Capítulo 16: O Instinto de Proteção

Roberto

A tarde estava cinzenta e abafada, e eu sentia um peso no ar, algo que há muito tempo eu não sentia. Desde que Lucas começou a se envolver com Clara, um incômodo vinha crescendo dentro de mim. Não que eu tivesse algo contra a garota, mas havia algo nela que eu simplesmente não confiava. Talvez fosse sua expressão nervosa ou os olhares que, por vezes, me pareciam hesitantes. Mas até então, não havia nada de concreto que justificasse minha desconfiança.

Estava sentado na sala, revisando alguns papéis do trabalho, quando ouvi batidas rápidas na porta. Era Alberto. Não esperava sua visita, mas algo no seu rosto ao entrar me fez entender que ele não estava ali por cortesia.

"Roberto, preciso falar com você. É urgente," ele disse, sem rodeios, enquanto se aproximava e sentava em uma das cadeiras ao meu lado. Seus olhos estavam sombrios, como se tivesse carregado um segredo por tempo demais.

Fechei os papéis e me virei para ele, já sentindo uma inquietação. "O que houve, Alberto? Sobre o que você quer falar?"

Ele respirou fundo, como se se preparasse para algo sério. "É sobre Clara. A garota com quem seu filho está envolvido." Ele pausou, me observando atentamente, como se quisesse medir minha reação. Eu permaneci impassível, mas por dentro, minha mente já estava agitada.

"Continue," disse, com a voz firme, embora um calafrio começasse a se formar em meu estômago.

Alberto inclinou-se um pouco para frente, como quem se prepara para confidenciar algo perturbador. "Roberto, eu não sei como te dizer isso, mas Clara não é quem ela parece ser. Tenho motivos fortes para acreditar que ela está envolvida em algo... horrível. E se Lucas continuar com ela, pode acabar se metendo em grandes problemas."

Meu coração acelerou, mas mantive a calma exterior. "De que tipo de problemas você está falando? Não jogue indiretas, seja claro."

Ele suspirou, visivelmente desconfortável, mas prosseguiu. "Há algumas semanas, a vi em um lugar que ninguém deveria estar. Um café suspeito, longe do centro, onde ela estava com um homem de aparência nada confiável. Eles estavam discutindo sobre dinheiro, e pelo que ouvi, Clara parecia estar devendo algo a ele. Não era só uma simples dívida. Era algo que envolvia risco."

Senti o sangue ferver nas veias. Meu filho estava se envolvendo com alguém que poderia destruí-lo? Apertei os punhos, lutando para manter a calma. "Você tem certeza disso, Alberto? Está me dizendo que Clara está envolvida em algo perigoso?"

Ele assentiu com gravidade. "Eu vi com meus próprios olhos, e se Lucas souber... Eu temo que ele vai se sentir traído e desorientado. Ele a ama, Roberto, e isso pode acabar com ele. Sei que estou sendo direto, mas acredito que você, como pai, precisa proteger seu filho."

Olhei para ele, os pensamentos em minha mente colidindo. Se Clara estava realmente envolvida com algo sombrio, eu não podia permitir que Lucas se aproximasse mais dela. Ele confiava demais nas pessoas, e isso o tornava vulnerável. Mas eu sabia que ele também era teimoso e apaixonado. Se eu tentasse afastá-lo diretamente, isso poderia ter o efeito oposto.

"O que você sugere que eu faça, então?" perguntei, tentando pensar com clareza.

"Eu não sei ao certo. Talvez você deva falar com Lucas, tentar abrir os olhos dele. Ele precisa entender que Clara pode ser um risco para ele, antes que seja tarde demais." Alberto fez uma pausa, seu olhar se suavizando um pouco. "Eu realmente me preocupo com Lucas, e só quero o bem dele. Mas Clara... ela está escondendo algo, e isso vai acabar mal."

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, digerindo tudo o que ele havia dito. A ideia de proibir Lucas de ver Clara já havia passado pela minha mente antes, mas agora, com essa nova informação, parecia uma decisão inevitável. Meu instinto paternal estava gritando para eu agir, para tirar meu filho dessa enrascada antes que fosse tarde demais.

"Eu vou pensar no que fazer," respondi, tentando manter a voz firme, embora o turbilhão de pensamentos ameaçasse me engolir. "Mas uma coisa é certa, Alberto: se Clara está realmente envolvida em algo assim, eu não vou deixar Lucas cair com ela. Ele merece mais."

Alberto assentiu, se levantando. "Eu só espero que ele enxergue isso antes que seja tarde."

Enquanto ele se despedia e saía da sala, me vi sozinho com meus pensamentos. O peso da responsabilidade agora recaía sobre meus ombros. Eu precisava proteger Lucas, mas sabia que ele não me ouviria facilmente. Ele estava cego por Clara, e qualquer tentativa de afastá-lo poderia gerar uma reação violenta.

Olhei pela janela, vendo as nuvens pesadas se acumularem no céu, refletindo meu humor. Não podia mais ignorar o que estava acontecendo. Havia algo de errado com Clara, e agora, era meu dever descobrir exatamente o que e salvar meu filho, antes que esse relacionamento o arrastasse para o abismo.

A questão agora era: como eu falaria com Lucas sobre isso? Como diria a ele que a mulher que ele tanto amava poderia destruí-lo?

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