Sofia acordou em uma manhã ensolarada, mas a luz que entrava pela janela não conseguia dissipar a escuridão que habitava sua mente. Sentada na cama, ela olhou para o teto, as perguntas que a atormentavam nos últimos dias ecoando em sua cabeça. O que se passava na mente de Victor? Ele realmente havia mudado, ou estava apenas se escondendo atrás de uma fachada cuidadosamente construída? O passado não se apagava facilmente, e cada vez que pensava nele, uma onda de emoções conflitantes a invadia: medo, dúvida e uma estranha curiosidade.
Depois do encontro com Daniel, Sofia decidiu que precisava entender melhor o novo Victor. A ideia de se aproximar dele a aterrorizava, mas a necessidade de respostas a impulsionava. Assim, naquela manhã, vestiu-se com cuidado, como se o ato de se arrumar pudesse de alguma forma prepará-la para o que estava por vir. Com um vestido simples e confortável, ela olhou-se no espelho e forçou um sorriso que não lhe parecia verdadeiro.
Ao sair de casa, o ar fresco envolveu seu corpo, e ela respirou profundamente, tentando encontrar um pouco de coragem. O parque onde costumava encontrar Victor não era apenas um lugar de lembranças felizes; também era um território familiar de dor e confusão. Mas hoje, ela precisava se permitir uma nova perspectiva.
O sol brilhava intensamente, e Sofia avistou Victor sentado em um banco, com um livro aberto sobre as pernas. Ele parecia tranquilo, os olhos perdidos nas páginas, sem qualquer indício do que o passado lhe trouxera. Ao se aproximar, sentiu seu coração disparar. A incerteza a envolvia como uma névoa densa, e ela hesitou por um momento.
— Oi, Victor — ela disse, tentando manter a voz firme.
Ele levantou os olhos e sorriu ao reconhecê-la.
— Sofia! Que bom te ver aqui. — A maneira como ele pronunciou seu nome era suave e acolhedora. — Estava apenas tentando me distrair um pouco. O que você está fazendo por aqui?
Sofia forçou um sorriso, tentando esconder a tensão que pulsava em seu corpo.
— Eu… pensei que poderia aproveitar o dia e dar uma caminhada. O parque parece lindo hoje.
Ele gesticulou para o espaço ao seu lado, convidando-a a se sentar. Ela hesitou, mas decidiu que precisava aproveitar essa oportunidade. Sentou-se cuidadosamente, a tensão evidente em seus músculos.
— Você gosta de ler? — Victor perguntou, tentando puxar conversa.
— Gosto, sim — ela respondeu, sentindo que a conversa inicial estava fluindo mais naturalmente do que esperava. — O que você está lendo?
— É um romance, algo leve. Eu estava tentando me distrair um pouco, sabe? — Ele sorriu, e Sofia notou que seu sorriso era genuíno. Não havia o olhar calculista que ela lembrava; ao invés disso, havia uma inocência que a fazia questionar suas próprias percepções.
Ela tentou se concentrar no que estava sendo dito, mas a batalha interna entre a curiosidade e o medo a deixava em um estado de alerta constante.
— O que você tem feito desde o acidente? — Sofia perguntou, sentindo-se um pouco mais à vontade. O tom da sua voz era hesitante, mas ela sabia que precisava ir adiante.
Victor hesitou por um momento, como se estivesse pensando em cada palavra.
— Tem sido um pouco confuso, para ser honesto. Às vezes, sinto que estou tentando descobrir quem sou de novo. Muitas coisas mudaram, e tenho tentado apenas seguir em frente — ele respondeu, olhando para o horizonte, como se estivesse buscando respostas nas nuvens.
O coração de Sofia apertou. Havia uma fragilidade nele que ela nunca imaginou ver. Mas isso não apagava as memórias do passado. E a dúvida ainda a consumia.
— Você… não se lembra de nada antes do acidente? — ela perguntou, forçando-se a manter a voz firme.
Ele a encarou, seus olhos claros refletindo uma mistura de confusão e tristeza.
— Não. É como se uma parte de mim tivesse sido apagada. Eu tenho algumas lembranças vagas, mas nada concreto. É frustrante, na verdade. — Ele fez uma pausa, e Sofia podia sentir o peso da sua honestidade. — Às vezes, eu sinto que estou perdido.
Sofia mordeu o lábio, sentindo a empatia surgir. Era uma sensação estranha e nova para ela, misturada com a desconfiança que ainda a assombrava. Como poderia sentir compaixão por alguém que a tinha torturado? Mas ali estava Victor, um homem em busca de redenção, que carregava sua própria dor.
— Eu… — ela começou, hesitante. — Eu não sei o que você sentiu antes do acidente, mas eu estive em um lugar muito escuro também.
