William sentiu da parte do homem uma certa preocupação com o pedido, pois também sabia os riscos de voltar para casa e se deparar com os assassinos da sua família e do seu povo. Por outro lado, não podia esperar mais e três meses era muita coisa sim, ao contrário do ponto de vista do Imperador Branco. Para o jovem príncipe, quanto mais tempo passava, mais tempo se perdia, pois, reconstruir aquele reino seria uma missão para toda a sua vida, um fardo terrível que jamais gostaria de imaginar ou desejar para alguém.
— Sim senhor, entendo sua preocupação e obrigado por me ver como igual, outro no seu lugar não me veria assim, mesmo com alianças passadas. Contudo, é necessário que eu vá, os sobreviventes merecem respostas, merecem saber que um dia poderemos voltar até nosso lar, mesmo que ele esteja diferente. Senhor, ainda que eu precise reerguer das cinzas o nosso reino, não vou e não posso desistir tão fácil. Eu sei que está preocupado, mas eles me pegaram de surpresa naquele dia, ou melhor nos pegaram de surpresa e nos enfraqueceram, mas dessa vez eu irei pronto para matar ou para morrer — disso ele de uma maneira que mexeu com os três à sua frente.
Jade a Imperatriz mirou os seus olhos no marido, afinal era mãe e filha, e de uma forma ou de outra entendia o que se passava no coração do menino, por isso imaginou ser a melhor pessoa para tratar daquele assunto. Assim a mulher de aparência jovem cabelos brancos e olhos vermelhos aproximou-se do marido e sussurrou algo no seu ouvido para surpresa dos ministros, magos e generais do Imperador, além das suas esposas e maridos, que já estavam intrigados com toda aquela conversa.
Para todos era muito estranho Jade tomar uma atitude, afinal aquela mulher que pouco se expressava diante de todos, parecia apenas uma boneca de exposição, um comentário malicioso que corria aquelas terras, as costas do Imperador.
— William, se me permite. Como pretende ir até o seu reino sozinho? — Questionou a mulher ao menino — Digo, todas as minhas tropas estão naquela região, tentando impedir o avanço dessas terríveis criaturas, como você acha que irá derrotá-los se encontrá-los por lá? Não é aconselhável que vá, pois ainda não entendemos os seus poderes o que fará se perder o controle novamente? — concluiu.
William mirou os olhos na mulher e admirou sua atitude de falar com ele na frente de todos, pois sempre que ela falava eles estavam a sós reunidos.
— Muito bem imperatriz, o que ocorre é que minha habilidade vai muito além do que já mostrei a vocês e acho que já tinha uma noção disso. Sei como usam suas habilidades e de alguma forma consigo refazê-las, não copiá-las, mas conforme a minha vontade deixo-as mais fortes ou mais fracas, foi assim que consegui as habilidades de Movimento Espacial usado por sua filha Nêmesis, a Capitã do Esquadrão Platina, quando a vi usar em seus treinamentos — revelou — Por outro lado não creio que aquilo acontecerá novamente, tenho minhas razões para acreditar que depois de hoje talvez eu tenha mais controle sobre isso, afinal como tem conhecimento, é breve o momento em que me tornarei um adulto e para o povo sereiano isso é muito especial.
Ouvir aquelas palavras era sempre uma surpresa, refazer poderes iria muito além do que eles imaginavam, afinal se ele era capaz disso, então até onde ele poderia alcançar? Que perigos ele poderia trazer? Por outro lado William afirmar que poderia ter controle de seu poder seria um bom negócio, afinal de uma forma ou de outra era amigo do império então poderia ser útil no futuro.
Intrigado, o imperador colocou a mão no queixo ao escutar as palavras do garoto em sua mente. Apesar de ter consciência disso há algum tempo, uma questão lhe subiu na cabeça, e se William pretendesse atacar o império algum dia? Talvez se ele continuasse a aprender mais sobre o império ou melhor sobre questões internas, em algum futuro ele poderia ser a ruína com centenas de pessoas mortas, mas claro isso era apenas um pensamento de um velho que ainda não havia superado os terríveis problemas que enfrentou em suas guerras, perdas e traições, William jamais faria isso pelo amor que tinha por Nêmesis e pelo respeito que seus pais tinham pelo imperador e sua esposa.
