16 - Coração Puro

Na residência de Rodrigo e Ruan, o hóspede especial Ellis, entrou no banheiro, ficou se olhando no espelho. O rosto fino e as manchas de sardas não o incomodaram. Mesmo com os olhos escudos e fundos, ele não se incomodou, apenas os cabelos o deixaram melancólico. Ele passou o pente devagar, e viu falhas que mostravam buracos, evidenciando o couro. Haviam muitos espaços abertos.

Ellis: Que droga!

Sozinho, ele chorou por alguns minutos, até que finalmente, saiu pelo corredor, e começou a procurar alguma coisa nas gavetas. O barulho, chamou a atenção de Ruan, que saiu de seu quarto, vestido para trabalhar, e olhou para ele.

Ruan: Ellis, você precisa de alguma coisa?

Ellis: Sim. Quero uma tesoura.

Ruan: O que pretende fazer com um tesoura?

Ellis: O que você acha? Vou cortar os meus cabelos de uma vez!

Ruan: Certo, se é isso que você decidiu, nesse caso, eu posso ajudar você.

Ellis: Então tá bom. Eu não quero raspar tudo sabe? Quero deixar bem curto, e torcer para o volume, esconder as falhas.

Ruan: Entendi.

O Médico largou a sua bolsa, e tirou o jaleco. Em seguida, foi para fora do local. E colocou uma caderia para Ellis.

Ruan: Vem, pode se sentar aqui. É mais fresco.

Ellis olhou para Ruan, e para a cadeira, e deu um leve sorriso, antes de se sentar.

Ruan: Segura esse espelho, e vai me falando o quanto eu posso cortar, está bem?

Ellis: Certo.

Com paciência e cuidado, Ruan seguiu todas as instruções de Ellis, e cortou os cabelos, da forma que ele queria. O resultado foi bem recebido pelos dois.

Ellis: Eu gostei bastante. Acho que me deixou com uma aparência mais saudável não é?

Ruan: Sim. Deixou realmente. Você deveria aproveitar o dia, e tomar um pouco de sol. Sua próxima sessão é amanhã, não esqueça. Se quiser, eu posso levar você.

Ellis: Eu não vou esquecer Doutor...

Ellis olhou novamente para o espelho.

Ruan?

Ruan: Sim?

Ellis: Obrigada.

Ruan: Imagine, não por isso.

Ruan sorriu, e voltou para dentro da casa, pegou sua bolsa e jaleco, e saiu da casa.

Ellis ficou um tempo em frente ao espelho, apreciando o novo visual. Depois foi para a cozinha.

Ellis: Acho que eu mesmo posso preparar o jantar hoje.

Juntando panelas e ingredientes, Ellis se focou e conseguiu preparar um jantar apetitoso, o suficiente para atrair Rodrigo, assim que entrou na casa.

Rodrigo: O cheiro está muito bom. Mas eu pensei que íamos pedir o jantar ho...je.

Ao ver que a pessoa que estava na cozinha, não era quem esperava, Rodrigo disfarçou a surpresa.

Ellis: Boa tarde. O Ruan vai voltar somente depois das nove hoje. Mas, eu fiz a comida. Espero que goste.

Rodrigo: Acredito que vou, já que o cheiro está ótimo. Vou tomar um banho e volto para almoçaram.

Ellis: Está bem. Enquanto isso, acho que vou fazer um suco.

Rodrigo foi ao quarto, e Ellis continuou na cozinha.

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No hospital do centro, Ruan havia atendido vários pacientes, e seu turno chegado ao fim. Ele se direcionava para fora do prédio, quando esbarrou em outro medico.

Efrain: Olá Doutor Ruan! Como está o nosso paciente?

Ruan: Ah, oi.

Efrain: Não me reconheceu só porque mudei a cor do cabelo.

Ruan: Desculpa, Sim, Eu acho que foi por isso.

Efrain: Sabe quando você fica enjoado da própria cara? Eu precisava fazer alguma coisa.

Ruan: Entendi.

Efrain: E o nosso paciente? Como ele está?

Ruan: O Ellis está tendo muita alteração de humor. Fora isso, ele sofre mais de tonturas. No geral, parece bem melhor do que o esperado. Acredito que vai se recuperar bem.

Efrain: Se são só esses sintomas, sim. Também acho que está indo bem. Mas, não o deixe muito otimista.

Ruan: O quê? Porque não?

Efrain: Ruanzinho, Você sempre foi assim não é? Eu me lembro de você na faculdade, tão cheio de esperança e dedicação. É admirável. Mas tem que ser mais realista. Doenças como a do Ellis, não nos dão garantia nenhuma. E prova disso e que ele já teve tumores antes. É um futuro incerto. Fazemos a nossa parte, mas não podemos controlar nada.

