A grande casa da fazenda Romão era ainda mais imponente do que Beatriz se lembrava. As varandas largas, decoradas com plantas que desciam em cascatas de folhas verdes, eram iluminadas pelo sol da tarde, e o cheiro de comida caseira já invadia o ar. Beatriz se sentia ansiosa, mas a ansiedade rapidamente foi substituída por desconforto ao perceber o estado em que se encontrava: suja de lama, com o vestido rosa arruinado e os cabelos despenteados.
Rubens estacionou o carro em frente à casa, e Beatriz desceu, sentindo os olhos curiosos da família que a aguardava na varanda. Seu pai, Miguel Romão, estava com um sorriso aberto, as rugas ao redor dos olhos acentuadas pela alegria genuína de vê-la. Ao lado dele, sua esposa, Catarina, uma mulher elegante com um jeito artificial de se portar, escondeu a surpresa atrás de um gesto dramático. E ali, de braços cruzados e com um olhar claramente malicioso, estava Anastasia.
Assim que Anastasia viu Beatriz sair do carro, ela levou uma mão à boca, tentando conter o riso, mas falhando miseravelmente. Seus olhos castanhos brilhavam com diversão enquanto observava a cena.
— O que aconteceu, querida? — Catarina perguntou, fingindo preocupação, embora o brilho em seus olhos denunciasse outra coisa. — Você está toda suja de lama!
Beatriz respirou fundo, tentando manter a compostura, mesmo que o desconforto fosse evidente. Seus sapatos encharcados faziam barulho a cada passo que dava na direção da família.
— Acabei caindo na lama — respondeu, sem entrar em detalhes, lançando um olhar breve para Anastasia, que ainda se esforçava para conter o riso.
Miguel deu um passo à frente, abrindo os braços para a filha.
— Seja bem-vinda, minha menina! — disse ele, a voz calorosa. — Estou tão feliz por você estar aqui. Suba e tome um banho, seu quarto está exatamente como você deixou quando criança. Depois, temos um almoço maravilhoso esperando por você.
Apesar do desconforto, Beatriz não pôde evitar um sorriso sem jeito. A felicidade no rosto do pai era verdadeira, e isso acalmava um pouco sua frustração. Mas, ao se virar para subir, encontrou os olhos de Anastasia, que fez uma expressão exagerada de nojo e disse, com um tom sarcástico:
— Seja bem-vinda, irmãzinha. Espero que aproveite a lama tanto quanto a fazenda.
Beatriz sentiu um misto de raiva e cansaço, mas decidiu não responder. Apenas virou-se e subiu as escadas em direção ao seu antigo quarto, desejando que aquela recepção fosse menos complicada. A cada passo, ela se perguntava como seriam as semanas que viriam e se aquele lugar, cheio de memórias e conflitos, a ajudaria a entender quem ela realmente era.
Beatriz empurrou a porta do quarto com um misto de ansiedade e curiosidade. O ambiente parecia congelado no tempo, exatamente como ela havia deixado quando tinha dez anos. Os móveis brancos, a colcha florida na cama, os pôsteres de animais que ela adorava e as bonecas cuidadosamente dispostas em uma prateleira alta. Uma onda de nostalgia a atingiu, e ela sentiu os olhos marejarem. Respirou fundo, tentando segurar as lágrimas enquanto as lembranças de sua infância a envolviam.
Depois de um banho quente, que a fez se sentir renovada, ouviu uma batida suave na porta. Beatriz enrolou-se em um roupão e abriu, deparando-se com uma jovem de expressão tímida. A garota segurava algumas toalhas limpas, os olhos baixos, mas com um sorriso educado.
— Olá, senhorita Beatriz — cumprimentou a empregada, com a voz suave. — Aqui estão algumas toalhas limpas.
Beatriz sorriu, embora uma leve confusão passasse por seu rosto.
— Obrigada. Eu… não lembro de você — confessou, tentando parecer simpática.
A jovem abaixou a cabeça, o rosto corando um pouco.
— Sou Ieda, filha de Zuleide, a antiga empregada da sua família. Talvez se lembre dela.
Beatriz se lembrou imediatamente. Zuleide era uma figura materna e carinhosa que sempre cuidava dela quando era pequena, e a menção da mulher trouxe um calor familiar ao coração de Beatriz.
— Claro, lembro de Zuleide! — disse Beatriz, sorrindo. — Ela era maravilhosa. Que bom ter você aqui, Ieda.