— Sim e quero que entenda que só esse fato já te torna uma pessoa ou a pessoa que mais devemos proteger nesse palácio — disse ela fazendo a tensão aumentar entre todos os que estavam a mesa, que por mais que aparentemente muitos não entendessem o que estava sendo falado ali, entendiam que era algo sério — E outra, como pretende lutar? Se alguém aparecer você precisará enfrentá-los, me diga como fará isso? Pode ter todo esse poder, mas seu corpo parece não suportar por alguma razão — Questionou a mulher.
O garoto levou a mão na cabeça com um sorriso no rosto, algo que não fazia muito naquele mundo, se sentir tão normal, mas aquela mulher até parecia sua mãe com tantas questões.
— Concordo, "não posso lutar" por enquanto. Por isso, gostaria de levar comigo um acompanhante — revelou ele, para a alegria de Nemesis que já se ajeitou sobre a cadeira onde estava.
Nemesis sentou-se melhor no seu lugar, pois era certo que por suas habilidades de batalha ela seria escolhida para ir com o garoto, mas claro o dia dela também seria cheio, então logo desanimou imaginando que não seria escolhida.
— Então diga, quem gostaria de levar? — Perguntou a mulher curiosa.
A verdade era que William nem tinha noção ainda de quem levar, pois aquilo nada mais era do que uma desculpa desleixada para sair do palácio. Por outro lado, havia lembrado que ainda não podia voltar ao combate tão cedo, pelo menos era essa uma precaução que ele estava tomando com relação a sua saúde, na qual só ele e a imperatriz tinha conhecimento, mesmo o próprio imperador buscou não saber quais lesões o garoto levava consigo temendo algum vazamento entre os nobres.
William então olhou de um lado a outro enquanto alguns dos nobres e generais miravam seus olhos nele, não achando ninguém de sua confiança o garoto mirou seus olhos em uma empregada concentrada que aguardava a uma certa distância o término da refeição de todos para recolher os objetos.
— Que tal Leona? Descobri há alguns dias que ela maneja muito bem as espadas. Estilo com Sabre, se não me engana a memória — sugeriu ele para a surpresa de todos que podiam escutar sua voz telepática, inclusive Nemesis que apesar das circunstâncias ainda esperava ser chamada.
Todos os que podiam escutar a voz telepática do garoto em suas mentes, ou seja, até onde se sabia, o imperador, sua esposa e filha, de forma sincronizada, torceram o rosto na direção da menina que permanecia em pé a três metros de distância da mesa sem fazer nenhum movimento que pudesse acusá-la. Era uma surpresa para os três, o príncipe sendo, um príncipe, citar uma serva que poucos a conheciam e se quer davam a devida importância, isso era no mínimo curioso.
— Perdão minha ousadia, senhora! Gostaria de lhe falar — interrompeu um general que retorcia seu corpo em energia etérea para poder entrar no assunto que incomodado buscava entender desde que escutou sobre o império negro, algo que para ele considerava importante.
— General Leônidas!? Manifeste seus pensamentos a nós — Questionou a mulher.
— Sim senhora. Foi muito difícil para mim, mas enfim consegui escutar um pouco do que esse garoto disse e imagino que agora em diante conseguirei. E antes de lhe falar, acredito que todos aqui que não conseguem escutar o herdeiro de Aquaria deveriam elevar sua energia etérea e mantê-la em picos de elevação constante, tentar ao menos. Não sei se posso ter certeza no que digo, mas parece que a energia desse menino reage a níveis elevados, algo como picos de energia. É uma hipótese, por essa razão acho importante todos aqui elevar sua energia, para que entendam o teor desta discussão — falou o ruivo barbudo líder das tropas orientais do exército.
A mulher então olhou para o marido, imaginando o quão pouco sabiam aqueles de sua “confiança”, afinal sabiam eles que William era muito mais valioso que a nobreza e os generais juntos e sendo assim isso poderia se tornar um infortúnio nas conexões do império futuramente.