Ruan: E não podemos acreditar? Não podemos dar incentivo e ânimo aos pacientes? Ainda mais nos casos assim, que parecem sempre ligados ao emocional. Acha que eu tenho que dizer a ele; "Você vai ficar bem agora, mas logo a doença pode voltar?" Eu recuso isso!

Efrain: Me desculpa Ruan. Não tive a intenção de criticar você, é só uma orientação, que com a experiência que tenho no caso, posso dizer pois sei o que estou falando.

Ruan: Obrigada pela orientação. Mas eu vou continuar seguindo otimista. Vou fazer o que eu puder para o deixar alegre e confiante.

O médico olhou Ruan saindo, e balançou a cabeça.

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Na casa, Rodrigo dormiu no escritório, deitado sobre o teclado. Ao ouvir a aproximação de alguém, ele despertou.

Ellis: Oi Rodrigo, você vai ficar bem assim?

Rodrigo: Eu estou bem Ellis.

Ellis: Quer alguma coisa? Um chá, um café talvez?

Rodrigo: Um café. Eu agradeço.

Ellis: Volto rapidinho.

Ellis apressou o passo, mas acabou sentindo tontura. Ele tentou se segurar no batente da porta, porém mão escorregou, e ele caiu no chão, entre o escritório e a sala.

Rodrigo: ELLIS!

Rodrigo saltou da cadeira, chegando até Ellis, e ergueu sua cabeça com cuidado.

Rodrigo: Ellis você bateu a cabeça? Ham? Fala alguma coisa.

O jovem abriu os olhos, e sua visão estava embassada.

Ellis: Eu... Não queria morrer hoje. Estava tão animado, o meu cabelo está curto, mais está bonito agora...

Rodrigo: Ok, me fala se bateu a cabeça?

Ellis: Não... Acho que não. Mas meu cotovelo dói.

Rodrigo: Aguenta um pouco.

Rodrigo pegou Ellis em seus braços, e o levou para o sofá da sala.

Rodrigo: Vou ligar para o Ruan, para ver o que podemos fazer...

Ellis: Não se preocupe, já estou me sentindo melhor. Essas coisas vão e vem.

Ellis se ergueu e sentou no sofá.

Ellis: O que dói mesmo é o meu cotovelo... Ai.

Rodrigo: Tem uma pomada que talvez ajude.

Rodrigo correu até a caixinha médica e voltou. Segurou o braço de Ellis e aplicou a pomada.

Ellis: Rodrigo... Não se aborreça comigo. Em breve eu vou deixar você em paz. Eu...

Ellis começou a chorar.

Ellis: Me arrependo muito de ter dado um fora em você. Se eu soubesse que você ia mudar eu... Deveria ter tido mais paciência. Só que eu tinha muito medo de ser maltratado. Você falava de uma forma tão grosseira, e aquela vez no hotel... Apertou meu braço e não queria me deixar sair... Eu fiquei pensando, a minha vida já não era tão boa. Sair da boate, para viver ao lado de um homem que fosse me maltratar, ia ser muito pior. Pelo menos lá, tinham os seguranças para não deixar ninguém tocar em mim.

Rodrigo: Me perdoe por isso Ellis. Eu realmente não pensei nos seus sentimentos, porque só os meus importavam. Não deveria ter me comportado assim... Mas eu só conheci o relacionamento breve que tive com o Heide, éramos animais. Desde o tempo que éramos amigos, e quando começamos a nos envolver.... Era tudo muito intenso. Ele se tornou importante para mim, viveu as piores fases comigo. E você era brilhante, lindo e delicado, só que eu não soube como tratar você, e a essa altura eu tinha duas pessoas na minha cabeça. A que eu amava, e a que eu queria vingar.

Ellis: Sim... Eu sabia. E novamente... Novamente tem outra pessoa. E é isso que mais me dói. Talvez se eu tivesse aguentado um pouco, você teria mudado, e seria eu do seu lado.

Ellis acariciou o rosto de Rodrigo.

Ellis: Essa é a forma mais humilhante de passar o resto breve da minha vida. Ao lado de um homem que eu amo, e a vida insiste em dizer que nunca será meu.

Ellis se aproximou de Rodrigo, e o beijou.

Nesse instante, Ruan entrou na sala, segurando uma sacola brilhante.

Ruan: Comprei um presente para animar você... Ellis

Na sala, Ellis estava com os lábios colados aos de Rodrigo.

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