6 Capítulo - BORBOLETAS EM CHAMAS

Beatriz desceu as escadas animada, com um sorriso no rosto, e foi direto para a mesa do café da manhã, onde deu um beijo carinhoso em seu pai.

– Bom dia, papai! – disse empolgada, sentando-se à mesa.

Miguel, com um olhar atento e afetuoso, perguntou:

– Está gostando da fazenda, filha?

Beatriz sorriu de volta, empolgada com a experiência:

– Está sendo maravilhoso, pai! Adoro o ambiente aqui, é tudo tão diferente da cidade. Estou me sentindo em casa.

Anastasia e Catarina, que observavam a cena, trocaram um olhar de fúria. Elas não gostavam nem um pouco de ver Beatriz se adaptando tão bem à fazenda.

Miguel, com interesse, perguntou:

– E você pretende montar a cavalo novamente hoje, Beatriz?

Beatriz, com um sorriso travesso, se levantou e virou-se para ele, exibindo seu look para o pai. Ela parecia ainda mais animada para aproveitar o dia.

– O que acha, pai? Claro que estou pronta para montar na Charmosa! – disse, com os olhos brilhando.

Anastasia, não podendo perder a oportunidade de lançar uma provocação, soltou, com um tom sarcástico:

– Aqui não é só diversão, Beatriz. A fazenda exige trabalho também. Tem muitas responsabilidades para alguém da sua idade.

Miguel, sem perder a calma, respondeu com firmeza:

– Beatriz está aqui de férias, Anastasia. Ela não tem obrigação de trabalhar para manter a fazenda.

Anastasia ficou visivelmente irritada, e se levantou abruptamente da mesa. Miguel, percebendo a tensão, olhou para Catarina, que estava ao seu lado.

– O que aconteceu com a Anastasia? Por que ela está assim? – ele perguntou, preocupado.

Catarina, tentando disfarçar a situação, explicou com uma voz suave:

– Ela está apenas com ciúmes, Miguel. Você tem sido muito atencioso com a Beatriz, e isso a está incomodando.

Miguel, irritado com a atitude de Anastasia, respondeu com firmeza:

– Eu tenho muito carinho pela Anastasia, mas Beatriz é minha filha biológica, e ela está aqui para aproveitar a fazenda e a sua estadia.

Beatriz, sentindo a tensão no ar, decidiu se retirar da mesa. Ela se levantou e foi em direção ao seu quarto, mas, ao passar pelo corredor, foi parada por Anastasia, que agarrou seu braço com força.

– Você não vai ficar muito tempo aqui, Beatriz – Anastasia disse com um tom ameaçador, o ódio visível em seus olhos.

Beatriz, sem demonstrar fraqueza, olhou Anastasia diretamente nos olhos e respondeu com firmeza:

– Por que você acha que não vou ficar? Esta fazenda é de direito do meu pai, Miguel. E ele me ama. Não importa o que você faça, Anastasia, eu sou a filha dele, e aqui é o meu lugar.

Anastasia, com raiva, cuspiu as palavras:

– Você não pertence a este lugar, Beatriz. Vou fazer de tudo para você ir embora.

Beatriz, sentindo sua paciência se esgotar, respondeu, mais uma vez sem hesitar:

– Não adianta tentar me afastar, Anastasia. Eu sei como lidar com pessoas como você. Vou ficar aqui pelo tempo que eu quiser, e você não vai impedir.

Com essas palavras, Beatriz puxou seu braço de volta e, com a cabeça erguida, desceu para o andar inferior. Ela estava cheia de raiva e frustração, mas também sabia que não seria fácil para Anastasia ou Catarina a afastarem da fazenda. Ela era filha legítima de Miguel, e nada poderia mudar isso.

Beatriz chegou ao estábulo e, ao ver Rodrigo, cumprimentou-o com um sorriso tímido.

– Bom dia, Rodrigo! – disse ela, tentando disfarçar sua tristeza.

Rodrigo, atento à expressão dela, perguntou logo:

– Está triste, patroa?

Beatriz assentiu com a cabeça, suspirando.

– Sim, estou… Acho que a minha presença tem incomodado muito a Anastasia. Não sei o que ela tem contra mim, mas me sinto mal por isso. – ela falou, visivelmente abatida.

Rodrigo não hesitou em responder, com um tom calmo, como se estivesse acostumado a lidar com esse tipo de situação na fazenda.

– Ela é muito autoritária, Beatriz. Se acha a dona da fazenda. Quem não a bajula, ela maltrata. Eu não sou de bajular ninguém, por isso, às vezes, ela não gosta de mim também. – ele disse, sem rodeios.

Beatriz ficou pensativa por um momento, tentando entender o que se passava na cabeça de Anastasia. Rodrigo, percebendo que ela ainda estava pensativa, continuou:

– Fica tranquila, patroa. Aproveite suas férias, curta a fazenda. Não se deixe abalar por isso. Você está aqui para descansar, e é isso que importa. – ele disse, com um sorriso amigável.