— Sim, general Leônidas e todos os ministros e ministras aqui presentes, generais e líderes. Há dois fatores que permitem a comunicação com o jovem William: o primeiro e o também citado por você, general, é o nível de Energia Etérea que vocês emanam, a família imperial possui por natureza esse fator, já que emanamos constantemente picos elevados de poder de uma forma bem natural, porém há outro fator que torna a comunicação com ele sensível e pra mim o mais importante de todos, a "vontade" de seu poder. Aparentemente essa habilidade parece ter uma consciência própria, pois independente do nível de poder que alguém possa ter, essa habilidade escolhe e decide com quem se comunicar. Entendam que não é ele que decide, mas "algo" como um guia que reconhece e considera confiável para manter uma comunicação segura com o jovem príncipe — revelou a mulher surpreendendo a todos que estavam à mesa.
Os murmúrios então aumentou a mesa, indignação, complexos, egoísmos começaram ser destilados sobre a mesa.
— Senhora Jade está tentando dizer que somente escolhidos por esse poder "consciente" pode ter auxílio dele? Ou que ele tem o poder de jugar o coração de alguém? — Questionou uma mulher de pele negra e cabelos cacheados âmbar.
— Não estou tentando dizer nada, Ministra Dríade, Ava, regente da Floresta Etérea, o poder dele é distinto mesmo para nós e por alguma razão somente quem ele escolhe é capaz de se comunicar. Não sei o que é isso ainda, mas posso afirmar em minhas pesquisas que esse poder não é deste mundo, não é normal — surpreendeu ela com sua suposição.
Todos simplesmente anestesiaram após a declaração da mulher, inclusive William que simplesmente gelou, afinal não tinha certeza, mas era quase certo de que a mulher estava certa, afinal essa também era razão pela qual a mulher temia que o garoto saísse de sua proteção, um poder desconhecido e com aparente vontade própria era um verdadeiro perigo.
— Perdão, perdão, mas está ficando tarde, vamos tratar disso depois. Estávamos em um outro assunto — disse William cortando o assunto — o que tinha a dizer senhor Leônidas?
O homem ainda estava assustado com o som da voz do garoto em sua mente.
— Sim, tudo bem. Vamos voltar ao assunto. Segundo o que a imperatriz disse, você não pode se defender, não por enquanto ao menos. Então, por que escolher uma pessoa que foi feita serva? Serviçais que estão sob custódia em nosso país, estão sob clemência do Império e devem deixar suas origens para trás, incluindo tudo o que aprenderam e praticaram a fim de obedecer apenas o que lhe é mandado. Não é digno de nós nos misturarmos com eles. Veja bem, um servo sem habilidade militar por si só já pode ser considerado traiçoeiro, quando seu mestre está distraído, o que dirá alguém como essa jovem que possui treinamento militar, o que garante que ela não irá te machucar? — Disse o homem testando o menino.
William mirou os olhos fixos nele e não sabia se sentia raiva ou pena daquele homem, no fim preferiu ser imparcial.
— Bom, o que posso dizer? Reconheço as habilidades em uma pessoa não importa de onde venha isso. Imagino o quão terrível deve ter sido para ela perder sua nação, vivi isso e continuo vivendo, porém é uma coisa que é inevitável no mundo em que vivemos. Imagino que em tudo temos uma segunda chance, tanto para quem destruiu, como para quem foi destruído. É uma ideia altruísta, mas não inocente, traições, são traições e tem suas verdadeiras consequências. Ela está pagando pelas ações de seu senhor, não sei o que se passa na cabeça dela, se irá trair o imperador algum dia ou se irá preferir recomeçar, não importa, uma coisa é certa, tudo foi tirado dela assim como tiraram de mim, e a única lógica que tenho em mente é que vou recomeçar e lutar para destruir quem me destruiu como eu disse todos estão a mercê de uma segunda chance, mas não insetos de seus atos, mas claro esses são apenas meus pensamentos. Por fim, como a senhora Jade disse, meus poderes reagem a todos os que são poderosos, porém somente em que posso confiar. Você não deve ser uma má pessoa general das tropas do oriente, Leônidas. Afinal de contas, seu desejo foi respondido por minha habilidade — ele virou o rosto para a jovem mulher que estava em seu lugar parada — Assim como você, não é mesmo Leona!? Você dentre todos os servos é a pessoa que melhor pode me escutar e não adianta negar, conheço o coração das pessoas — Essa última parte ressoou na mente da menina, como se alguém pudesse entrar em seu subconsciente possuindo-a.
