A semana que se seguiu ao encontro no café foi um verdadeiro teste para a sanidade de Sofia. O rosto de Victor, agora com aquele sorriso leve e amigável, permanecia em sua mente, atormentando-a. Era como se cada palavra dita por ele se repetisse em eco, obrigando-a a confrontar uma questão que não poderia ignorar: quem era esse “novo” Victor?
Sofia tentou se distrair com a rotina, a terapia e até mesmo atividades que evitava desde que escapara do cativeiro, mas nada parecia tirá-la daquele torpor. Sabia que precisava entender o que estava acontecendo. Ainda que isso significasse enfrentar um risco imenso, precisava descobrir se aquele homem realmente havia mudado ou se estava apenas jogando com ela.
Finalmente, após muita hesitação, decidiu que precisava encontrá-lo novamente. O medo lhe corria pelas veias, mas algo mais a impelia: a necessidade de fechar aquele ciclo, de recuperar sua paz, ou ao menos de compreender a verdade.
Era uma tarde de céu nublado quando Sofia voltou ao café onde havia encontrado Victor. Escolheu uma mesa afastada e ficou observando as pessoas que entravam e saíam, cada movimento fazendo seu coração acelerar. Ela não estava certa de que ele apareceria, mas havia se informado sobre sua rotina; aparentemente, ele frequentava aquele lugar quase todos os dias.
E, finalmente, ele apareceu. Entrou no café com uma postura despreocupada, com um casaco leve e um sorriso suave no rosto. Ele parecia um homem comum, talvez até gentil, o tipo de pessoa que nunca despertaria qualquer desconfiança. Isso a assustava e intrigava ao mesmo tempo.
Sofia respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções que se formava dentro dela, e então se aproximou, sentindo os batimentos do coração acelerarem a cada passo. Victor estava tão imerso em seu livro que demorou alguns segundos para notar sua presença. Quando finalmente levantou o olhar, abriu um sorriso amigável, aparentemente feliz em vê-la.
— Sofia, certo? — perguntou ele, com um sorriso leve e um olhar curioso. — Não esperava vê-la de novo. Tudo bem com você?
O simples fato de ele a chamar pelo nome fez seu corpo gelar. Mas sua voz era serena, quase acolhedora. Ele não demonstrava nem um resquício do homem que ela conhecera anos atrás. Por um instante, ela quase acreditou que aquele poderia ser realmente alguém novo.
— Sim... é... — gaguejou, lutando para manter a compostura. — Pensei que talvez pudéssemos conversar.
Ele assentiu, indicando a cadeira à sua frente.
— Claro, por favor, sente-se. — Sua voz era gentil, quase empática, o que só aumentava a confusão dentro dela.
Ela se acomodou na cadeira, olhando-o com cautela, como se procurasse algum sinal de mentira em seu rosto.
— Então, você mencionou que nos conhecemos em uma festa da faculdade — ele começou, sorrindo de maneira leve. — Eu sinto muito por não lembrar... É verdade que, depois do acidente, algumas memórias ficaram um pouco confusas.
Sofia assentiu, tentando esconder o quanto a proximidade dele a deixava desconfortável.
— Sim, foi há muito tempo — mentiu, observando atentamente sua reação. — E fiquei surpresa em vê-lo. Achei que... bom, achei que nunca mais nos encontraríamos.
Ele sorriu, como se realmente estivesse tentando lembrar, e havia uma sinceridade perturbadora em seu olhar.
— Esse acidente mudou muita coisa em minha vida. Acordei no hospital, sem lembrar de nada. Os médicos disseram que foi uma amnésia parcial. Fiquei um bom tempo tentando me conectar com minha vida antes do acidente, mas algumas coisas simplesmente… desapareceram. Às vezes, tenho a sensação de que perdi algo importante — admitiu, com um tom genuíno de melancolia.
As palavras dele a atingiram como um soco no estômago. Sofia não sabia se deveria sentir pena ou se aquilo fazia parte de um plano. Era tudo muito convincente. Ela engoliu em seco, tentando não deixar a dúvida transparecer.
— Deve ter sido difícil... — respondeu, hesitante. — Não se lembrar de quem você era.