Beatriz agradeceu com um sorriso mais suave, ainda sentindo-se um pouco desconfortável, mas tentava afastar os pensamentos negativos. Ela então notou o que Rodrigo estava segurando em uma das mãos.

– O que é isso? – ela perguntou curiosa, apontando para o objeto.

– Ah, isso é um berrante. – respondeu Rodrigo, sem dar muita importância. – Eu uso ele para chamar o gado, dar sinal de alerta para o pessoal da fazenda.

Beatriz ficou fascinada.

– Eu queria tanto saber tocar um berrante! – ela exclamou, com um brilho nos olhos.

Rodrigo riu e, com um sorriso travesso, estendeu o berrante para ela.

– Se quiser aprender, eu te ensino. Vamos lá, mas não garanto que vai sair uma música bonita! – ele disse com bom humor.

Beatriz pegou o berrante e tentou imitar os movimentos dele, fazendo um som desajeitado. Ambos riram com a tentativa dela, e Beatriz, embora não tenha conseguido fazer um som perfeito, se divertiu.

– Vai ter que praticar um pouco mais! – Rodrigo brincou, rindo.

Depois de se divertir com o berrante, Rodrigo, com um olhar de cumplicidade, a convidou:

– Que tal dar uma volta de cavalo? Eu vou no Ouro e você na Charmosa. Podemos dar uma volta pela fazenda.

Beatriz sorriu, sentindo um entusiasmo crescer dentro de si.

– Eu adoraria! Vamos, sim! – disse ela, animada, e já esquecendo por um momento a tensão com Anastasia.

Rodrigo acenou com a cabeça e foi até o estábulo preparar os cavalos. Beatriz observou-o com um sorriso de empolgação, contente por finalmente poder aproveitar o dia e a companhia de Rodrigo, sentindo-se mais leve e ansiosa pela volta que fariam.

Rodrigo, com seu jeito simples e tranquilo, continuava a ensinar Beatriz enquanto ela se sentia cada vez mais à vontade no campo. A cada passo, ele a guiava por diferentes partes da fazenda, falando sobre o que era cultivado, como os animais eram cuidados e os desafios diários do trabalho rural. Ela, mesmo sendo uma patricinha que amava a vida urbana, começou a se encantar com a vida simples e genuína que Rodrigo mostrava.

– Quando te vi, pensei que era só mais uma patricinha chata, cheia de frescura – Rodrigo comentou com um sorriso maroto.

Beatriz riu, se divertindo com a sinceridade dele.

– Eu sou uma patricinha fresca, sim – ela admitiu, sem a menor vergonha –, mas também gosto da vida na fazenda. Tem algo de especial aqui. Acho que você tem razão, a vida aqui é mais real, mais verdadeira.

Rodrigo não respondeu imediatamente. Ele olhou para ela com uma expressão de surpresa, mas logo deu de ombros e desviou o olhar. Beatriz, percebendo que ele parecia ser uma pessoa mais reservada e misteriosa, continuou.

– Você é muito misterioso, Rodrigo – ela comentou, com um toque de curiosidade, tentando entender mais sobre ele.

No entanto, ao ouvir isso, Rodrigo logo desviou o olhar, mudando o assunto de forma rápida e visivelmente desconfortável.

– Vamos indo, patroa. Já está quase na hora de voltar – ele disse, evitando falar mais sobre si.

Beatriz o observou, achando graça no jeito como ele tentou mudar de assunto, mas não insistiu. Eles continuaram o caminho em silêncio, e ao entardecer, chegaram ao local onde os cavalos estavam.

Rodrigo ajudou Beatriz a descer do cavalo, mas ela, ainda um pouco desajeitada, acabou se desequilibrando. Antes que ela caísse, Rodrigo a segurou, com a mão firme, estabilizando-a. Seus corpos estavam muito próximos, e algo no ar parecia mudar de repente.

Beatriz, sentindo a proximidade de Rodrigo, olhou para ele e viu o olhar dele fixo em seus lábios. Por um momento, o tempo parecia ter parado. Com um impulso repentino, ele tocou suavemente seu rosto, puxando-a para mais perto, e sem palavras, beijou-a intensamente. O beijo foi como um fogo que se acendeu dentro de Beatriz, fazendo seu coração acelerar, sua mente se encher de emoções avassaladoras e um calor que tomou seu corpo, como se borboletas em chamas estivessem dançando dentro dela.

Mas, de repente, Rodrigo parou, puxando-se afastando de Beatriz, com os olhos cheios de conflito. Ele se afastou rapidamente, com um tom de culpa, e disse com a voz rouca:

– Eu… não posso fazer isso. – Ele virou-se rapidamente, saindo apressado.

Beatriz ficou ali, parada, o coração ainda disparado, sem entender muito bem o que havia acontecido. O beijo fora tão intenso, mas a reação de Rodrigo a deixava confusa e perdida em seus próprios sentimentos. Ela ficou ali, no silêncio do entardecer, tentando processar tudo o que acabara de acontecer.

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