Mais tarde, quando decidimos nos livrar da poeira do dia, dirigi-me ao quarto que me foi reservado. O banho quente já havia dissipado a fadiga do trabalho árduo, e enquanto me trocava, senti uma onda de nostalgia me inundar. Peguei um masso de papel e uma caneta, decidida a enviar algumas cartas para minha verdadeira casa, onde saudades e memórias se misturavam em uma teia delicada de afeto e saudade.
Enquanto passava a escova fina pelos fios ondulados e loiros que herdara da minha mãe, fui invadida por lembranças da minha infância bucólica. Recordações de tardes ensolaradas passadas nos campos abertos, onde Ivy e Marjorie, minhas amigas de infância, brincavam de ser cabeleireiras improvisadas. Elas costumavam arrumar e desarrumar meu cabelo inúmeras vezes, entre risadas e brincadeiras, enquanto eu me sentia transportada para um mundo de fantasias e inocência.
No espelho, observei meus olhos claros, um reflexo da herança que compartilhava com Ivy. Aquelas brincadeiras inocentes de infância agora pareciam tão distantes, mas suas memórias ainda ecoavam dentro de mim, trazendo um sorriso nostálgico aos meus lábios. Naquele momento, me vi contemplando a natureza singular dos meus traços, uma mistura de rusticidade campestre e delicadeza feminina, moldada pelas experiências compartilhadas com minhas amigas de outrora.
De certa forma, Matthew não estava errado. Não poderia esconder minha origem campestre, nem minha casa natal. Mas a verdade é que, eu não poderia também me envergonhar disso. Ser do campo não era sinônimo de inferioridade. Pelo contrário, minha criação rural e as lições que aprendi naquele ambiente moldaram quem eu sou, fornecendo-me uma base sólida de valores e uma apreciação pela simplicidade da vida. Essa conexão com a terra e com as pessoas que a cultivam é algo que levo com orgulho, sabendo que minha identidade não é definida por onde nasci, mas sim pelas escolhas que faço e pelo caráter que demonstro.
Percebendo que estava envolvida demais com meus pensamentos, eu decidi agilizar o processo. Estava tempo demais parada pensando, precisava entregar aquelas cartas logo.
Vesti um vestido confortável, nada muito elaborado, escolhido especialmente para a breve missão de levar as cartas e retornar. Não havia intenção alguma de me juntar aos Montague para o jantar; considerava aquilo uma intimidade reservada à família, um momento sagrado para compartilhar à mesa. Em minha casa, mantínhamos o ritual das refeições como algo especial e significativo, um momento para reunir-se e fortalecer os laços familiares em torno da mesa. Era algo que valorizávamos profundamente, e não parecia apropriado para um estranho como eu interferir nessa dinâmica familiar.
Foi então, ao retornar da entrega das cartas, cujo destino era um casarão isolado onde deveria depositá-las para que um criado as levasse, que me deparei com uma cena curiosa no horizonte. Duas figuras passeavam lado a lado, uma claramente mais jovem do que a outra. Seus contornos se destacavam contra o cenário sereno ao redor, enquanto o sol poente pintava o céu com tons dourados, criando uma aura de serenidade e calma no ar.
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Atualizado até capítulo 26
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