Beatriz Romão olhava para o espelho enquanto ajustava o vestido rosa em seu corpo esguio. O tecido delicado caía perfeitamente, realçando sua pele clara e os olhos que herdara do pai: um tom verde intenso que parecia carregar segredos das terras que a aguardavam. Sua mãe, Ana, a observava com o olhar de quem jamais esqueceria as mágoas do passado, mesmo enquanto segurava uma taça de champanhe em uma das lojas mais sofisticadas do shopping de Nova York.
— Está lindo, filha — Ana comentou, sem esconder a impaciência. — Mas você já experimentou uns dez vestidos hoje. Não acha que é suficiente?
Beatriz deu um meio sorriso, girando de leve para conferir o caimento do vestido nos mínimos detalhes. A compra nunca era apenas sobre a roupa; era sobre um estilo de vida que fora construído com luxo e mimos, desde que sua mãe se casara com Richard, o milionário americano que a acolhera como se fosse sua própria filha. Mas, naquele momento, a mente de Beatriz estava longe, entre as colinas verdes e o cheiro de terra molhada da fazenda onde vivera boa parte da infância. As lembranças daquele lugar a abraçavam de uma forma que nem as melhores lojas de Manhattan conseguiam superar.
— Mãe, já avisei ao papai que vou passar as férias na fazenda — disse Beatriz, olhando para Ana pelo reflexo. — Ele ficou tão feliz quando contei. Acho que nunca o vi tão animado.
Ana suspirou profundamente, o som se perdendo em meio ao ambiente luxuoso e climatizado da loja. Seus olhos, embora sempre carregassem uma expressão altiva, pareceram por um breve instante revelar a jovem que um dia fora, casada aos quinze anos, apaixonada e cheia de sonhos que terminaram em traição.
— Eu ainda acho que você não deveria ir, Beatriz. — A voz de Ana era firme, mas carregava uma dor latente. — Não quero que você se envolva demais com aquele lugar. É uma fazenda no meio do nada, sem nada para te oferecer.
Beatriz virou-se, os olhos verdes cintilando com uma mistura de determinação e carinho.
— Eu entendo, mãe. Eu sei que você passou por coisas difíceis com o papai, mas ele sempre foi um bom pai para mim. Eu sinto falta dele... sinto falta da fazenda. Preciso estar lá, ver de perto como tudo mudou. Não posso passar a vida inteira fugindo das minhas origens.
Ana pressionou os lábios, uma linha fina de preocupação surgindo entre as sobrancelhas. Beatriz sabia que sua mãe tinha razões para querer mantê-la longe daquele lugar, mas também sabia que não podia ignorar sua própria história. Havia um pedaço dela que só se completava com o cheiro do campo, com as lembranças do pai cuidando do gado e do entardecer dourado que só a fazenda Romão poderia oferecer.
— Ele me fez sofrer, Beatriz — Ana murmurou, a voz mais baixa, quase um sussurro. — Não quero que você passe por isso.
Beatriz aproximou-se da mãe, segurando suas mãos com carinho. Sentia-se dividida entre os dois mundos que a moldaram: o glamour de Nova York e a simplicidade da fazenda no Brasil. Mas, naquele momento, ela sabia que sua escolha não era apenas uma fuga ou um capricho. Era sobre se reconectar com a pessoa que ainda era parte dela, mesmo que escondida debaixo das camadas de vestidos caros e joias cintilantes.
— Sei que ele a magoou, mãe. Mas ele é meu pai, e eu preciso fazer isso. Eu prometo que vou ficar bem.
Ana apenas assentiu, embora o brilho em seus olhos denunciasse o medo de que, ao voltar para a fazenda, Beatriz também pudesse reencontrar fantasmas que ela própria nunca superara.
Beatriz segurava firme o cinto de segurança, tentando se equilibrar a cada solavanco que o carro dava na estrada de barro. A poeira subia em pequenas nuvens, e o caminho irregular fazia o veículo chacoalhar de um lado para o outro, arrancando-lhe pequenos sustos. Ela olhou pela janela, e apesar do desconforto, não pôde deixar de se encantar com a paisagem que se desenrolava ao seu redor. Os campos verdes e as colinas que se estendiam até o horizonte tinham uma beleza rústica que contrastava com o mundo glamoroso em que crescera.
— Está tudo bem, senhorita Beatriz? — perguntou Rubens, o motorista de seu pai, olhando pelo retrovisor com um sorriso cordial.
— Sim, está tudo bem — ela respondeu, tentando esconder o nervosismo. — Só faz tanto tempo que não venho aqui… quase não me lembrava como é essa estrada.
Rubens deu uma risadinha, um som baixo e simpático, antes de fazer mais uma curva que sacudiu o carro com força. Mas, pouco depois, o veículo deu um tranco inesperado, e o motor começou a fazer um barulho estranho antes de parar completamente. Rubens franziu o cenho e saiu do carro, dando a volta para conferir o que havia acontecido. Beatriz observou pela janela, agora mais apreensiva.
— O que aconteceu? — perguntou, ao vê-lo se abaixar perto das rodas atoladas na lama.
— Parece que o carro atolou, senhorita — ele respondeu, a expressão preocupada. — Vou tentar buscar ajuda, mas pode levar um tempo.
