Capítulo 17: O Confronto de Pedro

Alberto

Estava em casa, revendo mentalmente cada detalhe do meu plano, quando ouvi a porta bater com força. Antes mesmo de me virar, já sabia quem era. Pedro entrou na sala com o rosto fechado, claramente furioso. Ele sempre foi assim, direto ao ponto, sem rodeios, o tipo de pessoa que não deixa nada passar em branco. Sabia que mais cedo ou mais tarde ele viria me confrontar, mas não esperava que fosse tão rápido.

"Alberto," ele começou, a voz tensa, "precisamos conversar. E você sabe muito bem sobre o quê."

Levantei-me do sofá, mantendo a calma. Sabia que ele estava irritado, mas Pedro sempre agia com o coração na mão, e isso o tornava impulsivo. "Claro, Pedro. Sobre o que você quer falar?"

Ele cruzou os braços, me encarando com olhos cheios de desconfiança. "Eu sei o que você está tentando fazer. Está tentando afastar Clara de Lucas, e não vou ficar parado assistindo você manipular as coisas."

Eu suspirei, fingindo cansaço, mas na verdade, estava satisfeito que ele tivesse vindo. Isso só me dava mais uma oportunidade de plantar a semente da dúvida. "Pedro, você está entendendo errado. Eu só quero o melhor para Lucas. Ele é como um irmão para mim, e eu faria qualquer coisa para protegê-lo."

Pedro deu um passo à frente, seu rosto endurecido pela raiva. "Não venha com essa conversa. Você nunca gostou de Clara, e agora está tentando destruir o relacionamento deles. Se está pensando em fazer alguma coisa que machuque o Lucas, vai ter que passar por mim."

A ameaça era clara, mas eu não estava preocupado. Pedro era protetor, sim, mas também era ingênuo, acreditava que o mundo era simples e que bastava ter boas intenções para resolver tudo. Eu, por outro lado, via as coisas de forma diferente. Sabia que o mundo estava cheio de nuances, e que, às vezes, para proteger alguém, era preciso fazer escolhas difíceis.

"Pedro," comecei, mantendo minha voz calma e controlada, "você realmente acha que Clara é a pessoa certa para ele? Você sabe tão bem quanto eu que ela não é quem aparenta ser. Ela está escondendo algo, e se Lucas continuar ao lado dela, isso só vai acabar mal."

Ele estreitou os olhos, claramente irritado com minhas palavras, mas eu percebi que havia uma faísca de dúvida. Eu sabia que ele também sentia que algo não estava certo, mesmo que não quisesse admitir. "Isso não é problema seu, Alberto. Lucas é um adulto, ele sabe o que está fazendo. E se você realmente fosse amigo dele, não estaria tentando envenená-lo contra a garota que ele ama."

Eu sorri de lado, fingindo compaixão. "Você está certo, Lucas é um adulto. Mas ser um adulto não significa que ele não possa cometer erros. E Clara... Clara está se envolvendo em algo que você nem imagina. Vi coisas, Pedro, coisas que Lucas não sabe. Ela está com um pé em problemas que podem arrastá-lo também. Eu só estou tentando evitar que isso aconteça."

Pedro me olhou com ceticismo, mas agora eu via que ele estava começando a ponderar. "Que tipo de problemas você acha que ela está envolvida? E como você sabe disso? Parece mais que você está inventando desculpas para justificar o que quer fazer."

Dei um passo mais perto, adotando um tom mais sombrio. "Eu a vi, Pedro. Clara se encontrou com um homem perigoso, discutindo algo sobre dinheiro. Não era uma dívida qualquer, era algo que a estava deixando desesperada. E se Lucas descobrir o que ela está escondendo, vai destruir o coração dele. Eu estou tentando proteger meu amigo. Você pode não acreditar em mim agora, mas um dia, você vai ver que eu estava certo."

Pedro balançou a cabeça, claramente lutando contra a informação. "Lucas é forte, ele pode lidar com qualquer verdade. Não precisa da sua ajuda para decidir com quem deve ficar. E você... você só quer vê-lo infeliz porque nunca teve o que ele tem."

Aquele golpe me atingiu, mas não deixei transparecer. Claro que Pedro pensava assim. Ele via o mundo como preto e branco, sem entender as camadas de complexidade nas pessoas e suas intenções. Mas eu tinha uma missão, e nada que ele dissesse iria me desviar.

"Você pode me odiar o quanto quiser, Pedro," falei, mantendo meu tom calmo, "mas a verdade é que eu só quero o melhor para ele. Clara não é digna do Lucas, e se você realmente se importa com ele, vai abrir os olhos antes que seja tarde demais."

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, claramente refletindo sobre o que eu havia dito. A raiva ainda estava lá, mas a dúvida também começava a crescer. Pedro era leal a Lucas, mas ele também sabia que eu não era alguém que falava sem pensar. Ele podia não confiar totalmente em mim, mas agora estava questionando Clara.

"Vou te avisar só uma vez, Alberto," ele disse, a voz mais baixa e séria. "Se eu descobrir que você está manipulando essa situação, ou se Lucas sair machucado por causa de algo que você fez, vai se arrepender. Não subestime o que eu faria por ele."

Eu sorri levemente, sem medo das suas ameaças. "Entendido, Pedro. Mas lembre-se: estou apenas tentando evitar que Lucas sofra por causa de Clara. E quando tudo vier à tona, você vai ver que eu só estava tentando ajudar."

Ele me lançou um último olhar duro antes de sair pela porta, deixando-me sozinho novamente. Sabia que Pedro não confiava em mim, mas isso não importava. O que importava era que eu havia plantado mais uma semente de dúvida. Agora, era só uma questão de tempo até tudo desmoronar.

Lucas ainda não sabia o que estava por vir, mas logo, ele descobriria. E quando isso acontecesse, eu estaria ali, pronto para pegar os pedaços.

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