Leona naquele castelo simplesmente não passava de um fantasma, sua presença ali era como de qualquer outro servo, apagada e descartável. Contudo, o que poucos sabiam era que ela já foi alguém, alguém que lutou pelo seu reino, alguém que teve seu reino tomado por Vale Elísios um dia. Hoje desprezada por muitos e sem objetivos a jovem mulher pela misericórdia do império, trabalha há 2 anos ao seu novo senhor como uma simples serviçal, garantindo sua vida e o seu pão de cada dia sem muitas expectativas.
— Ah é verdade, também vi outro dia que ela usa arco e lança. Nunca vi alguém tão interessado em luta quanto essa menina. Ela é quase uma Mestre em Armas — riu ele.
Todos ficaram surpresos com o menino.
— Então esses são seus motivos? — Questionou Jade.
— Sim. Não veria outros — respondeu ele.
Naquele dia Leona mirava seus olhos de coloração roxa naquela mesa, afinal mais do qualquer outro dia que parava para escutar os assuntos triviais entre aquelas pessoas durante seu turno, aquele momento era o momento no qual seu nome era citado várias vezes, ainda mais que, aquele que tocava em seu nome era o herdeiro do trono de Aquaria que falava como se estivesse dentro de sua cabeça algo ainda muito novo para ela, e que fingia não perceber desde a chegada do garoto.
Naqueles instantes sua audição aguçada e diversos sentidos apurados lhe permitia entender tudo e que tipo de conversa se passava naquela mesa, o problema era que o assunto em questão, era exatamente sua pessoa e diferente do que William imaginava da aparente e forte expressividade que o rosto dela esboçava, a jovem mulher naquele momento tremia e suava por dentro, e a timidez corrompia sua alma, afinal não lembrava mais da sensação de ser reconhecida por alguém, além disso aquilo que escutou do próprio William para os demais a mesa lhe bastava, pois já havia melhorado muito o seu dia na verdade dali em diante nada do que ocorresse iria lhe incomodar mais, pois se sentia reconhecida e necessária para alguém.
— Menina venha aqui! — Declarou o Imperador para o susto da menina que não esperava.
— Sim senhor meu soberano — respondeu ela timidamente dando passos curtos como quem temia algo perigoso.
Dentre todos ali um belo homem de cabelos loiros e aparência delicada se incomodava com ela.
— Ande mais rápido serva! — Berrou um ministro de cabelos dourados feito os raios solares e olhos azuis feito as águas de um oceano calmo, cujo rosto jovem e feminino incomodava as mais belas mulheres do reino — Ou será que não escutou a voz de seu soberano?
Todos se assustaram com a atitude do ministro e regente da cidade élfica conhecido por "Solus a Flor Dourada'' senhor subordinado ao império da Província de Vale Tyrand, que usava uma túnica dourada com fios de ouro e joias de rubins e diamantes rosados, cujo o adorno era uma um espada semi-curva feita de mithril e runas presa a um cinturão feito de couro azul de cervo celeste, tudo de forma extravagante deixando bem claro sua posição.
William que estava distraído vendo a menina se aproximar trêmula como quem esperava ser maltratada ou algo assim, assustou-se com o grito desnecessário do homem que praticamente estava ao seu lado.
Todos no palácio sabiam que os servos eram repudiados, mas poucos sabiam que Solus era um dos principais nobres que simplesmente massacrava os servos e servas do palácio da Rosa Branca, algo que tinha um claro prazer de deixar claro para todos, uma vez que de todos os ministros e regentes provinciais do Império ele era o que mais permanecia no palácio, porém o fato era que o imperador não tolerava esse tipo de assunto, e se exaltar ali, foi como algo semelhante a meter um soco na ponta de uma faca.
