#4 - Na Trilha das Obrigações

...Oliver...

■ Jardim... 🌿

O cheiro fresco das plantas recém-podadas pairava no ar, misturado ao perfume sutil das rosas brancas espalhadas pelo jardim. No entanto, essa tranquilidade contrastava com minha inquietação ao encontrar meu avô, Alexander, de joelhos sobre a terra, podando algumas plantas com mãos firmes, mas envelhecidas pelo tempo.

Cruzo os braços e o observo por alguns instantes antes de finalmente me manifestar:

Oliver — Posso saber o que o senhor faz aqui? — Minha voz sai séria, carregada de preocupação.

Ele continua com seu trabalho, ignorando meu tom.

— Pelo que o doutor Derek me informou, o senhor deveria permanecer em repouso por pelo menos uma semana.

Ele solta um suspiro pesado, como se já estivesse cansado daquele assunto.

Alexander — Aquele linguarudo do Derek não sabe de nada. — Sua voz grave carrega impaciência, enquanto ele descarta um galho seco com um movimento rápido da tesoura de poda. — Não existe nada mais relaxante do que isso que estou fazendo. E vocês estão muito enganados se pensam que vou passar uma semana deitado em uma cama. Se eu fizer isso, aí sim eu morro.

Minha mandíbula se contrai ao ouvir suas palavras.

Oliver — Não diga bobagens, vô. — Meu tom se suaviza, mas minha preocupação continua evidente. — Tudo o que queremos é o melhor para o senhor. Então, trate de seguir as orientações do doutor. Pelo menos dessa vez.

Pauso por um instante e respiro fundo antes de completar:

— Prometo me encarregar de tudo na empresa.

Meu avô se endireita e me encara com aqueles olhos sábios, sempre cheios de uma autoridade inquestionável.

Alexander — Isso quer dizer que você vai assumir o comando da G&L Automotive?

Engulo em seco antes de responder.

Oliver — Na verdade, minha ideia era ajudar o tio Ricardo. Ele...

Mas meu avô me interrompe com uma risada seca, balançando a cabeça em reprovação.

Alexander — Ricardo não é um González, e você sabe muito bem que ele não tem colhões para assumir tal posição. — Seu olhar fica mais severo. — Apesar de ser irmão mais novo de seu pai, que Deus o tenha...

Ele leva a mão ao peito e faz uma breve pausa, parecendo nostálgico. Seu semblante se suaviza por um instante, mas logo volta à sua firmeza habitual.

— Ele não parece ter aprendido nada com ele. E não devo te lembrar que, graças à sua má administração, nossa filial da França quase fechou as portas.

Seus olhos se voltam para mim novamente, carregados de determinação.

— Quero que você assuma o meu lugar. Não consigo pensar em ninguém melhor para ocupar o cargo que muito em breve deixarei vazio.

Minha mente retorna ao passado, ao legado de nossa família...

Meu tio Ricardo era o caçula da família Lewis, enquanto meu pai, Steban, era o primogênito. Após o falecimento de meus avós, os dois assumiram o comando da antiga Lewis Automotive. Contudo, diante de uma crise financeira, receberam a proposta de fusão do meu avô.

Ele não apenas exigiu 75% do controle da empresa, mas, em um ato que chamou de "benevolente", propôs a união de sua única filha com o filho mais velho da família.

O casamento dos meus pais começou como um mero acordo, mas, contra todas as probabilidades, eles acabaram se apaixonando. Ainda assim, não consigo evitar o pensamento incômodo de que, se esse casamento não tivesse ocorrido, talvez estivessem vivos hoje. Mas, ao mesmo tempo, se isso não tivesse acontecido... eu sequer existiria.

Expulso esses pensamentos da minha mente e volto a encarar meu avô.

Oliver — Vô, com minha ajuda, o tio Ricardo pode se sair bem e...

Ele me interrompe novamente, desta vez com um olhar afiado.

Alexander — Você só diz isso porque não deseja se casar.

Meu corpo enrijece. Fecho os olhos por um breve segundo, já esperando o rumo que essa conversa tomaria.

