Rodrigo empurrou a porta de sua casa com o ombro, carregando Beatriz nos braços com cuidado. O ambiente era simples, com poucos móveis, mas acolhedor, com o cheiro de madeira e ervas frescas no ar. Ele a deitou gentilmente em sua cama, um colchão rústico coberto com panos limpos, e começou a fazer compressas para aliviar os machucados em seu rosto e cabeça.
Beatriz abriu os olhos lentamente, como se despertasse de um sonho. Seus olhos verdes brilharam ao focar no rosto de Rodrigo, que a observava com preocupação e ternura.
– Você é de verdade? – ela perguntou, meio delirante, sua voz baixa e fraca.
Rodrigo não pôde evitar um pequeno riso, tentando aliviar a tensão.
– Sou, sim. Ainda bem que você está reagindo – respondeu, ajeitando os panos que a cobriam.
Beatriz piscou algumas vezes, como se tentasse entender onde estava. Ela olhou ao redor, confusa.
– Onde... onde estou? – murmurou.
– Na minha casa – explicou Rodrigo, mantendo o tom sereno. – Encontrei você caída na beira do rio. Parecia um anjo desamparado.
Beatriz tentou se levantar, mas uma dor aguda a fez gemer e levar a mão ao ferimento na cabeça. Rodrigo rapidamente a impediu, segurando-a pelos ombros.
– Não! – ele insistiu, com firmeza. – Você está muito machucada. Precisa descansar e se manter aquecida.
Beatriz olhou para ele, a expressão dela se misturando com medo e preocupação. Ela finalmente percebeu a situação em que estava.
– Minha égua... – ela murmurou, os olhos se enchendo de lágrimas. – Charmosa... Ela se assustou com um tiro. Saiu correndo, e eu... eu caí.
Rodrigo abaixou a cabeça, lembrando da égua que havia encontrado sozinha. Ele a olhou com compaixão.
– Quando te encontrei, ela não estava por perto. Deve ter corrido para algum lugar seguro. Você precisa pensar em se recuperar.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Beatriz, misturando-se com os arranhões e poeira. A égua era seu bem mais precioso, e o pensamento de perdê-la a devastava.
– E se... e se nunca mais aparecer? – ela choramingou.
Rodrigo se aproximou e, com um gesto suave, limpou as lágrimas de seu rosto.
– Não pense nisso agora – ele pediu, a voz calma. – Você precisa se acalmar. Sua saúde é mais importante.
Beatriz ficou em silêncio, os soluços diminuindo. Enquanto olhava para Rodrigo, lembranças das palavras de Ieda voltaram com força.
Rodrigo correu para fechar as janelas de sua casa, enquanto uma forte chuva começava a cair, o vento uivando e espalhando gotas de água para dentro. A casa parecia ainda mais rústica sob o som da tempestade, mas, de alguma forma, Beatriz se sentia segura ali, apesar de toda a simplicidade. Ela olhou ao redor, observando cada detalhe com um misto de curiosidade e aceitação, percebendo que, por mais estranho que fosse, aquela pequena casa trazia uma sensação de proteção.
– Preciso tomar um banho – ela disse, a voz trêmula, enquanto passava a mão pelos cabelos sujos de lama e folhas.– Nunca fiquei nesse estado em toda a minha vida. Completamente suja.
Rodrigo, ainda preocupado, olhou para ela com as sobrancelhas franzidas.
– Tem certeza de que consegue se levantar? Posso te ajudar.
– Não, obrigada – respondeu Beatriz, levantando-se devagar, mas com determinação. Ela não queria parecer frágil, mesmo que seu corpo ainda estivesse dolorido.
Rodrigo, sem insistir, mostrou o caminho até o pequeno banheiro, com uma porta de madeira que rangia ao abrir. Ele parou ali, encostado no batente, os braços cruzados, observando Beatriz.
– Vai mesmo ficar aí, me olhando? – ela perguntou, já sem paciência, encarando-o.
Rodrigo sorriu, um tanto sem jeito.
– Sim, preciso ter certeza de que você não vai cair.
Beatriz bufou e, sem pensar duas vezes, fechou a porta na cara dele. Rodrigo ficou do lado de fora, tentando segurar o riso. Ele se encostou na parede, o som da chuva forte preenchendo o silêncio, e chamou:
– Se precisar de ajuda, é só falar!
– Não vou precisar! – respondeu ela enquanto preparava o banho.
O banheiro era tão simples que Beatriz sentiu uma diferença gritante em relação ao luxo ao qual estava acostumada. Não havia espelhos elegantes ou torneiras douradas, mas apenas um chuveiro improvisado e paredes de madeira úmida. Ainda assim, o banho quente a confortou, e ela se viu apreciando a simplicidade do momento.
