Beatriz suspirou enquanto observava seu reflexo no vidro da porta, tocando de leve o machucado no rosto que a maquiagem não conseguia esconder completamente. Estava impecavelmente vestida, como de costume, em um conjunto que deixava claro seu estilo de patricinha acostumada aos luxos de Nova York. Descendo as escadas da casa grande, ela se surpreendeu ao ver que o ambiente estava quase vazio, exceto por Ieda, que recolhia os pratos do café da manhã.
— Bom dia, Ieda — cumprimentou Beatriz, esforçando-se para soar alegre.
Ieda levantou o rosto e abriu um sorriso ao ver Beatriz.
— Bom dia, dona Beatriz! Que bom ver a senhora bem de novo. Só estou terminando de recolher os pratos, mas o café ainda está servido, se quiser.
Beatriz balançou a cabeça e respondeu com um sorriso gentil.
— Não se preocupe, só vou comer uma salada de frutas e tomar um energético. Não estou com muita fome.
Ieda observou a jovem com admiração, reparando no conjunto elegante e perfeitamente ajustado.
— A senhora está tão linda! Sempre quis me vestir assim, mas, bem... sendo pobre, nunca pude — disse Ieda, com um toque de tristeza na voz.
Beatriz sentiu um raro momento de ternura. Colocou a mão no ombro de Ieda, com um olhar caloroso.
— Não se preocupe, Ieda. Vou separar algumas roupas para você. E, se quiser, posso até fazer uma maquiagem linda no seu rosto.
Os olhos de Ieda brilharam de empolgação.
— Meu Deus, isso seria um sonho, dona Beatriz! Obrigada, de verdade!
Beatriz sorriu, mas logo sua expressão ficou distante, pensando na égua Charmosa.
— Sabe, estou com tanta saudade da minha égua... — comentou, mais para si mesma, a voz carregada de nostalgia.
Ieda tentou consolá-la, com um tom animado.
— Não se preocupe, seu pai é poderoso. Ele pode lhe dar milhares de éguas, todas ainda mais bonitas.
Beatriz balançou a cabeça, com um sorriso triste.
— Mas nenhuma será como a Charmosa. — Seu olhar ficou perdido por um momento, lembrando da conexão especial que tinha com a égua.
Rodrigo conhecia cada centímetro daquela vasta fazenda. Montado em seu imponente cavalo Ouro, ele tocava o berrante com maestria, guiando o gado sob o céu azul e o calor vibrante do sol. Sentia o vento no rosto e o prazer de fazer o que mais amava: cuidar da terra.
No caminho de volta, ele decidiu passar por sua casa para descansar por alguns minutos. Porém, algo chamou sua atenção. Avistou, na propriedade do vizinho e colega de trabalho Bruno, uma égua com um detalhe rosa no pescoço. O coração de Rodrigo acelerou ao reconhecer a Charmosa, a égua desaparecida de Beatriz. Ela estava suja, com um olhar triste, como se também sentisse falta de sua verdadeira dona.
Sem pensar duas vezes, Rodrigo desceu de Ouro, pulou a cerca com agilidade e se aproximou de Bruno, que saía de casa naquele momento. Bruno ficou pálido ao ver o vaqueiro determinado em sua direção.
— Você roubou a égua da Beatriz! — Rodrigo rosnou, segurando Bruno pela camisa com força. Seu olhar era furioso, e sua força fazia o homem mirrado tremer.
— Não, Rodrigo, por favor! Não é nada disso que você está pensando! — Bruno implorou, apavorado. — Me solte, eu sou fraco demais pra brigar com você!
Rodrigo respirou fundo, mas não afrouxou a mão. Seu olhar exigia uma explicação.
— Fala logo! — ordenou.
Bruno engoliu em seco, o medo estampado no rosto.
— Foi a... foi a Anastasia! — confessou. — Ela mandou que eu me livrasse da égua, mas eu juro, não tive coragem de fazer isso. Só escondi ela aqui, mas, por favor, não conte nada pra ninguém. Se Miguel Romão descobrir, posso ser demitido!