Embora sua atitude ali tenha sido um infortúnio para ele próprio, aquela atitude também representava o primeiro passo para saber mais sobre o que ocorria nos quartos e corredores do Palácio e da cidade.
— Sim senhor, regente Solus — disse ela caminhando mais rápido.
William mirou seus olhos na menina que tremia a cada passo que dava, em seguida mirou seus olhos no homem que por alguma razão ficou de pé parecendo até o próprio Imperador.
— Muito bem, você só está aqui para obedecer — disse ele com um sorriso maléfico estampado.
— Sim senhor, perdão senhor, não se repetirá senhor — dizia ela chegando bem próximo a mesa para escutar o Imperador.
William ficou em silêncio preso em seus pensamentos, afinal sentia raiva dentro de si. Contudo, ele era lógico, entrar em uma situação interna do palácio poderia lhe gerar problemas irreparáveis, a melhor decisão seria esperar a partir dali mais das atitudes do ministro para que cedo ou tarde tivesse argumentos suficientes e necessário para lhe causar algum problema e tirar dele aquela autoridade.
— Sente-se Solus! Você não tem permissão para alterar sua voz aqui. Nas salas do Imperador, só é permitido falar com autorização imperial e isso você e ninguém aqui tem. Somente o príncipe herdeiro de Aquaria que está na minha mesma condição e pode falar quando desejar e falar o que quiser falar! — Disse o homem irritado com o comportamento do ministro.
O homem de aparência angélica sentou-se rapidamente em seu lugar de uma maneira que mesmo com raiva, William riu por dentro, afinal a futilidade daquele homem era tão clara quanto a luz de Solus, estrela daquele mundo, que entrava pelas grandes janelas de cristal do edifício.
— Perdão imperador, não era meu desejo afrontar a vossa senhoria — disse o homem sentando-se em seu lugar, insistindo em falar.
— Mais uma vez repito a todos. Ninguém aqui é obrigado a dar atenção aos serviçais. Contudo, entendam que eles já sofreram bastante com o erro que cometeram no passado, não há mais necessidade desse tipo de coisa — declarou o homem que de pé estava diante de todos a mesa mostrava sua misericórdia e soberania — Imperatriz Jade pode tomar de volta o seu lugar, daqui em diante resolvo essa questão.
A mulher então curvou a cabeça em silêncio reverenciando o Imperador Branco algo que só fazia ali mesmo, pois em sua intimidade com o homem, a postura era outra, muito mais informal do que muitos acreditavam que ela fosse.
— Minha jovem se aproxime mais — convidou ele em um gesto com a mão.
A menina se aproximou ainda mais do homem, enquanto a esposa dele sentava-se para escutar o decreto do Imperador.
— Sim senhor
— Muito bem, vamos ao assunto. Se não me engano você é Leona filha de Sanatiel Sonata antigo general das terras do Rei Mareus, se não me falha a memória, você mora nas limitações do palácio imperial, lugar onde só os serviçais ficam. — ele fez essas primeiras observações afim de que William aprendesse um pouco melhor sobre sua futura serva — Bom, há dois anos demos abrigos a todos que se renderam naquele dia de infortúnio, poupamos a vida de cada um que decidiu baixar a espada, afinal a destruição daquele reino se deu por culpa de seu antigo senhor, o próprio Rei Mareus que simplesmente nos traiu e destruiu as tropas do meu exército no ocidente, um golpe terrível que gerou danos irreparáveis para a economia e proteção do império. Creio que não preciso citar detalhes do que ocorreu naqueles dias, Leona Sonata, filha de Sanatiel Sonata. O que me leva a questão atual, como você pode ter sido escolha de alguém que representa a realeza? Você tentou algo? Você seduziu o príncipe de alguma forma? — Testou ele a menina que certamente não saberia qual resposta teria.
William tremeu ao observar o olhar de Nemesis que agora literalmente parecia uma vilã enquanto bebia uma taça com seus olhos tingindo o vermelho sangue expressivamente ao observá-lo.
