Eu mal consigo respirar. O medo e a pressão me sufocam, enquanto meu corpo se move quase por instinto. Cada passo que dou em direção ao altar é acompanhado pelo som suave do tecido que roça contra o chão de pedra. O iro dourado que Zuri me vestiu parece apertar minha cintura de forma quase insuportável.
Tenho que manter o sorriso forçado. Mas sinto o suor escorrer pelas minhas costas, e não é o calor que me incomoda. É o peso do momento, da realidade que ainda não consigo aceitar.
O salão está lindamente decorado, quase como uma cena tirada de um conto de fadas distorcido. As paredes são adornadas com tecidos de seda vermelha e dourada, e lustres enormes pendem do teto, banhando tudo em uma luz suave e cálida. Flores exóticas, que nunca vi na vida, estão espalhadas em arranjos enormes pelos cantos. O aroma doce que elas exalam mistura-se com o incenso, criando um ambiente que deveria ser relaxante, mas só me deixa mais ansiosa.
À frente, vejo o altar. Simba Umar está lá, mas ainda não consigo enxergá-lo claramente. Ele está de pé, sua silhueta imponente.
Minhas pernas tremem enquanto me aproximo, e então, eu os vejo. Do outro lado minhas amigas.
Ana e Flávia estão ali, em pé, com semblante de tristeza vestidas com roupas que, claramente, não escolheram. Elas estão tão desamparadas quanto eu, com os olhos baixos, tentando não chamar atenção. Mesmo quando somos as únicas brancas ali. Quando nossos olhares se encontram, algo dentro de mim quebra. As lágrimas vêm antes que eu possa detê-las. Não consigo mais segurar o medo, a raiva, o desespero.
Ana me encara, seus olhos arregalados, cheios de uma tristeza silenciosa. Flávia, parece lutar para manter a compostura, mas a dor é visível em seus rostos. Ver minhas amigas, capturadas assim como eu, ao invés da minha família, é uma tortura que eu não estava preparada para enfrentar.
Meus passos vacilam, e sinto as lágrimas queimando minhas bochechas. Tento limpar o rosto com a parte de trás da mão, mas Zuri, que caminha ao meu lado, segura meu braço gentilmente.
- Mantenha-se firme, Amélia. Ela sussurra, sua voz suave, mas firme.
- Estamos quase lá.
Quase lá. Essa frase ecoa na minha mente como um veredito final. Estou quase lá, quase casada, quase aprisionada para sempre. Tento engolir o nó que se formou na minha garganta, mas é inútil. Meu corpo inteiro está tremendo, e tudo o que quero é correr, escapar desse pesadelo.
Quando finalmente chegamos ao altar, eu só queria abraçar as minhas amigas. Quando dou uma passo ao lado para ir ao encontro delas Zuri me impede segurando meu braço.
Eu olho para ela que acena com a cabeça dizendo não. Ela me entrega para Simba que me estende seu braço, e eu me apoio nele.
O mestre de cerimônias, um homem alto e de aparência imponente, vestido com um traje tradicional ricamente adornado, levanta a mão para indicar que devo parar. Eu paro, mas minhas pernas estão tão instáveis que sinto como se fosse cair. Tento me concentrar na respiração, no que está acontecendo ao meu redor, mas a dor no peito só aumenta.
O mestre de cerimônias sorri para mim, mas é um sorriso calculado, sem verdadeira gentileza.
- Hoje, estamos reunidos para celebrar a união de Simba Umar, príncipe da Nigéria, e sua esposa escolhida, Amélia Santos. Ele diz com uma voz retumbante, ecoando pelo salão.
Príncipe da Nigéria? As palavras me atingem como um golpe. Eu sabia que ele era poderoso, rico, mas nunca imaginei que estava prestes a me casar com um príncipe. Meus olhos se arregalam, e por um momento, todo o salão parece girar ao meu redor.
Eu olho para Simba, ele arqueia uma sobrancelha como se dissesse "surpresa". Um príncipe. Casando-se comigo, uma mulher que ele comprou. O absurdo da situação me atinge em cheio, e por um breve segundo, eu sinto como se estivesse sonhando. Mas não estou.
