Capítulo 9 — Conclusão e Ensinamento

O corpo de Eriel aceitou a mana da espada como se fosse algo natural, como se aquela energia já pertencesse a ela desde sempre. A força da lâmina fluía por suas veias, integrando-se a cada célula, tornando-se parte de seu próprio poder. Ela sentiu seus músculos responderem à presença da arma, seu corpo inteiro se adaptando. Força, velocidade, reflexos – tudo aumentava exponencialmente. Um movimento simples era o suficiente para perceber a diferença esmagadora.

Seus olhos se voltaram para Azrael. A espada em sua mão emanava uma aura poderosa, semelhante à Espada Dourada, mas havia algo de estranho. Ao invés de amplificar as características de Azrael, a lâmina parecia estar sugando sua mana. Não só isso, a energia dele estava se fundindo à lâmina, tornando a aura ao redor ainda mais densa, quase opressora.

À sua frente, Sonne observava tudo. A jovem aparentava ter cerca de 25 anos, com longos cabelos dourados presos por uma tiara que ostentava o símbolo do Sol. Seu vestido de seda poderia parecer inapropriado para uma batalha, mas Eriel sabia que, naquele momento, o vestuário era o menor dos problemas. Sonne estava confiante, mesmo diante da força avassaladora de Azrael.

“Ele vem!”, pensou Eriel, seu corpo entrando em alerta.

Azrael avançou. Sua velocidade era tão absurda que ele desapareceu por um instante, e, num piscar de olhos, já estava diante dela. A lâmina dele cortou o ar com um movimento horizontal, quase acertando o pescoço de Eriel. Ela teve sorte de se mover no último segundo, desviando-se da lâmina mortal.

Azrael recuou, como se reavaliasse a situação, antes de começar a se mover novamente. Dessa vez, sua velocidade foi ainda maior. Ele se movia em todas as direções, e tudo o que Eriel podia ver eram resquícios de sua sombra, ecos de sua velocidade inacreditáveis.

Era impossível sentir sua presença. Ele estava em toda parte e em algum lugar ao mesmo tempo. Mas Eriel não podia se permitir baixar a guarda. Acalme-se , disse a si mesma. Ele está se movendo rápido, mas está te dando chance de acertá-lo. Azrael está subestimando. Mostre que ele está errado .

Sonne, ao seu lado, olhou para Eriel com um sorriso encorajador, tentando mantê-la focada, apesar da superioridade de Azrael.

"Ele é forte no outro mundo, mas este mundo é seu!", a voz de Sonne soou com uma firmeza inesperada.

Sim, pensou Eriel, o mundo interno é meu.

Eriel sabia que tinha uma vantagem. O poder do Lorde do Tempo poderia mudar o curso da batalha. Controlar o tempo e congelá-lo por breves momentos oferece uma vantagem que poucos poderiam imaginar. Mas ela também sabia das limitações. O uso dessa habilidade drenava sua mana a uma velocidade alarmante. E embora o mundo interno tenha restaurado sua mana quase imediatamente, não tinha certeza se isso seria o suficiente para garantir sua vitória.

Decidiu tentar.

Ativou o Lorde do Tempo . De repente, tudo ao seu redor desacelerou, permitindo que ela visse onde Azrael estava. Pela primeira vez, seus movimentos ficaram claros. Era como se o tempo estivesse ao seu favor, revelando cada detalhe do seu oponente.

Ela avançou em direção a um ponto aparentemente vazio, desativando e ativando o Lorde do Tempo repetidamente, até que conseguiu prever exatamente onde Azrael estaria no próximo instante. Isso foi o suficiente para se aproximar.

Com toda a sua força, Eriel impulsionou seu corpo e a lâmina cortada o ar com precisão. O tempo pareceu se estender por um breve segundo, e então Azrael parou de se mover, sua expressão incrédula.

"Isso não vai funcionar...", ele murmurou, com um olhar de surpresa.

Um leve corte surgiu no braço direito de Azrael. O ferimento foi superficial, mas foi o suficiente para provar que Eriel o tinha acertado. Foi a primeira vez que ela o feriu diretamente.

Ele vai usar uma de suas habilidades agora... Pensou Eriel, aumentando a tensão no ar.

Sonne, que observou com atenção, ofereceu um conselho mentalmente: Tive uma ideia. Você pode confiar em mim?