— Perdão, meu senhor, mas se me permite eu jamais faria isso. Pouco contato tenho com o jovem príncipe, talvez uma vez ou outra quando nos cruzamos pelo corredor, mas não houve nada — dizia ela fazendo seu próprio coração acelerar — por outro lado não escutei muito do assunto que tratavam, as poucas coisas que escutei foi relacionado às terras do império negro e meu nome, por tanto não sei o que responder, não sei porque meu nome foi citado — respondeu ela sem erguer a cabeça — Perdão, eu não sei de nada.
Todos miravam seus olhos na jovem mulher, olhos dos mais variados gêneros, dos mais diferentes significados. De um lado pessoas que odiavam o fato de uma troca de palavra entre o imperador e um servo, de outro estavam os que odiavam o privilégio que a serva tinha ao ser convidado à mesa, um sentimento compartilhado principalmente pelos demais servos ali dentro.
— Entendi, vamos fazer um teste — levantou-se o homem de seu lugar para a surpresa de todos – Príncipe herdeiro de Aquaria, meu aliado, venha até aqui! — Disse o homem em tom forte.
William saiu de seu lugar revelando ali a todos suas vestes reais baseado nos costumes de sua terra natal, Aquaria, uma herança que guardará para que as próximas gerações lembrem-se de como era sua cultura. As vestes reais de William era uma blusa sem mangas lilás de tecido leve, algo como uma regata, bordada com fios caros de ouro nas extremidades da gola e das mangas cavadas, também havia uma espécie de blusa manga longa e gola alta preta, respeitando os costumes do Império que buscavam esconder mais o corpo de seus homens, suas vestes reais também tinha como parte inferior uma calça preta cuja a área que compreendia as coxas era folgada, porém a parte que compreendia os joelhos até as pontas dos pés eram protegidas com partes de sua armadura cujo a material era mithril um metal poderoso, que nas armaduras de Aquaria tinham cores semelhante a pérolas, uma visão linda e preciosa de um instrumento bélico que tilintava como sino a cada passo, ainda havia preso a sua cintura seu cinto de couro fino feito de cervos celestes, animais noturnos que apareciam nas pradarias, planícies e montanhas, em tons preto e azul, cujo o adorno preso era uma espécie de cinto secundário de prata com símbolo de hibiscos, que o sustentava. Por fim, adornos como três lenços de tecido fino semelhante a seda, porém mais rico, macio e leve em cor dourada, representando as riquezas de Aquaria, um lenço violeta, representando a força Arcana do reino e o ciano, que se tratava do mais característico o oceano e mar que banha a costa de Aquaria, todos na lateral direita e quatro penas de bronze polido refinado na esquerda, algo que mais pareciam facas penduradas enquanto caminhava.
As roupas do povo de Aquaria eram as mais ricas, contudo as mais simplistas uma vez que aquele povo habitava as extremidades do continente, a beira-mar ou seja era natural para eles deixar visível partes de seus corpos. Embora muitos dos outros reinos beira-mar não adotassem esses costumes do uso de roupas mais leves, o povo do império que não estava perto do oceano tentava aprender com essa novidade e depois Aquaria fazia questão de manter esse costume vivo, afinal vestir algo leve próximo ao mar dava a pessoa uma melhor sensação de liberdade. Aquaria era nada mais, nada menos que o reino independente mais impressionante do Anel dos 7 Reinos, claro que suas extravagâncias seriam fortes.
— Sim Imperador — colocou-se o rapaz ao lado dela para a surpresa dela que não esperava a realeza se portar tão calmamente ao seu lado.
— Leona Sonata farei um teste simples, bem simples. Veja bem, se você for capaz de responder ao pedido do herdeiro de Aquaria você passará. Simples assim — respondeu ele incomodando a todos os seus ministros e generais que consideraram uma atitude imatura e nada estratégica, ridícula.
Todos os nobres e generais com exceção de Leônidas o vermelho trocaram olhares entre si, algo que Nemesis pôde perceber facilmente, o quão esnobe eram aqueles da “confiança” do império.
— Príncipe Herdeiro, William, vamos. Faça a ela seu pedido pessoalmente — disse o algo que constrangeu o rapaz.
