Relíquias: O Conto De Aquaria
Ela;
...“É sempre assim, é sempre esse mesmo sonho, esse mesmo vislumbre estranho. Quando percebo, me vejo em um lugar, que não sei onde ou que tempo é. Nele, o céu em tons azuis, carmim e outras cores doces, lembram um crepúsculo rosado e fantástico. Diante de mim uma gigantesca lua minguante emergindo sobre as águas em que eu podia ficar de pé, ali não tinha terra, mas apenas uma interminável superfície aquática que cobria até onde os olhos podem ver, de uma extremidade a outra, decorada com uma bruma suave que mal banhavam meus pés desnudos. Aquele lugar era único, sempre vazio, sempre silencioso, mas ao mesmo tempo parecia ter tudo, afinal ali era o único lugar que eu não sentia medo, nem tristeza me fazia chorar, até parecia que aquele era o meu lugar, o meu cantinho, aquilo tudo me anestesiava em sentimentos de paz e alegria. Todavia, de repente enquanto me pegava andando na direção da imensa lua minguante que eu não podia alcançar, apesar de querer alcançá-la, me deparava com uma grande árvore branca com folhas finas e flores lilás que pareciam brilhar delicadamente, logo abaixo dela havia duas crianças que eu não podia ver seus rostos, era tudo muito estranho, mas elas pareciam se divertir juntos, não, acho que não era só isso, pois aqueles dois também tinham uma atmosfera de separação, como se também não pudessem ficar juntos.”...
Ele;
...“É sempre assim, sempre me deparo com eles, parece que não terá fim, sou apenas uma ferramenta, é para isso que sirvo. Matar, matar, matar, destruir tudo à minha volta, essa é minha função, como uma bomba nuclear que destrói tudo onde é lançada, não sei o que fazer e esse é o meu maior medo, minha maior escuridão. As correntes do destino novamente entrelaçam meu corpo sufocando minha garganta, meus pulsos e tornozelos, eu mereço, pois não sou bom, sou um fantoche, uma marionete sem alma....
...Talvez eu nunca consiga nada, porém talvez seja eu que destrua tudo.”...
...“Não! Espera, o que é isso? O que é você? Ah! Entendi. Não importa mais, eu não posso sair daqui, eu não posso te alcançar, não importa o que eu faça, para onde você corre jamais conseguirei alcançar. Nesse lugar de confusão é melhor que eu sofra só.”...
...----------------...
...Capítulo 1: O Sobrevivente...
Planeta Laniakea 3ª Era Celeste: Período Arcano
Império Vale Elíseos 12º Ciclo de Solus (18h), Palácio Imperial Rosa Branca
Três meses após a invasão no reino de Aquaria
— Dizem por aí, que você é o pior Imperador, um tirano — dizia o menino de olhos lilás como o crepúsculo, sentado sobre o parapeito da grande janela de vidro, do Palácio da Rosa Branca — mas sabe te olhando bem, acho que é tudo o contrário, parece um velho, que tenta manter uma pose de imperador bravo — Ironizou ele ao sentir o homem de cabelos loiros e olhos cinzas se aproximar trajado em túnica turquesa, cor de suas roupas imperiais, que escondia uma armadura leve.
Era fim de tarde naquele lugar chamado Vale Elíseos, a grande estrela que brilhava sobre o dia, também chamada de Solus, já se escondia atrás das montanhas no ocidente, a noite se aproximava e com ela Selena emergia para iluminar a vasta escuridão do véu noturno.
Naquele mundo o tempo era dividido em ciclos, os 12 ciclos de Solus que representava o dia e os 12 ciclos de Selena que representava a noite, cada ciclo era o equivalente a 1 hora, para os minutos era denominados miniciclos, 60 miniciclos no total e os segundos microciclos, 60 microciclos.
