#8 - Caminhos Cruzados e Encontros Inesperados

...Oliver...

Sra. Raymond — Deve ter acontecido alguma coisa. A essa hora, sempre encontro Eduarda na sala estudando. É realmente uma pena não conseguir apresentá-los. Quem sabe em uma próxima oportunidade? Deixarei você preparar sua aula. Boa sorte com os alunos. Tenho certeza de que irá se sair bem, meu filho. Seus pais teriam orgulho do homem que você se tornou.

Ela leva as mãos ao meu ombro em um gesto afetuoso antes de sair da sala, deixando para trás um silêncio carregado de significado. Respiro fundo, ajustando os materiais sobre a mesa e organizando mentalmente a estrutura da aula. Enquanto isso, os alunos começam a chegar, enchendo o ambiente com um burburinho animado. Consigo notar os olhares surpresos que me lançam ao me ver ali, claramente sem esperar um novo professor.

Quando a maioria das cadeiras já está ocupada, inicio minha apresentação e respondo às dúvidas que surgem. Como em toda turma, há aqueles que insistem em chegar atrasados. E é exatamente quando estou pontuando esse detalhe que um ruído no fundo da sala chama minha atenção. O som de objetos caindo ecoa no ambiente, atraindo olhares curiosos.

Dirijo-me até a origem do barulho e vejo uma aluna ajoelhada, recolhendo seus pertences com pressa e visível nervosismo. Seus movimentos são apressados, quase desajeitados, como se tentasse desaparecer dali o mais rápido possível. Sua identificação repousa a poucos centímetros de mim, chamando minha atenção. Antes que ela consiga pegá-la, já a tenho em mãos.

Oliver — Imagino que isso também seja seu, senhorita...

Minha voz vacila levemente quando leio o nome. Meu olhar sobe lentamente até o rosto dela, e então a surpresa me atinge como um choque elétrico. Não pode ser. Meus olhos encontram os dela, que agora me encaram com evidente apreensão.

— Clarke, certo? — Minha voz sai um pouco atordoada, como se meu cérebro ainda tentasse processar o que estou vendo.

Isso não pode ser possível!

Minha mente trabalha freneticamente, buscando uma explicação plausível para aquilo. Eduarda Clarke. A mesma mulher do nosso primeiro encontro. Mas por quê? Por que ela se passaria por Nicole Monet?

Engulo em seco, forçando-me a manter o controle diante da turma. Sei que essa não é a hora nem o lugar para confrontá-la, e definitivamente não quero uma plateia para essa conversa. Mas ela me deve explicações. E terá que fornecê-las, caso não deseje ser acusada de falsidade ideológica.

Volte ao seu lugar, senhorita. Caso contrário, serei obrigado a adverti-la.

Minha voz sai firme, mas dentro de mim, tudo está uma bagunça. Relutante, ela obedece, caminhando de volta para seu assento. Seus passos hesitantes denunciam sua inquietação.

Retorno à aula, mas minha mente continua dividida. A presença dela ali, a identidade dupla, tudo isso me intriga mais do que deveria. E então, uma ideia surge. Se ela for minha assistente, terei a chance perfeita para um interrogatório sem testemunhas. Mas, como se soubesse de minhas intenções, ela se recusa ao cargo, empurrando uma colega em seu lugar.

Denise. O tipo de aluna que não disfarça nem um pouco seu interesse em mim. O brilho nos olhos dela deixa claro que vê essa oportunidade como algo além do acadêmico. Mal sabe ela que não tenho o menor interesse em mulheres assim. Gosto de desafios, de enigmas a serem desvendados. E, por mais que já tenha me envolvido com mulheres fáceis como ela no passado, estabeleci uma regra: jamais misturar trabalho com vida pessoal.

Portanto, para mim, Denise não passa de mais uma aluna. E qualquer falsa esperança que ela possa ter pode ser descartada imediatamente.

...☆☆☆☆☆☆...

Era de se esperar que Eduarda fugisse assim que a aula terminasse. Então, não fico surpreso quando não a encontro. Infelizmente, Denise continua me importunando mesmo depois que deixo a sala. Vi as duas conversando, então não é difícil fazê-la me levar até o paradeiro da amiga.

Quando passamos pela porta da cafeteria, lá está ela. Como esperado, ao notar nossa presença, Eduarda fica visivelmente tensa. Denise segue diretamente até a mesa onde ela e outra garota estão sentadas.

...☆☆☆☆☆☆...

Denise — Olá, meninas! Estou mostrando a universidade ao professor. Ele perguntou onde os alunos costumam ficar entre os intervalos das aulas e eu o trouxe aqui.

Eduarda — Ótimo. - Ela fala, forçando um sorriso.