William mirou seus olhos nela e a vergonha bateu a porta de sua mente, fazendo seu coração palpitar, porém como uma pessoa que adora levar situações sérias na brincadeira, seu primeiro impulso foi o desejo de rir, pois não acreditava no que estava fazendo, na realidade tão pouco importava aquela situação desnecessária, afinal sabia ele muito bem que a garota a sua frente era mais do que capaz para lidar com a missão que viria e com toda certeza aceitaria, porém já estava ficando tarde e o jovem precisava resolver aquele assunto "torpe" de uma vez por todas, afinal aquele não era um momento para se divertir, o assunto era sério e precisava ser específico, pois só estava perdendo tempo com tudo aquilo.
— Leona, tudo bem com você? Não precisa ser formal ou tímida comigo, mas gostaria de uma ajuda sua. Serei direto. Não posso entrar em batalha no meu estado atual e gostaria de sua ajuda. Preciso que seja minha espada por um momento, preciso que lute minhas batalhas, até o momento que voltarmos. Em outras situações você seria obrigada a fazer isso, mas estou oferecendo a você uma opção, no fim você decidirá me ajudar ou não. Você é quem decide, servir comida ou fazer o que nasceu para fazer — finalizou ele.
Para Leona que era obviamente mais velha do que ele, aquele pedido era quase como um pedido de namoro, pelo menos para ela, era assim que soava, todavia a intenção de William não era essa e tão pouco sua vontade, se aproxima disso, naquele momento para ele seu reino e o seu povo era sua prioridade. Todavia, aquela também era uma oportunidade única, pois "talvez" ao participar dessa missão sua vida mudaria por completo e ela novamente poderia fazer o que tanto amava, empunhar uma espada, talvez William fosse uma porta, mas vê-lo como homem seria um pouco difícil concluiu ela, aquela princesa de olhos sangrentos jamais a deixaria viva se ela tentasse cruzar o seu caminho, bom, valia a pena o risco, mas no fim ser apenas uma segurança não seria problema nenhum desde que pudesse empunhar uma espada novamente, estava bem.
— Senhor meu, se de alguma forma me considera útil, então assim será, segundo a vontade do imperador e da Imperatriz — disse ela um pouco envergonhada.
— Então assim será, se for do consentimento do Imperador e da Imperatriz — frisou o menino olhando para o imperador expressando um rosto um pouco ansioso para sair dali.
O homem então levantou-se de seu lugar e aproximou-se mais do menino.
— Você tem nossa permissão. Ou melhor você já a tinha de uma forma ou de outra. Vá até o seu reino William e se possível volte o mais cedo que puder, ainda precisarei de sua ajuda logo mais. Acredito que já está ciente do que estou falando, vamos dizer que você é minha única esperança — disse o homem essa última parte de forma mais baixa.
William claramente sabia do que se tratava o assunto e como tal não esperava nem um pedido pessoal do imperador, mas com aquela atitude do homem era de certeza que ele agora tinha carta branca para poder agir. Porém na circunstância atuais, o reino de Aquaria e receber sua herança era prioridade.
— Sim senhor, não se preocupe, já havíamos nos preparado para isso — disse ele fazendo o Imperador Branco rir.
— Muito bom jovem William era exatamente isso que eu esperava. Vá até o seu reino, traga informações, não entre em batalha e herde o que é seu por direito — disse o homem intrigando a todos.
— Sim é o que farei, não voltarei como estou agora — respondeu.
A imperatriz saiu de seu lugar e foi até o menino.
— Garoto temos grandes expectativas em você, não vá nos decepcionar — disse ela — Leona Sanatiel troque-se imediatamente os guardas lhes concederá armamento, não cometa nenhuma tolice em nós trair. Por fim, aguarde o jovem príncipe no pináculo da torre central do palácio em alguns instantes ele chegará. Vá.
— Sim senhora!