O garoto sentado no parapeito da janela se tratava de um príncipe refugiado, do reino de Aquaria, ou seja, era um dos poucos sereianos sobreviventes daquele dia considerado histórico em todo aquele continente. Os seus trajes bem como de costume da sua origem, eram leves, característicos da sua terra natal. As cores carregavam consigo tons lilás numa blusa sem mangas, que mostrava todo o peitoral, porém baseado nos costumes do império ele usava uma roupa por baixo evitando mostrar muito o seu corpo, além disso, ele trajava uma espécie de calças negra, na sua cintura havia um cinto de couro do cervo celeste que prendia o grande lenço que o garoto usava como uma espécie de saiote, para finalizar, como bota ele usou partes de uma armadura, algo que era do seu próprio feitio. O que também intrigava naquele príncipe era sua pele escamosa, porém macia, que brilhava a luz de Selene em tons, turquesa e lilás, azul e amarelo a medida que se movia em relação aos olhos de terceiro, nos seus olhos na parte da estrutura que se encontra a esclerótica, o tom natural branco nos humanos, se mesclava ao tom pouco lilás, cor que também integrava a sua pupila que lembrava uma noite estrelada.
O homem que se aproximava era o Imperador Branco Chrono que esboçava ímpeto em seu olhar, mas que era carinhoso com os seus e respeitável entre seus súditos e aliados. Trajado em sua túnica turquesa adornada em ouro e outras jóias o homem se aproximava calmamente até o local onde estava o menino que tratava como um filho.
O garoto o por sua vez virou seus olhos nele e pôde melhor ver cada detalhe da vestimenta imperial que considerava um abuso chamativo, porém ainda assim belo de certa forma, uma vez que a roupa de característica militar que trajava por baixo vinha dos tecidos da região do clã Maré, povo que fazia parte de Aquaria, uma espécie de uniforme militar com detalhes dourado feito de pele de leão estelar, cujo o couro era tão resistente quanto o aço, detalhado com jóias e ouro, além do tecido preto, criado a partir dos fios da mariposa tecelã encontrada nas altas florestas dos elfos negros, um tecido que era bastante eficaz em contra ataques mágicos.
Ambos eram nobreza, ambos tinham títulos e autoridades absoluta sobre seus povos, mas aquele era momento em que eles deixavam tudo isso de lado, para desfrutar apenas de uma conversa normal.
— Do que precisa? Sensação dos reinos. — Questionou o menino com um sorriso provocativo.
O homem riu e se aproximou ainda mais ao escutar a voz do menino ecoar em sua mente, em seguida parou diante dele e mirou seus olhos cinzentos analisando-o.
O nome daquele jovem príncipe era William Oceanus sucessor sobrevivente do trono de Aquaria, porém, apesar de sua posição ele não tinha uma aparência muito forte, afinal sua aparência era bem calma, delicada e pacifista nada mais desagradável a um sucessor real, além disso o garoto tinha um corpo magro, porém definido, pois como príncipe era necessário ter domínio da espada e das artes marciais e para sua idade um controle considerável de suas Habilidades Arcanas, mas isso exigia um corpo bem mais saudável, era o que William não tinha muito, seus olhos quase roxos em tom lilás claro era uma curiosidade à parte, além disso seu rosto fino lembrava mais um rosto feminino que somados ao seu longo cabelo preto cujo um coque atado a uma fita vermelha que dividia em um rabo de cavalo duplo, tornava essa sensação feminina a primeira vista, bem mais real que o esperado. O príncipe herdeiro de Aquaria era definição perfeita de homem "belo" para alguém amante da delicadeza. Todavia, a única coisa que desfavorecia o menino era o fato de que William havia nascido sem voz e como tal a única forma de comunicação saudável que encontrou desde sua infância foi a telepatia para se comunicar, mas até essa "solução" carregava suas falhas.
— Você tem um pensamento bem afiado para quem é mudo — Retrucou o homem assentando-se na frente do garoto que mirou seus olhos roxos no homem — Em três meses que mora aqui todos os fins de tarde te vejo aqui William Oceanus, por quê?
A janela na qual estavam era uma das maiores do palácio, em diâmetro, mas também com relação ao solo a mais distante, uma pessoa normal cair dali era morte certa, contudo, uma das principais característica de William era desafiar o perigo não porque queria algo desastroso, mas em sua nação, se provar, era um dos maiores segredos para se tornar um "homem ou uma mulher forte".
— Bom, aqui é a área mais calma do palácio, poucos ficam aqui, além disso gosto de ver a cidade calma no fim da tarde, todos se recolhendo e tudo mais — respondeu ele ao homem que ainda não havia parado para observar esses detalhes.
