Capítulo 5: Os Guardiões do Silêncio
A entrada da Tumba dos Quatro Ventos era colossal, cercada por colunas quebradas que pareciam vigiar o vale. Os ventos uivavam em tons diferentes conforme passavam pelas frestas, criando uma melodia assombrosa que arrepiava até os mais destemidos invasores. Kian parou diante da entrada, os olhos fixos no símbolo entalhado no arco de pedra. Uma serpente com quatro cabeças se entrelaçava ao redor de uma espada.
— O símbolo dos Guardiões do Silêncio — murmurou, sentindo um aperto no peito. Aquelas criaturas não eram lendas. Ele sabia disso. Tinha lido sobre elas nos textos antigos e ouvido as histórias de saqueadores que nunca retornaram.
Atrás dele, Lysbeth, sua aliada relutante, puxava uma flecha do aljava enquanto observava a paisagem. Ela parecia desconfiada, como sempre.
— Quanto tempo acha que temos antes que algo nos ataque? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Kian soltou uma risada curta e irônica.
— Se os Guardiões estiverem acordados, nenhum.
Lysbeth estreitou os olhos.
— Sabe, às vezes você poderia ser um pouco mais otimista.
— E às vezes você poderia não vir comigo — retrucou ele, caminhando em direção à entrada da tumba.
Ela não respondeu, apenas o seguiu em silêncio.
Ao cruzarem o arco, uma escuridão quase palpável os envolveu. Kian ergueu sua tocha, o brilho tremeluzente iluminando paredes cobertas de entalhes antigos. Cada símbolo parecia contar uma história de guerra e traição, de deuses caídos e heróis esquecidos.
— Por que essas tumbas sempre têm que ser tão malditamente sinistras? — Lysbeth murmurou, apertando mais forte o arco em suas mãos.
Kian parou, examinando um mosaico que mostrava um homem segurando um coração de luz, enquanto sombras serpenteavam ao redor dele.
— Porque foram feitas para serem evitadas — respondeu. — Mas não por nós.
Ele mal terminou a frase quando um som metálico ecoou pela tumba. Ambos se viraram rapidamente, armas em mãos, mas não havia nada além da escuridão e o eco de suas respirações.
— Não estamos sozinhos — sussurrou Lysbeth, dando um passo para trás.
Kian assentiu, apertando o punho de sua adaga.
— Nunca estamos.
Os passos dos dois ecoavam pelas passagens estreitas enquanto seguiam em direção ao coração da tumba. A cada curva, o frio parecia se intensificar, e as paredes ficavam mais vivas, como se as serpentes entalhadas estivessem se movendo.
Foi então que a primeira armadilha foi ativada.
Lysbeth mal teve tempo de puxar Kian para trás quando uma série de lâminas emergiu do chão, avançando como dentes famintos.
— Um agradecimento seria bom! — gritou ela, soltando-o logo em seguida.
— Obrigado, mas você estava me empurrando direto para outra armadilha — Kian apontou para o teto, onde estacas se preparavam para cair.
Lysbeth revirou os olhos.
— E você ainda acha que não precisa de mim.
Com cuidado redobrado, os dois continuaram. Quando finalmente alcançaram o salão central, ficaram sem fôlego.
A sala era vasta, iluminada por uma luz azulada que emanava de cristais nas paredes. No centro, sobre um pedestal de pedra, estava um artefato envolto em correntes douradas: um bracelete com runas brilhantes que pulsavam como um coração vivo.
— É isso — Kian sussurrou. — O Bracelete dos Ventos.
Antes que ele pudesse dar mais um passo, um rugido reverberou pela sala. Dos cantos escuros, formas começaram a emergir. As criaturas tinham corpos humanos, mas cabeças de serpentes, e suas mãos empunhavam lanças feitas de ossos.
— Guardiões — disse Lysbeth, recuando instintivamente.
Kian apertou a adaga, o coração batendo acelerado.
— Não podemos lutar contra todos. Precisamos de um plano.
— Você e seus planos... — Lysbeth murmurou. — Só espero que não nos mate dessa vez.
Kian sorriu.
— Confie em mim.
Os Guardiões avançaram. Rápidos, letais, e sem hesitação. Kian e Lysbeth se separaram, cada um tentando desviar dos ataques enquanto buscavam uma maneira de alcançar o bracelete.
— Distraia-os! — gritou Kian, correndo para o outro lado do salão.
Lysbeth bufou.
— Claro, por que não?
Ela disparou uma flecha que explodiu em luz, cegando temporariamente os Guardiões. Aproveitando a distração, Kian escalou um dos pilares e saltou em direção ao pedestal.
Quando seus dedos tocaram o bracelete, uma onda de energia o lançou para trás. Ele caiu no chão com força, o artefato ainda preso às correntes.
— Kian! — Lysbeth gritou, mas foi forçada a desviar quando uma lança passou raspando por ela.
Ele se levantou, atordoado, e percebeu que o bracelete agora pulsava mais forte, como se tivesse reconhecido sua presença.
— Só pode ser tocado por seu verdadeiro herdeiro... — ele murmurou, lembrando-se dos textos antigos.
Os Guardiões avançaram novamente, e Kian sabia que tinha pouco tempo. Ele precisava reivindicar o artefato, ou ambos seriam mortos ali.
Com um grito, ele ergueu as mãos e invocou o poder que sempre temeu usar. A sala ficou em silêncio por um momento, antes que uma névoa negra começasse a emergir de Kian, tomando forma ao seu redor.
As sombras criaram figuras humanoides — guerreiros mortos há séculos, agora sob o controle de Kian.
— Protejam-nos — ordenou ele, a voz ecoando com uma autoridade que ele mal reconheceu como sua.
Os guerreiros atacaram os Guardiões, iniciando uma batalha feroz. Lysbeth olhou para Kian com uma mistura de admiração e medo.
— Você podia ter feito isso antes!
Kian ignorou o comentário, concentrando-se no bracelete. Ele sabia que precisava se conectar a ele, mas como?
Fechando os olhos, ele se lembrou das palavras entalhadas nas tumbas anteriores: Somente aquele que domina o silêncio pode carregar os Ventos.
Ele respirou fundo, bloqueando os sons ao seu redor. Em sua mente, o silêncio se tornou absoluto, e ele sentiu algo dentro de si se alinhar com o artefato.
Quando abriu os olhos, o bracelete brilhou intensamente e as correntes que o seguravam se desfizeram.
— Consegui — ele murmurou, segurando o artefato em suas mãos.
Os Guardiões pararam de lutar, suas formas se desintegrando como areia ao vento. A sala ficou em silêncio mais uma vez.
Lysbeth se aproximou, ofegante.
— Você é maluco. Mas admito, foi impressionante.
Kian sorriu, ainda segurando o bracelete.
— Vamos sair daqui antes que algo pior apareça.
— Ótima ideia.
Enquanto eles se afastavam, nenhum dos dois percebeu os olhos brilhantes que os observavam das sombras. Algo mais profundo e mais perigoso havia sido despertado, e a jornada deles estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 23
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