Azrael

Um pequeno corte no braço de Azrael foi o suficiente para surpreendê-lo. Ele não esperava que Eriel fosse capaz de acertá-lo, mas subestimar o controle dela sobre o Lorde do Tempo foi um erro grave, um que ele não deveria ter cometido. O corte desapareceu rapidamente, sua regeneração muito superior à de um humano comum. No entanto, Azrael não possuía os mesmos privilégios que Eriel; não podia permitir-se sofrer danos desnecessários.

“Ela não consegue usar sua habilidade por muito tempo, então está alternando... Interessante”, murmurou, ponderando a estratégia de Eriel.

Foi uma jogada inteligente. Ao alternar o uso do Lorde do Tempo repetidamente, Eriel evitava esgotar completamente sua mana, o que tornava a batalha ainda mais desafiadora para ele.

Az…

Sim, eu sei , pensou, respondendo à voz interior de Noir, sua espada, que consumia sua mana constantemente para manter sua habilidade ativa. Se continuasse assim, ele poderia acabar em desvantagem.

Azrael decidiu se acalmar e concentrar a mana em seu corpo. Seus sentidos ficaram mais aguçados, sua força e velocidade aumentaram consideravelmente. O fortalecimento corporal o permitia atingir uma velocidade superior, mas isso também significava um gasto de mana que ele não podia se dar ao luxo de desperdiçar. Diferente de Eriel, o mundo interno não regenerava sua mana. Ele precisava encerrar a batalha rapidamente.

A voz de Sonne ecoou em sua mente, lembrando-o de seu erro. “É isso que você ganha por subestimar minha menina.”

Azrael não pôde deixar de concordar. Subestimar Eriel fora um erro. No mundo exterior, poderia ter funcionado, mas no mundo interno, Eriel era diferente. O poder dela era amplificado por sua própria percepção daquele ambiente, tornando-a um ser transcendental, capaz de utilizar o poder do dragão do tempo.

"Noir, me empreste seu poder!" Azrael ordenou, sua voz firme.

"Claro!" , respondeu a espada.

A energia de Azrael fluiu pela lâmina, mudando sua forma de uma espada para um arco negro. Ele canalizou sua mana, criando flechas negras que disparou na direção de Eriel. Ela se esquivava de cada uma, usando o Lorde do Tempo para se mover entre as distorções temporais. Eriel estava claramente seguindo os conselhos de Sonne, encurtando a distância entre eles. Quando se aproximou o suficiente, sua lâmina cortou o arco de Azrael com precisão.

O som de metal reverberou pelo ar, mas Azrael não hesitou. Transformou o arco de volta em espada e os dois começaram a trocar golpes. Eriel começou a ganhar vantagem, seu uso do Lorde do Tempo a colocava um passo à frente. Pequenos cortes começaram a aparecer no corpo de Azrael, enquanto o sangue manchava sua roupa.

A dor que sentia era real, apesar de Eriel talvez pensar o contrário. Ela provavelmente acreditava que o mundo interno não transmitia danos verdadeiros. Mas ela estava enganada. Azrael sentia cada golpe, e os ferimentos que sofria naquele mundo seriam refletidos em seu corpo no mundo real.

“Essa habilidade é realmente irritante...” murmurou Azrael, já considerando seu próximo movimento.

Ele se perguntou como essa habilidade evoluiria no futuro. Mesmo sem total controle sobre o Lorde do Tempo, Eriel já conseguia pressioná-lo desse jeito. Azrael sabia que, com o tempo, essa habilidade se tornaria algo ainda mais poderoso.

“Chega de brincadeiras”, disse ele, sua expressão endurecendo.

Eriel saltou para trás, provavelmente seguindo outra instrução de Sonne. Mas, desta vez, Azrael já havia ativado sua próxima jogada.

“Cancelar.”

Azrael usou uma habilidade que havia copiado no passado, uma que lhe permitia anular outras habilidades, como o Lorde do Tempo de Eriel. Agora, era hora de acabar com aquilo. Ele sabia que o maior ensinamento para Eriel seria a derrota. Não havia como ela vencer.

Avançando com toda sua velocidade, Azrael alcançou Eriel antes que ela pudesse reagir. Com um golpe certeiro, perfurou seu peito com a espada. Embora não a matasse, aquele seria o fim simbólico do duelo.

No entanto, antes que pudesse perceber, foi ele quem caiu no chão. A lâmina de Eriel estava apontada para seu pescoço, e um sorriso vitorioso brilhava em seu rosto. Azrael piscou, confuso. "Como...?"

"Sim, me tornei arrogante", pensou. Um sorriso se formando em seu rosto. "Achei que poderia vencer facilmente..."