O homem olhou e percebeu que os últimos raios de Solus banhava delicadamente o teto das casas mais ao longe na cidade que cercava o palácio, no jardim e no grande xafariz adornado de flores de rosa branca mais a frente que marcava a entrada do palácio e se encantou.
— Verdade. Nunca me dei conta disso. O império vive em guerras, mas o povo pouco sabe o que realmente é uma guerra, afinal é o meu dever protegê-los de tudo e todos. Você disse antes que eu era o pior Imperador, por quê? — Ele tornou seus olhos ao menino.
O menino olhou para ele com um rosto que claramente esboçava decepção, contudo, o menino não o culpava mais e já que não podia usar a boca para poder falar então expressava seus sentimentos melhor do que ninguém através de cada olhar ou gestos, tornando-se uma pessoa bem transparente com seus sentimentos.
— Essa nação é o centro do continente e como tal carrega suas dificuldades. Claro, há tantos problemas que é fácil esquecer de seus aliados vizinhos. Não estou julgando você e suas tropas, mas não estiveram lá quando os monstros entraram e devastaram minha cidade, meu reino — por um minuto a cena dos vários que morreram diante de seus olhos tornou, porém ele buscava reprimir o ódio e a tristeza que sentia das criaturas que destruíram sua casa e sua família — Enfim, como eu disse, não é culpa sua, talvez seu exército não teriam tempo suficiente para nos alcançar, afinal Aquaria é a aliada mais distante do império, localizada na costa marinha. Naquele dia tudo foi repentino, mesmo Aquaria se surpreendeu com a força de ataque, magos, feras, demonoides, dragões entre outros tão poderosos que surgiram durante aquela madrugada que se estendeu por mais cinco dias de resistência de nosso poderoso exército, muitos conseguiram escapar apenas com a roupa do corpo, outras da nobreza mais privilegiados conseguiram levar seus tesouros, mas o que isso importa? Milhares de milhares morreram, não deu tempo para absolutamente quase nada, mas enfim não podemos mais reclamar, não há mais nada que fazer pelos que se foram — ele mirou seus olhos no céu.
Seguindo os passos do menino, o homem também olhou para o céu, em tons anil e púrpura. Naquele momento o Imperador refletia sobre tudo o que poderia ter feito para ajudar Aquaria, sobre como poderia ter salvado a vida de muitos, algo que não conseguiu. Por mais difícil que fosse relembrar tudo isso, algo era certo ninguém estava preparado para aquele dia, ninguém esperava aquilo, ninguém esperava algo tão direto e poderoso.
— Entendo, Carrasco seria um bom nome para mim, já que todos os habitantes vizinhos me vêem assim — ele suspirou — É verdade que erramos naquele dias ou melhor pra quem estou tentando mentir? Temos errado todo esse tempo. Temos cuidado mais do nosso próprio país, afinal de fato aliados não fazem parte do império, essa é a lógica, mas sei que isso não é desculpa, pelo contrário esse é o nosso maior erro, nossos aliados também são tão importantes quanto.
O garoto então levantou-se do lugar onde estava, afinal não gostava muito daquele tipo de assunto, principalmente no tocante a sua família, e de pé deu sua última olhada para o Solus que se escondia nas Montanhas da Solidão logo mais ao ocidente.
— Sabe imperador, quando o Solus se põe no ocidente é porque ele está nascendo em outro lugar, oferecendo para aquele que o verá em alguns instantes, a oportunidade de iniciar um novo dia ou seja uma nova vida, um novo começo, pelo menos era isso que dizia minha mãe antes de ser assassinada — falava ele através de seus pensamentos com o rei que buscava entender o seu raciocínio — talvez você tenha sido essa minha oportunidade de recomeçar, não tenho porque desprezar ou odiar a quem me estendeu a mão.
O menino então virou suas costas, mas seu rosto esboçava um sorriso que poucos tinham a oportunidade de ver, mas que o imperador pode ver com toda clareza e se alegrou em seu peito.
— William! — Bradou o imperador.
O garoto parou e mirou seus olhos no homem.
— Diga — disse ele.
