Você carrega meu sangue, meu legado. Mas será que é digno dele?
Kian sacudiu a cabeça, tentando afastar a confusão.
— O que você quer de mim?
— A pergunta, meu filho, é o que você quer. Você está aqui buscando poder, mas conhece o preço que vem com ele?
Antes que Kian pudesse responder, a sala começou a mudar novamente. As vozes se intensificaram, e figuras espectrais emergiram do vazio. Eram as pessoas que ele havia matado, direta ou indiretamente, em suas incursões pelas tumbas.
— Você é um ladrão. Um assassino. Um profanador. — As vozes ecoavam juntas, cada palavra como uma lâmina perfurando sua mente.
Kian gritou, tentando afastar as figuras que agora o cercavam.
— Não é verdade! Eu fiz o que era necessário para sobreviver!
A figura de sua mãe parou à sua frente, os olhos cheios de julgamento.
— Sobrevivência não é justificativa, Kian. Se você quer o Fragmento, deve confrontar seus próprios demônios.
A visão mudou novamente, e Kian se viu em uma cena familiar: a noite em que seus pais foram mortos. Ele estava escondido atrás de uma pilha de destroços, incapaz de fazer qualquer coisa enquanto os saqueadores destruíam sua vila.
— Você poderia ter salvado eles, Kian. — A voz de Varlan soou novamente, mas desta vez vinha de dentro de sua própria mente.
— Não! Eu era apenas uma criança! — Kian gritou, as lágrimas queimando seus olhos.
— E ainda assim, você carrega essa culpa como uma segunda pele. Até que você a enfrente, jamais será digno do Fragmento.
De repente, Kian sentiu algo mudar dentro de si. Ele se levantou, encarando os saqueadores que haviam matado seus pais.
— Vocês não têm poder sobre mim. Não mais.
Com essas palavras, as figuras desapareceram, e Kian se viu de volta ao santuário, de pé diante de Varlan.
O guardião o observava em silêncio, seus olhos avaliando cada detalhe.
— Você superou o teste.
Kian respirou fundo, sentindo o peso de suas emoções ainda pressionando seu peito.
— Isso significa que sou digno?
Varlan acenou com a cabeça.
— Sim. Mas lembre-se, Kian: o Fragmento não é apenas uma ferramenta. Ele é um reflexo de quem o empunha. Use-o com sabedoria, ou ele consumirá você.
Com essas palavras, Varlan estendeu a mão, revelando o Fragmento do Coração do Imperador. Ele brilhava intensamente, como se contivesse o poder de mil sóis.
Kian o pegou com cuidado, sentindo a energia pulsar através de seu corpo.
— Agora, vá. Sua jornada está apenas começando.
Enquanto Kian deixava o Santuário dos Ecos, ele sabia que não era mais o mesmo. Ele havia enfrentado seus demônios, mas também havia percebido o peso do que carregava. O Fragmento era mais do que um artefato — era uma promessa de poder, mas também de destruição.
E Kian estava determinado a usá-lo para mudar o destino do mundo, custasse o que custasse.
Fim do Capítulo 7
Este capítulo combina ação, introspecção e uma reviravolta emocional para manter o leitor imerso na jornada de Kian.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 23
Comments