Capítulo 13: O Chamado dos Mortos
As paredes da tumba vibravam com um som baixo e ameaçador, como se a própria pedra estivesse viva. Kian avançava com passos cautelosos, segurando a tocha que iluminava os hieróglifos entalhados nas paredes. O calor da chama contrastava com o frio glacial que emanava das profundezas daquele lugar.
— Não é tarde demais para dar meia-volta, você sabe disso — resmungou Serin, a ladina que o acompanhava. Seus olhos ágeis analisavam cada sombra como se esperasse um ataque a qualquer momento.
— Já passei da linha de retorno — respondeu Kian, sem olhar para ela. — Se você quiser ir embora, ninguém vai te impedir.
— Claro, eu poderia fazer isso — Serin cruzou os braços, mantendo uma expressão sarcástica. — Mas quem iria salvar sua pele quando você mexer no artefato errado?
Kian ignorou o comentário. Ele sabia que Serin estava ali tanto pelo tesouro quanto pela oportunidade de escapar dos caçadores de recompensas que a perseguiam. Mas algo naquela tumba fazia sua pele formigar, como se o ar estivesse carregado de intenções malignas.
Eles alcançaram um salão circular, onde uma enorme estátua de um guerreiro de pedra guardava o centro. Seus olhos eram pedras brilhantes que refletiam a luz da tocha. No chão, inscrições antigas formavam um padrão intrincado que parecia irradiar uma energia quase palpável.
— Não toque em nada ainda — disse Kian, erguendo a mão para detê-la.
— Achou que eu ia meter a mão numa armadilha óbvia? — rebateu Serin.
— Sim.
— Justo.
Kian se abaixou, examinando os padrões no chão. Ele já tinha visto algo semelhante antes, em outra tumba. Era um mecanismo de ativação, mas desta vez parecia estar incompleto.
— Isso não está certo — murmurou.
— O que não está?
— Está faltando algo aqui. É como se... — Ele olhou para a estátua. — Como se o guardião ainda não tivesse despertado.
— Certo, isso é bom, não é? — perguntou Serin, já recuando alguns passos.
— Não exatamente. Se ele não está ativo, significa que algo ou alguém o desativou.
O silêncio que se seguiu foi quebrado por um ruído metálico, um som que ecoou pelas paredes e fez os dois se virarem rapidamente. Um dos olhos brilhantes da estátua começou a piscar, e a energia no salão se intensificou.
— O que você fez?! — gritou Serin.
— Eu não fiz nada!
A estátua começou a se mover, sua pedra rangendo como se resistisse ao tempo. Kian sacou sua espada, mas sabia que seria inútil contra algo daquela magnitude.
— Corra! — gritou ele, agarrando o braço de Serin e puxando-a para longe do salão.
Eles correram pelos corredores estreitos, enquanto o som dos passos pesados da estátua ecoava atrás deles. Kian sabia que não poderiam fugir para sempre. A tumba parecia estar viva, ajustando seu caminho e levando-os cada vez mais para o centro de algo que ele ainda não entendia.
— Isso foi um péssimo plano! — gritou Serin.
— Não era um plano!
— Exatamente o meu ponto!
Eles chegaram a uma bifurcação. Kian olhou para os dois lados, tentando decidir rapidamente. À esquerda, um brilho azulado emanava de uma sala. À direita, o caminho parecia continuar em escuridão total.
— Vamos por aqui — disse ele, apontando para a esquerda.
— Você nem sabe o que tem aí! — protestou Serin.
— E no outro lado sabemos que tem morte. Então...
Relutante, ela o seguiu. Quando entraram na sala iluminada, viram algo que fez ambos pararem instantaneamente. No centro, flutuava um cristal azul, brilhando com uma luz pulsante. Ao redor dele, correntes negras envolviam o artefato como serpentes vivas.
— Esse é o Coração do Imperador? — perguntou Serin, sua voz baixa, quase reverente.
Kian deu alguns passos à frente, sentindo o peso da energia emanando do cristal. Ele estendeu a mão, mas antes que pudesse tocá-lo, as correntes se agitaram violentamente, como se quisessem afastá-lo.
— Acho que ele não gosta de você — disse Serin, recuando mais um passo.
— Não é isso — disse Kian, sua voz carregada de determinação. — Ele sabe o que eu sou.
Antes que pudesse explicar, as correntes dispararam em sua direção. Kian ergueu a espada, mas o impacto o jogou para trás, derrubando-o no chão. Serin correu para ajudá-lo, mas uma força invisível a deteve no lugar.
— O que está acontecendo?! — gritou ela, lutando contra a pressão.
Kian tentou se levantar, mas as correntes agora o envolviam, puxando-o em direção ao cristal. A dor era excruciante, mas ele sentia algo mais profundo, algo que despertava dentro dele.
— Não lute contra isso — disse uma voz, baixa e cavernosa, ecoando na sala.
— Quem está aí? — gritou Serin, olhando ao redor.
A voz ignorou a pergunta.
— Você não é apenas um invasor, garoto. Você é a chave para o que vem depois.
Kian finalmente conseguiu falar, sua voz um misto de dor e raiva:
— Não sei do que você está falando!
O cristal começou a pulsar mais rápido, sua luz azul agora tingida de vermelho. As correntes apertaram ainda mais, e Kian sentiu como se algo estivesse tentando invadir sua mente. Ele gritou, lutando para se libertar, mas sabia que estava perdendo a batalha.
Foi então que algo dentro dele se acendeu. Uma chama antiga, uma força que ele não sabia possuir, mas que parecia reconhecer o chamado do cristal. As correntes começaram a recuar, e Kian ergueu-se lentamente, agora envolto por uma aura dourada.
— O que você é? — perguntou Serin, seus olhos arregalados.
Kian olhou para ela, sua voz agora fria e distante.
— Eu sou o que eles temem.
Com um movimento rápido, ele cortou as correntes que o prendiam e agarrou o cristal. A sala foi tomada por uma explosão de luz, e tudo ao redor deles começou a desmoronar.
— Kian! — gritou Serin, mas ele não respondeu.
Enquanto as pedras caíam, ele segurava o cristal com força, sentindo sua energia fluir por seu corpo. Pela primeira vez, ele entendia quem era. E sabia que, a partir daquele momento, nada seria o mesmo.
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Atualizado até capítulo 23
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