— Apesar de tudo, acho que não fiz uma má escolha em te salvar, sei que posso ser como um pai pra você e Jade como uma mãe, sei que não podemos substituir nossos amigos, mas devemos isso a eles. Outra coisa, não escute o preconceito que outros tem por você no palácio, por sua falta de voz ou por razão a sua raça, nosso povo é muito ignorante e não está acostumado com um príncipe de um reino independente em nossas terras e usarão qualquer coisa para te desmotivar ou quem sabe criar situações desagradáveis que podem denegrir sua imagem, mas eu sou o Imperador e estarei ao seu lado — disse o homem de quase meia idade.
Diferente do povo da capital imperial da qual habitava humanos, Elfos da Floresta superiores, Dríades entre outros herdeiros genéticos de seres superiores que integrava o império, William e seu povo carregava no seu DNA a herança sereiana, elfos negros superiores e homens-feras, raças consideradas pela maioria dos humanos como raças profanas, comparando até mesmo aos demonoides, ogros e orcs, obviamente que isso não passava de inveja, uma inveja alimentada por séculos entre as gerações, o que para William eram sentimentos vãos, e como tal em resposta o garoto apenas mostrou para o imperador um sorriso como se não se importasse com isso, apesar de que gargalhava por dentro.
— Ah, então era isso. Nunca me importei com opiniões desnecessárias e preconceito, não será agora que isso fará diferença. Não ter voz e ser sereiano é uma dádiva para mim e ser príncipe herdeiro é apenas uma circunstância que não pude evitar — respondeu ele saindo da presença do imperador.
William tinha uma deficiência na voz. Assim, que ele nasceu foi incapaz de produzir qualquer som que viesse das suas cordas vocais, a situação era tão grave que até parecia não ter cordas vocais na sua garganta, claro que não era esse o caso. Não se sabia ao certo, mas para o povo do império, acreditava-se que a razão para tudo isso era a sua habilidade Arcana que o impedia de falar, algo como um sacrifício, porém em troca era-lhe oferecida a oportunidade de usar da telepatia para se comunicar, contudo, somente alguns poucos eram escolhidos pelo seu poder para escutá-lo, isso ficou claro logo nos seus primeiros anos de vida quando a sua mãe ao lado do conselho científico de Aquaria o examinava, segundo o que sabia o império, claro em algumas partes estavam certos e em outras, enganados, porém William ainda não revelaria isso. Embora ainda não estivesse certo, a razão pela qual somente algumas pessoas podiam escutar a sua voz, era que a mesma só era revelada a pessoas de extrema confiança, cuja, habilidades eram marcantes e acima disso tudo, criaturas de espírito justo e puro. Por tanto, como em Aquaria, no palácio da Rosa Branca somente alguns podiam escutar a voz do rapaz, até onde se sabia o imperador e mais 19 pessoas podiam escutar e entender o refugiado do reino vizinho.
Cidade Imperial de Vale Elíseos - Cidade da Rosa Branca - 5º Ciclo de Selene 23h
— Acho que está na hora de você dormir — disse a menina de cabelos prateados como o brilho do luar, olhos em um tom vermelho que lembrava sangue e expressão intimidadora que até parecia alguém maquiavélico, que surgia na penumbra, trajada em um vestido negro no canto do quarto imperial do menino.
— E você? Até onde sei é uma princesa, o que faz no quarto de um refugiado HOMEM? Está aqui me vigiando ou será… — brincou ele, sexualizando a situação.
William novamente estava no parapeito da janela, mas desta vez de seu quarto no palácio Imperial, como costumava fazer desde que chegou ali admirando o brilho de Selena e a calmaria da cidade, como antes em sua terra natal, a diferença era que em Aquaria a visão também permitia ver o mar.
Trajado em roupas brancas com detalhes azuis bem leves, carregando as características de Aquaria como sempre fazia, estava quase pronto para pegar no sono.
— Você é engraçado, sabia? Para um menino da sua idade — replicou ela o alfinetando enquanto se aproximava dele, que se assentava no parapeito da janela.
— Tentando manchar minha masculinidade? Sério? Por que pensa isso Ingrid? — Questionou ele com um sorriso no rosto.
A menina parou e fechou a cara com aqueles olhos vermelhos e expressão fechada com certeza com uma faca na mão seria aterrorizante.