De repente, Sonne apareceu diante dele, e Noir também se manifestou. Até mesmo Zoe parecia surpresa com o que havia acabado de acontecer. Ele não havia previsto o movimento de Eriel, o que não deveria ser possível, considerando que ele tinha cancelado o Lorde do Tempo.

"É isso!" , pensou, finalmente entendendo.

Eriel não havia usado apenas o Lorde do Tempo — ela utilizara uma técnica ainda mais rara: Aceleração de Pensamento.

Sonne sorriu, satisfeita. “Percebeu? Ela sabia que você usaria o Cancelar. Foi um tiro no escuro, mas deu certo.”

Azrael suspirou, admirado com o golpe de sorte e a audácia de Eriel. "Ela me venceu... usando sua própria força e inteligência."

Azrael olhou para Noir, sentindo uma estranha mistura de emoções que nem ele conseguia identificar. A espada parecia incrédula com o que acabara de presenciar, quase como se questionasse o motivo de ele permitir que Eriel o derrotasse. Mas não havia permitido. Em nenhuma realidade ele deixaria isso acontecer. A vitória de Eriel fora legítima, sem nenhuma intervenção ou concessão de sua parte.

Não havia desculpas. Ele foi pego de surpresa, vítima de sua própria arrogância.

"Subestimar..." murmurou baixinho, relembrando os últimos momentos da batalha.

Esse foi o motivo de sua derrota. Ao subestimar Eriel, ele a concedeu a oportunidade perfeita para vencer. Em suas lutas, jamais subestimava seus oponentes. Mas fez isso com ela. Apenas porque Eriel era humana, ele não considerou plenamente as habilidades dela. E esse foi o erro fatal.

"Zoe, Noir... Eu perdi..." admitiu, ainda processando o fato.

Aceitar a derrota não era algo que Azrael estava acostumado a fazer. Em uma luta real, isso significaria sua morte. Mas, felizmente, aquilo era apenas um treinamento. A morte não era uma alternativa nesse cenário, mas a lição era clara. Mesmo em um treino, subestimar um inimigo podia ter consequências devastadoras.

Incrédulo com o desfecho, ele ponderou sobre o que aquilo significava para seu futuro. A derrota o ensinou uma lição valiosa: não deveria subestimar seus inimigos, nem mesmo em treinos.

Saindo do mundo interno, Azrael dirigiu-se à cozinha. Estava faminto e desejava apenas encontrar algo para comer e descansar um pouco. Noir e Eriel decidiram acompanhá-lo, e ele permitiu que Sonne se manifestasse para se juntar à refeição. Normalmente, Sonne preferia permanecer no espaço dimensional onde o tempo era congelado, então Azrael ficou surpreso com seu pedido para acompanhá-los no mundo real. Talvez estivesse interessada no progresso de Eriel durante o treinamento e quisesse observar de perto.

Sonne sempre foi enigmática, mas Azrael sabia que podia confiar plenamente nela. Quando finalmente chegaram à cozinha, ele pensou em preparar algo para comer, mas foi interrompido por Alice, que apareceu ofegante.

"Az! Encontrei você. Tome, alguém quer falar com você," disse Alice, entregando seu telefone com urgência.

Azrael franziu o cenho. Isso era estranho. Ele não se lembrava de ter marcado algo, e muito menos de ter recebido um aviso sobre uma ligação. Era regra na facção humana sempre haver uma notificação para evitar surpresas. Ele pegou o telefone com cautela.

"Quem é?" perguntou, a curiosidade misturada com desconfiança.

"Não sei... Ele não se identificou, mas falou algo que poderia te interessar," respondeu Alice, ainda recuperando o fôlego.

Azrael ponderou por um momento. "Talvez seja Samael?"

Ele não via sua mestra há anos. Não seria estranho que ela tentasse entrar em contato. Levando o telefone ao ouvido, preparou-se para a conversa.

"Quanto tempo, Azrael..." disse uma voz do outro lado, em uma língua que não era humana.

Azrael ficou em choque. Reconhecia aquela língua imediatamente. Seu coração acelerou. A surpresa o dominou.

"Você já sabe quem está falando, certo? Não poderia esquecer tão fácil. Me senti um pouco solidário por Alice não me reconhecer, mas aliviado já que poderia te surpreender~~ Teremos uma conversinha. Atualmente, estou..."

Sem hesitar, Azrael desligou o telefone e se levantou, pronto para partir.

"Me desculpe, tenho que sair," disse rapidamente, deixando o ambiente com um olhar resoluto.

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