O dia já começava a se despedir quando, após voltar da entrega de cartas, uma figura alta e esguia caminhava de mãos dadas com uma pequena garotinha, cujos risos cristalinos ecoavam pelo ar sereno. Ao me aproximar, reconheci Matthew, o duque, acompanhado de sua irmãzinha, Charlotte.
A menina, com seus cachos dourados e olhos brilhantes, irradiava uma aura de pura inocência e curiosidade. Ela olhou para mim com um sorriso tímido, e me aproximei com um gesto amigável.
— Olá, Charlotte. Como você está hoje? — perguntei, tentando parecer o mais acolhedora possível.
A pequena Charlotte respondeu com entusiasmo, seus olhos azuis cintilando enquanto ela compartilhava suas histórias animadas sobre suas brincadeiras no jardim e suas aventuras imaginárias.
— E então, Willow, você já viu o esquilo travesso que vive no jardim? Ele é tão rápido que sempre me escapa! — Charlotte perguntou, seus cachos dourados balançando suavemente conforme ela falava.
Eu sorri, cativada pela animação da garotinha. — Ainda não, Charlotte. Mas estou ansiosa para conhecê-lo. Talvez ele faça uma visita enquanto estivermos no jardim.
Charlotte pulou de empolgação. — Você vai adorar vê-lo correndo de um lado para o outro! Ele é tão engraçado.
— Mal posso esperar para conhecê-lo então! — respondi, compartilhando o entusiasmo da garotinha.
Enquanto conversávamos, Matthew observava nossa interação com uma mistura de surpresa e cautela. Apesar de nossa colaboração cada vez mais harmoniosa na pesquisa, ainda havia uma barreira invisível entre nós. Seus olhos azuis sondavam os meus, como se estivesse avaliando minha verdadeira intenção por trás do sorriso amigável.
— Parece que você conquistou uma nova companheira de aventuras, Willow. Charlotte raramente se abre tão facilmente para estranhos — Matthew comentou, sua voz soando ligeiramente séria.
— Charlotte é uma ótima companhia. Seus relatos sobre o esquilo me deixaram ansiosa para conhecê-lo — respondi, tentando dissipar qualquer desconforto que pudesse surgir entre nós.
Matthew assentiu, parecendo um pouco mais relaxado. — Sim, ela é cheia de energia. Às vezes, é difícil acompanhar seu ritmo.
— Mas é essa energia que torna Charlotte tão especial. Ela traz uma sensação de alegria e diversão aonde quer que vá — comentei, esperando suavizar a tensão entre nós.
Charlotte, alheia às tensões entre nós, convidou-me com entusiasmo para jantar com eles naquela noite. Eu hesitei por um momento, sentindo-me desconfortável com a ideia de me inserir na intimidade familiar dos Montague. Mas antes que eu pudesse recusar, Matthew interveio.
— Seria um prazer tê-la conosco esta noite, Willow. Você tem sido uma colaboradora valiosa em nossa pesquisa, e seria uma oportunidade para continuarmos nossas discussões de uma forma mais descontraída — disse ele, com um tom de convite firme, mas gentil.
Mesmo diante de sua insistência, recusei o convite, alegando compromissos urgentes que precisava atender. Matthew parecia desapontado, mas aceitou minha decisão com resignação. Assim, despedi-me de Charlotte e do duque, deixando-os para trás enquanto seguia para o conforto do meu quarto.
Decidi dedicar algum tempo à leitura das cartas mais recentes, datadas após a morte da senhora Montague. À medida que mergulhava nas páginas amareladas pelo tempo, fui confrontada com relatos surpreendentes sobre o comportamento de Edward Montague após a perda de sua esposa.
As correspondências revelavam uma mudança drástica na personalidade de Edward, que parecia ter assumido uma postura mais sombria e distante do que antes. Seus atos eram descritos como cada vez mais questionáveis e éticamente duvidosos, deixando uma sombra sobre sua reputação anteriormente imaculada.
Eu me vi intrigada e perturbada pelas revelações contidas nas cartas, que lançavam uma nova luz sobre a figura complexa de Edward Montague. Como poderia um homem que um dia fora visto como um exemplo de nobreza e dignidade sucumbir a tal escuridão? Essas descobertas apenas aprofundavam o mistério em torno de sua vida e me deixavam com mais perguntas do que respostas.
Enquanto continuava a folhear as páginas, minha mente mergulhou em um turbilhão de pensamentos e especulações. O que teria levado Edward a tomar essas decisões questionáveis? E como isso afetaria minha própria narrativa sobre sua vida e legado?
Parecia que, depois de muito tempo vagando por aí, Edward finalmente decidira voltar para a terra de sua família, em busca de mais tranquilidade. No entanto, à medida que explorava os registros e correspondências, tornava-se evidente que ele deixara um rastro de desolação para trás, especialmente entre aqueles menos favorecidos.
Um desses incidentes foi relatado em detalhes nas cartas que eu agora segurava. Edward havia dado um golpe em um pequeno cultivador de uvas, manipulando a situação para que a compra das terras fosse mais vantajosa para ele, deixando o proprietário em uma situação financeira desesperadora.
Além disso, havia o caso de um homem que fora injustamente condenado à prisão por causa das ações de Edward. Sua história era obscura e trágica, mas o que transparecia dos relatos era que ele havia sido usado como bode expiatório em um esquema fraudulento orquestrado pelo próprio Edward.
A injustiça era palpável nas páginas amareladas pelas décadas, ecoando os suspiros silenciosos daqueles cujas vidas foram arruinadas pela ganância e egoísmo de um homem poderoso. Enquanto eu mergulhava mais fundo nessas revelações sombrias, sentia-me consumida por um misto de repulsa e fascínio diante da verdadeira natureza de Edward Montague
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Atualizado até capítulo 26
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