Sofia andava de um lado para o outro em seu apartamento, os pensamentos girando como uma tempestade em sua mente. O encontro com Daniel havia deixado tantas dúvidas quanto respostas. Cada palavra que ele dissera sobre o “novo Victor” ecoava em sua cabeça, misturando-se ao medo paralisante que sentia ao pensar em tudo que passara nas mãos dele. Como Daniel, o melhor amigo, podia acreditar que Victor havia se tornado uma nova pessoa, completamente incapaz de se lembrar do passado sombrio?
Horas depois, sentada no sofá da sala com uma xícara de chá quase frio nas mãos, ela ouviu o som do celular vibrando. Era uma mensagem de Daniel, sugerindo outro encontro. Relutante, ela aceitou, sabendo que precisava de mais respostas, mesmo que o caminho até elas fosse repleto de incertezas.
Na manhã seguinte, encontraram-se em um parque afastado, onde a brisa suave movia as folhas e as risadas das crianças brincando ecoavam ao longe. Era um cenário pacífico demais para a tempestade emocional que Sofia carregava consigo. Daniel chegou alguns minutos depois, os olhos sérios, mas gentis.
— Obrigado por vir, Sofia — ele disse, apontando para um banco de madeira debaixo de uma árvore, onde ambos se sentaram. — Sinto que nosso último encontro deixou algumas coisas sem respostas.
Sofia apenas assentiu, observando-o com cautela. Ela sabia que estava pisando em terreno perigoso, mas não podia voltar atrás. Precisava compreender o que Daniel realmente sabia sobre o passado de Victor.
— Você parece convencido de que o acidente mudou tudo nele — Sofia começou, tentando controlar a emoção na voz. — Mas como pode ter certeza disso? Vocês eram tão próximos… e mesmo assim, é como se você nunca tivesse percebido o lado sombrio dele.
Daniel respirou fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos e encarando o chão antes de voltar a olhá-la.
— Eu entendo sua dúvida, Sofia. Realmente entendo. Eu mesmo passei meses me perguntando se era possível que ele realmente tivesse mudado tão drasticamente. — Ele pausou, como se revivesse cada momento. — Mas desde o acidente, ele parece… diferente. Mais leve, mais aberto, como se aquela escuridão tivesse sido apagada.
Sofia apertou as mãos no colo, tentando acalmar os nervos que pulsavam em cada palavra. As lembranças do cativeiro invadiam sua mente: o olhar cruel de Victor, o modo como ele sorria com satisfação ao vê-la temerosa. Como Daniel podia sequer imaginar que isso não existia mais?
— Daniel — ela disse com a voz baixa, mas firme. — Eu não quero ser insensível, mas você precisa entender… eu já vi o lado de Victor que talvez ninguém mais conheça. Aquele Victor… era frio, calculista, e parecia não sentir empatia por ninguém.
Daniel a observou, surpreso com a profundidade de sua dor, embora não entendesse a extensão do trauma que ela guardava.
— Sei que não posso conhecer toda a história dele, Sofia. Mas eu era o mais próximo que ele tinha de um amigo. Eu percebia que havia algo escondido, mas ele nunca me deixou ver isso. Se eu soubesse de algo assim, juro que teria feito alguma coisa.
O olhar de Daniel estava cheio de sinceridade, mas Sofia sentiu uma mistura de raiva e descrença. Como ele podia ter sido o “melhor amigo” de Victor e ignorado completamente a escuridão que residia nele?
— Então você nunca percebeu nada de errado? — ela perguntou, tentando esconder a decepção. — Nunca achou que ele pudesse… — Ela interrompeu-se, as palavras sendo abafadas pelo peso do que queria dizer.
— Nunca achei que ele fosse violento, se é isso que está perguntando — Daniel respondeu, com um tom grave. — Claro, ele era reservado, distante às vezes, mas nada que sugerisse… algo tão extremo.
Sofia desviou o olhar, sentindo uma mistura de tristeza e raiva. Como Daniel podia ser tão cego ao que estava bem diante dele? Talvez fosse verdade que Victor havia mantido essa escuridão escondida, mas para ela, era difícil aceitar que ninguém mais visse o monstro que ele realmente era.
