Os dias haviam se tornado um borrão cinzento para Sofia. Desde o reencontro com Victor, ela se sentia como se estivesse vivendo em uma névoa constante, onde o passado e o presente se entrelaçavam sem qualquer aviso. Era como caminhar em uma corda bamba, sempre à beira de um abismo. E, pouco a pouco, isso começava a afetar não só sua vida pessoal, mas também sua vida profissional.
Naquela manhã, Sofia chegou ao escritório visivelmente cansada. As olheiras escuras sob seus olhos denunciavam as noites mal dormidas, e o nervosismo estava estampado em cada movimento seu. Ela trabalhava como arquiteta em uma renomada firma de design de interiores, e geralmente sua atenção aos detalhes era um dos traços mais elogiados pelos colegas. No entanto, ultimamente, seu desempenho estava longe do esperado.
Sentada em sua mesa, Sofia tentava revisar o projeto de uma casa de campo que vinha desenvolvendo há semanas. Mas, cada vez que olhava para as linhas e formas, sua mente a traía, levando-a de volta para o cativeiro, para as paredes frias e escuras onde estivera aprisionada. Ela tentou se concentrar, respirando fundo, mas sentia o ar se tornar pesado, quase como se estivesse presa novamente.
— Sofia? — A voz de seu chefe, Ricardo, a tirou de seus devaneios. Ele era um homem experiente, de modos gentis, mas com uma expressão séria que indicava que ele não havia deixado de notar as mudanças em Sofia.
Ela olhou para ele, tentando afastar o pânico que começava a crescer em seu peito.
— Sim, senhor? — Sua voz saiu mais fraca do que pretendia.
Ricardo olhou para a tela do computador dela, onde o projeto ainda parecia incompleto.
— Preciso que você finalize este desenho até o final da semana. Sei que você teve alguns contratempos, mas estamos dependendo desse projeto para um cliente importante.
Ela assentiu, tentando esconder o tremor nas mãos.
— Claro, vou terminar, prometo.
Ele deu um sorriso curto e saiu, mas a preocupação em seu olhar não passou despercebida por Sofia. Assim que ficou sozinha, ela colocou as mãos no rosto, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam escapar. Sentia-se tão exausta, como se estivesse tentando lutar contra uma força invisível que a puxava para baixo.
À noite, já em casa, Sofia se jogou no sofá, exausta e ainda se sentindo um tanto fora de si. Marta, sua amiga e colega de quarto, percebeu o estado de Sofia assim que entrou. Sem dizer nada, sentou-se ao lado dela, esperando que a amiga estivesse pronta para falar.
Após alguns minutos de silêncio, Sofia finalmente quebrou o gelo.
— Eu… eu acho que estou perdendo o controle, Marta. Cada dia que passa é como se o passado estivesse mais vivo do que nunca. Mesmo no trabalho, eu não consigo focar. Vejo o rosto de Victor em tudo. É como se ele ainda estivesse aqui, em algum lugar, esperando para me pegar.
Marta segurou a mão de Sofia, apertando-a com gentileza.
— Eu sei, Sofia. Eu vejo como isso está te afetando, e me preocupa muito. Você não pode continuar assim. Esse peso que você está carregando… ninguém deveria passar por isso sozinha. — A voz de Marta era suave, mas firme, como se tentasse transmitir sua força à amiga.
— Eu sei que preciso superar isso — Sofia disse, a voz vacilante. — Mas como, Marta? Como posso me libertar de algo que ainda sinto tão real? Às vezes, eu realmente acredito que ele pode estar fingindo, que tudo isso é só um jogo dele, e que a qualquer momento ele vai aparecer e me levar de volta.
Marta respirou fundo, reunindo as palavras com cuidado.
— Sofia, você passou por um trauma enorme, e é completamente compreensível que esteja se sentindo assim. Mas eu acho que… acho que você precisa de ajuda profissional. Alguém que possa te ajudar a entender esses sentimentos e trabalhar com eles.