— Não me chame de Ingrid. Esse não é meu nome — sentou-se ela ao lado dele com o rosto corado.
Ele riu.
— Ah! É verdade, Nêmesis Chrono, esse é o seu nome. Desculpa, mas honestamente acho bem estranho. Você se parece mais com Ingrid fica mais fácil e bonito em você, mas você não gosta do nome — relatou ele vendo o rosto corado da menina.
Depois de três meses intensos de convivência William e Nemesis sempre trocavam farpas, misturado com flertes, um coquetel estranho de romance e "ódio" pairava sobre eles.
Completamente relaxada ao lado do garoto como sempre se sentia, ela mirou seus olhos escarlate no teto bem desenhado do quarto do menino, e ali pensou sobre aquele nome que desde algum tempo o menino usava para zombar de seu rosto.
— Ingrid. Esse é um nome vindo de seu mundo? — Questionou ela fugindo do assunto.
Ele esboçou um sorriso meio preocupado imaginando que ela já havia visto demais sobre ele.
— Sim, Ingrid, é um nome vindo do mundo que vivi em minha vida anterior, mas Nêmesis também faz parte de lá, significa algo que não gosto de comentar. Pelo menos, esse foi o significado que os homens e mulheres daquele mundo criaram, por outro lado, ele não é um nome que eu daria a alguém que amo, claro, isso que falo é naquele mundo, nesse vejo que não há problemas — lembrava de algumas coisas que viveu — Já sei! Vou te chamar de Flor da Noite, afinal essa também é uma flor que nasce só na região de Aquaria e só desabrocha no período noturno, por sinal ela é o brasão de Mahara, a rosa da meia-noite, claro é só um nome se você for ver ela de longe lembra uma rosa, mas suas pétalas em tons lilás brilham na escuridão da noite, por isso tão bela ela é. Por outro lado, esse vestido preto com detalhes brilhantes já lembra bem a noite escura e estrelada cobrindo seu corpo, os cabelos prateados lembrando o brilho das pétalas além dos olhos vermelhos que lembra o nascer de Selena. Enfim acho que o nome combina. O que acha? — Disse ele de uma forma tão natural que se quer deu importância a garota que se retorcia diante de seus olhos ao escutar o que lhe parecia elogios.
Nemesis escutava os batimentos de seu coração de tão acelerado que este se encontrava, claro não era o mesmo o que o garoto sentia, afinal aquilo era tão natural para ele quanto respirar, mas para uma donzela como também era aquela garota, aquelas palavras eram tão fortes que mexeram em seu corpo mais do que uma espada fincada nela durante uma batalha.
— Você sabe como cortejar alguém. — Ria ela abertamente.
Nêmesis era líder de um poderoso esquadrão formado por jovens, homens e mulheres que serviam ao império. Este esquadrão era composto por 70 membros, a elite da academia Flor Arcana, os melhores dos melhores entre todos os alunos da grande academia. Curiosamente foi seu esquadrão quem chegou primeiro, pois era o mais rápido, mais que os próprios soldados a serviço do imperador. Foi o seu esquadrão que resgatou os poucos sobreviventes que não conseguiram fugir a tempo de Aquaria, a grande cidade beira-mar Província de Corais e também a mais distante cidade aliada ao império.
Cerca de 98 indivíduos, entre elfos, sereianos e homens-fera, foram resgatados entre escombros ou esconderijos nas proximidades fora da cidade principal, uma vez que esse número só aumentou consideravelmente e porque não dizer gravemente? Ao adentrar os domínios da grande cidade. De toda aquela cena de destruição, cerca de 15.398 pessoas foram encontradas com vida entre feridos e pessoas escondidas, além dos mais de 150 mil habitantes homens indefesos, mulheres e crianças que milagrosamente conseguiram fugir logo no início do ataque, graças aos inúmeros sistemas de tuneis subterrâneos em todas as três grandes províncias de Aquaria, Corais, a principal, Maré e Ondas. Durante os procedimentos de resgate 1085 pessoas morreram em razão aos graves ferimentos e infecções geradas pela demora no avanço das tropas do Império. Mesmo depois de 3 meses após o incidente que destruiu totalmente Aquaria 13 pessoas ainda estão em coma, inúmeros estão parcialmente com os movimentos do corpo comprometidos, e os últimos 10 no estágio final de recuperação e os demais, completamente bem.
