12 - Indireta Direta.

Ruan estava na sozinho na cozinha preparando o almoço. Era seu dia de folga, e ele escolheu fazer um prato especial. Empolgado, ele preparou tudo com carinho, e enquanto seu assado estava no forno, preparou uma xícara de chá, e foi ao quarto de Ellis.

Ruan: Ellis?

Ao ver o quarto vazio, Ruan partiu à procura do paciente. Finalmente, ao passar na frente de seu quarto, o viu deitado em sua cama.

Ruan: Ellis!?

Ellis: Ah... Oi. Eu não escutei, estava me chamando?

Ruan: Sim. O que estava fazendo aqui?

Ellis: Eu tenho sentido muitas dores nas costas, outro dia, quando você estava de plantão, eu me deitei na cama de vocês, e percebi, que o problema deve ser o meu colchão.

Ruan: Você...

Ellis: Ah, não. Não é o que está pensando. O Rodrigo nem viu, estava no banho.

Ruan: Fiz um chá para você. Está no seu quarto.

Ellis: Certo, estou indo pegar, muito obrigado.

Enquanto isso, Rodrigo acabará de chegar na casa, e ao sentir um cheiro de tempero dominado o ambiente, caminhou até a cozinha.

Rodrigo: Ruan! Seja lá o que está preparando, deve estar ótimo! E.. Ué? Não está aqui.

Rodrigo se abaixou e viu a forma do assado no forno. Em uma tábua de madeira na pia, havia uma torta de amoras descansando.

Rodrigo: Nossa! Que delícia.

Animado com o cardápio que sabia ser especial para ele, Rodrigo foi até seu quarto, e encontrou Ruan parado, olhando para o nada.

Rodrigo: Ruan? Está tudo bem?

Ruan: O quê?

Rodrigo: Perguntei se está bem?

Rodrigo abraçou Ruan

Ruan: Rodrigo... O Ellis estava deitado na nossa cama...

Rodrigo: Estava? Quando?

Ruan: Agora a pouco. E se deitou outra vez, como ele mesmo disse. A nossa cama é mais confortável que a dele. Está com dores nas costas e...

Antes que Ruan terminasse de falar, Rodrigo o interrompeu com a voz firme e raivosa ao mesmo tempo.

Rodrigo: Se ele quer essa cama, damos para ele! Compramos uma nova para nós dois. E eu tranco essa porta das próximas vezes!

Ruan olhou para o rosto de Rodrigo surpreso.

Ruan: Me perdoe. Não desconfiei de você... É que... Isso me incomodou. Eu não deveria sentir o que senti agora, mas... Esquece tá?

Rodrigo fechou a porta do quarto, e voltou para perto de Ruan.

Rodrigo: Eu sei que sou um grosseiro. Eu não penso antes de falar. Eu não te trato como merece. Não ainda, mas eu estou me esforçando todos os dias. Te ouvir me pedir perdão, sem ter feito nada errado... Me fez me sentir péssimo agora.

Rodrigo segurou o rosto de Ruan com carinho, olhando para os seus olhos.

Rodrigo: Sou eu quem tem que pedir perdão a você. Eu não precisava ter sido grosso assim.

Ruan: Está tudo bem. Eu sei disso, você é assim. Eu pedi perdão, porque sei que me acha uma pessoa bondosa, e correta. E sim, eu procuro ser. E por isso, me senti estranho, quando vi ele na nossa cama. Eu fiquei irritado... E ainda estou um pouco. E eu não deveria, ele está doente, e não fez nada errado, eu não podia ter pensado bobeiras não é? Nem dele e muito menos de você. Deve ter sido ciúmes.

Rodrigo: Sentir ciúmes é bom. Não em excesso, mas mostra o quanto gostamos de alguém. Só que a situação que você me passou é um pouco mais do que isso, e não por sua causa. O que ele fez foi falta de respeito. E eu vou falar com ele.

Ruan: Não Ro, se ele se sentir mal, pode afetar o tratamento. Deixa para lá. Vamos fazer o que você falou mesmo. Se ele gosta da cama, pode ficar com ela. Vou agora mesmo ver uma nova na internet...

De repente três batidas na porta chamou a atenção dos dois

Ellis: 'Só para avisar que eu desliguei o que estava no forno tá! Estava cheirando a queimado.'

Ruan: Queimado!!!? Ah não, não... Não acredito!

Ruan saiu do quarto correndo, e foi para a cozinha. Ellis ficou parado em frente à Rodrigo.

Rodrigo: Eu não sei o que você está pensando, mas é melhor parar com isso!

Ellis: Com isso o quê? Eu só avisei sobre uma coisa no forno.

Rodrigo: Sabe do que eu estou falando.

Ellis: Você só sabe ser bondoso com ele não é? Ele parece muito especial mesmo, mas eu me pergunto... Bem mais que o Leyne foi para você?

Rodrigo: Sim.

Ellis: É, eu tô vendo. Nem pensou para falar. Se quiser eu vou embora da sua casa agora mesmo Rodrigo. Eu não quero dar problemas para você. Eu só pedi ajuda, em um momento que a minha esperança falou mais alto. Era um momento que eu senti que não queria morrer. E quando você me atendeu, tive ainda mais vontade de querer continuar vivendo... Só que agora, tanto faz.

Rodrigo: Não diga isso! Existem muitos motivos para continuar lutando. Você é muito jovem, tem muita coisa para viver, conhecer e aprender também. Eu mesmo sou um exemplo. Em poucos anos, passei por altos e baixos, também tive vontade de nunca mais acordar. Eu continuei vivendo, e continuei vendo as coisas que não queria ver. Mas como eu continuei, outras coisas chegaram, e novos rumos se colocaram na minha frente, então eu tive motivos, descobrir onde esses rumos poderiam me levar. E escolher um deles. Um que me fizesse ser melhor. Não posso avaliar o nível da sua dor, porque só nós sabemos o quanto nos dói, mas posso dizer que se você começar a pensar na pessoa que gostaria de ser, e lutar para isso. Todas as vezes que pensar em desistir, vai se lembrar do quanto mudou, e do quanto conquistou, e isso vai fazer "desistir" não valer mais a pena.

Ellis olhou para Rodrigo com os olhos cheios de lágrimas.

Ellis: Nossa... Realmente você mudou bastante. O Rodrigo que conheci era revoltado, e odiava tudo. Não dá para acreditar que palavras tão bonitas sairam de você.

Rodrigo: Eu não recitei um poema. Eu falei sobre a minha vida.

Rodrigo virou as costas, deu dois passos e depois parou. Sem olhar para Ellis, ele deu um alerta.

Rodrigo: Ellis, Não entre no meu quarto novamente.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***