A chuva parecia se intensificar a cada instante, e o vento rugia lá fora, sacudindo as janelas da pequena casa de Rodrigo. Beatriz estava deitada na cama estreita, tentando se acomodar entre os panos simples que a cobriam. Flip, o fiel cachorro de Rodrigo, se aproximou com o rabo balançando de alegria, e ela sorriu, estendendo a mão para acariciar o animal.
– Obrigada por ter me encontrado, Flip – disse Beatriz com um sorriso suave, olhando para o cachorro que parecia querer protegê-la a todo custo.
Rodrigo observou a cena e sorriu também, sentindo-se aliviado por ela estar melhor. Beatriz se cobriu até o pescoço, tentando se aquecer, mas seus olhos não puderam deixar de seguir Rodrigo enquanto ele tirava a camisa, exibindo o torso musculoso e bronzeado. Ele parecia indiferente ao frio que fazia e ao vento que uivava do lado de fora.
– Está frio e chovendo – Beatriz protestou, tentando disfarçar o rubor que subia por seu rosto. – Por que você está sem camisa?
Rodrigo deu um sorriso travesso, batendo no próprio braço e fazendo seus músculos saltarem de forma exagerada.
– Tenho certeza de que você gosta de ver meus músculos – disse, piscando para ela.
Beatriz tentou não rir, mas seus lábios se curvaram em um sorriso involuntário. Ela cruzou os braços, fingindo estar irritada, mas por dentro seu coração batia mais forte. A presença de Rodrigo, tão próxima e calorosa, mexia com ela de um jeito que não queria admitir.
Rodrigo se deitou ao lado dela, a cama apertada obrigando os dois a ficarem bem próximos. Beatriz fingiu não gostar da situação, mas a verdade é que sentia um misto de excitação e nervosismo. Estar ao lado do homem por quem sentia uma atração tão intensa era ao mesmo tempo desconfortável e maravilhoso.
Ela tentou quebrar o silêncio que se instalara entre eles, falando sem parar:
– Não sei se vou conseguir dormir. Estou acostumada com a minha cama de plumas, bem macia, e com meu tapador de olhos e minha música relaxante. Sabe, aquela que toca sons da natureza...
Rodrigo a interrompeu, sem conseguir esconder o riso.
– Fica calada e tenta dormir, Beatriz – disse ele, de maneira firme mas divertida. – Amanhã vai ser um grande dia. Devem estar todos loucos te procurando.
Beatriz parou de falar, a realidade de suas palavras caindo sobre ela. Seus pais e amigos deviam estar em pânico com seu desaparecimento. A preocupação a atingiu como um soco, e ela começou a olhar ao redor, procurando seu celular.
– Preciso encontrar meu celular – disse, inquieta. – Onde ele está?
Rodrigo balançou a cabeça, compreensivo mas sem poder ajudar.
– Não adianta agora. Só podemos esperar o dia amanhecer – respondeu, a voz calma e tranquilizadora.
Beatriz suspirou, resignada. O medo e a incerteza ainda estavam presentes, mas a presença de Rodrigo a ajudava a se sentir protegida. Mesmo que a cama não fosse a de plumas de Nova York e o ambiente fosse simples, ali, com ele ao seu lado, ela se sentia estranhamente segura.
O barulho estrondoso de um trovão ecoou pela pequena casa, fazendo Beatriz se assustar e dar um pulo. Sem pensar, ela se virou e se encolheu no peito de Rodrigo, envolvendo seus braços ao redor dele como um gesto instintivo de proteção. Seu coração disparado aos poucos começou a se acalmar ao sentir o calor e a firmeza do corpo de Rodrigo.
Rodrigo, que estava quase adormecendo, percebeu o abraço inesperado. Seus olhos, ainda pesados de sono, se abriram por um momento, mas ele logo sorriu com ternura ao perceber que Beatriz se aconchegara nele por causa do susto. Sem hesitar, envolveu seus braços ao redor dela, segurando-a com delicadeza. Havia algo genuíno naquele momento, algo que os conectava sem necessidade de palavras.
A chuva lá fora continuava a cair, criando uma melodia rítmica e tranquilizadora que preenchia o ambiente. A sensação de segurança que Beatriz sentia nos braços de Rodrigo era nova e inesperada, mas ao mesmo tempo, inegavelmente confortável. O medo trazido pelos trovões desapareceu, substituído por uma calma que ela não sentia havia muito tempo.
