#20 - Flash de Uma Noite

...Eduarda...

■ Cobertura

Eduarda — Boa tarde, Betty. Preciso que o senhor Oliver assine…

Paro de falar assim que noto que ele não está sozinho. Através do vidro, observo Oliver e uma loira rirem bastante. É nítido o quanto os dois são próximos, apenas pela liberdade com que conversam e sorriem.

Odeio o fato de isso me incomodar. Odeio o fato de não conseguir parar de encará-los.

Betty — Senhorita Eduarda? — Betty me chama.

Eduarda — Me desculpe, Betty, eu… — digo, ainda os encarando freneticamente.

— Eu preciso que ele assine isso com urgência.

Betty — Um momento. — Ela pega o telefone e me anuncia.

— O senhor pediu para a senhorita entrar.

E assim eu faço.

Eduarda — Boa tarde. Sinto muito por incomodar o senhor, mas preciso desses documentos assinados.

Oliver — Deixe-me ver — Oliver responde, pegando os papéis das minhas mãos e os analisando.

Enquanto isso, minha atenção se prende à presença dela. A mulher que está ao lado dele. O desgosto cresce dentro de mim sem que eu consiga controlar.

Loira — Você é nova aqui? — Sua voz soa indiferente.

— Não lembro de já tê-la visto antes.

Eduarda — Sou do setor de desenvolvimento. Imagino que a senhorita não vá muito lá.

Loira — Ah, claro. Realmente, nunca fui nesse andar. Quando venho à empresa, é mais para ver meu irmão Vitor e Olli.

Eduarda — Olli? — repito, encarando-o, sem conseguir evitar o incômodo com a proximidade dos dois.

Loira — Ele odiava que eu o chamasse assim, mas acabei vencendo pelo cansaço — ela brinca.

— Sei que esse mal-educado não vai nos apresentar, mas me chamo Victoria.

Ela estende a mão em um aperto firme, que eu aceito sem muita escolha.

Eduarda — Eduarda.

Victoria — Eduarda? — Ela repete meu nome, agora olhando diretamente para Oliver.

— Ela é a sua Eduarda?

A pergunta me surpreende.

E, naquele instante, me recordo da noite anterior. Quando Oliver se referiU a mim exatamente assim.

Meus olhos buscam os dele, e ele retribui o olhar.

Silêncio.

...☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆...

...Oliver...

■ Sala da Presidência

Victoria — Eduarda? — Victoria pergunta, olhando diretamente para mim.

— Ela é a sua Eduarda?

Vitor e Victoria são os amigos mais próximos que tenho. Mas Vitor, seu irmão, é a pessoa em quem mais confio. Ou pelo menos confiava… Já que ele não consegue manter aquela boca fechada com Victoria.

Não que eu não confie nela, mas existem coisas que não acho relevante ela saber. Ainda mais porque estou ciente dos sentimentos que nutre por mim. E, apesar de não vê-la desse modo e tentar ao máximo não alimentar suas expectativas, nunca quis magoá-la.

Encaro Eduarda da mesma forma que ela me encara, pouco antes de responder.

Oliver — Sim, é a minha Eduarda.

E, quase que de imediato, uma memória da noite anterior surge em minha mente.

Na verdade, flashes de supostos acontecimentos que antes não lembrava começam a tomar forma.

■ Flashback

Eduarda — Vem, vamos entrar. — Eduarda tenta se aproximar de mim, mas eu recuo.

Oliver — Não me toque! Eu sou um homem casado. Você não está vendo? — digo, praticamente enfiando minha aliança em seu rosto.

— Vitor, quem é essa mulher? — Me vejo gritando com meu amigo.

Vitor — Sua esposa, quem mais seria?

Oliver — Ela é a minha Eduarda? — Aproximo meu rosto do dela.

— Verdade… é ela mesma. — Me vejo sorrindo feito um bobo.

Lembro perfeitamente de tudo.

De Eduarda rindo enquanto me carregava até o quarto, mandando que eu ficasse em silêncio durante todo o percurso. Dela me colocando sentado na cama.

E de tudo o que aconteceu depois disso.

Não pode ser.

Nós dois dormimos juntos?

A pergunta ecoa na minha mente, e ainda custo a acreditar.

Por que será que ela não disse nada?

E o pior de tudo… eu me desculpei pela bebedeira.

Mas será que ela entendeu que eu estava me desculpando pelo…

Não!

Ela não deve ter pensado isso.

Ou deve?

Minha cabeça gira com essas questões, incapaz de afastar essa ideia da minha mente. Ainda mais pelo jeito que ela agiu hoje cedo, quando conversamos.

Não posso ter estragado tudo.

Não é possível.

Meus pensamentos são interrompidos por Victoria, que tagarela animadamente com Eduarda, como se fossem melhores amigas que não se viam há anos.

Ainda estou assimilando o que dizer a seguir quando finalmente tomo uma decisão.

Oliver — Victoria, você pode nos deixar a sós?

Victoria — É claro. — Ela responde sem qualquer hesitação.

— Foi bom te conhecer, espero te ver em breve. — Se despede de Eduarda e depois de mim antes de deixar a sala.

Agora, somos apenas nós dois.

Continua....

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