Leona em passos largos se dirigiu até suas instalações que ficava a uns 45 minutos dali, dentro do próprio palácio, uma verdadeira "viagem", para quem trabalhava ali
— Senhora, como pode? Se me permite sou contra deixar o príncipe partir em uma missão com apenas uma serviçal, alguém que nem habilidade teve em proteger seu próprio país. Deixe que duas de minhas meninas vá, talvez Roseta ela é um dos generais, sua habilidade em combate mágico está acima do nível de qualquer outro — Disse Khara ministra da magia e regente da cidade antiga de Jardim Secreto ao sul do império — me perdoe minha atitude, mas desde o início escutei tudo o que disse esse menino e posso dizer que foi muito fácil para mim. Porém o que importa é que esse garoto não pode de forma alguma ficar longe de nossa vigilância isso é inaceitável.
— Silêncio Khara! Não ouse contestar ao Imperador e sua esposa, se ele e ela assim decidiram, assim será. Além disso, pelo que eu soube quem deve questionar esse assunto é somente o Imperador e sua esposa — declarou um duque que estava em seu lugar virando uma xícara de chá — com todo respeito também sou contra, mas a decisão não é minha, então meu dever é ficar em silêncio.
— Como o duque disse. Nossa autoridade é inquestionável, o príncipe não é um prisioneiro, por tanto só podemos alertá-lo sobre os perigos, a decisão final é única e exclusivamente dele — disse Jade — não precisa mandar Roseta ou uma aprendiz, precisaremos de todos os magos possíveis hoje e o clã das bruxas é essencial para manter a segurança. Estamos entendidos?
— Sim, senhora! — respondeu a mulher.
— Continuemos nossa refeição, o assunto seguinte é a Cerimônia do Desabrochar, mas antes de entrarmos nesse assunto. Príncipe Herdeiro William infelizmente não podemos permitir sua participação nessa reunião, com todo respeito peço que se retire — disse a mulher.
O Imperador Branco deu um tapinha no ombro do menino como quem queria lhe dizer algo.
— Mais uma coisa senhora, vou usar minha habilidade principal talvez cause algum ruído desagradável aos ouvidos, desde já peço seu perdão — disse ele a mulher que já esperava isso — bom, dito isso, vou me retirar da presença de todos, muito obrigado pela refeição, imperador e imperatriz e obrigado a todos por sua presença.
O garoto então curvou-se para todos presentes, assim em resposta também todos curvaram-se, por fim o menino deixou o grande salão.
— Senhora perdão pelo incômodo, mas estar certo o príncipe ir apenas com uma empregada? Desculpe a insistência nesse assunto, gostaria de acompanhá-lo, por favor me dê essa permissão, sei que é muita arrogância minha lhes falar isso, pois sou general e como tal meu dever em obedecer deve ser maior que qualquer outro, porém como general devo proteger o interesse vosso, por favor permita-me acompanhá-lo nesta missão — disse Leônidas pondo-se de pé.
Jade mirou seus olhos no seu marido e seus lábios rosados esboçaram um sorriso como quem acabara de escutar algo que lhe agradasse.
— Perdão mais uma vez minha senhora e meu imperador, mas acredito que faz sentido o que general Leônidas propôs. Já que nenhuma de minhas meninas podem acompanhar o príncipe, podemos permitir que o próprio general das tropas vermelhas o acompanhe. Quanto a cerimônia de logo mais Roseta pode assumir muito bem o papel de proteger a todos além da organização da segurança, algo que o general-mor Leônidas faz. Por favor considere isto — disse Khara incomodada com suas próprias palavras porém conformada.
— Muito bem então assim será. General Vermelho, vá e ajude-o no que precisar — disse a mulher, tornando ao seu lugar.
— Minha imperatriz e meu imperador, me retiro para me preparar. Senhora Khara muito obrigado, por apoiar minha proposta — disse o homem que se apressava em sair.
Leônidas sequer esperou mais alguma orientação, pois sabia o que precisava fazer então levantou-se de seu lugar juntamente com sua esposa e saiu a se preparar, afinal naquela missão ele poderia enfrentar toda e qualquer tipo de situação. Deixando para trás Khara que no final sentiu-se completamente menosprezada ao vê-lo receber uma autorização como aquela tão facilmente.
— Bom, continuemos com os assuntos da Celebração do Desabrochar — disse Jade ao ver o homem sair.
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Atualizado até capítulo 44
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