Ela está sentada há dez minutos me encarando, e eu não desmanchei minha pose. Encarnei a personagem de uma mulher que não sou eu, mas para enfrentar esse tipo de pessoa, sei que só assim serei levada a sério.
— Ma chère, tive um feedback excelente sobre você, noite passada. Estive pensando nos seus termos e estou inclinada a aceitar, mas com uma condição.
Meu coração acelerou e pareceu bater no fundo da minha garganta.
— E qual seria? Se estiver ao meu alcance, quem sabe... — Respondi, buscando oxigênio nem sei de onde.
— Tenho um cliente especial. Ele te viu ontem e quer pagar meio milhão de euros por uma noite com você. E sabe que isso é muito dinheiro. Se aceitar dançar para esse cliente, eu aceito sua proposta.
Eu queria que um buraco se abrisse no chão. Ela acabou de me propor, mesmo o que pensei? Será que entendi direito?
— Você tem até quarta-feira para me responder, não precisa ser agora! — Disse, levantando-se. O ar estava escasso. Como, em nome de Deus, eu faria isso? E eu nem sei que tipo de cliente essa maluca está tentando jogar para cima de mim.
Ela abriu a porta e saiu, me deixando sozinha em seu escritório. Com certeza, ela sabia que sua condição me afetou. Ela é uma jogadora, e não costuma perder, mas eu preciso aprender a jogar no campo dela.
Oh Deus, eu terei que fazer isso, mas ela disse que é só uma vez. Só assim ela aceitará os meus termos.
...
Entrei no apartamento. Juliana estava aflita, me esperando. O medo que ela carrega nos olhos chega a doer. Ela disfarçava isso em todas as nossas ligações; vez ou outra eu percebia, mas ela sempre tinha uma desculpa. Não imaginava que teria um motivo tão complicado.
— Malí, o que ela queria? Ela aceitou?
Eu sorri e me sentei ao seu lado no sofá. Ela estava de joelhos e parecia bastante agitada.
— Ela disse que teve um feedback muito bom, e que me quer dançando para ela no próximo final de semana.
Seus olhos se arregalaram, ela sorriu, me abraçou apertado e começou a chorar. Eu sei que, se contar a condição a ela, ela nunca permitiria, e eu não vou fazer isso com ela.
— Obrigada, obrigada, obrigada. Eu nunca vou poder te agradecer o suficiente. Ela disse quanto tempo precisaremos dançar?
Ela me soltou e me encarou. Como dizer que não negociei ainda, pois não tive coragem de dar a resposta, mesmo já tomando a decisão?
— Vamos conversar na próxima semana.
Ela assentiu e limpou as lágrimas.
— Isso mesmo, chega de choro. Logo você vai ver seus pais e seu irmão!
Ela abriu um sorriso e seus olhos inundaram de novo.
— Eles pensam que estou trabalhando como promoter. Até disse que estava fazendo bico de garçonete. Odeio mentir para eles, mas como eu diria o que faço!?
Ela limpou as lágrimas que voltaram a cair.
— Logo teremos uma resposta. Na sexta-feira, eu preciso ir até lá para acertar tudo com ela.
Eu disse, e ela me olhou assustada.
— Não assine nada!
Assenti, e ela respirou aliviada.
— Você precisa descansar, vai dançar hoje!
Disse, e ela assentiu, levantou-se e foi para seu quarto.
Tenho quatro dias para me preparar para fazer o que ela quer que eu faça. É só uma vez, vou me agarrar a isso.
Me deitei no sofá. Tem duas horas que não consigo desligar, é tortura. Eu não vou conseguir respirar até a quarta-feira, preciso resolver isso já, ou vou enlouquecer.
Juliana está dormindo tranquilamente. Já fui ao quarto dela duas vezes. Andei pela casa e sei que não vou conseguir ter paz enquanto não resolver isso.
Peguei minha bolsa, pedi um carro de aplicativo e segui até a boate.
Amélia estava com um sorriso enorme quando me viu. Acho até que alguns dos procedimentos estéticos devem ter se arrebentado.
— Vejo que é uma garota decidida. Já tem minha resposta? — Ela perguntou, mas sabia bem que sim.
— Minha resposta é sim, mas não quero que ninguém saiba, principalmente Juliana.
Ela assentiu, sorrindo vitoriosa.
— Feito. Vou mandar uma mensagem para meu cliente, te avisarei e mandarei te buscar. Jason será seu segurança. Eu cuido das minhas meninas.
Mulher nojenta. Gostaria de dizer o que penso, mas não estou na posição que quero no momento.
— Tudo bem, eu aguardo.
Dei as costas e saí. Não consegui falar mais nenhuma palavra.
...
As horas protelaram a passar, e uma ansiedade incomum me dominou. Meses atrás eu não me preocuparia com nada desse tipo. Apenas com que roupa eu usaria para sair à noite com Samuel, qual batom ele gostava mais, o perfume... Ah, Samuel, ele virou minha vida de ponta-cabeça.
A mensagem chegou minutos depois de Juliana sair, o que me aliviou ao pensar que talvez ela esteja cumprindo a parte dela.
Jason estava no carro, estacionado em frente ao prédio. Entrei em silêncio. Sem saber como me comportar depois do que houve, não consigo encará-lo. Seu perfume másculo predominava no carro.
Chegamos à boate, ele estacionou no subsolo, entramos no elevador e eu o segui pelos corredores até o sétimo andar, onde paramos em frente a uma porta vermelha.
Eu estava tentando respirar. A mulher que dançou confiante e dominante não está aqui agora.
Eu o encarei de verdade pela primeira vez hoje.
— Eu não vou deixar ele machucar você. E pode usar isso. — Ele tocou meu braço, e eu senti que ele dizia a verdade. Ele me entregou a máscara que usei na primeira apresentação.
— Obrigada. — Coloquei a máscara, respirei fundo, fiz sinal de que sim. Ele abriu a porta e eu entrei.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 83
Comments
Elis Alves
Segundo erro
1 erro foi ir falar com a safada e não ter gravado nada
2 erro foi não ter colocado valores no assunto
Não sabe qto a amiga "deve"
Não ter colocado prazo pra terminar e não ter escondido o passaporte antes
2025-01-08
1