Ele a olhou intensamente, e a conexão entre eles parecia se fortalecer.
— Você também passou por dificuldades, não é? — Ele inclinou-se levemente em sua direção, seu tom de voz carregado de compreensão. — Sinto muito. Se eu pudesse fazer algo para ajudar…
— Não é fácil falar sobre isso — Sofia interrompeu, a voz tremendo. O temor de se abrir era grande. — É uma parte de mim que… que eu gostaria de esquecer.
— Não precisa me contar agora, se não se sentir confortável. — Victor inclinou-se para trás, colocando as mãos no colo. — Mas saiba que estou aqui para ouvir, se você decidir.
Sofia respirou fundo, sentindo um nó se formar em sua garganta. Ele não estava tentando manipulá-la; havia um genuíno desejo de entender, de ser um amigo. Essa nova faceta dela o fazia parecer mais humano, mas a sombra do passado ainda pairava entre eles.
— É difícil confiar, Victor. — A sinceridade em sua voz fez com que ele a observasse com atenção. — Eu não sei se posso acreditar que você realmente mudou.
— Eu entendo. Eu mesmo estou tentando me entender, e a última coisa que eu quero é que você sinta que precisa confiar em mim instantaneamente. — Ele parecia relaxado, mas havia um brilho de intensidade em seus olhos que a deixava desconcertada. — Posso garantir que não quero te machucar de novo.
O silêncio entre eles cresceu, preenchido por emoções não ditas. Sofia sentia uma necessidade urgente de se afastar, mas ao mesmo tempo, algo a puxava de volta para ele. A tensão era palpável, e as perguntas dançavam em sua mente.
— Como posso saber que não é uma fachada? — ela perguntou, quase em um sussurro. — Como posso ter certeza de que você não vai voltar a ser quem você era antes?
Victor respirou fundo, seu olhar fixo no horizonte, como se estivesse em busca de respostas nas árvores que dançavam com o vento.
— Eu não posso provar isso agora, Sofia. Mas o que posso fazer é tentar ser uma pessoa melhor. Quero me redimir, e não espero que você confie em mim de imediato. Só espero que possamos nos conhecer novamente, sem pressa.
Havia sinceridade em suas palavras, mas também uma fragilidade que a deixava em conflito. O Victor que ela conhecia era um homem que não tinha compaixão, mas esse Victor parecia ter sentimentos reais, uma vulnerabilidade que a fazia hesitar.
— Eu só não sei se estou pronta — Sofia admitiu, a voz tremendo. O medo de se abrir novamente a deixava paralisada. — E se você acabar se revelando a mesma pessoa que eu conheci antes?
— Então você vai saber, e isso será a sua chance de ir embora. — A calma na voz dele era quase irritante, mas ao mesmo tempo reconfortante. — Prometo que nunca vou forçar nada entre nós.
Ela olhou para ele, os olhos dele cheios de uma honestidade que ela não esperava. O peso de seu passado ainda estava presente, mas a ideia de se afastar de Victor agora parecia mais dolorosa do que se aproximar. Uma parte dela desejava descobrir o que havia mudado nele, enquanto a outra parte gritava que seria um erro fatal.
— Podemos tentar apenas conversar, então? — Sofia finalmente perguntou, sua voz hesitante, mas decidida. — Sem pressa.
Victor sorriu, e um brilho de esperança iluminou seu rosto.
— Isso seria ótimo. Podemos começar com algo simples. Você pode me contar sobre seus livros favoritos ou o que gosta de fazer nas horas livres. — Ele inclinou-se para ela, o brilho nos olhos refletindo um desejo genuíno de se conectar.
Sofia respirou fundo, sentindo que talvez, apenas talvez, pudesse dar esse passo. O que ela sentia por ele ainda estava cercado de incertezas, mas a ideia de se aproximar dele, mesmo que cautelosamente, parecia um pequeno passo em direção à cura.
— Eu gosto muito de ler ficção, especialmente histórias que exploram as complexidades da mente humana — ela disse, e a conversa fluiu de forma mais natural. — É fascinante como as pessoas reagem em situações extremas, não é?
— Com certeza. E também pode ser muito revelador sobre quem somos — Victor respondeu, fazendo um gesto com as mãos enquanto falava. — Às vezes, a ficção pode refletir verdades que nunca pensamos que poderíamos encarar.
Enquanto conversavam, Sofia começou a notar que a tensão dentro dela começava a se dissipar. Victor era, de fato, diferente do que ela
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Atualizado até capítulo 43
Comments
S.Kalks
meu Deus, pq ela continua indo atrás dele, a doente aí é ela, não ele, que mulherzinha.... é impossível de entender qual o nível de síndrome de Estocolmo que ela vivi 😤😤😤😱😱😱
2024-11-08
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