— Desculpe se isso soa insensível, Daniel, mas às vezes penso que você escolheu ignorar quem ele realmente era. — Sua voz tremia, e ela olhou diretamente para ele. — Não consigo acreditar que você nunca tenha suspeitado de nada. Ele foi… — Sofia parou, o nó em sua garganta impedindo-a de continuar.
Daniel suspirou e passou a mão pelo rosto, claramente desgastado pela conversa.
— Sofia, eu entendo sua frustração, e talvez você tenha razão em parte. Talvez eu tenha sido cego, sim. Mas depois do acidente, a mudança foi tão profunda, tão visível, que eu não podia ignorar. O Victor que conheci após o acidente é alguém que está genuinamente tentando construir uma nova vida.
Ele fez uma pausa, observando-a com olhos carregados de uma sinceridade que a deixava dividida.
— E mais uma coisa… — Daniel continuou. — Se ele realmente estivesse fingindo, você acha que ele teria mantido isso por tanto tempo? Victor nunca foi um bom ator. Eu o conheço bem o suficiente para saber que ele não conseguiria manter essa farsa.
Sofia sentiu um calafrio. A possibilidade de que Victor realmente não se lembrasse de nada era aterrorizante, pois implicava que tudo que ela havia vivido, todo o sofrimento que ele lhe causara, talvez nunca fosse confrontado ou reconhecido.
— Então você está dizendo que eu devo… apenas aceitar esse "novo Victor"? — ela perguntou, a voz cheia de uma amargura contida. — Que eu devo apagar todas as lembranças, como ele aparentemente fez?
Daniel balançou a cabeça lentamente.
— Não estou pedindo para que você apague nada. Só estou tentando dizer que talvez ele realmente tenha mudado, e que essa pessoa que ele é agora talvez não seja capaz de fazer o que você está imaginando. Eu sei que é difícil de acreditar. — Ele respirou fundo. — Mas a verdade é que, mesmo se o Victor de antes era tão horrível quanto você diz, talvez este novo Victor nunca a machucasse da mesma maneira.
Sofia ficou em silêncio, o conflito interno crescendo a cada segundo. Parte de si queria desesperadamente acreditar que Daniel estava certo, que esse novo Victor realmente não lembrava de nada. No entanto, outra parte de seu coração – a parte marcada pelas cicatrizes do passado – não conseguia aceitar que a monstruosidade que ela presenciara pudesse simplesmente desaparecer.
— Daniel… o problema é que eu ainda sinto que existe algo sombrio em Victor — ela disse, a voz soando como um sussurro. — E se essa escuridão um dia despertar? E se ele lembrar de tudo… e for tarde demais para eu escapar?
A expressão de Daniel suavizou-se, e ele colocou a mão sobre o ombro dela em um gesto de conforto.
— Sofia, não posso garantir nada, mas pelo tempo que passei com ele, posso dizer que ele está tentando ser uma pessoa melhor. E, se existe algo que eu possa fazer para ajudá-la a se sentir segura, pode contar comigo. Eu só quero que você tenha paz com tudo isso. Não quero que continue vivendo com medo.
Ela fechou os olhos, absorvendo as palavras de Daniel, mas o medo ainda estava ali, enraizado em sua alma. Mesmo que Victor tivesse perdido a memória, as memórias dela ainda estavam lá – e eram reais. E, enquanto essas lembranças continuassem assombrando seus dias e noites, ela não sabia se algum dia poderia olhar para ele sem ver o monstro por trás da máscara de “novo homem”.
Enquanto se despediam e Daniel partia, Sofia ficou parada no parque, observando as árvores balançando com o vento suave. Uma parte dela queria acreditar que poderia haver redenção, até mesmo para alguém como Victor. Mas, ao mesmo tempo, a sombra do passado ainda pairava sobre ela, como uma névoa que não se dissipava.
Talvez fosse possível que Victor tivesse mudado. Mas e ela? Ela um dia seria capaz de deixar tudo isso para trás e, quem sabe, construir uma nova vida?
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Cléia Maria da Silva d Azevedo
Será quê ela pensa em voltar com ele? Estou confusa
2024-12-12
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Cléia Maria da Silva d Azevedo
Vou dar uma pausa. Outro dia volto a ler. Obrigada autora 👏👏
2024-12-12
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Fatima Cavalcante
gente alguém me explica eles eram namorados ou casados,essa história tá muito confusa,começou com sequestro não se explica o que eles eram?
2025-01-09
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