Oliver — Se o senhor sabe disso, por que ainda insiste nessa ideia absurda? — Minha voz soa exasperada.

Ele solta um riso baixo, aquele riso de quem acredita saber mais do que eu mesmo.

Alexander — Meu filho, você está com quase 30 anos e ainda não o vi se comprometer com ninguém. Já está na hora de você...

Oliver — Lá vem o senhor de novo com essa história de casamento. — Reviro os olhos, tentando manter a paciência. — Já disse que não desejo assumir a empresa. Não me importo em...

Alexander — Sei que diz isso da boca para fora. — Ele me interrompe, sua expressão agora tomada por um olhar nostálgico. — Lembro muito bem que, quando jovem, seus olhos brilhavam ao olhar para a cadeira da presidência.

Ele faz uma pausa, analisando minha reação antes de continuar.

— Esse é o legado que seus pais deixaram para você. O legado que eu desejo te passar. Já passou da hora de você sossegar, montar uma família. Não estarei ao seu lado para sempre, e meu último desejo é vê-lo bem casado.

Então, como se estivesse tirando um trunfo da manga, ele pega o telefone do bolso e exibe uma longa lista na tela.

— Quero que encontre uma boa esposa. Até já tenho algumas jovens em mente.

Meu rosto se contorce em frustração.

— São todas de boa família, educadas, bonitas... Alguma deve agradá-lo.

Minha respiração se torna pesada, prestes a rebater mais uma vez essa conversa sem fim, mas, de repente, ele leva a mão ao peito, seu semblante mudando drasticamente.

— Acho que me esforcei demais... Estou sentindo um aperto no peito. — Sua voz sai ofegante.

Meu coração dispara.

Oliver — Espero que isso não seja nenhum fingimento para me...

Antes que eu possa terminar minha frase, meu avô desmaia.

— Vô! — Grito, sentindo o pânico tomar conta de mim.

Caio de joelhos ao seu lado, segurando seus ombros com firmeza.

— Vô! Vô! — Meu desespero aumenta enquanto procuro meu telefone com mãos trêmulas.

A tranquilidade do jardim se esvai, dando lugar ao medo que aperta meu peito. Sem pensar duas vezes, disco o número do doutor Derek, rezando para que ele atenda o mais rápido possível.

...☆☆☆☆☆☆...

O som do monitor cardíaco preenchia o silêncio do quarto, enquanto a brisa leve da noite entrava pela janela entreaberta. A iluminação suave do abajur criava sombras no rosto cansado de meu avô, que, apesar da palidez, mantinha o olhar determinado.

Derek, de braços cruzados e expressão séria, suspirou antes de falar:

Derek — Acho que fui claro quando disse que seu avô não devia se estressar ou fazer esforço. Ainda não consigo entender o que ele fazia no jardim quando deveria estar em repouso na cama.

Eu, sentado na poltrona ao lado da cama, passei a mão pelo rosto, frustrado. Meu tom carregava exasperação e cansaço, mas também um fundo de preocupação genuína.

Oliver — Como se você não conhecesse ele. Nunca escuta nada do que falamos, sempre fazendo o que bem entende.

Meu avô bufou, sua voz rouca soando impaciente.

Alexander — Não sou nenhuma criança! E vejam se param de falar como se eu não estivesse ouvindo!

Derek — O que eu acabei de dizer? — Derek retrucou, elevando minimamente a voz, sem esconder sua impaciência. — Nada de estresse!

O idoso resmungou, mas um brilho astuto surgiu em seus olhos ao se virar para mim.

Alexander — Se meu neto colaborar comigo, tenho certeza de que não me estressarei nunca mais.

Antes que eu pudesse questionar, ele pegou o telefone do criado-mudo ao lado da cama e, com um sorriso satisfeito, deslizou o dedo pela tela até abrir novamente a longa lista de nomes.

Oliver — Vô, não acho que seja o momento para voltarmos a esse assunto — murmurei, massageando as têmporas.