Ao sair, com os cabelos ainda molhados, Rodrigo a esperava com uma roupa limpa: uma camisa dele, grande demais para o corpo delicado de Beatriz, e um par de calças que ela teve que dobrar até os joelhos. Ela olhou para o espelho quebrado na parede e suspirou, enquanto Rodrigo se ocupava na pequena cozinha.
– Estou preparando uma sopa – disse ele, cortando legumes com habilidade. – Vai te ajudar a se recuperar mais rápido.
Beatriz se aproximou, abraçando a camisa larga que usava. Ela o observou em silêncio, impressionada com a naturalidade com que ele cuidava dela.
– Há alguns dias, eu estava em um hotel de luxo em Nova Iorque – comentou, mais para si mesma do que para ele. – Nunca imaginei que estaria aqui, em um lugar como esse.
Rodrigo parou o que estava fazendo e olhou para ela por cima do ombro. Seus olhos castanhos tinham um brilho calmo.
– A vida é surpreendente – respondeu, com um sorriso de canto de boca. – Nunca sabemos onde vamos parar.
Ele voltou a cortar os legumes, enquanto Beatriz, com os cabelos molhados e o coração ainda inquieto, percebeu que aquele lugar e aquele homem eram um mistério que ela estava começando a querer desvendar.
Rodrigo e Beatriz se sentaram à pequena mesa de madeira para tomar a sopa. A chuva continuava a cair lá fora, preenchendo o ambiente com seu som constante. Rodrigo observou Beatriz por um momento, percebendo o olhar perdido e a expressão inquieta no rosto dela. Ele estendeu a mão, com cuidado, e alisou seu rosto machucado, os dedos ásperos mas cheios de gentileza.
– O que foi que aconteceu com você? – perguntou Rodrigo.
Beatriz imediatamente se afastou, o olhar evasivo. Não queria compartilhar o turbilhão de sentimentos que a invadia, nem mencionar a suspeita dolorosa que Ieda havia plantado em sua mente. Ao invés de responder, ela abaixou os olhos e continuou tomando a sopa, tentando ignorar o coração que batia acelerado em seu peito.
Rodrigo suspirou, balançando a cabeça, frustrado, mas voltou a comer em silêncio. Após um tempo, ele olhou para ela de novo.
– Gostou da sopa? – perguntou, quase inseguro.
Beatriz apenas confirmou com um aceno, sem dizer nada. Sentiu-se grata pela comida, mas estava distraída demais para elogiar o sabor ou agradecer. Ela então olhou para a cama no canto da casa e, com o rosto ainda sério, perguntou:
– E onde você vai dormir?
Rodrigo deu uma risada curta, mas sincera.
– Na cama, é claro – disse ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Beatriz ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços.
– Nem pensar. Eu vou dormir na cama!
Rodrigo deu de ombros, um sorriso provocador surgindo no canto da boca.
– A cama é grande o suficiente para nós dois. Não vejo problema em dividir.
Beatriz o encarou, os olhos verdes se estreitando com desconfiança.
– E se você tentar me atacar durante a noite?
Rodrigo soltou uma risada de surpresa.
– Eu sou um homem de respeito, Beatriz. Pode ficar tranquila. Eu ficarei do meu lado, prometo.
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Enquanto isso, na casa grande da fazenda, Miguel, o pai de Beatriz, andava de um lado para o outro em total desespero. Catarina, sua esposa, tentava acalmá-lo, mas sem muito sucesso. A tensão tomava conta da sala principal, as luzes acesas projetando sombras dançantes nas paredes.
O telefone de Miguel tocou, e ele atendeu rapidamente. Era Ana, mãe de Beatriz, falando de forma urgente.
– Ela não está respondendo às minhas mensagens – Ana disse, preocupada. – Estou ficando desesperada, Miguel.
Catarina, que estava ao lado do marido, fez uma careta de desgosto só de ouvir a voz de Ana, mas manteve o semblante neutro.
– Já pedi para os funcionários procurarem por ela – disse Miguel, tentando soar calmo, embora sua voz tremesse de angústia. – A fazenda é grande, mas é segura. Vamos encontrá-la.
Apesar das palavras tranquilizadoras, o olhar de Miguel denunciava o medo que o dominava. Catarina colocou a mão em seu ombro, fingindo preocupação, mas, em seu íntimo, desejava que a situação de Beatriz fosse mais complicada do que parecia.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Djanira Ribeiro
Autora a Beatriz precisa contar para o Rodrigo o que a Leda falou sobre ele e a cobra da Anastacia.
2024-11-11
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Djanira Ribeiro
Autora sinceramente espero que essas três paguem pelo que estão fazendo, mas principalmente a Cobraastasia e essa nojenta, sonsa da Leda.
2024-11-11
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Claudia
Pronto agora a 🐍vai ter um enfarte se Ana aparecer na Fazenda e sim venha com marido e seguranças 🤭🤭🧿♾
2024-11-11
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