Denise — Eu e minha falta de educação! Nic, esse aqui é nosso novo professor. Duda já deve ter falado sobre ele para você. Professor, essa aqui é Nicole, mas a chamamos de Nic. Ela e Eduarda são priMas.

Ao escutar isso, tudo começa a fazer sentido. O que me deixa bastante irritado. Quem essas duas pensam que são para me fazer de idiota?

Mas isso não vai ficar assim. Não vai mesmo. — Penso.

Oliver — Então, as duas são primas? — Pergunto sarcasticamente e posso notar o pânico nos olhos de Nicole, enquanto ela murmura algo.

Eduarda — Sim, somos. - Ela responde no mesmo tom, recolhendo seus pertences com rapidez. — Temos que ir agora, tenho uma apresentação importante de Tribologia. Nic, você também não disse que tinha uma aula de Comunicação Política agora?

Nicole — Verdade, eu também preciso ir agora.

Denise — Mas ainda faltam...

Eduarda — Nos vemos depois. — Ela fala, deixando a cafeteria às pressas.

...☆☆☆☆☆☆...

...Eduarda...

Assim que saímos da cafeteria, Nic solta um longo suspiro, visivelmente aliviada.

Nicole — Essa foi por pouco.

Seu olhar percorre o corredor movimentado, como se ainda temesse que Oliver aparecesse a qualquer momento para confrontá-las.

Cruzo os braços e balanço a cabeça, sentindo um peso se instalar no meu peito.

Eduarda — Ficou mais do que nítido que ele já sacou tudo.

Minha voz sai firme, mas por dentro, uma onda de ansiedade me corrói. Oliver não é tolo. E agora, pior do que lidar com a culpa, tenho que encarar as consequências dessa confusão.

Nic passa a mão pelos cabelos, inquieta.

Nicole — Eu sei… Meu pai vai me matar quando souber.

Ela parece verdadeiramente preocupada, e, por um instante, até sinto pena. Mas não posso ignorar o fato de que tudo isso poderia ter sido evitado.

Respiro fundo antes de falar, tentando manter a calma.

Eduarda — Eu bem que avisei que era uma péssima ideia substituir você naquele encontro.

Meu tom não é de julgamento, mas de frustração. Uma frustração que só cresce a cada segundo.

Nicole — Eu sei… — murmura ela, desviando o olhar. — Não precisa ficar me lembrando disso.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, caminhando lado a lado pelo corredor da universidade. Meus pensamentos giram em torno do caos que está prestes a desabar sobre mim.

Eduarda — Preciso dar um jeito nessa bagunça toda que você me meteu. — Minha voz carrega um tom de cansaço. — Vou falar com a senhora Raymond. Se conseguir conversar com ela, talvez consiga substituir essa matéria por outra.

Faço uma pausa, engolindo em seco antes de continuar.

— E quanto ao meu estágio… — respiro fundo, sentindo um nó apertar minha garganta — já posso dizer adeus a ele. Pois acho bem difícil ele concordar com minha contratação depois de tudo.

Nic arregala os olhos, claramente se sentindo ainda pior.

Nicole — Estou me sentindo péssima… Eu juro que não fazia ideia de que você ia estagiar justo na empresa do avô dele. — Sua expressão é de puro arrependimento. — Sinto muito, Duda. Sinto muito de verdade.

Sorrio de canto, mas não há qualquer humor nisso. Apenas resignação.

Eduarda — Pois é… Tenho certeza de que ele vai me demitir assim que eu colocar os pés na G&L hoje.

Minha voz sai mais amarga do que eu pretendia, mas não consigo evitar.

Nic balança a cabeça com veemência.

Nicole — Ele não vai! Eu vou resolver toda essa confusão. Vou explicar para ele que fui eu quem te obrigou a ir ao encontro. Eu…

Levanto uma mão, interrompendo-a antes que ela continue.

Eduarda — Não é necessário. Você tem problemas maiores com que se preocupar agora.

Meu olhar encontra o dela, tentando passar uma segurança que nem eu mesma sinto.

Eduarda — Deixa que eu cuido de tudo. Falarei com ele na empresa. Tenho outras propostas de estágio… Eu vou ficar bem. Não se preocupe.

Ela hesita, mordendo o lábio, claramente dividida entre insistir e aceitar minha decisão.

Nicole — Mas…

Forço um sorriso, mesmo sabendo que ele não chega aos meus olhos.

Eduarda — Não se preocupe, eu estou bem.

Digo apenas para tranquilizá-la. Mas, no fundo, isso não poderia estar mais longe da verdade.

Trabalhar na G&L sempre foi o meu maior sonho. É a melhor empresa automotiva do mundo. Saber que todo o esforço que fiz para alcançar esse sonho pode ter sido em vão é frustrante.

E o pior de tudo?

Saber que tudo desmoronou por causa de uma mentira.

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