William foi achado entre os escombros do castelo de Corais praticamente ileso graças às habilidades de seus pais que como último ato deixaram uma espécie de escudo que o fazia dormir, preso em uma espécie de bolha, protegendo o menino de qualquer coisa até que o socorro chegasse. Aqueles dias que Aquaria sofreu um ataque do Império Negro, foram dias sangrentos para ambas as partes, pois como uma das tropas mais poderosas, Aquaria lutou bravamente contra aquele ataque surpresa que durou quase seis dias, com seu poder quase bloqueado tornando-se incapaz de derrubar o violento exército que a cada dia ficava mais e mais poderoso.
— Desculpa, não estava te cortejando — disse ele quebrando o clima com um sorrisinho malvado.
Nemesis olhou pra ele com os olhos ardentes em chama, mas fazer o que? Já fazia 3 meses que ele morava com a família imperial, então já era de se esperar essa aproximação dele e esse “nível” de intimidade, isso sem citar o histórico entre suas famílias.
— Você é muito insensível. Minha vontade é te dar um tapa — desabafou ela, pondo a mão no peito, buscando se acalmar.
Ele riu novamente e se expressou.
— Acho que você é muito sensível, apesar de ser quem é — riu ele dá expressão que o rosto dela fazia — mas enfim o que faz aqui mesmo? Está tarde para alguém como você estar no meu quarto, não acha?
Ela mirou seus olhos nele admirando-se do toque da luz de Selene em sua pele, que brilhava em vários tons à medida que ele se mexia.
— Sua pele brilha na luz de Selene. Não sabia _ ela olhava.
— Sou sereiano Nemesis, isso é normal, nossa pele tem escamas pequeninas, minúsculas para ser exatos e são quase indetectáveis a olho nú, mas a luz de Selene nelas refletem diversos tons luminescentes, aliás como sabe elas não são rígidas como as escamas de um peixe, mas são macias como a pele humana. Enfim, você sabe que não somos como vocês humanos, mas também não espere encontrar uma calda de peixe em mim — ele riu dessa parte — bom pelo menos não no seco.
— Isso é lindo — disse ela bem perto dele.
Ele corou o rosto.
— Tá bom, tá bom, está perto demais e você ainda não me respondeu — disse ele sentindo o peito acelerar.
Nemesis se afastou ao perceber o quão perto estava, e imaginou como falaria para ele afinal era estranho ela estar no quarto dele, apesar de conviverem juntos por três meses, todavia, a resposta já estava engasgada há muito tempo em seu peito, ardente feito uma chama insaciável. Nemesis entrou naquele quarto porque gostaria de falar o que sentia, afinal depois disso não teria muito tempo e talvez nem chances de aproveitar aquela única oportunidade.
— E o que tem eu estar aqui? Se sente incomodado? — Perguntou ela.
Ele mirou seus olhos nela deixando-a nervosa mais do que tudo, afinal para ela uma simples troca de olhar com aquele garoto fazia muita diferença, já que seus olhos eram tão mais expressivos quanto palavras de uma pessoa que podia falar normalmente através de seus lábios.
— Sabe que não posso falar, porém de alguma maneira minha habilidade permite que você entenda, o que há no meu coração e na minha mente mais do que qualquer um aqui, muito mais. Fato é que de todos aqui nessas terras, você é a única pessoa que conhece todos os meus segredos. Não, você não me incomoda Nemesis e não teria nem como. Além do mais por que me incomodaria? Afinal você é… — ele interrompeu essa última parte olhando para o céu estrelado.
Nemesis não entendeu muito bem a última, no fundo sabia que ele queria lhe dizer alguma coisa, mas preferiu não colocar pressão já que aquela reação dele poderia ser considerada algum sinal. A garota de cabelos brancos por sua vez assim como o menino também tinha os seus segredos a respeito dele, contudo diferente dele, ela já não tinha mais tempo e forças para suportar o que guardava a sete chaves de todos, algo que ninguém sabia e que ela buscava dizer só na hora certa, claro parecia que aquela era a hora certa, já que seu tempo para isso estava chegando ao final.