Sofia hesitou, desviando o olhar.
— Você acha que eu estou louca?
Marta balançou a cabeça rapidamente.
— Não, de jeito nenhum. Você é uma das pessoas mais fortes que conheço, mas até os mais fortes precisam de ajuda às vezes. — Ela suspirou, tentando manter o tom gentil. — Conversar com um profissional pode te dar ferramentas para lidar com esses medos, para que eles parem de te controlar.
Sofia parecia perdida, as emoções lutando em seu rosto. Ela queria dizer que estava bem, que poderia superar isso sozinha, mas sabia que estaria mentindo. Havia algo quebrado dentro dela, algo que o reencontro com Victor apenas havia piorado.
— E se… — Sofia começou, hesitante, com a voz baixa. — E se eu nunca conseguir superar isso? E se essas lembranças sempre estiverem aqui, assombrando cada passo que eu der?
Marta colocou uma mão no ombro dela, encarando-a com um olhar encorajador.
— Não vai ser fácil, eu sei. Mas, com o tempo, você pode aprender a lidar com isso. A vida vai voltar a ter cor, e você vai encontrar uma maneira de seguir em frente. Mas precisa se dar essa chance, Sofia.
Sofia ficou em silêncio, assimilando as palavras da amiga. Lá no fundo, sabia que Marta estava certa. Mas a ideia de reviver todas aquelas memórias com um estranho, de abrir suas feridas mais profundas, era assustadora.
— Eu… não sei se consigo, Marta. Tenho medo do que vou descobrir sobre mim mesma, do que posso relembrar. E se me machucar ainda mais?
— Às vezes, encarar nossos medos é a única maneira de finalmente deixá-los para trás — Marta respondeu, com um tom compreensivo. — Você não precisa fazer isso sozinha, e eu estarei ao seu lado em cada passo. Mas, por favor, Sofia, considere essa possibilidade.
Sofia fechou os olhos, permitindo que a calma momentânea proporcionada pela presença de Marta a envolvesse. Mesmo com todas as incertezas, a ideia de procurar ajuda parecia menos assustadora quando Marta estava ao seu lado.
Na manhã seguinte, Sofia tomou coragem e fez uma pesquisa rápida sobre psicólogos que tratavam de traumas em sua cidade. Depois de alguns minutos de hesitação, encontrou uma terapeuta especializada em casos de vítimas de violência e agendou uma consulta para o final da semana.
Ela suspirou ao desligar o telefone, sentindo uma mistura de alívio e apreensão. Aquela decisão era um passo em direção ao desconhecido, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela parecia menos pesado.
Quando contou a Marta, os olhos da amiga se iluminaram.
— Sofia, estou tão orgulhosa de você. Eu sei que não é fácil, mas isso vai fazer toda a diferença, eu sinto.
— Espero que sim, Marta. Espero que isso me ajude a entender o que está acontecendo dentro de mim, e, quem sabe, a me livrar de vez desse medo. — Sofia respondeu, tentando sorrir, ainda que seu coração batesse com força.
Nos dias que se seguiram, Sofia ainda teve pesadelos, ainda viu sombras e rostos nas paredes do escritório. Mas, dessa vez, havia uma semente de esperança. Ela não estava mais enfrentando isso sozinha, e, talvez, estivesse finalmente se permitindo acreditar que poderia vencer o passado.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Claudia louca por Livros📚
Ela é louca de fica perto desse psicopata eu acho que ele está fingindo ele é bem esperto, ser fosse eu não tinha nunca chegado perto dele ,eu deria era fugido de novo.
2024-12-20
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pascoal victor
eu me pergunto se ela entrou em piloto automático, onde está apenas existindo e não se dando conta das escolhas que está fazendo!?
2024-12-20
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Fatima Cavalcante
Quem é Victor? oque ele faz na vida?
2025-01-09
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