o Herdeiro das tumbas perdidas

Capítulo 4: Ecos do Passado

Kian sentia o frio do solo de pedra sob seus pés. O brilho tênue das runas que preenchiam as paredes da tumba parecia pulsar, como se respirassem junto com ele. Ele sabia que esse lugar não era como os outros que já havia invadido. Havia algo diferente aqui — algo que o observava.

Ele apertou o punho da adaga presa ao cinto e avançou com cuidado, seus passos ecoando pelo corredor estreito. No silêncio da tumba, ele ouvia cada batida do próprio coração, cada respiração curta e tensa.

— Não devia estar aqui — uma voz ecoou pelas paredes, grave e arrastada.

Kian congelou. O som parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo.

— Quem está aí? — gritou, tentando esconder o medo que tomava conta de si.

O silêncio retornou, pesado como uma pedra. Ele continuou andando, agora com a adaga em mãos, os olhos atentos ao menor movimento nas sombras que dançavam na luz das runas.

De repente, o corredor se alargou, abrindo-se para uma câmara vasta e escura. No centro, havia uma espécie de altar de pedra, coberto por inscrições que Kian não conseguia decifrar. Uma urna de metal repousava no topo do altar, emitindo um brilho estranho, quase hipnótico.

— Então é isso — murmurou para si mesmo. Ele sabia o que procurava. Aquela urna continha o Fragmento da Voz, um artefato lendário que, segundo as lendas, permitia ao seu portador ouvir os segredos dos mortos.

Quando ele deu um passo em direção ao altar, a voz ecoou novamente, agora mais próxima:

— Você não sabe o que está fazendo.

Kian girou rapidamente, a adaga pronta para atacar, mas não havia ninguém ali.

— Mostre-se! — exigiu, a raiva misturando-se ao nervosismo.

Um riso baixo ressoou pela câmara, e então, das sombras, surgiu uma figura encapuzada. A capa preta parecia feita da própria escuridão, e o rosto estava oculto por uma máscara de ossos.

— Quem é você? — perguntou Kian, sem baixar a arma.

— Alguém que já trilhou o mesmo caminho que você — respondeu a figura, com uma voz que parecia vir de outro mundo. — E que viu o preço que ele cobra.

— Não tenho tempo para enigmas. Saia do meu caminho ou eu...

A figura ergueu a mão, interrompendo-o.

— Você acha que pode roubar o Fragmento e sair daqui vivo? As tumbas não são apenas cofres para sua ganância. Elas são guardiãs de histórias, de vidas e de maldições. Cada artefato que você toma, cada segredo que desenterra, traz consigo uma sombra.

Kian sentiu um arrepio, mas se recusou a demonstrar fraqueza.

— Se está tentando me assustar, vai precisar fazer melhor que isso.

A figura deu um passo à frente, e a luz das runas iluminou brevemente seu rosto mascarado.

— Você carrega um poder que nem mesmo compreende. Acha que o Fragmento da Voz lhe dará respostas? Ele apenas fará as perguntas mais difíceis.

Kian franziu a testa. Havia algo naquela figura que parecia familiar, mas ele não conseguia identificar o quê.

— Não importa o que você diga. Eu vim até aqui para isso, e vou levar o Fragmento, quer você queira ou não.

A figura soltou um suspiro pesado.

— Então mostre que é digno.

Antes que Kian pudesse responder, a figura ergueu ambas as mãos, e a câmara começou a tremer. As runas nas paredes brilharam intensamente, e o chão sob os pés de Kian se rachou. De dentro das fendas, surgiram espectros translúcidos, com olhos vazios e bocas que sussurravam palavras ininteligíveis.

— Você terá que enfrentar os ecos do passado — disse a figura, antes de desaparecer nas sombras.

Kian mal teve tempo de reagir antes que o primeiro espectro avançasse em sua direção. Ele rolou para o lado, esquivando-se por pouco de uma garra fantasmagórica.

— Ótimo, mais monstros! — resmungou, levantando-se rapidamente.

Ele golpeou o espectro com sua adaga, mas a lâmina passou através da criatura sem causar dano.

— Droga!

Os espectros continuavam avançando, cercando-o lentamente. Ele precisava pensar rápido. Olhando ao redor, notou que as runas nas paredes pareciam pulsar de forma diferente quando os espectros se aproximavam.

— As runas... elas devem ser a chave.

Com essa ideia em mente, Kian correu até a parede mais próxima e tocou uma das runas brilhantes. Para sua surpresa, a luz se intensificou, e o espectro mais próximo recuou, como se tivesse sido queimado.

— Isso vai ser interessante — disse ele, com um sorriso confiante.

Ele começou a se mover pela câmara, tocando as runas estrategicamente para afastar os espectros enquanto se aproximava do altar. A cada passo, sentia o peso da tensão aumentar. As sombras pareciam se fechar ao seu redor, e os sussurros dos espectros ficavam mais altos, mais insistentes.

Quando finalmente alcançou o altar, Kian estendeu a mão para pegar a urna. No momento em que seus dedos tocaram o metal frio, um grito ensurdecedor ecoou pela câmara.

Os espectros desapareceram instantaneamente, mas Kian sentiu uma dor aguda na cabeça, como se algo estivesse invadindo sua mente. Ele caiu de joelhos, segurando a urna com força, enquanto imagens e vozes inundavam seus pensamentos.

— Você é o herdeiro... O escolhido... Mas também a ruína...

As palavras pareciam vir de todos os lados, como se mil vozes falassem ao mesmo tempo. Kian tentou resistir, mas era como se a própria urna estivesse se fundindo a ele, mostrando-lhe visões de tempos antigos, de guerras esquecidas e de um homem que parecia muito com ele, segurando um artefato semelhante.

— Quem é você? — murmurou, a voz quase inaudível.

Uma última imagem surgiu em sua mente: a figura encapuzada, agora sem máscara, olhando para ele com olhos que refletiam tristeza e determinação.

— Sou o que você se tornará, se não for cuidadoso.

Kian abriu os olhos e percebeu que estava deitado no chão da câmara, a urna ainda em suas mãos. A luz das runas havia desaparecido, e o silêncio era absoluto.

Ele se levantou lentamente, sentindo-se exausto, mas determinado.

— Não sei o que você quis dizer, mas eu vou descobrir — disse, olhando para a urna.

Com um último olhar para a câmara vazia, Kian guardou a urna em sua bolsa e começou a caminhar de volta pelo corredor. Ele sabia que o Fragmento da Voz era apenas o começo, e que as respostas que buscava estavam escondidas em outras tumbas, esperando para serem desenterradas.

Mas, no fundo, ele também sabia que, a cada artefato que tomava, algo dentro dele mudava. E ele não tinha certeza se isso era bom ou ruim.

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