Rodrigo sentiu o peso da cabeça de Beatriz em seu peito, o que o fez relaxar ainda mais. Sem trocar mais uma palavra, ambos se deixaram levar pelo cansaço, e o fundo sonoro da chuva caindo se tornou um embalo que os conduziu a um sono profundo e reparador. Ali, juntos, no meio de um cenário simples e longe do luxo de Nova York, eles encontraram um tipo inesperado de conforto um no outro.
O quarto se encheu de uma paz delicada, e por uma noite, o mundo lá fora e todos os problemas pareciam muito distantes.
Sob a forte chuva, Senhor Miguel permanecia com o guarda-chuva aberto, mas sua preocupação com a filha era mais intensa do que o temporal. Seus olhos vasculhavam o horizonte em busca de qualquer sinal de Beatriz. Quando um dos empregados chegou de cavalo e informou que não havia sinal dela em parte alguma da fazenda, Miguel sentiu o desespero tomar conta. Seu coração acelerado o fez pensar no pior, e ele gritou, quase em pânico:
— Minha filha foi raptada! — A angústia em sua voz era evidente, ecoando pelo ambiente úmido e sombrio.
Enquanto isso, dentro da casa grande, Catarina observava Miguel pela janela, sem se abalar pela situação. Ela deu um sorriso discreto de desprezo e comentou com uma das empregadas que passava:
— Beatriz só veio para causar problemas. Mal chegou, e já estamos enfrentando essa bagunça.
No canto da cozinha, uma conversa tensa se desenrolava. Ieda estava conversando com Anastasia, e o ambiente estava carregado. A expressão de Anastasia era impassível, mas seus olhos analisavam Ieda, tentando captar qualquer mentira ou deslize.
— Você sabe de alguma coisa, Anastasia? — perguntou Ieda, com a voz hesitante.
Anastasia ergueu uma sobrancelha, sem disfarçar seu desprezo.
— Eu não sei de nada. E mesmo que soubesse, não seria da sua conta. — Seus lábios se curvaram em um sorriso cínico, mas ao ouvir o próximo comentário de Ieda, sua expressão endureceu.
Ieda, mesmo nervosa, continuava a bajular Anastasia, tentando se redimir pela bobagem que havia feito.
— Bem... pelo menos Beatriz não vai querer mais olhar na cara do Rodrigo depois do que eu fiz. — Ieda tentou parecer útil, mas ao perceber o súbito interesse de Anastasia, se encolheu.
Anastasia se virou para ela com os olhos faiscando.
— Como assim? O que você fez? — A voz dela era fria, mas carregada de fúria. Quando Ieda explicou que inventou uma fofoca sobre ela e Rodrigo, a reação foi imediata. Anastasia, enfurecida, segurou os braços de Ieda com força.
— Você tem noção do que fez, sua imbecil? — sibilou Anastasia, apertando mais forte, deixando marcas vermelhas na pele de Ieda. — Se essa mentira chegar aos ouvidos de Senhor Miguel, ele vai acreditar, e minha reputação estará arruinada! Você quer que ele pense que eu gosto de vaqueiros?
Ieda começou a tremer, os olhos arregalados de medo, e implorou por perdão.
— Foi a única coisa que eu pensei para afastá-la de Rodrigo... Ela ficou triste, eu juro! Por isso saiu correndo e sumiu!
Anastasia soltou os braços de Ieda, respirando fundo para se acalmar. Seus olhos ainda brilhavam de raiva, mas ela se forçou a pensar rapidamente.
— Agora teremos que resolver isso de uma forma que nem Miguel nem Beatriz descubram a verdade. — Anastasia cruzou os braços, já formulando um plano. — E farei questão de que Beatriz acredite que realmente estou envolvida com Rodrigo. Você arrumou essa confusão, Ieda, agora eu vou ter que manipulá-la ainda mais para que caia na nossa teia.
A chuva continuava a cair, mas a tensão dentro da casa era tão forte quanto a tempestade lá fora.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Djanira Ribeiro
Parei é só maldades, armações e só no final depois de muito sofrimento a verdade vem a tona.
2024-11-11
2
Katia Cristina Santos Costa
q cobras em autora aff
2024-12-07
0
Juliana Narcizo
Estou preocupada com a charmosa 😢
2024-11-18
0