Rodrigo rangeu os dentes, a raiva ainda fervendo. Ele soltou Bruno com um empurrão, mas suas palavras vieram firmes.
— Escuta aqui, Bruno. Anastasia não é dona de nada. A verdadeira dona é Beatriz, e quem manda nessa fazenda é o pai dela. Eu não vou contar nada agora, mas vou levar Charmosa de volta. A Beatriz está sofrendo por causa disso.
Bruno assentiu, nervoso, enquanto Rodrigo se aproximava de Charmosa, acariciando seu pescoço com carinho antes de levar a égua de volta para quem verdadeiramente a amava.
Beatriz maquiava Ieda, que estava ansiosa para ver o resultado. Quando Ieda foi olhar no espelho, Beatriz se aproximou da janela de seu quarto. De lá, avistou Rodrigo chegando, montado em seu cavalo e puxando a égua Charmosa. Seu rosto se iluminou de alegria, e ela saiu correndo do quarto, desceu as escadas rapidamente e correu lá fora, sorrindo.
– Charmosa! – Beatriz exclamou, abraçando a égua com força. – Senti tanta falta de você.
Ela então olhou para Rodrigo, ainda sorrindo.
– Foi você que a encontrou?
– Sim – confirmou Rodrigo, satisfeito em vê-la tão feliz. – Ela estava assustada pela mata.
Beatriz, sem conter a gratidão, o abraçou com carinho.
Rodrigo ficou contente em vê-la tão feliz, um sorriso suave se formando em seu rosto.
Ieda, que desceu para ver a cena, sentiu o peito apertar. Lágrimas escorreram ao ver Beatriz abraçada com Rodrigo, o homem por quem ela era secretamente apaixonada.
Ieda passava a mão no rosto e tirando a maquiagem junto com as lágrimas que ainda escorriam. O sentimento de frustração tomava conta dela enquanto ela tentava esconder a dor que sentia. Não suportava ver Rodrigo ao menos encostar em Beatriz que isso lhe destruía por dentro.
Beatriz, ainda sorrindo com a alegria de ter a égua de volta, olhou para Rodrigo.
– Você pode me ajudar a dar um banho em Charmosa? – perguntou ela, com um brilho nos olhos.
Rodrigo, sorrindo, respondeu: – Claro.
Beatriz então olhou para Ieda e disse: – Mas primeiro preciso terminar a maquiagem em você. Pode esperar um pouco?
Ieda assentiu sem dizer uma palavra e foi em direção ao seu quarto. Quando Beatriz entrou, encontrou Ieda de frente para o espelho, com o rosto borrado pelas lágrimas.
– O que aconteceu, Ieda? – perguntou Beatriz, preocupada.
Ieda olhou para ela com um olhar triste e respondeu: – Eu sempre serei feia.
Beatriz, surpresa, se aproximou dela e colocou a mão no ombro.
– Você não é feia, Ieda. Você é linda. Sua beleza é exótica – afirmou Beatriz com sinceridade.
Ieda, com os olhos baixos, balançou a cabeça, inconformada.
– Eu queria ser loira como você, com a pele mais clara. Eu queria ser diferente – disse ela, a tristeza evidente em sua voz.
Beatriz sorriu suavemente.
– Ieda, cada um tem sua forma de ser e sua beleza específica. Você é única, assim como eu sou – disse com gentileza.
Ieda se irritou, e as lágrimas começaram a cair novamente. Ela, sem dizer mais nada, saiu do quarto, chorando e deixando Beatriz com um sentimento de impotência. Mal sabendo ela que Ieda estava assim não por conta da maquiagem mas a inveja que a consumia.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Aurora Casado
Beatriz é muito inocente nem ver as cobras ao lado dela.
2024-11-13
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Claudia
Ieda não fique assim não , quando parar com tantas mentiras e falar a verdade vai ver tudo melhora e vai ver como é bonita🧿♾
2024-11-11
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