Ieda apenas assentiu, agradecida, e com um jeito tímido e discreto saiu do quarto, deixando Beatriz sozinha mais uma vez.
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Pouco depois, Beatriz desceu para o almoço. A mesa estava decorada com comidas típicas da região: carne de sol, farofa, feijão tropeiro, salada fresca, e um aroma delicioso enchia o ambiente. Miguel, o pai de Beatriz, estava radiante. Ele se sentou ao lado da filha e, enquanto conversavam, ele não escondia o quanto estava feliz, alisando a mão dela com carinho.
Esse gesto de afeto não passou despercebido por Catarina, que lançou um olhar gelado em direção ao marido. Anastasia, por sua vez, cruzou os braços, os olhos faiscando de irritação enquanto observava a cena.
— Então, Beatriz… — Anastasia começou, com um sorriso cheio de veneno. — Será que com esse seu jeito de patricinha vai se acostumar com a vida no campo? Aposto que deve ter medo até de um cavalo!
Beatriz, sentindo o tom provocativo e o desafio na fala de Anastasia, ergueu o queixo. Seus olhos brilharam com determinação, e um sorriso confiante apareceu em seus lábios.
— É verdade, eu sou linda e vaidosa — respondeu, com um tom de voz firme. — Mas isso nunca me impediu de fazer tudo o que quero. E, quanto a cavalos, estou mais preparada do que você imagina.
Anastasia soltou uma risada alta, como se achasse graça na resposta. Catarina, percebendo que a situação poderia sair do controle, interveio.
— Anastasia, querida, já chega — disse, lançando um olhar repreensivo para a filha. — Vamos almoçar em paz, por favor.
Durante o almoço, Beatriz se inclinou para mais perto do pai, os olhos brilhando de entusiasmo.
— Pai, amanhã cedo já quero cavalgar e conhecer o campo de novo — anunciou, sem esconder a animação.
Miguel abriu um sorriso ainda maior, feliz por ver o interesse da filha pela fazenda.
— Que ótimo, minha filha! — respondeu, radiante. — Vou pedir a Rodrigo, meu melhor vaqueiro, para ajudar você na montaria. Ele conhece cada canto dessa terra e vai ser uma ótima companhia.
Enquanto isso, Ieda, que passava discretamente por perto, escutava a conversa e franziu a testa. Algo na menção de Rodrigo e Beatriz juntos a fez sentir um certo desconforto. Sem perder tempo, foi direto para o curral, onde Rodrigo estava ocupado dando banho em um dos cavalos, os músculos de seus braços se destacando sob a camisa úmida de água.
Ieda se aproximou, os olhos estreitados e a voz carregada de veneno.
— Ei, Rodrigo — chamou, cruzando os braços. — Fiquei sabendo que amanhã cedo você vai ter a honra de ajudar a senhorita Beatriz na montaria.
Rodrigo ergueu o rosto, os olhos sérios, mas sem qualquer preocupação aparente.
— E daí? — respondeu, enquanto continuava a esfregar o cavalo com calma. — Não vejo problema nisso.
Ieda soltou um riso sarcástico, balançando a cabeça.
— Ah, você não entende? — provocou. — Ela é uma patricinha metida, cheia de si. Vai querer humilhar você só porque acha que tem tudo. Gente como ela não respeita trabalhadores.
Rodrigo parou por um instante, observando Ieda com seu olhar penetrante. Sua expressão continuava impassível, mas havia uma faísca de irritação em seus olhos.
— Se ela tentar alguma coisa, não me importo de pedir demissão — disse, com um tom firme e direto. — Não estou pronto para ser humilhado por ninguém, ainda mais aqui, onde todos sabem do meu valor.
Ieda tentou esconder a satisfação, mas a verdade era que adorava ver Rodrigo tão irredutível. Ela balançou a cabeça, dando de ombros.
— Bom, não diga que eu não avisei.
Rodrigo voltou sua atenção para o cavalo, terminando de enxugar o animal. Ele sabia que o dia seguinte seria um teste, não apenas para a paciência dele, mas também para a garota da cidade que estava prestes a conhecer a vida real no campo. Se Beatriz queria cavalgar, teria que se adaptar, e ele estaria lá para garantir que ela não causasse problemas — ou, pelo menos, tentaria.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Claudia
Hoooo 🐍🐍🐍🐍🐍🐍 tem que destinar o seu veneno ♾🧿
2024-11-10
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