- Amélia, aproxime-se. O mestre de cerimônias me chama, tirando-me dos meus pensamentos.
Dou mais um passo à frente, agora tão perto de Simba que posso sentir sua respiração. Ele é alto, forte, e me impede de ver o que há atrás dele. Simba estende a mão para mim, mas não me toca. Em vez disso, fico ali, parada, esperando.
O mestre de cerimônias continua, falando em uma língua que não entendo, provavelmente Yoruba, enquanto a música suave de tambores e instrumentos de corda ressoa ao fundo. Todos os olhos no salão estão sobre nós. A família de Simba está toda sentada à nossa frente. Mulheres e homens elegantemente vestidos com roupas tradicionais, suas expressões sérias, como se esse casamento fosse mais um negócio do que uma celebração. Ninguém parece feliz. Pelo menos não da maneira que eu esperaria em um casamento.
- Amélia, hoje você se torna parte da família real. O mestre de cerimônias diz, olhando diretamente para mim.
- Você deve honrar e respeitar seu marido, pois ele é não apenas seu protetor, mas o futuro deste reino. Ele diz e as lágrimas rolam no meu rosto. Minhas mãos tremem, meu corpo tenso, e tudo o que quero é gritar. A cada palavra que ele pronuncia, sinto que estou me afundando mais e mais em algo que nunca quis para mim. Simba Umar, príncipe da Nigéria. E agora meu marido.
- Simba, você aceita Amélia como sua esposa? O mestre de cerimônias pergunta.
O silêncio paira no ar. Cada segundo parece se arrastar, até que, finalmente, sua voz grave e autoritária preenche o espaço entre nós.
- Aceito.
Seu tom é firme, sem hesitação. Ele não me olha, não faz nenhum gesto em minha direção. É como se eu fosse um item que ele adquiriu, e agora estava formalizando a posse.
- Amélia, você aceita Simba como seu marido? O mestre de cerimônias me pergunta, seus olhos cravados nos meus, como se soubesse exatamente o que estou pensando.
Meus lábios tremem. Eu não tenho escolha. Meu corpo inteiro está tenso, cada músculo gritando para correr, para escapar. Mas eu não posso. Minha vida, e a vida das minhas amigas, depende desse momento. Respiro fundo, sentindo o nó na garganta se apertar ainda mais.
- Amélia? Ele pergunta novamente.
Eu não consigo responder.
Olho para minhas amigas, e ambas choravam de cabeça baixa.
Simba passa a mão na minha cintura, beija a minha cabeça e diz:
- Responda! Ele diz com firmeza e aperta com força a minha cintura me fazendo me inclina ao sentir a dor do apertão.
— Aceito . Respondo, a palavra saindo quase um sussurro, mas clara o suficiente para todos ouvirem.
O som de tambores aumenta, e o mestre de cerimônias levanta as mãos, como se estivesse invocando uma bênção dos deuses. Ele começa a falar novamente, e dessa vez sinto algo frio e pesado ser colocado em minha cabeça. O gele dourado que Zuri ajustou mais cedo. É o símbolo da minha nova posição, o peso do meu novo destino.
Olho mais uma vez para Ana e Flávia, tentando buscar algum consolo em suas presenças, mas tudo o que vejo é o reflexo do meu próprio desespero.
- Agora, vocês estão unidos. O mestre de cerimônias declara com um sorriso.
Nos viramos de volta para os convidados atrás de nós. Simba segura a minha mão e a levanta para cima. Como um ganhador. E todos vibram.
Não há alianças, não há beijos, não há votos. E o mais importante não há amor!
A cerimônia termina, e um silêncio pesado paira sobre nós. Estou oficialmente casada.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Nath❤️🤞🏻
Poxa, tadinha da Amélia!! oooh situação🥲🩷
2024-11-28
0
Amanda
Complicado demais 😢
2024-12-06
0
Suelen Andrade
agora vc e a princesa do país
2024-11-27
0