Beatriz assentiu, sentindo o coração acelerar. Ficou sozinha dentro do carro, o silêncio da estrada sendo quebrado apenas pelo som dos pássaros e pelo farfalhar das folhas ao vento. Ela saiu do veículo, os pés afundando levemente na lama enquanto se esforçava para manter o equilíbrio. Olhou ao redor, sentindo o ar fresco e puro da fazenda, mas também a sensação de estar no meio do nada.
E então, de repente, o som de cascos se aproximando chamou sua atenção. Beatriz se virou e viu um homem em cima de um cavalo marrom, surgindo com elegância entre as árvores. Ele era alto, com músculos visíveis sob a camisa branca suada e cabelos escuros que se mexiam levemente com a brisa. Seus olhos castanhos, intensos e profundos, encontraram os de Beatriz por um breve momento que pareceu uma eternidade.
Rodrigo. O vaqueiro da fazenda, de quem Beatriz ouvira falar quando criança, mas que agora se apresentava diante dela como um homem adulto e impressionante. Havia algo na maneira como ele a olhava, com curiosidade e um toque de diversão, que a deixou sem palavras. O coração dela bateu mais rápido, e ela sentiu um rubor subir por suas bochechas.
Rodrigo desceu do cavalo com agilidade, segurando as rédeas e se aproximando com um sorriso discreto.
— Parece que você precisa de ajuda — ele disse, a voz grave e carregada de um sotaque que a fez se perder por um instante.
Beatriz piscou, sem conseguir disfarçar o fascínio que sentiu ao vê-lo de tão perto. Ele parecia parte daquele cenário, como se o campo o tivesse moldado. E, naquele momento, com o sol iluminando seus cabelos e o jeito destemido, ela soube que aquele reencontro não era nada do que esperava.
—O carro atolou mas o motorista do meu pai foi buscar ajuda. —Disse Beatriz um pouco intrigada mas encarada com a beleza de Rodrigo.
—Eu posso tentar ajudar colocando uns galhos em volta. —Disse Rodrigo.
Rubens voltou apressado, segurando uma corda robusta que balançava em suas mãos. O suor escorria por sua testa, enquanto ele se aproximava de Rodrigo, que ainda segurava o cavalo com uma expressão descontraída.
— Rodrigo, preciso da sua ajuda — Rubens disse com urgência. — O carro atolou na lama, e só você pode puxá-lo com o cavalo. Por favor, vamos dar um jeito nisso.
Rodrigo arqueou uma sobrancelha, os olhos ainda brilhando com aquela mistura de diversão e curiosidade enquanto olhava de relance para Beatriz, que agora tentava não parecer incomodada, mesmo que claramente estivesse. Ele deu de ombros, sem se importar com o título da filha do fazendeiro ou com o jeito elegante dela.
— Claro, eu ajudo — respondeu, amarrando a corda com firmeza na sela do cavalo.
Beatriz, que até então permanecia em silêncio, soltou um suspiro impaciente. As botas de couro caras estavam sujas de lama, e o vestido sofisticado já tinha algumas manchas de barro. Tentando se mover com cuidado, ela deu um passo em falso e, antes que pudesse se segurar, caiu desajeitadamente na lama, o impacto espalhando sujeira pelo vestido rosa que havia escolhido com tanto cuidado.
— Ah, ótimo… — murmurou, olhando incrédula para a própria roupa.
Rodrigo soltou uma risada alta e genuína. Ele parecia não se conter, a expressão divertida se tornando ainda mais evidente enquanto a observava. Beatriz, surpresa e irritada, lançou-lhe um olhar furioso. Rubens, tentando manter a situação sob controle, encarou Rodrigo com severidade.
— Rodrigo, pare de rir! — Rubens advertiu. — Essa é a senhorita Beatriz, filha do seu chefe!
Rodrigo deu mais um passo para perto, com o sorriso ainda brincando nos lábios, mas a expressão tranquila. Ele olhou diretamente para Rubens, dando de ombros com a mesma despreocupação de antes.
— E daí? — retrucou, a voz firme e sem qualquer vestígio de medo ou submissão. — Não sou puxa-saco de ninguém, Rubens. Trabalho aqui como todo mundo.
Rubens bufou, claramente desconfortável com a situação, mas seguiu o plano. Rodrigo subiu de novo no cavalo, ajustando a corda para puxar o carro da lama. Beatriz, ainda sentada e completamente suja, se levantou com esforço, sentindo a lama fria contra a pele. Ela se afastou, cruzando os braços e tentando ignorar o olhar risonho de Rodrigo. O mau humor estampado em seu rosto deixava claro o quanto a situação a incomodava.
O cavalo de Rodrigo puxou o carro com força, e, após alguns minutos de trabalho conjunto, o veículo finalmente saiu do atoleiro. Beatriz observou tudo de longe, sem esconder o desagrado. Ela mal conseguia acreditar que seu primeiro dia de volta à fazenda estava sendo tão desastroso.
Rodrigo desmontou do cavalo, limpando as mãos na calça suja de poeira, e olhou para Beatriz mais uma vez. O brilho travesso em seus olhos ainda estava lá, como se se divertisse à custa dela.
— Acho que as férias vão ser bem interessantes, senhorita Beatriz — disse ele, provocando-a com um sorriso que fez seu sangue ferver ainda mais. Beatriz virou o rosto, tentando ignorar o rapaz, mas algo nela sabia que aquele encontro marcaria muito mais do que apenas um dia complicado na fazenda.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Diomara Dilh
mais não estava seco com redemoinho
2024-11-14
0
Claudia
Coitada da Beatriz 🤭🤭♾🧿
2024-11-09
1