Alexander — E quando será, então? — Ele retrucou de imediato, arqueando uma sobrancelha. Seu tom carregava um quê de drama, mas também algo genuíno. — Você não percebe que logo seu avô vai dessa para melhor? Meu último desejo é ver o meu único neto casado.

Revirei os olhos, suspirando pesadamente.

Oliver — Vô, já falei que não...

Alexander — Eu tenho um neto ingrato — Interrompeu ele, deixando o telefone de lado e cruzando os braços. Seus olhos brilhavam com uma mistura de teimosia e mágoa contida. — Depois de todos esses anos cuidando de você, é isso que recebo? São esses desgostos que estão adoecendo meu pobre coração.

Fechei os olhos por um instante, lutando contra a frustração crescente. Era impossível argumentar com ele quando entrava nesse modo.

Oliver — Ok, vô... Eu vou fazer o que deseja. Vou a quantos encontros o senhor quiser, ok?

Os olhos dele se iluminaram. Seu semblante antes abatido parecia ter recuperado um pouco da energia habitual.

Alexander — Ótimo! — Ele disse, apanhando o telefone com animação. — Vou ligar agora mesmo para Valentina e pedir para ela organizar tudo para hoje à noite.

Arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços.

Oliver — Tão rápido assim? Por acaso o senhor tem medo que eu desista?

Ele sorriu de canto, um brilho divertido em seus olhos experientes.

Alexander — Melhor prevenir do que remediar, já dizia o ditado.

Oliver — Ok, vô, faça como quiser... — disse, resignado, recostando-me na poltrona.

O idoso voltou a deslizar os dedos pela tela, seus olhos analisando atentamente a lista.

Alexander — Vamos ver... Que tal Nicole Monet?

Ergui o olhar com ceticismo.

Oliver — Quem?

Alexander — Nicole Monet — repetiu ele, com um tom satisfeito. — Filha de Peter Monet, dono de uma grande rede de hotelaria. Já a vi em alguns eventos. Tenho certeza de que você vai gostar dela.

Suspirei, afundando ainda mais na poltrona.

Oliver — Não garanto nada, vô. Então, é melhor não criar muitas expectativas.

Alexander — Não precisa me prometer nada, só vá e conheça a moça.

Observei-o por um instante antes de estreitar os olhos.

Oliver — Mas por eu ter concordado com isso, quero que o senhor permaneça nesse quarto até segunda ordem. Está entendendo?

Ele suspirou dramaticamente, levando a mão ao peito como se estivesse sendo forçado a um grande sacrifício.

Alexander — Sim, sim, prometo seguir as ordens do doutor.

Derek balançou a cabeça, descrente, enquanto eu lançava um olhar duvidoso ao avô.

...☆☆☆☆☆☆☆...

*■*Quarto...

📱 Cell

Vitor — Como assim, você vai a um encontro? — A voz de Vitor soa divertida, carregada de sarcasmo.

Antes que eu possa responder, escuto Victoria ao fundo.

Victoria — De que encontro está falando?

Vitor — Oliver está me dando um bolo porque tem um encontro — Vitor responde, e logo depois cai na gargalhada.

Reviro os olhos, recostando-me contra os travesseiros.

Oliver — Já vi que não dá para conversar com você...

Vitor — Espera aí, você tá falando sério? — ele pergunta, ainda incrédulo.

Oliver — Preciso desligar agora. Quando você terminar de rir da minha desgraça, conversamos.

Vitor — Não desliga! Quero entender...

Não dou tempo para mais provocações e encerro a chamada, jogando o celular no colchão ao meu lado. Passo a mão pelo rosto, exausto.

...☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆...

Olho para o relógio na cômoda e vejo que já estou no horário do encontro, mas não sinto nenhuma pressa em sair. Pelo contrário, me arrumo da forma mais lenta possível, quase como se cada movimento fosse uma forma de resistência.

O espelho reflete meu rosto entediado enquanto ajeito o colarinho da camisa sem qualquer entusiasmo.

Oliver — Talvez, se eu me atrasar um pouco, ela odeie tanto que vá embora... — murmuro, deixando escapar um sorriso de canto.

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Personagens:

...Alexander González...

...( Avô de Oliver)...

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