Ele assentiu, parecendo mergulhado em suas próprias reflexões.
— Sim, muito. Fiquei com algumas marcas, mas o que mais me incomoda são as lacunas. Tento viver uma vida normal agora, mas é estranho saber que existem partes de mim que nunca voltarei a acessar. Como um livro com páginas em branco.
As palavras dele, repletas de metáforas que faziam sentido, a deixaram ainda mais intrigada. Ela sentia que precisava investigar mais fundo.
— E o que você faz agora? — perguntou, forçando-se a relaxar na cadeira, como se estivesse em uma conversa casual.
— Sou instrutor de mergulho — ele disse, parecendo animado ao falar sobre o assunto. — Me encontrei nisso depois do acidente. Mergulhar é uma forma de liberdade para mim, é como escapar de tudo. É uma sensação de paz que eu nunca senti antes.
A expressão em seu rosto era serena, o olhar perdido enquanto descrevia a sensação. Sofia notou que ele realmente parecia acreditar no que dizia, mas ainda assim, não conseguia ignorar o medo latente que corria em suas veias. Seria ele um verdadeiro “novo homem” ou um manipulador astuto, que jogava com ela de maneira ainda mais sutil?
— Parece incrível — respondeu, tentando manter a voz calma. — Sempre tive medo do mar. Gosto de ver à distância, mas entrar mesmo... nunca tive coragem.
Ele riu levemente, e a risada parecia genuína.
— Eu também era assim. Mas depois do acidente, percebi que algumas coisas mereciam uma segunda chance. Foi assim que descobri minha paixão pelo mergulho. Talvez você devesse tentar um dia. Eu poderia te ensinar.
Sofia sorriu forçadamente, sentindo a ironia em sua sugestão. “Eu posso te ensinar.” As palavras soaram quase como um eco do que ele dissera durante o cativeiro, quando a torturava psicologicamente com conversas triviais antes de cada ato de crueldade. Será que ele estava realmente tão mudado?
— Quem sabe — respondeu ela, tentando manter a compostura.
A conversa continuou, e a cada palavra trocada, Sofia sentia-se envolvida em um misto de curiosidade e temor. Victor parecia genuinamente interessado em conhecê-la, como se quisesse criar uma conexão com ela, mas sem a obsessão assustadora de antes. Ele fazia perguntas sobre sua vida, seus interesses, e até a incentivava a buscar novas experiências.
— Desculpe se estou perguntando demais — disse ele em certo momento, um pouco constrangido. — É que, de certa forma, parece que te conheço. É estranho, mas me sinto... confortável com você.
Sofia sentiu o coração pular, mas manteve a expressão neutra.
— Ah, não tem problema — respondeu, com uma leve hesitação. — É bom conversar com você também. — As palavras saíram de sua boca antes que pudesse controlá-las. Ela não sabia ao certo se estava dizendo a verdade ou se tentava manter as aparências, mas sentia que precisava jogar o jogo até o final.
No entanto, no fundo, uma questão a atormentava: e se Victor realmente estivesse mudado? E se aquele acidente tivesse realmente apagado o monstro que ele fora? Sofia sentia-se em uma encruzilhada emocional, dividida entre a desconfiança e uma esperança perigosa.
Após algumas horas de conversa, Sofia se despediu de Victor com uma promessa vaga de um próximo encontro. Ele sorriu de maneira sincera, agradecendo pelo tempo e pelo café, como se ela fosse apenas uma conhecida qualquer. Quando o viu ir embora, observou-o desaparecer entre as pessoas, seu coração ainda em pedaços.
Ela sabia que precisaria de coragem para prosseguir, mas também sabia que, independente de quem fosse esse "novo homem", precisava estar pronta para qualquer coisa.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Cléia Maria da Silva d Azevedo
Queria saber o porquê dela ficar refém dele por tantos anos. Será quê vai ser esclarecido? Eles eram namorados?
2024-12-12
1
jane
Mulher esqueci esse homem, muda de cidade e de nome e vai viver a vida.
2025-02-04
2
pascoal victor
será que ela está em busca de provas para poder incriminar ele, se for isso, vai garota, estou torcendo por você
2024-12-20
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