— Quer saber porque estou aqui? — Ela perguntou.
Ele mirou os olhos roxos nela.
— Diga…
— Eu já havia visto você ou melhor eu já havia visto nós dois juntos. Passei minha infância toda pensando em você, vendo você, sonhando com você, mesmo agora esses pensamentos, não, essas visões são tão claras quanto a luz de Selene — revelou ela.
Ele então mirou fixamente seus olhos nela com uma certa vergonha, já que logo ele entendeu que aquilo era uma declaração. William precisava ser ágil.
— Ehh? Entendi! Estranho né? — Disse ele pensando nisso tudo, esboçando para ela um rosto de quem havia visto algo bem estranho ou sinistro naquele momento.
A reação de Nêmesis a resposta dele foi decepcionante uma vez que a garota reuniu todas suas forças para tomar iniciativa, ela esperava da parte do menino mais afeto ou de repente uma entrega ou pelo menos mais afeto mesmo, ela só não entendia que ele fazia isso de propósito.
— Sério!? É só isso que tem para me responder!? — perguntou ela alterada.
Ele pensou que resposta daria.
— Bom, no momento sim. Não é bom que seja refém de sonhos, ainda somos tão jovens, ainda sou tão jovem — respondeu ele tentando provocá-la mais.
Os olhos delas a essa altura realmente esboçava o tom de sangue.
— Isso foi meio grosseiro. E não são sonhos, o que vejo são vislumbres do meu futuro. E vi nós dois juntos de várias maneiras, em diferenciadas situações! Você realmente é grosseiro, sabia? — disse ela, tornando seu rosto para o céu.
Ele mirou seus olhos nela com um sorriso, em seguida caminhou até bem próximo dela, deixando-a constrangida.
— Onde vivi é normal em novelas ou filmes, algo como um teatro para vocês, pessoas que se apaixonam rapidamente, principalmente se assunto é "sonhei com você", mas na vida real isso muitas vezes não dá em nada, é melhor você tomar cuidado para quem você se declara. Não estou sendo grosseiro, mas realista. Então é bom pensar antes de se entregar a alguém, vê quem de fato é essa pessoa, conhecer o seu passado, quem é? O que já fez? Como todos o vêem? e etc. Isso é o básico para uma pessoa inteligente, lembrando que não é grosseria é cuidado e se eu no fim das contas eu não for quem você espera? Você é a princesa daqui seu dever é zelar pelo seu povo acima de tudo — disse ele — talvez aconteça algo, talvez não, mas se acontecer, não é certo esperar o tempo? Digo, mesmo a boa fruta precisa do melhor momento para ser colhida, a flor mais bela precisa do momento certo para ser apreciada. Então, não se apresse tudo vai acontecer no momento certo. Se você me entende, no mínimo deve entender que não é o momento.
Ela baixou a cabeça pensando nas palavras.
— Mas…
Ele se aproximou e colocou a mão na cabeça dela.
— E depois só moro aqui há 3 meses, você no mínimo deveria estar com uma espada na minha garganta durante os 24 ciclos — ele se afastou dela e foi até a cama onde se deitou para dormir — e outra você está pronta, pra me amar? Você sabe a única coisa que quero nesse momento, a cabeça daquele que me tirou minha família. Você está pronta para isso? Sabe, eu sinto algo dentro de mim e é tão ruim, não preciso que sofra com isso também, talvez eu não volte — ele se afastou dela e foi até a cama
Nemesis mirou seus olhos nele imaginando que tipos de pensamentos passavam pela cabeça dele. A única conclusão que chegou foi que ele não queria vê-la sofrer. Então tomada de confiança foi até ele e sentou-se ao lado dele na cama, imaginando, que aquela era a escolha certa.
— Sabe, antes eu duvidava de você. Não acreditava que você era a mesma pessoa que via todas as noites em meus sonhos, você parecia tão fraco quando te encontrei, tão vulnerável e não me refiro a sua condição, mas com tempo fui entender que esta é uma característica sua, não é que você é fraco, você é cuidadoso demais — ela deitou sua cabeça no ombro dele — honestamente, vamos ser sincero um ao outro a partir desta noite. Você sabe que nunca colocarei uma espada em você e depois você precisa entender que querendo ou não sempre estarei ao seu lado e você ao meu, e você sabe disso e não pode negar, eu sei que sente por mim, assim como sabe o que eu sinto por você — ela se deitou sobre a cama dele logo após dizer essas palavras.
Ele mirou os olhos nela e perguntou.
— Sério isso? Vai dormir aqui mesmo? Espero que não me coloque em problemas, se seu pai ou sua mãe souber que está aqui, estou perdido. Já que é assim, então não podemos esperar um pouquinho? Estou tão bem solteiro — Disse ele, mirando os seus olhos nela.
Ela riu de sua atitude.
— Não, não, jamais. Em breve precisará de mim, não deixarei outra ser sua primeira, além disso é só essa noite não terá problema nenhum William. Sei que não fará nada comigo até o momento certo, conheço bem as tradições Aquariana. Fique calmo, ou você tentará alguma coisa? — Disse ela olhando só para ele com rosto único de vergonha.
— Não fale mais nada, vamos dormir. Pela manhã te levo de volta — trêmulo ele deitou-se ao lado dela.
William deitou-se ao seu lado e aproveitando-se da situação Nêmesis colocou a mão sobre o peito dele.
— Mas sabe, gostaria de saber quando contará para meu pai que veio de outro mundo? — Questionou ela do nada.
Ele mirou os olhos no teto, pois essa era uma questão delicada, muito delicada, convencer uma pessoa que ele morreu em outro mundo e renasceu naquele mundo.
— Já lhe disse, eu morri naquele mundo ou seja não vim de outro mundo. Vivi e morri em outro lugar que era completamente diferente deste, em todos os aspectos da palavra, mas tive a oportunidade de reencarnar, renascer aqui ou seja lá o que for, não é como eu estar vivo em lugar e do nada aparecer em outro. Na realidade nunca consegui explicar isso direito, mas tenho essas lembranças do que aconteceu lá, mas não me sinto mais como alguém daquele meio. Por outro lado, apenas meus pais e você sabiam disso. Não sei que tipo de problemas criará quando eu falar isso, então é melhor deixar isso de lado por um tempo, afinal não tenho razões para causar problemas em quem me ofereceu ajuda — respondeu.
— Hum! Entendi. Então não tocarei nesse assunto na frente de ninguém, por outro lado quero que me conte mais de lá e como você era — disse ela.
Ele mirou seus olhos nela e pensou sobre o assunto, afinal uma hora ou outra ele deveria falar daquilo com o Imperador Branco e sua esposa até mesmo era uma forma de se manter como aliado íntimo do império. Naquele momento William decidiu tomar uma atitude.
— Bom, quer saber? Apesar de ainda achar que não terá muita relevância, mas daqui a dois dias faço 17 anos, a idade em que aqui nesta terra, uma pessoa se torna adulto, então eu contarei aos seus pais apenas, afinal ainda tem muita coisa que vocês sequer tem noção e que preciso falar uma hora ou outra. Mas isso fica pra próxima. E já que vai dormir aqui mesmo, boa noite — finalizou ele com sua mente pesada, já que usou bastante de suas habilidades para conversar naquele dia.
— Tudo bem então, praticamente faremos aniversário juntos, estarei presente — finalizou ela levando a mão sobre o rosto dele acariciando — boa noite meu querido, não há dúvidas sobre o que eu sinto por você e o que você sente por mim, não sei como extamente, mas apenas sei.
O dia de Willian havia sido cansativo, treinos, assuntos de seus informantes, assuntos com os anciões sobreviventes de Aquaria entre outras coisas, o fato era que o garoto já havia dormido, baseado no cansaço que sentia, algo que sua habilidade ativava automaticamente após esgotar a sua mente após dias longos, algo que era inevitável e parecia desligar o seu subconsciente para fazer algo como uma manutenção de sua mente e de seus pensamentos. Naquele momento ele não percebia que a menina se abraçava a ele, "degustando” da oportunidade de ficar do ladinho dele durante a noite, algo que claramente ela buscava avançar alguns passos para garantir a sua vida ao lado de William.
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Atualizado até capítulo 42
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